🗣 Com ajuda do Twitter, Letty libera o single Nota de Repúdio

E se os tweets de figuras políticas do Centrão se transformassem em uma letra de rock? A cantora e compositora Letty partiu desta ideia para criar o single Nota de Repúdio. O lançamento sucede os singles Aposentadoria (2020) e Golpista (2016), que retratam o caos que o Brasil enfrenta desde o golpe. A canção conta com apoio e distribuição do Coletivo Lança, voltado para uma prática democrática e inclusiva nas artes. “O processo dessa música foi completamente diferente de tudo que eu já fiz. Ela é uma compilação ipsis litteris de tweets de figuras políticas do centrão em prol da democracia. Inicialmente, eu iria trabalhar em cima desses tweets, dando-lhes ritmo e rimas e assim eu poderia cantar. Mas achamos mais interessante seguir a linha debochada e deixamos tudo ali, tal como foi escrito. A ideia de inserir a voz do Google Tradutor partiu desse conceito de debochar da maneira mecanizada com a qual essas figuras políticas demonstram seu apreço pela democracia – que eles mesmos ajudaram a destruir”, explica Letty. Encerramento de uma fase da Letty O lançamento de Nota de Repúdio vem como o encerramento de uma fase na carreira da artista que tratou sobre o momento social e político no Brasil, iniciado em 2016. É com este single que Letty se encaminha para o processo de composição do primeiro álbum de sua carreira, ainda sem previsão de lançamento. “A produção dessa música foi bem caótica e desorganizada por conta da pandemia. Começamos a produzir lá pelo meio do ano, que foi uma época em que saíram muitas notas de repúdio do centrão por conta de alguma coisa que o Bolsonaro falou. A produção foi feita totalmente à distância”. Outra mudança na vida de Letty foi a criação de um fórum, aquele mesmo que foi popular na década de 2000, que a artista viu a possibilidade de distribuir sua música com maior alcance. Fórum “O lance do fórum foi muito motivado pelas constantes rasteiras que artistas estão sofrendo nas redes sociais por conta dos algoritmos; isso se intensificou com o anúncio das mudanças na plataforma. Como eu já tenho um site, achei que seria uma ideia curiosa criar um fórum. Mas até então não tinha pensado em um motivo pras pessoas visitarem e se cadastrarem. Quase desisti da ideia, mas depois lembrei que seria uma ótima ocasião para lançar Nota de Repúdio com exclusividade. Então de início funcionou assim: a pessoa ao se cadastrar no fórum, pôde ouvir este single em primeira mão. Criei uns outros tópicos para discussão. Vamos ver se a galera ainda sabe interagir em fórum né? Sdds anos 2000!” Já conhecida na cena paulistana, Letty é cantora, compositora, guitarrista e girlfront latina. Entusiasta do DIY a artista lançou seu primeiro EP Anywhere But Here (2015) fazendo tudo sozinha: das composições à arte da capa. Logo depois, no ano seguinte, ela lançou o compacto Songs I Should Never Have Written (2016), também no “faça-você-mesma”. Aliás, neste meio tempo ela divulgou os singles Golpista (2016) e criou o power trio Letty and the Goos, que chegou a tocar na Audio Club, no show de abertura do Supla e participou de uma coletânea em homenagem ao Autoramas. EP foi ponto de virada na carreira de Letty No entanto, foi com o EP The Rolling Stones Were Always Wrong que ela contou com a parceria do selo Howlin’ Records (atual Coletivo Lança), com produção de Guilherme Xibrusk. Em resumo, tocou em grandes eventos como o Distúrbio Feminino Fest, o Sesc Jundiaí e a Virada Feminista, em São Paulo. A capa do single foi criada por Letty, utilizando um papel higiênico e uma caneta. “A ideia era aproveitar esse contraste que provoca um certo desconforto, algo meio escatológico”, explica a artista. O single Nota de Repúdio conta com Letty (composição, guitarras e voz), Guilherme Xibrusk (produção, programação de bateria e baixo, mixagem, masterização e guitarra), Érico Alencastro (composição de baixo) e Bob Néri (composição de bateria). Contudo, este é mais um lançamento do Coletivo Lança, que nasceu após o fim do selo musical Howlin’ Records. Com formação mista, mas assumidamente feminista, o grupo pretende priorizar em seus projetos artistas invisibilizados. Em resumo, mulheres, pessoas pretas, LGBGTQIA+, pessoas com deficiência e quem mais precisar de um espaço para se expressar de forma genuína e revolucionária. Focadas na curadoria, a ideia é descobrir o novo, seja na música, na literatura, nas artes visuais e onde mais a arte estiver manifesta. Aliás, entre os artistas do casting estão Trash No Star, The Scuba Divers, Loyal Gun, Letty, Gomalakka, Drowned Men, La Burca e Fragmentos Urbanos.

