Domingo do C6 Fest tem show impecável de Nile Rodgers e comoção com Wilco

O C6 Fest encerrou, no domingo (25), sua edição de 2025 com mais uma curadoria inspirada, equilibrando com inteligência artistas consagrados e nomes que vêm despontando na cena internacional — seja conquistando público em festivais europeus, seja chamando a atenção da crítica especializada. Teve a estreia energética do English Teacher, a performance vibrante do The Last Dinner Party, o show consagrado do Wilco e a celebração da lenda Nile Rodgers, que fechou a noite em clima de festa. Donos de um dos discos mais comentados de 2024 (This Could Be Texas), o English Teacher estreou em solo brasileiro já consagrado como vencedor do Mercury Prize — um dos prêmios musicais mais prestigiados do Reino Unido, concedido anualmente ao melhor álbum lançado por um artista britânico ou irlandês. Mas mesmo quem não está muito antenado aos acontecimentos do mercado musical pôde testemunhar os motivos que fizeram a banda ser reconhecida com tal honraria. Pontualmente às 14h de um domingo ensolarado, o grupo, conduzido principalmente por sua vocalista Lily Fontaine, mostrou estar pronto para uma carreira de fôlego — mesmo com apenas um álbum lançado. Lily é certamente o destaque, trazendo vocais firmes e fraseados do post-punk contemporâneo, mas intercalando com momentos suaves, sustentando notas agudas e entregando sutileza com controle — criando uma dicotomia entre o selvagem e o belo. Uma pequena amostra desse equilíbrio apareceu em The World’s Biggest Paving Slab, música em que a banda convidou uma fã da plateia para tocar guitarra no palco. Um gesto simples, mas revelador da segurança e da maturidade precoce que os ingleses demonstram em seus shows. Além da técnica e da qualidade na execução ao vivo, o grupo se mostra à vontade para explorar o palco, interagir com o público e se entregar totalmente — como fizeram na música de encerramento da apresentação, Albert Road. Na sequência, o mesmo palco que recebeu o English Teacher foi ocupado por outra banda internacional aclamada pela crítica musical. O The Last Dinner Party já contava com uma jovem base de seguidores apaixonados na plateia — e certamente saiu do festival com ainda mais fãs. Todas as músicas foram entoadas em coro, sinal de que o grupo, formado por cinco mulheres e acompanhado por um baterista de apoio, já conquistou o público brasileiro. O som da banda transita com naturalidade entre o pop barroco e o indie rock, com uma sutileza que encanta. A vocalista Abigail Morris não apenas canta — ela performa: dança, interpreta, encena suas músicas com intensidade e carisma, cativando quem estava por ali desde os primeiros minutos. Mas a ode teatral do grupo não se resume a Abigail. O próprio palco é cuidadosamente adornado para criar um cenário em que todas as integrantes brilham em suas posições. Outro destaque é a guitarrista Emily Roberts — mais tímida nas interações com o público, mas efusiva em sua técnica, preenchendo as canções do grupo com solos de indie rock notáveis. Visivelmente emocionadas e felizes com a recepção brasileira, o The Last Dinner Party prometeu voltar — e, quem sabe, com um palco maior e mais tempo para explorar suas apresentações. Um dos maiores nomes do festival, o Wilco, entrou para encerrar os trabalhos da Tenda Metlife. Assim como o Pavement, que esteve nesse mesmo palco em 2024, a banda liderada por Jeff Tweedy carrega décadas de fidelidade de um público fã da cena mais alternativa. O grupo norte americano é reconhecidamente um dos maiores nomes de sua geração do rock alternativo, seguindo firme com lançamentos notáveis mesmo após o auge representado pelo elogiado Yankee Hotel Foxtrot. Ainda que tenha passado recentemente pelo pelo Brasil, a vinda do Wilco para o país é sempre valorizada, pois o conjunto preza pela qualidade sonora e por alterar sutilmente seus setlists, proporcionando surpresas para os aficionados pela discografia do sexteto de Chicago. Company in My Back, do disco A Ghost Is Born (que ganhou uma reedição de 20 anos em 2024), foi a escolhida para iniciar os trabalhos em São Paulo. Com a destreza característica, o Wilco passeou por outros álbuns de sua discografia de 13 discos (fora EPs), sem esquecer de seu último trabalho, Cousin, de 2023. O público apaixonado pela banda cantou até mesmo as frases e solos de guitarra do grupo, levando Jeff a