Entrevista | Mudhoney – “Por favor atualizem minha foto no Wikipedia”

Uma das bandas mais autênticas e influentes da geração grunge, o Mudhoney está prestes a chegar ao Brasil para apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Ainda há ingressos disponíveis. O último álbum do Mudhoney, Plastic Eternity (2023), será uma parte importante do repertório da apresentação, mas o setlist não está 100% definido. Segundo o vocalista, Mark Arm, a banda pretende cobrir diferentes fases da carreira, resgatando músicas do início e dos anos intermediários. “Temos 35 anos para cobrir. Trabalho duro”, brincou o artista em entrevista ao Blog n’ Roll. Além de falar sobre o show, Mark Arm relembrou uma situação inusitada que viveu no Brasil: durante uma passagem pelo país, ele percebeu que havia esquecido sua guitarra nos Estados Unidos, mas só se deu conta disso ao abrir o case vazio em São Paulo. “Imediatamente pensei que alguém tinha roubado minha guitarra”, contou. A solução foi improvisar com instrumentos emprestados, um dos quais aparece na foto de sua página na Wikipedia até hoje, fato que o incomoda bastante. Na mesma entrevista, Mark Arm compartilhou suas expectativas para os shows no Brasil e relembrou momentos marcantes da trajetória do grupo. Quais são suas expectativas para os shows no Brasil? Você já tem um set list definido?  Não temos um set list pronto em particular, mas temos uma ideia geral e esperamos nos divertir. Pretende priorizar algum álbum?  Tocaremos uma boa quantidade de músicas do último disco, Plastic Eternity, mas tocaremos coisas dos primeiros álbuns e dos anos intermediários. Temos 35 anos para cobrir, é um trabalho duro. Você se recorda de alguma história memorável no Brasil? Você já veio com o Mudhoney e também com o MC5. Uma vez voamos para cá e eu tinha um case de guitarra muito pesado, tipo um case tipo bigorna com metal ao redor. E estávamos na passagem de som em São Paulo e abri meu case e ele estava vazio. Eu imediatamente pensei que alguém tinha roubado minha guitarra. E fiquei, tipo, puta merda. Então meio que me recompus, isso foi antes de ter um celular que ligasse para o exterior e confirmasse. O André Barcinski (jornalista) me ajudou a ligar para casa e perguntei para minha esposa se ela poderia descer e dar uma olhada na sala da banda. E lá estava a guitarra. O case era tão pesado que não percebi que não tinha uma guitarra dentro. E como você conseguiu tocar?  Tive que pegar emprestada as guitarras das pessoas. Na foto principal da minha Wikipedia estou com uma das guitarras emprestadas daquela turnê, uma SG. Eu não tenho uma SG, toco com uma Gretsch, por favor atualizem essa foto. Foi uma estupidez da minha parte esquecer essa guitarra. Mudhoney sempre foi uma das bandas que representou o grunge de uma forma mais autêntica e crua. Como você descreveria a evolução do som da banda desde o começo até hoje?  No começo, nós apenas pensávamos em nós mesmos como uma espécie de banda punk rock e underground, nós não pensávamos nessa coisa chamada grunge. Isso nem era uma coisa que existia em termos de marketing ainda. Nós apenas sentíamos que fazíamos parte daquela tradição underground realmente ampla que incluiria Butthole Surfers, Sonic Youth, Big Black, The Replacements, entre outras. Quero dizer, essas são algumas das bandas mais conhecidas, mas tinha também Killdozer e Scratch Acid, além de muitas australianas como Feedtime, The Beasts of Suburban, The Scientists e Cosmic Psychos. Essas eram as coisas com as quais sentíamos afinidade. Assim como nossos amigos em Seattle, Portland e Vancouver.  Seattle foi o centro das atenções entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990. Você acha que um novo movimento de bandas como o grunge é possível hoje?  Eu não sei. Claro, tudo é possível.  Para muitos críticos musicais, Mudhoney é o padrinho do grunge. Você acha que Nirvana, Alice in Chains, entre outros, teriam existido sem vocês?  