Bem-vindo ao Clube, álbum novo de Day, chega ao streaming

“É sobre uma jovem sonhadora que é testada pela realidade ao seu redor e pelas suas autossabotagens. É sobre se frustrar, mas também sobre se manter em pé”. Em resumo, é assim que Day apresenta seu novo álbum, Bem-vindo ao Clube. Aliás, com 12 faixas, sendo uma delas uma parceria com Lucas Silveira, vocalista da Fresno, o novo projeto da cantora acaba de chegar a todos os aplicativos de música. Encabeçado pelo single Clube dos Sonhos Frustrados – composição de Day, Tiê Castro e Los Brasileiros, Bem-Vindo ao Clube acompanha a jornada de alguém tentando entender os movimentos de altos e baixos, de amores e desamores, de começos e finais; da vida como ela é. Todas as 12 faixas trazem histórias vividas pela cantora antes e depois de se assumir LGBT, além dos novos sentimentos trazidos pela pandemia, sonhos e frustrações de diferentes momentos de sua vida. Além de Clube dos Sonhos Frustrados que inspirou todo o álbum e inclusive seu nome, outra canção que promete se destacar é Isso não é Amor com Lucas Silveira, única parceria do projeto. Para quem é indicado o Bem-vindo ao Clube “Acho que talvez o álbum esteja um pouco mais pessimista do que eu gostaria, até porque, foi um álbum produzido em meio a uma pandemia sobre momentos caóticos que já passei em minha vida. Revivi antigas e vivi novas frustrações durante o processo e isso tornou tudo MUITO mais intenso. O álbum é tudo que eu precisava botar pra fora, basicamente. Me expresso dessa forma para poder inspirar outras pessoas a se expressarem também. Agora, com tudo pronto, mais do que nunca eu só quero me conectar com o público”. “Pesquisas mostram que jovens brasileiros de 15 a 29 anos – maior parte dos meus fãs – se encontram mais tristes, pobres e preocupados, então espero que ouvindo essas músicas se sintam inspirados, amados, compreendidos, e que não se sintam sozinhos”. Day As novas sonoridades também traduzem esses sentimentos controversos presentes nas canções. Com referências do pop, pop punk, punk rock, rock, emocore, trap e rap, o álbum cria quase que um estilo musical próprio. Em resumo, algo como Pop Emo. “Tudo que as pessoas viram e ouviram de mim faz parte da minha verdadeira essência. Me redescubro todos os dias. Isso é o que tenho dentro de mim hoje, o que quero hoje, o que sinto que preciso fazer hoje. Tenho dificuldade de me aprisionar e de me limitar em qualquer sentido da vida, e musicalmente não seria diferente. Hoje, me vejo como infinitas possibilidades e quero poder me sentir livre pra viver testando cada uma delas sempre quando quiser”, completa a cantora.

