Entrevista | Rubel – “Não tem como passar por algo tão intenso e sair igual do outro lado”

Novo álbum de Rubel, intitulado de Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?, marca um retorno introspectivo do artista carioca às suas raízes musicais, após a experimentação plural de seu trabalho anterior, As Palavras Vol. 1 & 2. Este quarto disco é composto por nove faixas que exploram temas como tempo, amor, amizade, espiritualidade e a dualidade entre vida e morte. Rubel descreve o título como uma frase em movimento, aberta a múltiplas interpretações, refletindo a complexidade e as incertezas da existência. Entre os destaques do álbum estão Pousada Paraíso, Ouro, com influências de Jorge Ben e Marvin Gaye, e Azul, Bebê, uma canção de amor que combina elementos de hip hop e MPB. O álbum também inclui uma versão em português de A la ventana, Carolina, do mexicano El David Aguilar, intitulada A Janela, Carolina, além de uma reinterpretação de Reckoner, do Radiohead, encerrando o disco com uma homenagem às influências internacionais de Rubel. Complementando o lançamento, um filme de seis minutos dirigido por Larissa Zaidan foi disponibilizado simultaneamente. Em entrevista ao Blog n’ Roll, Rubel contou sobre inspirações, evolução na carreira e uma possível vinda para Santos com sua próxima turnê. Aliás, a turnê do novo álbum de Rubel tem início nos dias 21 e 22 de junho, com dois shows no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. Até dezembro, o artista ainda passa por todas as capitais do Brasil, Europa e Japão. Como você chegou nesse título para o álbum e como ele te guiou ao longo da trajetória de gravação e de composição? Queria um título que fosse provocativo, estranho, que despertasse algum sentimento de… ‘O que é isso, afinal?’ Algo que deixasse as pessoas curiosas e instigadas a querer entender e escutar. Agora, sinceramente, eu não lembro se o título veio antes ou depois das composições. Acho que o disco já estava mais ou menos pronto quando o título apareceu. Ele acabou sendo um resultado do próprio trabalho finalizado. Amarrava conceitualmente o que o disco representava, porque é um trabalho meio estranho, que faz muitas perguntas, bastante aberto à interpretação. Tem também esse caráter literário — estamos falando de um álbum que brinca bastante com as palavras — e eu acho que esse título ajuda a dar o tom de estranheza, mas também de algo um pouco pop, que o disco carrega. Você fala muito que é um tom de estranheza, mas pra você, o que é esse tom de estranheza? Não é muito comum um título de disco vir com uma pergunta, ou trazer duas frases — sendo que o ponto final ali marca a transição de uma pra outra. E também não é comum um título tão grande assim. Então, só por isso ele já me soa meio esquisito. Mas “esquisito”, pra mim, é um adjetivo mais elogioso do que pejorativo. Eu realmente acho esse título esquisito — e gosto disso. Você veio agora com uma pegada mais intimista, à base de voz e violão, que é o contrário do seu último álbum, As Palavras Vol. 1 & 2. O que motivou esse retorno ao estilo? Acho que não teve nenhum acontecimento pessoal específico que tenha me guiado nessa trajetória. Foi muito pela própria jornada profissional e musical mesmo. Comecei num lugar muito íntimo, no primeiro disco, depois fui explorando uma sonoridade mais de banda, com beats, dialogando com o hip hop… e no terceiro disco fui ainda mais longe, experimentando muitas sonoridades — pagode, funk. Então, me pareceu natural que em algum momento voltasse para o início. Mas não é um retorno igual. Esse disco remete ao meu trabalho inicial, sim, mas ele já está muito afetado por tudo o que vivi nos outros projetos. Carrega influências do estudo da música brasileira que aprofundei em As Palavras, da produção que explorei em Casas… então, acho que é um caminho natural dentro da minha própria evolução musical. Depois de um disco tão grandioso e cheio de camadas, me deu saudade de fazer algo mais amarrado, com uma única cara. Quis um álbum que soasse como se fosse uma música só, desmembrada em nove faixas. Eu sentia falta dessa produção menor, mais artesanal. É como voltar pra casa — mas voltar um pouco diferente. A casa pode até ser a mesma, mas eu mudei um pouquinho. Quais artistas te influenciaram na produção desse disco e no seu conteúdo como artista mesmo? Esse disco tem uma inspiração muito forte na MPB dos anos 1960 e 1970. João Gilberto é, sem dúvida, a referência central — por essa estrutura minimalista de voz e violão que ele domina como ninguém. Ele é o mestre absoluto desse formato. Além dele, tem o Caetano Veloso, Jorge Ben Jor, a teatralidade do Gilberto Gil, Chico Buarque… São figuras fundamentais. É quase impossível não se apoiar neles quando se busca beleza e profundidade na canção. Eles moldaram o que há de mais sofisticado e expressivo na música brasileira. Foram esses nomes que mais influenciaram a estética do disco — tanto na escolha das harmonias quanto na forma de construir as letras. Existe um diálogo direto com esse universo sonoro mais clássico da MPB, que sempre me encantou. Mas não foi só a sonoridade que me tocou. A postura artística também me inspirou muito, especialmente a do João Gilberto. Ele tinha uma relação muito íntegra com a própria arte — não se deixava guiar por modismos ou expectativas de mercado. E eu quis adotar esse mesmo espírito aqui. Não fiz esse álbum pensando se ele ia estourar ou não, se estaria de acordo com o que está em alta ou com o que vende mais. Segui minha intuição, meu ouvido, meu coração. Acho que essa liberdade criativa é algo que une todos esses artistas que mencionei. E João, mais do que ninguém, sustentava isso com coragem. Ele fazia o que acreditava, com identidade e profundidade, mesmo que isso não o tornasse comercial. É claro que eu torço para que o disco alcance muita gente — todo artista quer