Sim, Alice in Chains estava em um caminho diferente. Quer dizer, eles começaram em meados dos anos 80. Pelo menos esse nome estava por aí, sabe, eles não mudaram o som. Acho que originalmente eram mais como uma banda de glam metal. O Soundgarden existia bem antes do Mudhoney começar. Eles eram contemporâneos do Green River. As pessoas estariam tocando música, quer existíssemos ou não. Mas o Mudhoney tem uma grande influência nessa geração de músicos, mesmo soando diferente, certo? Sim, acho que há muitas bandas de Seattle que soam diferentes o suficiente para nós. Pearl Jam, que são grandes amigos nossos, eles não soam como nós. Então talvez nós os influenciamos de uma forma que eles disseram: ‘nós não queremos soar assim. Isso não nos levará a lugar nenhum’. (risos) A morte de Kurt Cobain foi o começo do fim do grunge ou houve outros fatores que contribuíram para a perda de força da cena?  Sim, tenho certeza. Essa foi uma lápide fácil de colocar e não acabou com nada para mim. Só me deixou terrivelmente triste. A energia do Mudhoney no palco é uma das mais comentadas sobre coisas dos fãs. O que você sente quando está no palco? É difícil colocar em palavras o que sentimos. É só que não consigo realmente analisar e destilar em algo que seja, mas é um show muito bom e o público gosta, então, nós nos alimentamos uns dos outros. Como se sentíssemos a energia deles. Espero que eles sintam a nossa. E isso meio que, conforme o show avança, fica meio mais forte e intenso. Esse é o marcador de um ótimo show. Como essa experiência ao vivo evoluiu ao longo dos anos?  Ficamos muito mais velhos, não sou nem de longe tão flexível quanto costumava ser. Minhas articulações doem de vez em quando. Dói meu tornozelo e meu quadril. Não quero ter uma conversa de velho, onde fico sentado e reclamando, mas realmente me dói toda vez que acordo. Mas, por exemplo, acho que quando você envelhece, tem um entendimento melhor disso. Quando você é mais

Entrevista | L7 – “Seria muito horrível se aquele avião virasse”

Prestes a desembarcar no Brasil pela quarta vez, a banda californiana L7 acompanhará o Garbage em sua turnê pelo País a partir da próxima semana. Os shows acontecem nos dias 21, 22 e 23 de março, no Rio de Janeiro (Sacadura 154), São Paulo (Terra SP) e Curitiba (Ópera do Arame), respectivamente. A banda The Mönic fará a abertura dos eventos em São Paulo e Curitiba. Ainda há ingressos disponíveis. O grupo, formado por Donita Sparks, Suzi Gardner, Jennifer Finch e Demetra Plakas, não lança um álbum de inéditas desde 2019, quando divulgou Scatter the Rats. No entanto, gravar um sucessor não está nos planos. A ideia é seguir excursionando e tocando seus principais sucessos. As apresentações no Brasil, inclusive, devem ser focadas no maior sucesso comercial da banda, Bricks Are Heavy, de 1992. Sons novos também estão nos planos. Em entrevista ao Blog n’ Roll, a vocalista e guitarrista Donita Sparks falou sobre a expectativa para os shows, as lembranças da icônica passagem da banda pelo Hollywood Rock de 1993 e a relação com o produtor Butch Vig, responsável pelo álbum Bricks Are Heavy. Além disso, Donita comentou o atual cenário político dos Estados Unidos e a dificuldade de produzir novos álbuns de estúdio. Confira a entrevista completa abaixo. Como está a preparação para os shows no Brasil? Set já está definido? Hoje (dia 13) à noite é nosso primeiro ensaio para os próximos shows no Brasil. Então, ainda não temos o set list. Vamos trabalhar nisso hoje à noite. Mas vou te dizer que vamos adicionar algumas músicas novas no set que não tocamos no Brasil. Isso vai ser emocionante.  No entanto, também temos uma baterista que acabou de fazer uma cirurgia no joelho em janeiro. Então, temos que ser muito eficientes com o que escolhemos, porque ela não pode tocar muito agora.  Mas vocês pretendem priorizar algum álbum?  