Martinho da Vila se junta a Djonga em “Era de Aquarius”, um canto de esperança

O mundo caminha e luta para deixar a pandemia para trás, seguimos renovando as energias diariamente para enfrentar as sequelas deixadas. Martinho da Vila entende como usar a música para chegar nas pessoas e lança nessa sexta-feira, com participação de um dos grandes nomes do rap da atualidade, Djonga, a faixa Era de Aquarius, um canto de esperança. “Essa época tá difícil, muito difícil. Não poder abraçar os amigos, não poder visitar os parentes, eu tenho netinho que nasceu que eu ainda nem vi”, conta Martinho. “Essa música eu comecei a fazer um tempo atrás, depois deixei um pouco, porque composição, às vezes, é isso aí, a gente deixa para lá para depois retomar. Aí agora, durante esse tempo de pandemia, fiquei pensando na Era de Aquarius e saiu a música”. Martinho da Vila Mas, como diz o sambista, nada de melancolia na hora de compor a música, que é de sua autoria com Djonga. “Espero que a música dê um pouco de conforto para as pessoas, porque ela tem um lado muito positivo”. A ideia da participação do Djonga foi uma sugestão prontamente acatada por Martinho, que explica sobre a união dos estilos. “Eu gosto sempre de misturar, misturar é sempre bom. Já gravei com Rappin’ Hood, Gabriel Pensador, e eu gosto de cantar, de interagir com pessoas de outras áreas”. Djonga reverencia Martinho da Vila Djonga também falou da emoção em participar. “Desde que eu comecei a fazer música, sempre fiz com o objetivo de poder criar com pessoas que eu admiro, pessoas que eu gosto. Gravar uma música com o Martinho da Vila é uma coisa muito especial, para mim e para a música brasileira. Ele é um dos caras que construiu essa estrada bonita que a gente vem trilhando… É muito especial estar ao lado de alguém que acompanhei pela TV e pelo rádio quando eu era mais novo, em um momento em que eu nem entendia muito bem as coisas. Então foi uma realização pessoal, mas tomara que tenha sido igualmente especial para o Martinho e para toda rapaziada dele, porque fiz com muito coração essa música. Estamos só no comecinho. A era é de Aquarius, mas eu quero o oceano”. A música chega acompanhada de clipe, que busca em sua simplicidade retratar o amor e a esperança da música. “A gravação do clipe foi descontraída para xuxu, foi muito legal, a gente brincou muito. O mais legal é que eu conheci melhor o Djonga, e ele é muito divertido, muito gente boa”, conta Martinho. Por fim, Era de Aquarius faz parte de um projeto de longo prazo de lançamentos do Martinho, que se completa no carnaval de 2022 com a linda homenagem que será feita à história do artista no desfile da Escola de Samba Vila Isabel.

Gabriel Henriques lança Impreciso, som em parceria com SPVic

O músico gaúcho Gabriel Henriques lançou o single Impreciso, parceria com o rapper SPVic, integrante do Haikaiss. O lançamento conta também com um videoclipe, mais um trabalho com assinatura da Dog Music Lab, com produção de André Nine. Quarto lançamento do artista no ano, Impreciso traz uma mescla de estilos entre o pop melódico com acordes leves e rap com linhas potentes e certeiras. A música aborda os anseios vividos pelo músico na busca por sua construção de identidade e processos pelos quais tem passado tanto na carreira quanto na vida pessoal. Em resumo, o clipe foi produzido pela Dog Music Lab e dirigido por Caio Canine, que teve a ideia por trás do conceito da produção. “Tentei extrair da letra algo que eu pudesse representar dentro da narrativa. Ali contamos sobre três dias aleatórios da vida de Gabriel, e dentro de cada dia, apresentamos nuances do comportamento e “vibes” da rotina dele. Pensando que o videoclipe se dá em três momentos, a escolha de repetir o dia anterior e dividir a tela é para reforçar ainda mais a ideia de ser indeciso, ou melhor, Impreciso”, diz o diretor, que já havia trabalhado com o músico anteriormente. Criação de Impreciso Sobre a construção da música, o artista diz que “basicamente a música fala muito desse momento de estar se construindo dentro de um mercado que é super amplo que é super gigantesco e que existem outras pessoas fazendo o mesmo e por isso também é um espaço de difícil acesso e então quando dei esse nome Impreciso, quis fazer essa música pra explicar todo esse sentimento que a inserção no meio musical pode trazer em relação às escolhas e às nossas possibilidades. Já a parceria com SPVic, um dos rappers mais conceituados da atualidade, surgiu pela ligação em comum com o produtor André Nine. “Eu conheci o Gabriel através do André Nine nessas idas e vindas no estúdio. Quando ele me mostrou eu curti o som, achei minha cara. Acho importante o rap estar mesclado com todos os gêneros. Aliás, no caso do Gabriel, acho que é um som que casa muito bem com o rap, acho que tem tudo a ver”.

