by Marcel Caldeira
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Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, além da Palma de Ouro do Festival de Cannes, Parasita chega sendo uma das grandes sensações das principais premiações internacionais.
Parasita não está aqui por acaso, não foi apenas um filme bem feito, um acerto direto. Bong Joon-Ho, diretor do longa, mostra que já é experiente na área, vindo de excelentes trabalhos, como os mais ocidentais Expresso do Oriente e Okja. Ademais, os orientais O Hospedeiro e Memórias de um Assassino.
Bong, que prefere falar sua língua, insiste em colocar uma tradutora em suas entrevistas, mesmo sabendo falar inglês. No Globo de Ouro, no último domingo (5), Bong o fez novamente e discursou em frente a toda indústria hollywoodyana sobre a questão da legenda em filmes estrangeiros.
“Quando vocês superarem as barreiras dos filmes com legendas, conhecerão muitos filmes incríveis”.
Bong Joon-Ho, diretor do Parasita
Que o diretor é renomado, é nítido. Agora vamos dissecar esse filme sul-coreano e ver se ele tem chance de vencer alguma estatueta do Oscar.
Sobre o filme
Após conseguir um freelancer como professor de Inglês de uma garotinha rica, Da-Hye (Jeong Ji-so) bola um plano com seu pai, mãe e irmã, todos desempregados. A ideia é se infiltrarem na família burguesa e, assim, conseguir empregos para todos. Mas, após conseguirem, nem tudo seguirá dos jeitos em que planejavam.
Se sinopse é o que faz o amante de cinema escolher o filme, é bem improvável que alguém conseguiria explicar o que é Parasita sem ao menos dar um pouco do que vai acontecer.
Ao pensar, o filme tem uma ideia simples. Mas Parasita não é só isso. O longa leva consigo críticas sociais do início ao fim, fazendo todos entenderem, sem diálogos superficiais.
De um lado, os Kim, uma família pobre, desempregada, que mora em uma casa embaixo do nível da rua, como se fosse um porão e que precisa dobrar caixas de pizza para sobreviver.
Do outro, os Parker, família rica, com empregados, casa na colina e garrafa d’água de marca na geladeira luxuosa. Até o acesso das casas e a vista de suas janelas mostram a diferença social das duas famílias.
Enquanto os Parker precisam subir escadas para adentrar sua mansão e olham sua janela com uma maravilhosa vista de um gramado bem cortado e a vista total da cidade. Todavia, os Kim descem as escadas para acessar sua casa e a visão de sua janela dá no beco em que os moradores de rua urinam.
Diferenças sociais
Se o maior problema da família Kim é a alimentação básica, o da família Parker é o cheiro de quem anda de metrô, como o motorista Ki-taek (Song Kang-Ho).
Até quando tudo parece desabar, como no momento em que o filho mais novo da família rica, Da-Song (Jeong Hyun-joon), fala que todos os Kim têm o mesmo cheiro, o comentário passa despercebido ao seu pai. Pois, para ele, todos os pobres têm o mesmo cheiro.
Bong Joon-Ho expõe muitos abusos cometidos por patrões com empregados. Seja ordenar que tal janta seja feita em sete minutos, dizer que o temporal que atingiu foi uma benção, requerer seus funcionários sem nem saber se eles foram atingidos ou quando o força o motorista, pai da família Kim, a participar de uma constrangedora atuação de índio em uma festa infantil com a desculpa de que está pagando.
Chocante
Uma das falas mais interessantes do filme é quando a mãe da família Kim, Choong-sook (Jang Hye-jin), pergunta à filha se a família Parker são ricos legais ou são legais porque são ricos. Além da diferença entre classes, Parasita aborda a ocidentalização do oriente ao mostrar que a mãe da família rica, Yeon-Kyo (Cho Yeo-jeong), se orgulha em comprar tal objeto nos Estados Unidos ou quando chama seus funcionários de Kevin e Jéssica, sem nem querer saber se a pessoa quer ou não ser chamada pela seu nome verdadeiro.
Para a família Parker, é melhor ter nome ocidental. O diretor, que também é o roteirista ao lado de Han-Jin Won, sabe perfeitamente transitar entre suspense, terror, drama e comédia, fazendo com que você não saiba o que vai acontecer, mas sempre esperando que pode tudo desabar.
