Neste post:entrevista, rashid, resenha, Sesc Santos
O artista citou a cena de Santos, e deu um salve para a Batalha da Conselheiro. Mostrou o que é troca de energia entre fãs e artista, fez piada, conversou bastante e nos atentou sobre seu próximo álbum.
Vivido tudo isso em menos de duas horas, ainda demonstrou disposição e carisma em conversar com o Blog n’ Roll depois do show, sem pressa! E para finalizar daquele jeito, o artista twittou sobre a noite, deixando registrado sua experiência.
Às 21h12 Rashid subiu ao palco do Sesc Santos. Casa cheia. Os ingressos esgotaram um dia antes do show. Sua entrada foi antecedida pelo instrumental da banda, que, momentos após, começou com o som de Esteriótipo do álbum Crise (2018).
A plateia logo reconheceu a música e o artista só puxou “querem mandar no que eu visto, querem julgar quem eu sou. Querem anular o que eu conquisto, e que eu fique só com o que sobrou“.
O ponto alto do refrão, “somos todos alvo“, foi cantado por todos. Rashid acertou na escolha para começar o show, deu aquela esquentada no clima. O início do repertório também mostrou como seria o resto do show: com uma plateia ativa, ansiosa para saber qual música vinha depois, e que sabia cantar os refrões.
Ressalva aqui para sua presença de palco. Seguro de si, cheio de flow, dava para ver que estava gostando da receptividade do público e apreciando seu próprio trabalho.
O instrumental da banda era coisa de louco, parecia que estava assistindo a um show de rock com os melhores instrumentistas. Quando terminou a faixa Esteriótipo, agradeceu a plateia por ter colado no rolê, e, em seguida, introduziu RuaTerapia, do álbum A Coragem da Luz, de 2016.
Continuou com Coisas dessa Vida (2013), a plateia também acompanhou. Deu sequência com a frase “é o fim da brincadeira, o pai voltou“, com a faixa Música de Guerra, presente no último álbum, de 2018. Esta foi cantada do início até o fim, com o coro ecoando na parte “até a nossa vitória deixa de ser tabu“.
Nessa hora ele trocou uma ideia com o pessoal, uma mescla de carisma e senso de humor que arrancou risos.
Mano, eu canto e vou prestando atenção na reação de vocês. E tem hora que me pego pensando: caraca mano, eu canto uns bagulho daora, eu mando bem mesmo! Tá louco! (plateia rindo). E eu dou um papo para vocês, mano, isso é pratica, independente do que você faz ou quer fazer na vida, é prática. Fazer, refazer e acreditar nisso. E desde essa época eu tenho praticado” Rashid
O discurso fez alusão ao que vinha na sequência, a faixa Que Assim Seja (2012). Posteriormente, cantou parte da música Interior e outra de Patrão (2014).
Depois disso, uma pausa para um dos momentos marcantes do show. Alguém pediu para cantar Primeira Diss (2018), que não constava no repertório, mas Rashid puxou o início da música sem o instrumental e a plateia acompanhou. Em um momento, o rapper esqueceu a letra, e o público lembrou.
Após o show, ele comentou a situação. “Pessoal me lembrou a letra que esqueci. É demais! Demonstra que eles conhecem real, que já vem com o repertório na mente, cantando tudo que tava cantando e ainda pedindo outra música. É muito legal. A gente tava num espaço próximo, sem aquele vão que divide o espaço do público e do artista, então deu pra fazer a pessoa dar risada, não só chegar cantar e ir embora. Cheguei, fiz a música, conversei, dei risada, toquei na mão, peguei celular, bem daora isso. Quando o público dá o show também, fica mais intenso, tudo a flor da pele”.
Para mudar o clima pesado de Primeira Diss, a escolha foi Vício (2013), que deixou aquele clima romântico, para então entrar a tão aguardada Bilhete 2.0 (2018). Nesta hora, todo mundo cantou. Tanto que quando a música acabou, o rapper e o backing vocal, que tomou a cena, puxaram o refrão com a plateia novamente.
