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Abbey Road, o lado B: The End!

RICARDO AMARAL

Era ainda uma manhã fria, dessas de junho. Uma segunda-feira. Andava abestalhado pelas ruas de Londres, quando um grupo de colegas de trabalho de algum lugar, vindos do nada, passou às pressas. Alguém perguntou: What is going on? Ainda correndo para o parque, uma menina respondeu: Here comes the sun! Àqueles que já ultrapassaram um inverno na ilha bretã, o significado da canção de George Harrison é emocionante. É reconfortante. É assim que Abbey Road suavemente apresenta seu Lado B.

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Harrison compôs Here Comes the Sun em 1967, acreditem! A música ficou retida até sua inserção em Abbey Road. Após a morte de Epstein (1967) e inúmeras reuniões sobre negócios, o que odiava, George estabeleceu esta metáfora humana dos longos invernos britânicos, sabendo que o sol viria para ele, um dia. Veio!!! Na onda de Sgt. Pepper’s, a música se inicia com o violão de Harrison no canal esquerdo e lentamente o som invade o canal direito, dando uma sensação de intensidade que nos faz pensar que uma orquestra chega à apoteose!

No estúdio, George e Paul fazem os vocais. Ringo sua bateria. Lennon sequer comparece às gravações. Brigara com Harrison pouco antes, também por questões financeiras, boicotando várias gravações de George, incluindo as em Sgt. Pepper’s e a divina The Inner Light! Ambos os Georges (Harrison e Martin) constroem os arranjos da canção símbolo da primavera inglesa. Uma obra eterna! Segunda do lado B: Because. “Quando os vi solfejando – os três -, a imagem de This Boy e Yes it Is me trouxe lágrimas aos olhos!, disse George Martin.

Depois de seis anos, John, Paul e George dividem o mesmo microfone, como na melhor fase do Star Club, em Hamburgo. Because é uma delícia! A canção de John Lennon tomou forma enquanto ele ouvia Yoko arriscar uma peça de Beethoven ao piano. Vá agora na busca e coloque a Sonata ao Luar, de Ludwig Van Beethoven e comece a cantar Because.

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Tem que ser coisa de inglês! A adaptação foi toda trabalhada pelo mago George Martin. Terceira…O Medley. Canção por canção! Naquele momento do grupo, Lennon e McCartney já compunham absolutamente sós, mantendo apenas os acordos comerciais entre ambos. Fragmentos de letras e partículas de melodia compuseram o medley-epitáfio do lado B de Abbey Road, que é daqueles como The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd: Você não ousa pular uma só canção. A canção são todas as canções, o que para mim sintetiza exatamente a obra lançada entre Love Me Do e The End.

You Never Give Your Money, de Paul, reclama também dos graves problemas financeiros entre os quatro beatles. Paul era extremamente suscetível ao convencimento e se magoava facilmente com as opiniões contrárias de seus amigos. “E no meio da negociação, eu desmonto”!

Sun King e Mean Mr Mustard, ambas de John Lennon. A música se chamava Here Comes the Sun King, numa tentativa de parodiar Harrison. Lennon alterou totalmente a melodia sob a influência da canção Albatross, de Fleetwood Mac, usando o mesmo reverber de violão. Quem quiser conferir, verá a incrível semelhança de acordes e timbres.

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Em entrevista, John disse ter homenageado Luis XIV, de França, o Rei Sol! Sinceramente, não vejo proximidade poética com o tema, mas o fragmento em outra língua é uma mistura ilegível de espanhol e italiano, o que significa aproximadamente: “Quando por muito meu amor de coração feliz, paparazzi mundo meu amor verde para o sol quente, colina tanto quanto esse pequeno carrossel”.

Mean Mr Mustard (John) nasceu de uma manchete do The Sun, anunciando o Sr Mostarda, ganhador da loteria e que escondera seu prêmio em lugar totalmente desconhecido!

Polythene Pan/She Came in Through the Bathroom Window (Paul). Polythene é uma abreviação inglesa para Polietileno, matéria plástica utilizada em embalagens. Pan é, na verdade, Pat Dawson, uma amiga do grupo, da época do Cavern, que tinha o mau hábito de comer plástico! A letra é um non sense total.

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She Came in Through the Bathroon, um desses McCartney descarados, foi baseada numa invasão havida na casa do Beatle, em Saint John’s Wood, Londres, a quadras de Abbey Road. A letra recebeu uma interpretação por vários fãs, como uma sessão de heroína. Acho que por causa da “colher de prata”.

Golden Slumbers é baseada em uma canção do século 17, do poeta inglês Thomas Decker, cujo nome original era Golden Slumbers Kiss Your Eyes.

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Paul compôs esta versão ainda garoto, no piano de sua irmã de criação. Não sabia ler a partitura e resolveu criar sua própria melodia, cantarolando a letra original.

Carry That Weight é mais um desabafo de Paul McCartney! Junto com tantas turbulências na época, McCartney disse a Barry Miles em uma entrevista que o peso emocional desta canção também veio de muitas questões de drogas com o grupo, e eles estavam tendo dificuldades com seu novo gerente Allen Klein. A Apple Corps já estava em sérias dificuldades financeiras, quando Klein assumiu o comando. Sem dúvida, houve um pouco de nostalgia para o momento em que eram quatro garotos despreocupados de Liverpool, que poderiam apenas se divertir sendo uma banda sem preocupação adulta alguma no mundo. O arranjo de orquestra, de autoria de George Martin, constituía-se de doze violinos, quatro violas, um violoncelo, quatro trompas, um trombone e um trombone barítono.

The End (Paul). A frase “No final o amor que você toma é igual ao amor que você faz” é essencialmente a declaração de encerramento dos Beatles. É a última frase, do último lado, do último álbum gravado. Lennon, McCartney e Harrison se revezaram fazendo solos de guitarra. Se você escutar atentamente, pode ouvir como os estilos mudam de um para o outro. Esta é a única vez na história dos Beatles, em que os três trocaram riffs de guitarra. Em The End está também o único solo de bateria de Ringo Starr. Ringo (que detestava solos) foi convencido por Paul a fazê-lo, pois seria necessário para a transição da melodia.

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Num arpejo final que ressoa como o final de A Day in the Life, Abbey Road chega ao seu fim. Mas espere… Her Majesty!! Originalmente destinada a ser um verdadeiro tributo à Rainha da Inglaterra, esta canção deveria ser colocada entre Mean Mr. Mustard e Polythene Pam, mas Paul McCartney tinha removido porque ele não gostou do resultado. Esquecido e etiquetado como indesejado, o técnico de som entregou o rolo a George Martin que sacramentou: “Desta sessão, nada será deixado para trás”!

Uma coisa é certa: não haverá outro álbum capaz de traduzir tantos sentimentos quanto Abbey Road. O sonho acabara!

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