Nostalgia, técnica e hits marcam show do Garbage ao lado do L7 e The Mönic

Em sua quarta passagem pelo Brasil (veio em 2012, 2016 e 2023), o Garbage retornou acompanhado das veteranas do L7 e ainda adicionou a brasileira The Mönic (leia sobre esses dois mais abaixo) para compor a programação, no último sábado (22), no Terra SP, em São Paulo. Com a casa lotada, o evento foi uma grande celebração do rock and roll dos anos 1990. Shirley Manson, com um figurino extravagante, como já é de costume, entregou uma apresentação memorável. Deu grande atenção para os dois primeiros álbuns da carreira, Garbage (1995) e Version 2.0 (1998), ambos com seis músicas cada no set. Ao longo dos 90 minutos de show, Shirley Manson não escondeu a alegria de reencontrar um dos públicos mais fiéis da banda. Totalmente recuperada da cirurgia que fez no quadril em 2023, ela falou sobre a “honra de ter o L7 na mesma turnê”, além de fazer discursos fervorosos de apoio à comunidade trans e minorias, mesmo em tempos tão sombrios no mundo. A sinergia entre Shirley e seus parceiros de longa data, Duke Erikson (guitarra), Steve Marker (guitarra) e Butch Vig (bateria) facilita muito o entendimento no palco. As canções soam como se estivessem sendo reproduzidas do álbum. O único empecilho nesse meio foi a mesa de som. No início da apresentação, principalmente, Shirley cobrou com gestos discretos uma melhora no som. A baixista Nicole Fiorentino, com passagens por Veruca Salt e Smashing Pumpkins, é a novidade. Caiu muito bem nessa formação e mostrando muita técnica nas linhas de baixo. No dia 30 de maio, o Garbage lançará o álbum Let All That We Imagine Be The Light, sucessor de No Gods No Masters (2021). Mesmo faltando pouco mais de dois meses para a chegada do disco, Shirley e companhia optaram por não testar nenhuma novidade em São Paulo. Para quem foi pela nostalgia, o show foi um prato cheio, com hits do início ao fim. Queer abriu a apresentação, que ainda contou com Vow, Special, Stupid Girl, Only Happy When It Rains (que há anos tem uma introdução mais acústica), I Think I’m Paranoid, Cherry Lips (Go Baby Go!), Push It e a conclusão com When I Grow Up. Aliás, When I Grow Up, foi responsável pela única frustração dos fãs, que esperavam que Shirley fosse para o meio da galera, tal como fez no Rio de Janeiro, na noite anterior, mas não rolou. No entanto, nada que tire o brilho da apresentação. O Garbage sabe como agradar o público brasileiro e faz isso como poucos. Certamente entregou um dos melhores shows da temporada. E ainda estamos em março. L7 esquenta público para o Garbage Em entrevista ao Blog n’ Roll, a vocalista e guitarrista do L7, Donita Sparks, já havia adiantado: o álbum Bricks Are Heavy teria grande destaque no repertório do show em São Paulo. Das 16 faixas, seis vieram do maior sucesso comercial do grupo, lançado em 1992. Instituição do punk rock californiano, o L7 está na estrada celebrando os 40 anos de carreira. E mesmo que lançar álbuns não seja mais uma prioridade, muito em função da falta de tempo e dinheiro, a banda segue com a mesma intensidade dos anos 1990, quando estreou no Brasil, no Hollywood Rock 1993. Donita Sparks, Suzi Gardner, Jennifer Finch e Demetra Plakas dividem o protagonismo ao longo do show. Com exceção da última, todas cantam pelo menos uma canção de destaque da discografia do L7. >> LEIA ENTREVISTA COM DONITA SPARKS, DO L7 Mas queria destacar a presença de Jennifer Finch ao longo da apresentação, que teve pouco mais de uma hora de duração. A baixista entrou no palco de salto alto, chutou longe antes de iniciar o show e passou os 60 minutos descalça, indo de um lado para o outro, interagindo com as integrantes da The Mönic, que estavam no pit, além de ter mostrado muita intensidade nas linhas de baixo e nos vocais. Logo após Fast and Frightening, música que encerrou o show, Jennifer calçou o salto novamente e foi embora. Em Pretend We’re Dead, maior hit da banda, Lovefoxx, vocalista do Cansei de Ser Sexy, subiu ao palco quase que no susto. Não parecia estar acreditando na situação e não soube nem o que fazer enquanto esteve ao lado de Donita, que a incentivou a cantar junto. Para os fãs foi um pouco decepcionante a entrada de Lovefoxx em cena. Na pista alguns se disseram frustrados com a não participação do Garbage no show do L7, como ocorreu na noite anterior, no Rio de Janeiro. Mas a mini tour do L7 com o Garbage no Brasil, que incluiu também shows no Rio de Janeiro e Curitiba, teve um gosto especial para as integrantes. Tal como havia comentado na entrevista para o Blog n’ Roll, Donita queria que Butch Vig, produtor de Bricks Are Heavy e baterista do Garbage, escutasse as canções 33 anos depois de sua gravação. Certamente ficou orgulhoso. O L7 soa atual e intenso tal como no início dos anos 1990. Edit this setlist | More Garbage setlists The Mönic A banda paulistana The Mönic foi a responsável por abrir os trabalhos no Terra SP. Com um show de 30 minutos, o grupo conseguiu mostrar um pouco de sua trajetória para um público que abraçou a banda do início ao fim. O show marcou o retorno de Daniely Simões, que havia sido substituída por Thiago Coiote em 2021. De volta à bateria, Daniely demonstrou muita alegria no banquinho, nem parecia estar longe do The Mönic há quatro anos. O repertório foi todo em cima do segundo álbum de estúdio, Cuidado Você, lançado em 2023. Foram sete das 11 músicas do disco no setlist. A oitava canção tocada no Terra SP foi Marte, single divulgado no ano passado. Aposta da Deck, a The Mönic tem em sua linha de frente Ale Labelle (guitarra e voz), Dani Buarque (guitarra e voz) e Joan Bedin (baixo e voz). E foi Dani quem mais colocou pilha no público, indo para o meio