dizer que estava emocionado com a participação dos brasileiros. Em Impossible Germany (de Sky Blue Sky – 2007), o guitarrista Nels Cline brilhou com um solo memorável (e longo), amplamente aclamado. Outra canção performada já na noite de domingo, Via Chicago (de Summerteeth, 1999), talvez seja uma música-chave para entender o som do Wilco: uma melodia suave, quase folk, com a voz de Jeff Tweedy bem contida, cantando versos introspectivos, acompanhada por um instrumental leve — até que uma cacofonia de sons, distorção e caos toma conta da música, enquanto Tweedy permanece em sua calma. Essa alternância — entre delicadeza e ruído — sintetiza bem o tipo de tensão emocional e artística que o Wilco cultiva há décadas: músicas que parecem simples à primeira escuta, mas que revelam camadas profundas de construção sonora e sentimento a cada nova audição. Ao fim, a formação americana deixou o palco sob aplausos entusiasmados e gritos de “Wilco! Wilco!”, reafirmando sua relevância como um dos pilares da cena alternativa que moldou. Ficou a cargo de Nile Rodgers promover a festa de encerramento do C6 Fest 2025. Lenda viva da música, o artista é responsável por alguns dos maiores sucessos da história do pop e do funk. Embora seu nome possa não ser imediatamente reconhecido por todos, é difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido uma de suas criações — ou que não tenha sido, direta ou indiretamente, impactado por seu trabalho como hitmaker. Além de ser um exímio guitarrista — um verdadeiro pilar do instrumento no funk americano — Rodgers compôs e produziu para nomes como Diana Ross, David Bowie, Duran Duran, Beyoncé, entre tantos outros. Com um arsenal de sucessos, como Get Lucky (famosa na interpretação do Daft Punk), ficou fácil para o
Pretenders e Air se destacam em sábado com nostalgia e novidades no C6 Fest

Se consolidando como um dos principais festivais do país, o C6 Fest voltou em sua edição de 2025 repetindo a configuração de 2024: dois dias de festival no auditório do Ibirapuera, com apresentações de jazz e shows intimistas (nos dias 22 e 23 de maio), e os shows em palcos ao ar livre no sábado (24) e domingo (25). No sábado (24), que já começou com ingressos esgotados, o C6 Fest mostrou mais uma vez sua versatilidade, sem abrir mão da relevância artística de suas atrações. Trouxe nomes consagrados como Air e The Pretenders, ao lado de artistas em ascensão como Perfume Genius e Beach Weather. Inaugurando a Arena Heineken nesta edição, a banda Beach Weather subiu ao palco diante de uma plateia majoritariamente jovem. Os americanos, que misturam pop-rock com influências do rock alternativo dos anos 2000 (como The Strokes), não pareciam nem um pouco incomodados em tocar nas primeiras horas da tarde de sábado. Liderados pelo vocalista Nick Santino, o grupo encontrou no seu público cativo a energia necessária para atrair os curiosos que chegavam ao festival. Donos do hit Sex, Drugs, Etc., o Beach Weather se encaixa bem naquela categoria de bandas que conquistam principalmente as novas gerações de frequentadores de festivais. Apoiado por seus fãs engajados, o grupo abriu bem a tarde para esse público, que ainda teria Stephen Sanchez na sequência. Do outro lado do festival, na Tenda Metlife, Mike Hadreas se apresentava sob a alcunha de Perfume Genius. Dono do elogiado álbum Glory (2025), o cantor mostrou que já tem um público fiel no Brasil — que cantou junto até mesmo as faixas mais recentes de sua discografia. Embora esteja há mais de uma década na estrada, é principalmente nos últimos anos que o trabalho de Hadreas vem ganhando mais reconhecimento, tanto pela qualidade de suas composições quanto por sua relevância na cena queer musical contemporânea. No palco, Perfume Genius apresenta seu pop experimental (talvez o termo mais adequado, diante da dificuldade em rotular seu som), por meio de uma performance física marcante: ele rasteja pelo chão, se envolve nos fios do microfone e usa cadeiras como extensão de seu corpo — como se traduzisse em gestos toda a carga emocional de cada música. Outro ponto alto é sua banda afiada, que sabe ser contida nos momentos de delicadeza, mas explode com técnica admirável quando as canções exigem força. Um destaque especial é a guitarrista Meg Duffy, brilhante na criação de texturas complexas e sofisticadas, que enriquecem ainda mais o som do artista. Com a chegada da