Crítica | O Amante da Lady Chatterley

Engenharia do Cinema Se tratando de mais um longa da Sony que foi direcionado com lançamento direto para a Netflix, “O Amante da Lady Chatterley” é mais uma das várias adaptações do conto clássico de D.H. Lawrence (que é inspirado em fatos reais). Estrelada por Emma Corrin e Jack O’Connell, a produção está fazendo enorme sucesso por conta das diversas cenas de sexo (inclusive algumas beirando ao explicito), e pouco se fala sobre a trama como um todo e que o ato tem cabimento dentro do contexto. A história mostra a Lady Connie Reid (Corrin) que se casa com o militar Clifford Chatterley (Matthew Duckett), que ficou paraplégico ao retornar da Guerra. Sem condições de conseguir dar uma vida sexual e um filho para a primeira, ele a instrui que a mesma deverá procurar um homem para conceber um filho (mas isso, deverá ser feito em segredo). É quando ela conhece o pacato plebeu Oliver Mellors (O’Connell), pelo qual esta começa a desenvolver um caso amoroso. Imagem: Netflix (Divulgação) Este é o típico projeto que certamente fala muito mais com o público feminino, ao invés do masculino, simplesmente pelo fato de exercer uma ácida crítica de como muitas delas não conseguem ter seus desejos e vontades atendidas, independentemente da índole do seu parceiro. Só que diferente do recente, “Ela Disse“, aqui o público masculino acaba compreendendo a mensagem do que está sendo retratado. Para conceber isso, era preciso ter várias cenas de sexo, nudez e vocabulários envolto a temática por conta da naturalidade que precisava ser mostrada (uma vez que o escopo retratava exatamente isso). E para isso caiu como uma luva a escola de Corrin (que ficou conhecida por ter vivido Lady Diana em “The Crown“), que entrou de cabeça na personagem e facilmente compramos suas motivações e sua química com O’Connell.   “O Amante da Lady Chatterley” consegue ser uma grata surpresa para o público feminino, e fala com as mesmas em uma linguagem que certamente cativará ambos os sexos.

Crítica | O Menu

Engenharia do Cinema Em uma era onde filmes originais estão cada vez mais difíceis de se achar, “O Menu” consegue ser não só um projeto que vai totalmente na contramão do que os estúdios vem nos entregando, como também opta por mesclar o reality “Chef’s Table” com o clássico “A Fantástica Fábrica de Chocolates“, com pitadas de horror. Estrelado por Ralph Fiennes (em um papel que caiu como uma luva para ele), Anya Taylor-Joy e Nicholas Hoult, temos um projeto que certamente irá dividir e muito o público por conta de N fatores. A história tem início com o casal Margot (Joy) e Tyler (Hoult), que junto a um grupo de pessoas, das mais diferentes personalidades e carreiras, que decidem viajar para um restaurante distante, liderado pelo misterioso Chef Slowik (Fiennes). Ao chegarem no local, eles começam a reparar que não apenas pratos culinários são as especialidades do local.  Imagem: Searchlight Pictures (Divulgação) Desde seu primórdio, sentimos que o roteiro de Will Tracy (um dos criadores da série “Succession“) e Seth Reiss começa com uma forte pegada de Agatha Christie, ao apresentar detalhadamente o estilo de seus personagens e como eles são distintos entre si. Tendo como plano de fundo os sete pecados capitais (soberba, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula e a preguiça), cada mesa e o grupo de cozinheiros são realmente um ode à reflexão de como estes tipos de personalidades seriam, caso se encontrassem em um mesmo ambiente. E realmente isso funciona por conta do texto que foi proposto. Embora Fiennes esteja assustador em seu papel (afinal, ele transpõe uma persona ameaçadora durante boa parte da projeção), a única que está na mesma sintonia e consegue bater de frente com o mesmo é Joy (que realmente está acertando com seus projetos, e aqui não é diferente). Com sensações de dúvidas, medo e ao mesmo tempo coragem e audácia nas suas atitudes, em poucos minutos já compramos sua protagonista. Em contraponto aos dois, Hoult se torna o grande alívio cômico (por ser totalmente desligado ao que está acontecendo em sua volta). Mas adianto, que estamos falando de um filme que vai funcionar, quanto menos você souber, ou seja, não irei adentrar mais no enredo do mesmo.  Com relação a retratação dos pratos e o arco culinário do filme, os pratos são exibidos de forma satírica (como se funcionassem em um programa do gênero), onde os ingredientes e o próprio visual são mais nítidos do que o nome dos pratos (que sempre era atrelado a algo maluco). Não chega a dar água na boca (pelo menos na maioria), mas serve para mostrar o quão uma parcela da sociedade só consome este tipo de pratos, para se exibir na internet. “O Menu” consegue se favorecer por conta de sua originalidade no roteiro, que não só foge dos padrões atuais do cinema, como nos entrega uma divertida produção de suspense com toques de comédia.