Marral, sensação do rap carioca, divulga single Sou Eu

A carreira de Marral na música começou no final de 2013, mas só agora o rapper estreia no mainstream com Sou Eu. Segundo o artista, que começou a se interessar pelo hip hop através da dança, aos 15 anos, seu maior desafio será conseguir viver apenas de música. “Cheguei a dançar profissionalmente em festas e campeonatos, mas dores nos ombros me limitaram e fizeram com que eu me interessasse pela produção musical e montasse meu próprio estúdio em casa”, conta Marral. E foi em 2013, quando se mudou da Penha, no Rio, para a baixada fluminense, em São João de Meriti, que gravou seus sons. “Atualmente, eu que gravo e produzo minhas músicas que vão do R&B ao trap, sempre com muita melodia e originalidade”, afirma. Marral deveria ter uma letra “W”, mas quando o pai de Marral Frutuoso Vasconcelos foi registrá-lo, o cartório optou por duplicar o “R”. A história hoje é contada pelo próprio artista com divertimento. “O mais importante é a homenagem que meu pai quis fazer por gostar muito de surf. Marral é uma gíria havaiana, é a brisa que acalma o mar”, conta o artista.

Sensação de Las Vegas, Velvet Chains lança Tattooed, com Richard Fortus

De Las Vegas para o mundo. A banda Velvet Chains foi formada na capital do entretenimento, em 2018, por músicos experientes no circuito local. A proposta sonora do grupo é o rock com andamentos contagiantes, cozinha segura e melodias de guitarra e vocal cativantes, daquelas que grudam na cabeça. A música do quarteto é uma mistura de estilos e personalidades musicais consequentes do intercâmbio cultural: Jerry Quinlan (voz e guitarra) e Noelle Schertzer (bateria) são dos Estados Unidos, Laurent Cassiano (guitarra) é brasileiro e o baixista Nils Goldschmidt líder do projeto é chileno. Guiada pelo que de melhor foi feito no grunge e no hard rock dos anos 1990 e 2000, a sonoridade do Velvet Chains tem como referências grupos como Guns N’ Roses, Alice in Chains e Pearl Jam, entre tantos outros de estilos diferentes. Toda a riqueza artística desta mescla de origens e influências será condensada e apresentada amplamente ao público em 24 de setembro, quando o conjunto coloca no mercado o seu álbum de estreia, Icarus. Antes, no entanto, a banda liberou sua primeira prévia, o single Tattooed, com a participação do guitarrista Richard Fortus (Guns N’ Roses). A concepção lírica aliada à qualidade sonora é outro fator importante. “Nosso objetivo era escrever músicas com letras importantes, que ao mesmo tempo abrangessem diferentes gêneros dentro do rock dos anos 90 aos 2000. Você encontrará um pouco de Rock pesado, um pouco de grunge, um pouco de pop punk e muito mais neste disco”, explica Nils, o fundador da banda. Icarus, o álbum de estreia do Velvet Chains O álbum de estreia da Velvet Chains, Icarus, foi composto em parceria com o compositor Drew Lawrence. As gravações aconteceram no começo de 2021, em diferentes estúdios. Em resumo, a bateria foi registrada no The Hideout e o baixo no The Tone Factory, ambos em Las Vegas, enquanto guitarra e vocal foram gravados no The Killroom, em Seattle. O trabalho de engenharia de som ficou com Greg Williamson, enquanto a mixagem e masterização ficaram a cargo de Tristan Hardin. O primeiro single do trabalho, Tattooed, “fala sobre como lidar com extremos nos relacionamentos e mascarar a dor originada disto”, explicam os músicos. A música vem acompanhada de um impactante videoclipe, produzido pelo renomado Dean Karr (Marylin Manson, Iron Maiden, Velvet Revolver), que concebeu toda a narrativa do vídeo, que traz cenas fortes unidas ao som marcante da Velvet Chains. Um segundo single será divulgado antes do álbum completo: Strangelove, escrita em parceria por Nils e Drew. “Trata-se de uma atração/amor ímpar que nunca funcionaria, pois beira a obsessão. Esta provavelmente é a mais amigável para as rádios, pois é bem mais otimista do que o resto de nossas músicas. Agora ela se tornou uma das nossas favoritas para tocar ao vivo”, conclui Nils.

