Posse MRF, Mentes Revolucionárias da Favela, é um coletivo da Baixada Santista que vê a cultura hip hop como ferramenta para transformar a realidade das favelas da região.
A ideia surgiu no final dos anos 90, pelos membros do extinto grupo de rap MRF. Em 2018, foi reativada com objetivo de trazer a cultura de paz nas periferias e fortalecer as relações entre a cultura da favela. A Posse tem como apoiadora a ONG Procuru.
Em detrimento ao novo coronavírus, as atividades da Posse MRF estão temporariamente suspensas. Entretanto, a mensagem do grupo atravessa a presença física dos eventos.
No ano passado, o coletivo se dedicou a parte musical, pois muitos de seus integrantes tem o rap como vertente. Os integrantes se reúnem mensalmente para decidir os eventos que serão realizados, quais passos serão dados e as distribuições de tarefas.
“Nós organizamos eventos e shows. Já chamamos o MV Bill, mas não era só show, ele também deu palestra. Depois, promovemos outras ações focadas em trabalhos musicais”, diz Ronaldo Pereira, articulador social da Procuru e da Posse.
Momentos eternos
Os eventos vão além da música, proporcionando lembranças marcantes. O Rap de Quebrada, por exemplo, trouxe uma experiência inesquecível para Ronaldo.
“No final de 2019 voltamos pra rua, com a realização do evento Rap de Quebrada, idealizado pelo Tiago Pereira, do Sarau Itinerante. O evento aconteceu no México 70, em São Vicente, e a ideia era promover ação onde elementos do hip hop se encontravam e trazer um impacto positivo nas quebradas. Resolvemos realizar o evento todo mês, em uma cidade diferente, passando por todas as quebradas”, explica Ronaldo.
Uma participação, em especial, ficou marcada na memória. “Ver o Mantena cantando e todo mundo cantando com ele foi emocionante. Ele fez parte do grupo Sistema Negro, do Guarujá”.
“Ele estava inseguro para cantar. Falei para todo mundo da posse pegar o microfone e cantar com ele, naquele dia eu chorei. E nesse dia o Tiquinho fez o grafiti do criminal D. Então, o evento deixou marcas em nós e na quebrada”.
Valores do hip hop
Dentro da Posse, o combate aos preconceitos é essencial. “Temos que ter comprometimento, respeito, pensar na coletividade e também praticar o autocuidado: o cuidado comigo, com nós e com o todo”.
“Quando um membro da posse erra, ele é chamado para conversar. Se ele não entende que errou ele é excluído. Isso serve para quem fundou e para quem chegou agora”, explica Ronaldo.
Os integrantes também incentivam a “molecada” a não cair no crime. “Mostramos que tem a literatura como caminho, o rap, o graffiti… Se não gosta de nada disso, tem emprego do mesmo jeito”.
O hip hop sempre foi ferramenta de transformação. O graffiti transforma a textura espacial, o break transforma a vida das pessoas com a expressão corporal, o rap toca nas feridas… E por aí vai. A literatura está sendo bastante discutida como o quinto elemento do hip hop.
Ronaldo Pereira
Ele também explica que os integrantes com formação acadêmica visam compartilhar conhecimento.“Não adianta só fazer o hip hop, a gente tem que buscar conhecimento e traduzir esse conhecimento para o nosso povo, na nossa quebrada e até em nós mesmo”.
Desafios
Promover debates sobre temas como machismo e homofobia para os homens mais velhos é um dos maiores desafios da Posse. “A misoginia é muito grande ainda, temos que trocar ideia mesmo, porque muitas vezes o cara está dentro do movimento, mas tem essas paradas”.
“Muitas vezes, esses assuntos geram uma barreira de aproximação, de troca de ideia. Mas o hip hop veio para combater preconceitos”.
Outro desafio citado por ele é fazer política pública sem dinheiro. “Antes dos eventos que realizamos nas quebradas, conversamos com a população. Fazemos um mapeamento cultural daquela área. O poder público não atua nessas áreas”.
Membros da Posse
Contrabando de Atitude
Criminal D
Imagreen
Perímetro 13
Brunão Mente Sagaz
VL Cartel Central
Mantena
Rheu
DJ Cuco
Ice Dee
Sarau itinerante
Jenny
Junior Castro Anthropos Produções
Cold
RC