Com muitas novidades no set, Mudhoney prioriza álbuns recentes no Cine Joia

A casa estava programada para abrir às 20h, mas uma hora e meia antes a frente do Cine Joia, no bairro da Liberdade, em São Paulo, já estava lotada, com o público fazendo o esquenta nas redondezas. Velha guarda reunida, público 40+ em peso, várias figurinhas carimbadas da cena, até mesmo Evan Dando, vocalista do The Lemonheads, compareceu. E não é pra menos, pois mesmo já tendo vindo várias vezes para o Brasil, o Mudhoney sempre é uma atração imperdível. Abrindo a noite, o compositor Elder Effe veio do Pará com sua banda, apresentando um rock alternativo com letras em português, algo como um ‘pop sujo’, que se destaca principalmente por trazer a representatividade do Norte do país na cena do rock independente, inclusive mencionando a Amazônia várias vezes nas músicas e lembrando a importância de preservá-la. Elder definiu o som como “músicas de protesto”, com direito a discursos contra homofobia, xenofobia e outros preconceitos. Além de demonstrar a emoção de estar abrindo o show do Mudhoney, Elder fez questão de ressaltar a presença de sua baixista, Inesita, representando as mulheres musicistas do Pará. Em seguida, Apnea, direto da Baixada Santista, fez um show impecável para uma plateia atenta! Escolha muito acertada para a abertura, pois a banda mistura elementos dos anos 1990 e 1970, produzindo um stoner rock de muita personalidade, com pitadas de indie, heavy metal e muito grunge, tudo isso muito bem executado por músicos já veteranos do rolê, conhecidos por integrarem outras bandas queridas como Ratos de Porão, Garage Fuzz e Safari Hamburguers. Destaque para o DJ Damaso, também do Pará, que manteve a energia da pista animada nos intervalos das bandas, indo de Lemonheads a Ramones, passando por Dead Kennedys, L7 e, claro, The Stooges, que não poderia faltar. >> LEIA ENTREVISTA COM MARK ARM, VOCALISTA DO MUDHONEY Às 22h30 em ponto o Mudhoney entrou no palco e logo mostrou porque é uma banda que todo fã de rock quer assistir. A banda influenciou um movimento e continua na ativa, com a mesma energia de 35 anos atrás, fazendo o que sabem fazer, com muita sinceridade. No set list, mais de 20 músicas pontuando a trajetória da banda, com todas as clássicas que levaram geral a cantar junto, naquela energia linda já tradicional em seus shows. Se o desafio era cobrir três décadas de músicas em quase duas horas de show, podemos considerar dever cumprido, a julgar pelos sorrisos estampados no público durante a saída. E agora já temos foto do Mark Arm com sua guitarra original pra substituir na Wikipedia. O repertório priorizou bastante o conteúdo mais recente da banda. Essa é uma característica que Mark Arm mantém. Mesmo sabendo que boa parte do público espera por uma atenção maior pelos primeiros álbuns, ele sempre dá uma refrescada no set list. Foram 19 faixas diferentes na comparação com o último show em São Paulo, que havia rolado em 2014. Desse montante, dez dos dois álbuns mais recentes, Plastic Eternity (2023) e Digital Garbage (2018). Mark Arm, no entanto, não deixou seus maiores clássicos de fora. Touch Me I’m Sick e Suck You Dry são praticamente proibidas de sair do set. E melhor assim. Afinal, elas garantem momentos apoteóticos na relação entre banda e público. Cine Joia ficou pequeno nesses momentos. Edit this setlist | More Mudhoney setlists