Novamente o rapper se colocou a conversar com o público, e surpreendeu a galera ao lembrar da Batalha da Conselheiro (realizada toda quarta-feira, na Avenida Conselheiro Nébias, a partir das 19h), que completou a edição nº 200 na última quarta-feira (14).
“Já faz muito tempo que a gente não vem para santos. Saudade apertou o coração. Fazer som aqui com pouca gente é foda, e com ingressos esgotados também é foda. O show é esse dueto: Rashid feat vocês, que estão aqui não só de corpo, mas de mente também. E é importante vocês fazerem o mesmo por pessoas da cena e MCs da região, fortalecer quem fomenta a cultura. Fiquei sabendo que ontem aconteceu a edição 200 da Batalha da Conselheiro, máximo respeito, é importante fortalecer, vamos crescer juntos”.
Depois de passar a visão, o rapper cantou Poucos e Bons (2011) para homenagear seus amigos. Ele disse que era uma música necessária e importante, porque a vida não é só raiva, ódio, tristeza, tem coisas importantes também, em suas palavras, “umas paradas daora”!
Outro ápice foi o momento freestyle, no qual a banda desenvolveu um arranjo e o rapper teve que rimar. Neste momento, dava para entender o porquê ele é conhecido por compor letras elaboradas, e dava para ver que era cria de batalha, pois suas rimas improvisadas eram construídas sem forçação de barra, o que fez os olhos da plateia brilhar de admiração.
Rashid rimou com batom, tampa, isqueiro, remédio, com a foto do Queiroz, chave, RG, Alicia, bala Halls, livro, pente (conhecido como garfo), nota de dois reais e camisinha. Confira no áudio:
Com todo mundo já rendido ao show do rapper, que mostrou talento e descontração, ele introduziu Virando a Mesa, do álbum Confundindo Sábios, de 2013, como a última música. Em síntese, o show passou muito rápido.
Despedindo-se do público com o instrumental e aplausos para a banda, o artista destacou para o público ficar de olho no próximo álbum, que deve ser lançado dentro de alguns meses, sem dar previsão específica.
Após o show, ele conversou com o Blog n’ Roll sobre o novo trabalho e o desafio da renovação após um álbum tão forte como Crise.
Se renovar artisticamente é sempre difícil, mas nunca falta assunto. Especificamente no rap falamos sobre muitas coisas. Às vezes quando a gente (artistas) se repete, fazemos em uma perspectiva diferente, acho que isso dá uma riqueza no trabalho. Se você pega a obra de um artista que tem um trabalho extenso, como o Racionais MC’s, vários momentos eles voltam no mesmo assunto quando necessário, mas sempre com uma perspectiva mais contemporânea. Até quando a gente volta, a vivência já não é a mesma, nesse sentido é uma experiência enriquecedora. Mas é um desafio sempre fazer coisas diferente. Eu sou um MC, músico e produtor em 2019, o que já não foi feito?
Às vezes a política está no ato de ‘crescer no ego’, plantar outras coisas. Mas também tem assunto político pra caramba, não tem como fugir, né? Só que talvez não esteja tanto quanto as pessoas imaginam.
Eu tenho um propósito com a minha música, só que na maioria a direção que a música toma não é de propósito, é a criatividade acontecendo. Mas o que desejo quando as pessoas escutam minhas músicas é que elas entendam que minhas letras tratam de coisas que às vezes a experiência dela não é capaz de medir. Às vezes eu mesmo falo sobre coisas que não aconteceram comigo, mas com muitos a minha volta, e eu vi necessidade de falar sobre isso também. Então quero que elas enxerguem outro universo.
Mas ao mesmo tempo, quero que vejam que existe um universo parecido com o delas, isso é muito importante. É incrível quando você se sente acolhido por uma cultura, movimento, pessoas que pensam e se vestem parecidas com você. Esse papo de pertencimento mesmo, quero que entendam que existe esse lugar.
No mais, eu quero representar “o sonho”, olha onde o Rashid chegou, então eu também posso. E também quero provocar de algum jeito, fazendo diferença com minha arte, nem que a pessoa só fique irritada.
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