Sim. Nós, provavelmente, tocaremos a maioria das músicas do Bricks Are Heavy, foi o nosso maior disco de todos os tempos. Além disso, Butch Vig, do Garbage, produziu esse disco. Gostaríamos que ele ouvisse algumas dessas músicas ao vivo. Depois de todo esse tempo, nós sempre tocamos mais coisas do Bricks Are Heavy do que nossos outros discos. Nós estamos realmente ansiosas para tocar com o Garbage. Nós conhecemos esses caras, conhecemos Butch há décadas. E os outros caras da banda estavam acostumados a trabalhar com Butch quando gravamos Bricks Are Heavy. Isso é muito emocionante. Conheci Shirley há cerca de dez anos e ela é muito divertida de se conviver. Apesar dessa relação, nós nunca tocamos com o Garbage antes. Você comentou sobre o Butch Vig. O quão importante ele foi para o sucesso do Bricks Are Heavy?  Ele é um excelente produtor. E ele também não é um idiota, é uma pessoa muito legal, tem um bom senso de humor, além de ser muito diplomático em sua abordagem trabalhando com músicos. Alguns produtores são tiranos, simplesmente horríveis. Tivemos sorte de não termos trabalhado com nenhum desses tipos de pessoas. Butch não apenas é um cara legal, mas trouxe sons de guitarra realmente ótimos e agressivos, e também encorajou nosso lado melódico, nos encorajou a explorar isso um pouco mais do que outros produtores fizeram. E vocês planejam trabalhar juntos novamente?  Ah, não agora. Butch é muito caro, não podemos pagar Butch. Você sabe o que quero dizer? Ele é um grande negócio, nós não somos. Não temos dinheiro para Butch Vig. Teríamos que ser um projeto de caridade dele para trabalharmos juntos. Eu adoraria em algum momento trabalhar com ele, mas isso está muito distante hoje. Uma das memórias mais marcantes ​​que tenho do L7 no Brasil foi a apresentação no Hollywood Rock, em 1993. Você se lembra dessa primeira vez no país?  Foi muito emocionante! Estávamos no mesmo avião com o Nirvana, Alice in Chains, Red Hot Chili Peppers… Quando voamos de São Paulo para o Rio, todas as bandas estavam naquele voo. E aquele voo, quando pousou, quase virou, foi realmente assustador. Imagina isso? Seria muito horrível se aquele avião virasse, todo mundo estava naquele avião. No fim, deu tudo certo e nós fomos ao show, mas foi bem assustador. Não esperávamos a recepção positiva do público no festival, foi muito legal. Meu Deus! Que horror essa situação Muito! Nós pousamos de lado, estávamos quase fora de nossos assentos. A inclinação era tão intensa. Nós estávamos totalmente apavorados, todos os músicos, mas os roadies estavam rindo, achando tudo divertido. Mas você acha que antes desse incidente foi divertido, estar todos juntos no mesmo avião?  Nós saímos mais com o Nirvana, mas também um pouco com o Layne Staley (ex-vocalista do Alice in Chains), ele era muito divertido, essas lembranças que ficam. O L7 sempre foi muito associado ao grunge. Mas acho que é um erro, já que vocês vieram antes do movimento. Isso é algo que te incomoda? Não me incomoda mais. Acho que talvez na época incomodasse, só porque achava que era um jornalismo preguiçoso nos colocar todos juntos daquele jeito. Mas todo mundo precisa de uma porra como essa. Tenho certeza de que bandas que eram chamadas de punk também não gostavam do rótulo. O mesmo acontecia com a new wave. O feminismo sempre esteve presente na história do L7. Você acha que os tempos mudaram se comparado com o início da carreira do L7?  Cresci com o feminismo na década de 1970, minha mãe e irmãs eram feministas, isso faz parte do meu DNA. Mas meu pai era feminista também. Então, cresci com direitos ao aborto na minha casa. E o direito ao aborto foi aprovado nos Estados Unidos em 1973 ou algo assim. Portanto, agora, o aborto só ser legal em alguns lugares dos Estados Unidos é muito bizarro para mim, muito doloroso. Nós temos um presidente fascista, isso também é inacreditável. É foda o que está acontecendo aqui. Em momentos como este, só tenho que fazer o que faço como artista, essa é minha contribuição. Vou continuar fazendo música, vamos