Entrevista | Larry McDonald (Skatalites) – “Para outras pessoas é fácil pegar o ska e colocá-lo em uma música ‘pesada'”

Neste domingo, a partir das 15 horas, quando o Skatalites estiver no palco da Virada SP, na Praça Mauá, em Santos, o público estará diante de um dos pais do ska. Além disso, na percussão, uma lenda viva da música jamaicana também estará presente, Larry McDonald. Aos 85 anos, Larry McDonald simplesmente gravou com todos os grandes nomes possíveis: de Slackers a Mick Jagger, de Taj Mahal a Lee Scratch Perry, de Peter Tosh a Toots & The Maytals, passando por outros mais variados, como Cat Power e Soulfly.E, mesmo com esse currículo pesado, Larry McDonald não perde a simplicidade. Em conversa com o Blog n’ Roll, o músico demonstrou muita alegria em estar no Brasil. Além de Santos, ele ainda passará por várias cidades, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro. “É minha primeira vez no Brasil. Em 60 anos de carreira, nunca estive no Brasil. Acho que vocês não me queriam aqui”, disse aos risos. Falando sobre o pioneirismo do Skatalites, Larry tirou o peso de “pioneiro do gênero”. “Veio com o começo da indústria fonográfica… Vou ter que dizer, teve uma greve nas gravadoras nos Estados Unidos e nenhum disco estava sendo feito. Acredito que foi por volta desta época que as pessoas iam para os Estados Unidos, mas não conseguiam comprar discos por causa disso. Então, as gravadoras começaram a gravar artistas locais… e o resto como dizem é história”. Admiração de Larry McDonald pela música brasileira Admirador de bossa nova, Gilberto Gil e Gal Costa, Larry relembrou o dia em que gravou com Max Cavalera, em um álbum do Soulfly. “Fiz um álbum de metal com o Max Cavalera, do Soulfly. Eu o conheci em um festival de reggae. Ele disse que quando voltássemos aos Estados Unidos, ele queria fazer alguma coisa comigo. E ficamos uma semana para gravar isso”. Para Larry, os movimentos subsequentes ao ska raiz, dos anos 1960, na Jamaica, são muito bons, tais como as bandas da 2Tone ou a terceira onda do ska. E não trata a situação com purismo quando vê bandas misturarem o gênero com punk e hardcore, por exemplo. “Para outras pessoas é fácil pegar o ska e colocá-lo em uma música “pesada”. É bem natural, como se sentisse em casa, porque nós sempre fazemos nossas coisas e distorcemos um pouco das nossas inspirações”. Confira a programação musical completa da Virada SP, em Santos Palco Mauá – Praça Mauá s/nº, Centro Sábado (22) 18h – Planet Hemp 20h30 – Supla 23h – Zimbra 1h30 – Ana Cañas canta Belchior Domingo (23) 12h – Mike Love 13h – Andrew Tosh 15h30 – Skatalites 18h – Baile do Simonal + Paula Lima

Entrevista | Kokoroko – “Nosso crescimento vem das pessoas”

