Entrevista | Seafret – “Se pudesse, iria ao Brasil três vezes por ano”

O duo britânico Seafret volta ao Brasil para um show especial no Cine Joia, em São Paulo, neste domingo (24), a primeira apresentação no país em três anos. A dupla formada por Jack Sedman (vocais) e Harry Draper (guitarra) segue divulgando seu novo trabalho, que traz colaborações de peso e reflexões sobre a vida e a carreira. Em entrevista ao Blog n’ Roll, o guitarrista Harry Draper falou sobre o recente single Five More Seconds, fruto de uma sessão espontânea com a cantora KT Tunstall. “Eu cresci ouvindo o primeiro álbum dela. Nós nos conhecemos há uns dez anos, nos EUA, e mantivemos contato pelo Instagram. Quando começamos a trabalhar no novo álbum, queríamos algumas colaborações e, por coincidência, ela estava em Londres. Dois dias depois, já estávamos no estúdio juntos. É uma das minhas músicas novas favoritas”, conta. Five More Seconds, que fala sobre decisões tomadas em instantes e que podem mudar destinos, é algo com que a dupla se identifica. “Pessoalmente, vivo isso o tempo todo. Sempre cometo erros e penso: ‘Se eu tivesse mais cinco segundos, teria feito um pouco diferente’. Acho que é por isso que as pessoas se conectam tanto com a música.” Harry também comentou sobre o ressurgimento inesperado de Atlantis, música lançada há dez anos e que ultrapassou a marca de 1 bilhão de streams após viralizar no TikTok. “Foi insano. Toda vez que entrávamos na plataforma, nossa música estava sendo usada — e ainda está. Isso nos mostrou que, enquanto amarmos o que fazemos, mesmo que a música não se conecte de imediato, em algum momento pode se conectar.” O músico se diz empolgado para rever o público brasileiro. “Se pudesse, iria ao Brasil três vezes por ano. Amo demais. Estamos muito animados para o show do dia 24 de agosto em São Paulo.” Ao falar sobre influências musicais, Harry citou três álbuns marcantes: Solid Air (John Martyn), que o inspirou a tocar violão; Seventeen Going Under (Sam Fender), que influenciou seu trabalho no último ano; e Inside In / Inside Out (The Kooks), trilha sonora de um verão inesquecível em sua adolescência. Os ingressos para o show do Seafret no Cine Joia estão disponíveis no Sympla.
Entrevista | Story of The Year – “É especial saber que Until The Day I Die inspirou tanta gente”

O Story of the Year retorna ao Brasil após 12 anos para participar do festival I Wanna Be Tour e mais shows paralelos em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. A banda, que marcou os anos 2000 com o álbum Page Avenue, promete reviver a energia que os fãs brasileiros conheceram em sua primeira passagem pelo país. Em entrevista ao Blog N’ Roll, o vocalista Dan Marsala, trajado com uma surpreendente camiseta de Britney Spears, revelou que o grupo trabalhou com o produtor Colin Britton para resgatar a mesma intensidade da fase inicial no disco Tear Me to Pieces e que teremos um álbum novo em breve. Marsala destaca ainda a importância de clássicos como Until the Day I Die e Anthem of Our Dying Day, mas também disse estar animado em apresentar músicas novas que já caíram no gosto do público, como War. E, como amante de pizza, espera provar a nossa versão gastronômica dessa vez. Como é para você retornar ao Brasil como parte de um festival que celebra um movimento que você ajudou a criar? Dan Marsala: É ótimo. A última vez que estivemos no Brasil foi em 2013, então já faz 12 anos. Estamos muito animados para voltar em um grande festival com grandes bandas. Sempre tivemos grandes shows no Brasil e mal posso esperar. Você tem alguma história interessante da sua visita anterior ao Brasil? Dan Marsala: Os shows sempre foram ótimos. Os fãs são loucos. Tivemos problemas com os promotores e com pagamento nos últimos anos (risos), mas desta vez tudo está indo bem e estamos animados para voltar. Sempre é uma aventura. Há uma diferença entre tocar em festivais e nos sideshows em São Paulo e no Rio de Janeiro? Dan Marsala: Eu amo os dois tipos de shows. Amo casas menores, onde