Talvez um dos momentos mais tensos do longa-metragem seja quando a mãe da família Kim diz que eles são que nem a barata da casa deles, que, ao acender as luzes todas se escondem, e, que quando isso acontecer com o família Parker, eles iriam fazer o mesmo.
E quando isso acontece, é de segurar o fôlego, uma aula de cinema. Não é difícil compactuar com a situação entre as duas famílias, já que essa realidade facilmente pode ser vista com a brasileira.
Metáforas
As metáforas são geniais, muito significativas da atualidade, onde representa muito bem a época em que foi feita. Parasita é uma representação das diferenças de classe que o capitalismo impõe. E no carecão dourado? Tudo conspira a favor dos sul-coreanos.
É um filme muito bem feito e dirigido, com um roteiro minucioso em que não peca, críticas pesadas e atuações incríveis lideradas por Song, que encarna muito bem o subalterno obrigado a aceitar tudo que é imposto.
É, sem sombra de dúvida, um dos melhores filmes dos últimos anos. Ao que tudo indica, Parasita deve ganhar algumas indicações no Oscar. E não só na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, divisão que deve vencer facilmente. Deve marcar presença em Melhor Roteiro e Melhor Direção, assim como no Globo de Ouro. Não vai ser surpresa se conseguir uma indicação como Melhor Filme.
Vida real
Falar que a família Parker é ingênua ou que isso não aconteceria na vida real é moleza. Será que realmente já não aconteceu? Segue alguns casos interessantes sobre pessoas morando em casas de outras, assim como Parasita.
Uma brasileira moradora de Londres recebeu um amigo de um amigo para dormir em seu apartamento. No meio da noite, o rapaz a acorda para pedir um pouco de comida e, depois de dizer que não gostava de nada, desceu do prédio com a moça.
Ao sair do edifício, o amigo disse que havia um homem embaixo da cama principal. Após a chegada da polícia, a moça ficou sabendo que o inquilino morava em um buraco debaixo do assoalho há meses e estava planejando matá-la. Caso completo pode ser acessado aqui.
Sonâmbula
O ator Joe Cummings estava decidido que sua namorada sonâmbula assaltava a geladeira de madrugada e montou uma câmera para comprovar sua tese. O que ele não esperava é de que uma moça descia de uma porta do armário, onde estava mais de duas semanas. Caso completo pode ser acessado aqui.
Ataque na despensa
Uma moça de 58 anos foi presa por viver na despensa de um senhor de 57 anos durante um ano. O homem instalou câmeras em sua casa para ver o porquê de sua comida estava esvaziando. Caso completo pode ser acessado aqui.
Abuso sexual
Em 2006, um rapaz de 22 anos foi preso por seduzir uma menina de 12 e a convencer de morar embaixo de sua cama durante três meses, sem que os pais percebessem. O caso chocou Londres e o invasor foi condenado a dois anos por crimes de invasão e abuso sexual. Caso completo pode ser acessado aqui.
Ex-namorado maluco
Após ouvir um barulho, uma moradora da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, descobriu que um homem morava no sótão. E o pior: duas semanas após ser solto da prisão. O pior de tudo: era o ex-namorado da moça, que havia terminado o relacionamento há 12 anos. O inquilino conseguiu fugir. Caso completo pode ser acessado aqui.
Outras películas na linha de Parasita
Assim com Parasita, outros filmes passam essa mensagem de luta de classe e/ou invasão de propriedade.
Assunto de Família. 2018. Japão. (Shopfliters) – Uma família adota uma menina em que estava perdida de sua mãe. Mesmo sendo pobres, recorrendo a roubos para sobreviver, parecem viver felizes juntos até que um incidente revela segredos escondidos.
Hangman. 2015. Estados Unidos. (Hangman) – Retornando de férias, uma família encontra sua casa invadida e toda bagunçada. Depois de limpar e retornar suas vidas, percebem que há um inquilino morando dentro de suas paredes.
Enquanto Você Dorme. 2011. Espanha. (Mientras Duermes) – Um porteiro apaixonado por uma moradora decide invadir e acompanha-la todas as noites.
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