A banda britânica Kokoroko, atração do Sesc Jazz, que rola neste sábado (22) e domingo (23), no Sesc Pompéia, em São Paulo, conversou com o Blog n’ Roll sobre a origem do grupo, as influências do afrobeat e jazz, além da ligação com a música brasileira. Os interessados em curtir essas apresentações devem correr para garantir os últimos ingressos no site do Sesc. Os ingressos variam entre R$ 15 e R$ 50. Confira abaixo nossa conversa com Sheila Maurice-Grey, responsável pelo trompete, flugelhorn e vocais e Ayo Salawu (bateria). A música que o Kokoroko faz é uma bela homenagem à terra natal de vocês. O que vocês querem que aqueles que não são da África Ocidental ou do Caribe saibam sobre a cultura de vocês? Sheila – É uma ótima pergunta, acredito que nunca tinham me perguntado isso. Eu acho que é importante para as pessoas se sentirem conectadas com nossas músicas, então independente do cenário que essa pessoa vem é importante que se conectem e entendam. Mesmo que não seja uma conexão cultural, seja uma conexão espiritual, as pessoas têm histórias muito lindas para nos contar sobre nossas músicas. Então além da cultura, da raça, acho que isso é muito bonito, muito grande, que conquistamos em nossa música. Ayo – Eu também penso, que além disso, muito da música negra rodou o mundo e inspirou muitas pessoas, e o fato de nossa músicas ter muita influência africana, a música que criamos tem muitos elementos de soul, jazz, funk, gospel, então sinto que alguém que ouça a música do Kokoroko, caso não tenha contato a música do oeste da áfrica, sentirá os elementos do jazz e se conectarem, ou outros desses elementos. Nossa música é uma fusão dessas influências, então sinto que há algo nisso para as pessoas se conectarem. Em tempos de TikTok, como manter a proposta de som original sem se render ao viral forçado? Ayo – Eu acho engraçado, pois eu pessoalmente não tenho TikTok, e como banda, mesmo o Instagram, só fomos mais ativos com o intuito de impulsionar o álbum e coisas assim. Mas fomos abençoados também que nosso crescimento vem das pessoas se conectando com a música, majoritariamente. Ainda não empenhamos muita energia em impulsionar nosso trabalho a ser mais mainstream no Instagram, queremos que as coisas aconteçam mais organicamente. Sheila – Acho que nunca foi parte de quem somos, nós nunca nos apoiamos neste lado da mídia social como ferramenta. E acredito que tudo que fizemos foi para ser uma verdadeira representação de nós, e não necessariamente fizemos algo para fazer parte do que está acontecendo, não que sejamos contra, mas só queremos ser nós mesmos e autênticos. Could We Be More, álbum de estreia de vocês, teve grande aceitação. Queria que você me falasse um pouco sobre o processo de produção. Como foi, onde gravaram? Ayo – O processo gravando o álbum foi uma longa, porém divertida, jornada, aprendemos muito. Eu acho que uma das coisas que foi crucial, claro que teve a pandemia e para muitas pessoas foi um infortúnio, mas para nós criadores foi uma oportunidade de desacelerar, e ser presente, e capaz de viver no mesmo espaço que você escreve e grava, sendo caseiro. Coisas assim nos deixam presentes e muito focados no lado criativo das coisas. Uma das coisas boas que veio da pandemia para nós foi o tempo, que nos permitiu ficar mais focados. Nosso produtor também foi um cara que conseguimos nos conectar bem, e ele foi uma grande influência no nosso som, e também nosso engenheiro. Sheila – Nós gravamos no estúdio que compramos, ficamos lá basicamente por um mês, dois meses. O que pesou na montagem do tracklist? Sheila – Nós queríamos contar uma história. Nós decidimos o título do álbum até terminar, uma coisa que ficou clara era que nós queríamos que fosse uma jornada, e queríamos que as pessoas seguissem nessa jornada através da história. Eu acho que isso foi muito importante na escolha da ordem das músicas, tivemos muitas ordens até chegar na última. E até assim eu não lembro, quando eu escuto penso “nossa, é desse jeito”. O que significa Kokoroko? E o que representa para vocês? Ayo – Kokoroko significa “seja forte”, e é uma palavra iorubá da Nigéria.  Sheila – E também, dependendo da tradução, pode dizer “difícil de se quebrar”, e eu adoro isso. Eu acho que é muito relevante. Como o Kokoroko se posiciona na cena londrina, tendo em vista a fusão enorme de culturas que existe na cidade? Sheila – Eu acho que é tão relevante, quando você olha para Londres, você enxerga tantas culturas que se uniram. Algumas pessoas se prendem muito a suas culturas, mas quando se frequenta a escola, o mercado, você muitas culturas. E eu acho tão único, há poucos lugares assim no mundo, e Londres é um deles. Como está a expectativa para os shows no Brasil? Vocês se apresentam neste sábado e domingo em São Paulo. Ayo –  Será incrível, esperamos muita energia e muita dança. Tivemos um pequeno gosto disso em 2018 quando viemos tocar aqui, e agora é bom estar de volta. As pessoas são livres para se expressarem, nós sempre nos doamos no palco e permitimos que juntem a nós, mesmo quando ficam apenas parados lá sem dançar, então estar em um lugar que entenda a cultura da dança será muito bom. Sinto que não será um show do Kokoro, todos farão parte dele. Vocês conhecem algo da música brasileira? Já ouviram nossos artistas? Sheila – Lembro de música ótima. Conhecemos a Liniker, vamos encontrar ela, a Luedji Luna, que também conheci na última vez, o Jonathan Ferr. Ayo – Eu conheci um pouco também na última, não recordo o nome, mas era um grande produtor, com um guitarrista e um baixista, e fui até conhecer no Instagram, a música era muito boa, eles foram para o show também. A cultura musical aqui é muito boa. Muito se fala sobre a ligação de vocês com