Mission Pilots and the Dropkick Apollo, power trio de Floripa, estreia com disco

O disco de estreia da Mission Pilots and the Dropkick Apollo, power trio instrumental de Florianópolis, já está disponível no streaming via Abraxas Records. São cinco músicas que carregam o peso do stoner em meio à viagens psicodélicas e camadas de fuzz. O álbum foi concebido em torno de um universo narrativo embebido nas referências do sci-fi, nas viagens espaciais, no etéreo e no passional. Esses elementos se estabelecem, criando de forma subjetiva – e muito vinculada ao interpretativo – o início de uma saga. Mission Pilots and the Dropkick Apollo foi gravado em 2019 de forma independente, no estúdio da banda, e todas as faixas foram produzidas por Bruno Bastos Nogueira. Para a estreia, Sleepy Sun, Truckfighters, Dead Meadow, Causa Sui e Pink Floyd são referências para o material consistente e empolgante, uma viagem lisérgica com altas doses de adrenalina. Formada em 2012, a a banda iniciou sua jornada tocando em pequenas festas na região. Instrumental, busca uma sonoridade que une o peso do stoner com momentos introspectivos, sempre instigada por uma camada psicodélica. Já com um repertório autoral, a banda logo é chamada para se apresentar ao lado de nomes internacionais do rock chapado, dentre eles, três realizados pela Abraxas: Radio Moscow, The Shrine e Earthless. Já está em produção uma graphic novel que aprofunda a narrativa do disco de estreia. A intenção da banda é ampliar a experiência auditiva para outras plataformas.

Com álbum previsto para novembro, Ney Matogrosso lança EP no dia de seu aniversário

