Se tem um formato de série que gosto muito é aquele que intercala sua história entre presente e passado. Acredito que seja um fator determinante para prender o espectador na trama.
Baseada no livro Unorthodox: Scandalous rejection of my roots (Não ortodoxo: a rejeição escandalosa de minhas raízes), Nada Ortodoxa conta a história de Esther Shapiro (Shira Haas), uma jovem de 19 anos que não se encaixa no judaísmo praticado em sua comunidade.
A busca pela liberdade
A minissérie é dividida em quatro episódios (o que é triste pois a série é incrível, mas bom porque você consegue assistir tudo em menos de quatro horas).
Com a ajuda de sua professora de piano, com que tinha aula escondida, Esther consegue seu passaporte e passagens para Berlim, determinada a ir para casa de sua mãe (que foi obrigada a abandoná-la na infância por não ser judia).
Chegando em Berlim e frustada pela recepção, ela decide andar pela cidade, conseguindo fazer amigos logo de cara. Posteriormente, a série mostra Esty (para os íntimos) descobrindo que está grávida, o marco importante que a determina a traçar seu próprio destino.
Desconstruindo o conservadorismo de sua religião, tanto em vestimentas quanto ao ato de se inscrever em uma audição que resultaria em uma bolsa de estudos (em sua comunidade a prática de buscar outros ensinamentos além do religioso é proibido). Mais afrente a série começa abordar o relacionamento de Esty com sua comunidade e com seu marido, com quem teve o casamento arranjado.
Um passado deixado para trás
Pressionado por familiares e influência de sua mãe, Yakov (Amit Rahav) viaja para Berlim com seu primo Moishe (Jeff Wilbusch). Em suma, vão determinados a levar Esty para casa, o que na cabeça deles fazia sentido e seria aceito. Se ela fugiu foi porque não queria estar em casa, né? Mesmo com muita determinação e ameaças, não conseguem finalizar o plano.
A série termina com a emocionante e surpreendente apresentação de Esty e a despedida de seu passado, incluindo Yakov (que tem seu lado sentimental revelado), deixando em aberto acontecimentos que poderiam acontecer em uma próxima temporada.
Notas sobre Nada Ortodoxa
Hoje em dia, o lugar da mulher no judaísmo varia muito. Mas a série aborda o hassidismo como ultraortodoxos (algo considerado ofensivo), onde as pessoas possuem o comportamento restrito.
Na comunidade era ensinado apenas o ensinamento religioso, era proibido ter smartphones, televisão e acesso à internet. Mulheres só possuíam contato com mulheres, vestimentas longas e de cores neutras, deveriam ter muitos filhos e cuidarem do lar. Ademais, cabelos apenas presos com lenços ou perucas.
Para homens não era muito diferente. Homens só podiam ter contato com homens, deveriam manter distâncias em metros de mulheres. O único contato permitido era o aceno com chapéus, que deveria esconder o máximo possível dos olhos.
Além de ser baseada em fatos reais, a série consegue envolver o espectador na trama. Ele se sente parte do elenco. Retrata o judaísmo com delicadeza e respeito. Além disso, reflete muito sobre o conservadorismo, repressão sexual e censura.
O que nos faz refletir sobre a sociedade em que vivemos e o valores que são impostos há gerações. Em resumo, por alguém que você nem chegou a conhecer. Quem é você se não valores de seus antepassados? Há rumores sobre uma segunda temporada de Nada Ortodoxa (espero que sejam verdadeiros).