você sente a energia e fica tudo mais intenso, mas também amo grandes festivais porque você toca para muitas pessoas e divide o palco com bandas diferentes. Ambos têm suas vantagens. Estou animado para os shows menores e para o festival. Vou tocar em qualquer lugar, a qualquer momento. Os sideshows vão ser mais longos? Dan Marsala: Acho que sim, um pouco. O festival deve ter entre algo entre 50 minutos e uma hora. Os sideshows provavelmente serão um pouco mais longos, porque temos mais tempo. No começo vocês foram descritos como uma banda de post-hardcore. Hoje bandas do estilo flertam com metalcore ou modern metal. Como você define o som atual? Dan Marsala: É difícil. Isso mudou ao longo dos anos. Agora todo mundo chama de emo. Quando começamos não nos considerávamos emo, havia post-hardcore, screamo, hardcore, punk… nós apenas misturamos tudo. Eu digo que somos uma banda de rock, com energia alta. Temos elementos de vários gêneros, mas é difícil de rotular. Nos anos 2000 vocês foram parte da explosão do emo e post-hardcore. Como é ver esse movimento se revivendo agora? Dan Marsala: É louco. Nosso primeiro álbum saiu em 2003 e, em 2010, a cena morreu um pouco, principalmente na América. Foi surpreendente ver essa retomada. Acho que acontece com todos os gêneros: você se afasta um tempo, mas mais velho acaba redescobrindo o que amava. Para nós é ótimo, porque quero tocar música o resto da vida. Como você compara a fase atual com o início em Page Avenue? Dan Marsala: Foi um processo parecido. No último álbum, Tear Me to Pieces, o produtor Colin Britton foi muito importante para capturar a mesma energia dos primeiros dias. Trabalhamos muito para trazer de volta a energia jovem de 20 anos atrás. Gravamos outro álbum com ele, que será lançado em breve, e seguimos o mesmo processo: fazer música que amamos. Isso não mudou. Ser pai mudou a forma como você escreve? Dan Marsala: Não muito. O processo continua o mesmo. Algumas influências externas entram, mas no fim das contas escrevemos músicas que gostamos de ouvir. Trabalhamos em cima disso e esperamos que funcione. Sua música já ajudou muitas pessoas em momentos difíceis e não será surpresa ver alguém com um cartaz “Story of The Year saved my life”. Como você enxerga isso? Dan Marsala: É ótimo ouvir isso. Música é mágica, pode ajudar em qualquer situação. Saber que tivemos impacto positivo na vida das pessoas é incrível. É uma das razões pelas quais gosto de escrever e tocar. Eu sempre trago uma pergunta da caixinha de perguntas do meu Instagram. E temos aqui um fã, o Vinicius, que gostaria de saber se vocês ainda vão girar a guitarra e dar piruetas no palco? Dan Marsala: Não tenho certeza. Provavelmente, sim. Ainda colocamos muita energia em cada show. Claro que somos mais velhos e algumas loucuras não acontecem mais, mas vai ter energia e vai ser divertido. No Instagram você se auto define como um amante de pizza e de música. Já provou a pizza do Brasil? E, aproveitando, já conhece as bandas brasileiras? Dan Marsala: Eu não sei se já comi pizza brasileira. Alguém precisa me trazer uma para eu experimentar desta vez. Eu amo pizza, então tenho certeza que é ótima. Sobre as bandas brasileiras conheço pouco, mas estou ansioso para ouvir algumas. Como você se sente ao ver que músicas como Until the Day I Die marcaram uma geração e ainda são um ponto de entrada para novos fãs? Dan Marsala: É louco. É difícil colocar em perspectiva, porque essa música saiu há 22 anos. Foi enorme para nós e para a cena. Ela continua incrível ao vivo, e ver multidões cantando é ótimo. É especial saber que inspirou tanta gente. Agora, um desafio: Se tivesse que escolher cinco músicas para tocar pelo resto da vida nos shows, quais seriam? Dan Marsala: Until the Day I Die, Anthem of Our Dying Day, War, Is This My Fate? e Tear Me to Pieces. São músicas especiais, que sempre funcionam ao vivo e pelas quais temos muito orgulho. Qual mensagem você deixa para os fãs brasileiros? Dan Marsala: Estamos animados demais para voltar. Vamos