Ney Matogrosso comemora 80 anos com o lançamento de um EP prévia do novo álbum Até pelo menos meados dos 1980, era hábito entre os artistas da música brasileira reservar um período do ano para percorrer, cidade por cidade, todo o interior de São Paulo. Cantor, músicos e equipe técnica entravam em um ônibus e passavam um mês dentro dele, algumas vezes até mais do que isso. Estacionavam de manhã na primeira cidade, a equipe ia direto para o teatro montar cenário e equipamento, passavam o som à tarde, o show acontecia à noite. Público saciado, iam para o hotel dormir. De manhã, entravam de novo no ônibus rumo à próxima parada. A imagem é mais ou menos aquela, muito clássica, que vemos em filmes sobre o período dourado da música – e que gerou a expressão “na estrada”, de tom tão poético que é usada até hoje, quando as turnês são quase sempre aéreas. Canção de Caetano Veloso lançada no LP Outras Palavras (1981), Nu Com a Minha Música é um registro fiel daquelas viagens pelo interior paulista, um retrato de força visual tão potente que quase transforma som em cinema e nos carrega junto na viagem. EP de Ney Matogrosso chega com quatro faixas Hoje, todavia, 40 anos depois, Nu Com a Minha Música se torna o nome do novo trabalho de Ney Matogrosso, que é entregue ao público em duas etapas. Posteriormente, um álbum completo, de 12 faixas, com lançamento marcado para novembro. Mas antes, neste domingo (1º), mesmo dia em que o artista completa 80 anos, chega às plataformas de música um EP homônimo antecipando um terço de suas faixas. Concebido por Ney Matogrosso durante a pandemia, o projeto tem produção musical dividida entre quatro nomes com quem o intérprete vem trabalhando nos últimos tempos: Sacha Amback, Marcello Gonçalves, Ricardo Silveira e Leandro Braga. Cada produtor usa formações e bandas diferentes. Ney tem nítidas as memórias de estrada que Caetano descreve tão bem. Lembra especialmente da turnê do LP Bandido (1976), nos primeiros anos de sua carreira solo, quando percorreu justamente esse circuito pelo interior paulista. Na nova gravação, a canção ganha divisão rítmica mais acelerada sob a produção de Marcello Gonçalves. Marcello toca o violão de sete cordas e assina o arranjo, que conta com Anat Cohen (clarinete), Marc Kakon (bouzouki) e Joca Perpignan (percussão). Em resumo, todo o repertório do álbum foi pinçado em um baú especialíssimo, que Ney cultiva desde sempre. Ademais, vale destacar que são músicas que o artista conheceu na voz de outros intérpretes e que o atingiram de imediato, não fazendo diferença se tenham vindo do repertório anos 1960 da Jovem Guarda ou do álbum mais recente de um compositor da novíssima geração. Canções guardadas no baú por décadas Em alguns casos, a canção pode ficar guardada no baú por décadas até que chegue o momento ideal de ser incluída em um álbum ou um show. O importante é que, quando regravada, ela ajude a fundamentar o texto, o discurso, o roteiro planejado por Ney para aquele trabalho específico. O álbum Nu Com a Minha Música, portanto, pode ser compreendido também como um álbum de memórias – bem antigas e muito recentes – a formar um quadro muito contemporâneo. Peças recolhidas “na estrada, embaixo do céu” nesses 50 anos de carreira musical de Ney Matogrosso, mas que, no roteiro imaginado pelo artista, fazem muito mais sentido hoje do que poderiam fazer em qualquer outro tempo. Com arranjo de piano e violoncelo criado por Sacha Amback, Mi Unicornio Azul revela-se absolutamente atual, sobretudo pelo discurso. A música foi escrita por Silvio Rodríguez em 1982 e lançada no álbum En Vivo, que o autor dividiu no mesmo ano com Pablo Milanés – como ele, um expoente da Nova Trova Cubana. Os versos aparentemente surrealistas parecem ocultar uma mensagem homoerótica, de um amor vivido (e proibido) entre dois homens, algo impensável em Cuba e naquele período. O unicórnio, como se sabe, é um símbolo ligado ao imaginário gay. Ney ouviu a canção ainda no início dos anos 1980, ao vivo, em uma apresentação de Rodríguez e Milanés no Canecão, no Rio. Novo EP de Ney Matogrosso tem sons “recentes” Três décadas mais nova é Se Não For Amor, Eu Cegue. Ney Matogrosso conheceu essa parceria de Lenine e Lula Queiroga em Angra dos Reis, na casa de José Maurício Machline. O empresário costuma receber seus convidados para festas animadas, sempre com muita música. Em algum momento da tarde, no entanto, o shuffle do som os levou à gravação original de Lenine, lançada no álbum Chão (2011). Por fim, Ney teve que interromper os passos de dança do anfitrião: “Zé, que música é essa? Ele está dizendo ‘se não for amor, eu cegue’? É isso mesmo? Quero gravar isso”. Mais uma para o baú que viria à tona agora. O arranjo que Ricardo Silveira preparou para a versão de Ney Matogrosso tem Renato Neto no piano, Claudio Infante na bateria, Zero na percussão e Liminha no baixo. Contudo, a mais antiga entre as quatro faixas do EP é também a mais conhecida. Com letra de Paulo Coelho, Gita é um clássico absoluto do repertório de Raul Seixas. Aliás, o clima épico da versão original é mantido aqui, sob a produção de Leandro Braga, que também toca o piano. Leandro criou um grandioso arranjo de sopros e cordas. Aliás, Ney manteve inclusive a fala de Raul na introdução: “Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando/ Foi justamente num sonho que Ele me falou”. Parceria com Raul Vale lembrar, Ney Matogrosso já tem um belíssimo histórico como intérprete de Raul. Anteriormente, em 1977, quando selecionava repertório para o LP Pecado, Ney procurou o Maluco Beleza em busca de novidades. Como resultado, acabou regravando Metamorfose Ambulante – e sua versão é tão ou mais representativa do que a do próprio autor. Logo em seguida, Raul foi atrás de Ney, levando na sacola uma demo de Mata Virgem. A música entraria, poucos anos depois,