noite, foi a vez da consagrada banda The Pretenders subir ao palco da Arena Heineken. Um público mais maduro e nostálgico se reuniu para vê-los, mas a banda deixou claro que não vive apenas de lembranças — sua relevância permanece viva. Enquanto os clássicos soam impecáveis na voz de Chrissie Hynde, faixas mais recentes como Let the Sun Come In e Junkie Walk chamaram a atenção de quem ainda não explorou os últimos álbuns, Hate for Sale (2020) e Relentless (2023). Mesmo que esses discos nem sempre figurem nas (por vezes duvidosas) listas de melhores do ano, fica evidente que os Pretenders continuam entregando música de alta qualidade. É claro que os grandes sucessos não ficaram de fora. I’ll Stand by You e Don’t Get Me Wrong foram executadas com precisão por uma banda segura e entrosada, liderada com carisma por Chrissie. A cantora tem uma aura própria — transmite segurança e vitalidade sem precisar recorrer a excessos. Sua entrega é natural, mas poderosa, e ainda inspira contemporâneos como Dave Grohl, fã declarado que já a convidou para dividir o palco com os Foo Fighters. Além de sua imponência musical, Chrissie ainda demonstrou carinho pelo público brasileiro e elogiou São Paulo. No fim, os veteranos se reconectaram com os clássicos que amam, enquanto os mais jovens testemunharam um raro exemplo de longevidade e relevância artística em ação. Para fechar a noite, a banda francesa Air reanimou o clássico Moon Safari e proporcionou ao público a sensação de uma viagem espacial, por meio de ritmos, batidas e imagens transcendentais — suficientes para que quem se conectou à apresentação experimentasse uma travessia cósmica guiada pelo disco de 1998. Tocado na íntegra e na ordem original, o show trouxe um curioso clima de ficção científica ao cenário natural de árvores e lagos do Parque Ibirapuera. As projeções nos telões e na fachada do auditório complementaram a experiência, tornando-a difícil de descrever — uma rara oportunidade de se conectar, ao mesmo tempo, com a música do disco original e com o ambiente inexplicável que se formou naquela noite de sábado. Após tocar a obra completa, o Air ainda apresentou faixas de outros álbuns, oferecendo mais amostras de seu som eletrônico, atmosférico e sofisticado. O encerramento ficou por conta da épica Don’t Be Light, que soou como um convite para explorar além de Moon Safari. O primeiro dia do fim de semana do C6 Fest confirmou que a curadoria do festival continua afiada. Mesmo competindo com outros eventos consagrados, a organização consegue reunir nomes ecléticos, que dialogam com diferentes públicos, mas que se destacam por sua consistência e relevância nas cenas das quais fazem parte. Há artistas em ascensão, que começam a conquistar espaço no mercado e já acumulam prêmios e elogios da crítica especializada. E há também as atrações clássicas — que talvez não estejam entre as mais populares do momento, mas seguem mantendo a excelência em seus shows e lançamentos.
Porão do Rock 2025 mostra que Brasília ainda é a capital do Rock

O Porão do Rock de 2025 está oficialmente encerrado. O evento mesclou dezenas de artistas locais, nacionais e internacionais nesta sexta e sábado (23 e 24 de maio) no estacionamento da Arena BRB Mané Garrincha. Mantendo Gustavo Sá, idealizador do Porão, o festival ganhou Ivan Hauer e Bruno Barra, da agência Flap, como novos sócios. “Foram dois dias circulando esse festival inteiro. Apesar de já ter passado dos 50 anos, a sensação é de dever cumprido”, confessa Sá nos bastidores. Assim que o Porão do Rock foi anunciado, a expectativa principal ficava na conta dos shows de Stone Temple Pilots, pela primeira vez em Brasília, e do Sepultura em seu último festival agendado no Brasil. A banda se apresentou pela primeira vez no evento em 2002, justamente no dia que ganhamos o pentacampeonato com Ronaldo e companhia. Três Palcos e apoio ao underground A logística do Festival colocou os dois palcos principais (BB Seguros e Eisenbahn) muito próximos, facilitando o deslocamento para não perder nenhum acorde. A área ainda contava com uma pista de skate que resgatou a união do esporte com o rock e ainda permitiu que os praticantes tivessem direito a meia entrada. Do Palco Eisenbahn a curadoria do Festival teve grandes acertos. Começando pelas argentinas do Fin Del Mundo, primeira banda a subir neste palco, com seu indie rock melancólico. Desta tônica saíram