Crítica | Wandinha (1ª Temporada)

Engenharia do Cinema Quando foi anunciada pela Netflix, a série “Wandinha” causou uma enorme sensação de medo nos fãs de “A Família Addams“, uma vez que a plataforma não tem acertado nas suas últimas adaptações. Porém, quando o nome de Tim Burton foi atrelado a direção dos episódios e produção executiva, desta primeira temporada, o alívio foi ganhando mais espaço. Com a atual Screen Queen, Jenny Ortega (“X” e “Pânico“) vivendo a protagonista, a atração realmente se mostrou uma das mais divertidas do ano. Após causar um tremendo acidente em sua atual escola, Wandinha (Ortega) é expulsa de sua escola, fazendo com que Gomez (Luis Guzmán) e Morticia (Catherine Zeta-Jones) lhe coloquem na instituição de ensino “Nunca Mais”, local onde os mesmos estudaram e se conheceram. Mesmo demonstrando uma total discordância em estar lá, ela acaba percebendo que no ambiente existem várias coisas macabras que lhe interessam. Imagem: Netflix (Divulgação) É nítido que a própria Netflix deu carta verde não só para Burton conduzir sua narrativa, como também aos próprios criadores da atração Alfred Gough e Miles Millar (criadores da sucedida série “Smallville“). Mesmo com uma forte inspiração na série dos anos 60, criada por Charles Addams (que na época, teve como base sua própria família) e nos dois filmes dos anos 90, que foram dirigidos por Barry Sonnenfeld (“MIB – Homens de Preto”), a série conseguiu ter sua própria imagem perante as adaptações citadas. Existem homenagens às mesmas (seja em arcos, diálogos ou até mesmo objetos), mas nada pode ser definido como uma “cópia barata” (algo que ocorre e muito nas últimas adaptações). Embora a própria Família Addams apareça relativamente pouco, eles conseguem possuir uma química incrível. Seja a divertida química e atuação de Guzmán e Zeta-Jones (que exercem uma divertida versão de Gomez e Mortícia), a hilária aparição de Fred Armisen (como Tio Chico) e até mesmo as constantes interações do Mãozinha com a própria Wandinha. Inclusive, a escolha de Ortega para interpretar a mesma foi excelente, pois ela não só entrou de cabeça na interpretação, como também ela conquistou totalmente o estilo da mesma. E provavelmente, ela contou demais com a ajuda da própria Christina Ricci, interprete da Wandinha nos filmes dos anos 90, que aqui interpreta a professora Marilyn Thornhill (que é uma personagem regular na atração, inclusive), e nitidamente ela também está feliz em ter voltado a este universo que marcou sua carreira. Mas como estamos falando de uma produção com a mão de Tim Burton, não posso deixar de falar que o estilo da produção beira bastante aos cenários já criados pelo cineasta, que é conhecido por ter muita pegada gótica e surrealista, em suas tramas de fantasia (só pegarmos clássicos como “A Noiva Cadáver“). E datado o universo dos Addams, essa pegada caiu como uma luva (tirando o gosto amargo da animação lançada ano passado). Isso sem falar que não evitam de mostrar sequências com sangue, violência e até mesmo uma pegada leve de suspense e mistério (algo que havia sido deixado de lado nas últimas produções dos personagens). E claro, há muita comédia nesta produção, principalmente vindo da própria Wandinha, que literalmente deixa claro que não liga para o politicamente correto (pelo menos não totalmente), pensamentos dos valentões e de quaisquer aspectos. Ela só está interessada no caos ao seu redor. Com oito episódios, a primeira temporada de “Wandinha” deixa claro que finalmente a Netflix está acertando, na hora de conceber novas produções de grandes e renomadas franquias. Que venha a segunda temporada!
Crítica | Raymond & Ray

Engenharia do Cinema Este é o típico caso que se não fosse pelos atores Ewan McGregor (“Obi-Wan Kenobi”) e Ethan Hawke (“O Cavaleiro da Lua”) e a presença do respeitado cineasta mexicano Afonso Cuáron (“Roma”) como produtor, este projeto sequer iria ver a luz do dia. “Raymond & Ray” usufrui de um assunto pouco explorado no cinema, mas que se salva e muito, por conta do talento do roteirista e de seus atores (uma vez que filmes sobre funerais, sempre dependem da dose dramática dos atores e do grau de realismo dos roteiristas). Imagem: Apple TV+ (Divulgação) A história gira em torno dos irmãos Raymond (McGregor) e Ray (Hawke), que se unem para iniciar os preparativos do funeral do Pai. Só que eles não imaginavam que o mesmo não iria deixar quase tudo engatilhado, como também iria solicitar que ambos e seus outros filhos fossem responsáveis por cavar seu túmulo. Durante os 20 minutos iniciais, o cineasta Rodrigo García (que também cuidou do roteiro), se preocupa exclusivamente em apresentar o perfil dos irmãos e fazer o espectador criar empatia pela dupla. Enquanto Raymond é o certinho, Ray é o mais maluco e descolado, mas o que lhes une mesmo (sem ser o laço sanguíneo), é o grau da situação, uma vez que a figura paterna não era tão presente na vida destes (e neste ponto, uma parcela do espectador vai comprar o mesmo pela identificação com o contexto). E realmente a atuação da dupla é o carro chefe do filme, pois além de possuírem uma química necessária, eles convencem demais. Só que embora o contexto seja bem dramático, o texto falha ao tentar criar algumas atmosferas cômicas que realmente não funcionam (uma vez que muitas delas já foram apresentadas em clássicos como “Morte no Funeral”). Se García estivesse apenas focado em realizar um atmosfera mais séria, algumas situações colocadas no último arco, seria melhor comprado (já que soa como jogado, e até mesmo irrelevante). “Raymond & Ray” bebe muito da fórmula de filme sobre funerais, mas consegue se sobressair por conta do talento de Ewan McGreggor e Ethan Hawke.