Duas das bandas mais interessantes da cena indie atual fizeram nesta sexta-feira (5), na prática, a abertura da edição brasileira deste ano do Lollapalooza, o maior festival de rock alternativo do planeta. A britânica Foals e a norte-americana (do Alasca) Portugal. The Man mostraram por que os atrativos desse tipo de som ainda estão longe de se esgotar.
Das duas, Portugal. The Man, que se apresentou antes, fez o show mais dinâmico e, de certo modo, mais surpreendente. Antes de tocar um único acorde, a banda deu espaço para que um grupo de representantes dos povos indígenas brasileiros fizesse um protesto em favor de seus direitos.
Em seguida, para surpresa ainda maior do público, a banda, que pratica um ‘indie’ rock psicodélico light nos álbuns, entrou definitivamente no modo ‘Rage Against The Man’ e tocou Another Brick in the Wall com um peso que nem o próprio Roger Waters, seu autor, ousaria dar a ela. Essa foi a primeira de várias alusões da banda a um tipo de contestação política com raízes explícitas na contracultura dos anos 60.
Fotos: Mila Maluhy / Camila Cara (Equipe MRossi / Divulgação)
Não foi à toa que o Portugal. The Man batizou seu álbum mais recente de Woodstock (2017). A banda tocou Freedom, de um dos heróis daquele festival, Richie Havens. E passou para o outro lado do otimismo hippie citando Gimme Shelter, dos Rolling Stones, e War Pigs, do Black Sabbath, dois hinos da ressaca pós-‘flower power’.
O “hit” Feel It Still fechou o set mostrando um lado muito mais familiar da banda, com o seu psicodelismo gentil. Foi uma primeira atração de brilho discreto, mas suficiente para ampliar o contraste com a precisão matemática do Foals, que veio em seguida com um repertório muito mais consistente, mas de algum modo, em termos visuais, e como show, a princípio menos estimulante que o dos americanos.
Foals
Mesmo assim, o tempo de estrada – 14 anos – dá à banda inglesa uma autoridade indiscutível sobre o próprio repertório. O Foals pode não ter um sucesso tão fácil de reconhecer quanto Feel It Steel, mas é eficiente sem precisar de qualquer adereço. Principalmente da metade do show em diante, quando o vocalista Yannis Philippakis prometeu levantar o público, o grupo executou com uma intensidade punk canções desde a época dos primeiros álbuns (Two Steps, Twice) até um dos últimos (What Went Down). Há shows mais exuberantes que o do Foals no mundo, mas com o mesmo vigor que eles mostraram, é provável que nem tanto.