também Terno Rei, lançando seu novo álbum “Nenhuma Estrela”. Inclusive, a banda abriu o show com “Próxima Parada”, um dos singles deste trabalho. Outro destaque ficou por conta do Menores Atos, a primeira banda do sábado e que foi a responsável por trazer as pessoas mais cedo ao festival. Já a Trampa foi a maior surpresa. Com um som marcado por influências do Rage Against The Machine e muito protesto político, o show teve uma super produção nos telões, algo que não foi visto nem pelas bandas internacionais. Agora nem Sepultura e Dead Fish superaram a dobradinha de palco de Raimundos e Little Quail and The Mad Birdies. As duas bandas de Brasília levaram os mais velhos de volta aos anos 90. Liderada por Gabriel Thomaz, a banda tocou o hit “Aquela” logo no início. A canção foi regravada justamente pelos Raimundos em seu último álbum com Rodolfo (Só no Forevis – 1999). O setlist também contou com o hardcore “1,2,3,4” e o blues bem humorado “Essa Menina” que liderou o Disk Mtv. Mais atrás, o palco Sesc reuniu bandas do underground e os vencedores das seletivas com bandas de todas as regiões do Brasil. Destaques para o hardcore do DFC e Pense, além da estreia da nova banda da Deck Disk, a Swave que reúne membros de bandas como Sugar Kane, Supercombo, Ego Kill Talent e Far From Alaska. O local ainda contava com um camarote que funcionava também como uma pista premium ao lado esquerdo do palco principal. Os 10 melhores momentos do Porão do Rock Escolher o melhor show sempre acaba sendo polêmico e uma opinião muito pessoal. Uma banda do underground como a Trampa, por exemplo, fez um show impecável e com produção de telão digna de headliner. Ainda tivemos grandes shows como Menores Atos, Terno Rei, Swave e as argentinas do Fin Del Mundo. Por isso, preferi focar nos melhores momentos do festival, que relato abaixo: 10. Bayside Kings e o Caos de Moshes e Stage Dives (Palco Sesc) Pela primeira vez no line up do festival, o Bayside Kings causou uma boa impressão e mostrou que pode ganhar mais vagas nos principais festivais do país. Milton Aguiar, vocalista, é um frontman que sabe comandar o público regendo moshes e stage dives como se fosse um maestro. A partir do momento que o primeiro espectador pula do palco, o caos está instalado. Banda e público viram um organismo só funcionando em plena sinergia. 09. CPM22 e a Nostalgia do coral em Não Sei Viver Sem Ter Você (Palco BB Seguros) Desde o ano passado rodando com a turnê do novo álbum Enfrente, o CPM22 mostra que marcou toda uma geração com seus principais hits sendo cantados em coro. A parada programada de “Não sei viver sem ter você” transformou o festival em um verdadeiro coral cantando o principal hit do álbum Chegou a Hora de Recomeçar (2002). 08. Velvet Chains com Presença de Palco e Cover de Elvis Presley (Palco BB Seguros) O Velvet Chains, de Las Vegas (EUA), foi o responsável por fechar o primeiro dia de festival no palco principal. Misturando Hard Rock, Post Grunge e Metal, a banda funciona como uma divertida fusão de Avenged Sevenfold com Creed. A presença de palco de todos os integrantes é um show à parte, com todos eles utilizando todo o espaço do palco, bem como a passarela frontal. Logo de cara, o guitarrista Von Boldt já desceu do palco e tocou a primeira música inteira nas grades que separam o palco da platéia. O cover de Suspicious Minds de Elvis Presley, presente no último EP da banda “Last Rites”, lançado em abril, foi um deleite a todos que ficaram para prestigiar. 07. O Último Festival do Sepultura no Brasil (Palco BB Seguros) São 23 anos de relação e sinergia do Porão do Rock com o Sepultura então, nada mais natural do que ser o último festival agendado pela banda no Brasil em sua turnê de despedida. E o maior representante do metal brasileiro não decepcionou, provando que boa parte do público foi para assisti-los. A reta final com hits como Chaos A.D., Ratamahata e Roots Bloody Roots, com a bandeira brasileira no telão, já deixou um gosto de saudade no ar. 06. Raimundos jogando em casa com Mosh Verde (Palco BB Seguros) Celebrando seus 30 anos de carreira, o Raimundos fez seu primeiro show após o lançamento do álbum “XXX”. A banda foi a primeira a se apresentar no palco principal e responsável por trazer o público mais cedo ao festival. Havia uma expectativa pelo encontro de diferentes ideologias diferentes, com públicos de Black Pantera e Dead Fish