Entrevista | Freya Ridings – “A indústria musical diz para não fazer, mas me rebelei”
Blood Orange é o disco que Freya Ridings precisava fazer. No auge da pandemia e com um coração partido, a inglesa mergulhou nos altos e baixos de um período de incertezas para oferecer ao público novos hinos de amor próprio e celebração da vida. As 14 faixas de Blood Orange, que chegou ao streaming nesta sexta-feira (28) apresentam Freya Ridings mais segura de sua voz – de intérprete e compositora – indo do piano intimista aos sintetizadores da disco music. O atual momento de Freya Ridings inclui ainda a participação na coroação do Rei Charles III e a estreia no Glastonbury. Recentemente, Freya Ridings conversou com o Blog n’ Roll, via Zoom, sobre o novo álbum, o convite para cantar na coroação do Rei Charles III, além das comparações com Florence Welch. Como foi para você receber o convite para cantar na coroação do Rei Charles III? É tão surreal, eu sou uma grande apreciadora da história da família real, amo os Tudors, Elizabeth I, Rainha Vitória. Não sou obcecada, mas as histórias, amo, minha mãe também, ficou muito animada quando a contei pelo telefone. Terão 14 milhões de pessoas assistindo, tenho que ensaiar, mas será ótimo. Te surpreendeu de alguma forma esse convite? Nem imaginei que seria uma opção, por isso amo tanto esse trabalho, você nunca sabe as oportunidades que aparecerão para você. Sou fã do Rei Charles, por tudo que ele fez ao longo dos anos para empoderar os jovens. Minha mãe era de um grupo de teatro fundado por ele, então é uma honra participar deste momento. Você já sabe o que vai cantar na coroação? Na coroação será apenas uma música, e não será minha, é um cover muito bonito, que será tocado com uma orquestra, será muito bonito. Blood Orange mistura reflexões sobre solidão e a busca pelo reencontro de si. Como foi retornar para a casa dos seus pais e trabalhar nesse álbum? Foi tão surreal, acredito para todos. Eu estava triste atrás do piano, tinha acabado de encerrar uma turnê pela Austrália. Estava tão desmantelada, genuinamente, pronta para parar, e acho que usei a adrenalina de estar em turnê para ficar longe desta dor, por muito tempo. De repente tive tempo e espaço para pensar sobre, e foi muito assustador, mas também muito libertador sentar atrás do piano, sem gente da indústria musical interferindo, devido a pandemia, mas ainda tinha que lançar meu segundo álbum. Pensando em como fazer isso, me direcionei para os fãs, comecei a fazer lives semanais no Instagram, e eles escreviam nos comentários quais músicas gostavam, quais não gostavam. Basicamente foi o que me salvou, me ajudou a escolher as músicas que colocaria no álbum. Não sei o que faria sem eles, não tinha como fazer shows, nem como a indústria me ajudar, e eles ajudaram. Espero que sintam como fizeram parte desse álbum, e como me esforcei para agradecer a eles. A indústria musical diz para não fazer isso, e me rebelei fazendo. A pandemia acabou sendo um fator complicador na produção do seu segundo álbum. Pensou em desistir ou achou que poderia levar ainda mais anos para concluir sua obra? Estava muito perto de desistir antes de voltar para casa na pandemia, não achava que tinha algo ainda. Então tive esse tempo e espaço, para sentir. O motivo de amar a música é poder cantar para as pessoas que amo o que sinto por elas. Mas, de repente, a música na minha vida ficou acima das pessoas que amo, e senti que era errado, estava fora de equilíbrio. Então tive tempo de reencontrar esse equilíbrio, fazer terapia, e ter algum tempo para ser mentalmente saudável. É um trabalho que foi se jogar de alma, e não voltar para casa por muito tempo, acho que por isso muitos caem no abuso de substâncias químicas, é um trabalho solitário. Para mim, lutar pela minha relação e minha saúde mental se tornou algo muito importante, e ter o tempo de me apaixonar novamente, crescer como pessoa, voltar para a casa dos meus pais, dar uma volta de carro, as pequenas coisas que não faço há muito tempo. E colocar algo que acho valioso nesse álbum, para mim e para outras pessoas, pois antes não tinha vivido o suficiente para dizer nada, só pensava em escrever sobre a dor emocional que tinha, e a composição me tirou dessa dor. Seu álbum de estreia teve uma repercussão muito grande com público e crítica. Você se sente pressionada com Blood Orange? Senti tanta pressão que no começo tive um bloqueio criativo, não conseguia escrever uma palavra. Não conseguia entrar no estúdio sem começar a chorar, percebi que era um problema, que a pressão estava me matando. Foi quando comecei a terapia, dois anos e meio atrás, fui para lá para entender de onde vinha essa pressão, talvez era interna, algo invisível que diz que se eu fizer uma vez, na próxima tenho que fazer mais. E comecei a me questionar quem diz isso, e se você pensa bem, comecei a tocar com 11 anos, e fiz isso sem fama e dinheiro por dez anos, eu faria isso de graça, e tinha que lembrar disso. O motivo pelo qual fiz sucesso foi por dizer as coisas que queria dizer, da forma que queria, e não eram “maneiras”, nem um pouco, me diziam para fazer o oposto disso. Mas me mantive firme, quando disse que queria escrever uma balada, música romântica, me disseram que tinha que escrever músicas alegres, por baladas são um saco, e eu insisti. E depois me falaram que eu era a garota das baladas, não poderia fazer pop, as pessoas gostam de falar merda. No final das contas quando me permiti fazer o álbum que amo, criticaram até o nome que escolhi, Blood Orange, e eu disse que não trabalharia mais com essa pessoa. E foi bom, encontrei pessoas maravilhosas que amaram a minha ideia. Você só tem que tentar, mas me levou muito tempo. Nesse álbum pude trabalhar