Entrevista | Boston Manor – “Vamos tocar músicas que há muito tempo não tocamos”

Pela primeira vez no Brasil, o Boston Manor desembarca no país com a expectativa de retribuir o carinho de uma base de fãs que, há anos, insiste para que a banda venha tocar por aqui. Com uma carreira de pouco mais de dez anos, a banda britânica se consolidou como um dos nomes mais inventivos da cena alternativa, transitando do pop punk para um som mais sombrio e melancólico, sem se prender a rótulos. A apresentação em São Paulo acontece no dia 14 de setembro, no City Lights. Ainda há ingressos à venda na plataforma Fastix. O vocalista Henry Cox contou ao Blog n’ Roll sobre essa estreia, a evolução musical da banda, lembranças de festivais e os próximos passos em estúdio. O que você já sabia sobre os fãs brasileiros antes de confirmar este show? Henry Cox: Temos um fã-clube incrível, o Boston Manor Brasil, que nos acompanha há anos. Sempre recebemos mensagens nas redes sociais pedindo para virmos ao Brasil. Na nossa última turnê americana, alguns fãs levaram uma bandeira enorme do Brasil e reforçaram ainda mais essa vontade. Queríamos ir há muito tempo, mas foi caro e difícil de organizar. Agora finalmente deu certo e estamos muito animados para tocar pela primeira vez aí. O que o público pode esperar do setlist em São Paulo? Serão cerca de 15 músicas ou teremos surpresas? Henry Cox: Sabemos que faz muito tempo que as pessoas esperam ver a banda ao vivo, então pensamos em algo especial. Vamos tocar músicas antigas, de meio de carreira e também as mais novas. Será um setlist bem eclético, incluindo faixas que não apareciam há bastante tempo. A ideia é fazer um show intenso, emocionante e divertido. Queremos que seja caótico, no melhor sentido, que seja insano para todo mundo. E fora do palco, há planos para conhecer São Paulo? Henry Cox: Infelizmente, por causa do ritmo da turnê, estamos em um país diferente todos os dias, então não teremos muito tempo para explorar. Basicamente só terei o dia do show. Mas se alguém tiver dicas de lugares interessantes e que fiquem até uma hora do local, adoraria conhecer. Como foi a transição do pop punk para um som alternativo? Henry Cox: A mudança foi bem gradual, feita ao longo de alguns álbuns. No início, principalmente na América, parte do público estranhou, mas aos poucos fomos conquistando ainda mais fãs. Nos últimos dois discos, por exemplo, conhecemos muitas pessoas que diziam ter adorado o primeiro álbum, mas não tinham acompanhado os seguintes. Agora, com os trabalhos mais recentes, esse público voltou para a banda. Foi legal ver esse movimento. Vocês ainda se sentem parte da cena pop punk? Henry Cox: Hoje isso importa menos do que antes. O streaming abriu muito o gosto musical das pessoas. Antigamente, se você curtia punk, era só punk. Ou metal, só metal. Agora os fãs ouvem de tudo, e isso é ótimo. Já dividimos turnê com bandas muito diferentes entre si, como Knocked Loose ou Hot Mulligan, e os públicos curtem igualmente. Dez anos atrás, seria uma questão não ter um rótulo definido, mas agora isso pesa bem menos. Algumas pessoas ainda nos veem como pop punk, o que é engraçado, mas não nos preocupa. Qual música do catálogo ainda é especial para você? Henry Cox: Depois de dez anos e vários álbuns, é normal olhar para trás e pensar em mudanças que faria. Algumas músicas já não representam tanto o que somos hoje, mas continuam como uma fotografia de quem éramos na época. Do nosso primeiro álbum, por exemplo, tem faixas que considero muito confusas, cheias de elementos, mas também há coisas que ainda fazem sentido. “Kill Your Conscience” é uma delas, poderia estar em um disco novo. Outras soam muito juvenis, mais pop punk, quase infantis. É como ver uma foto antiga de você mesmo, mas ao mesmo tempo é uma cápsula do tempo, parte da história. O álbum Glue tem essa melancolia por fruto da pandemia ou já era um caminho natural? Henry Cox: Acho que já vínhamos nessa direção, mas a pandemia intensificou. O disco anterior, Welcome to the Neighbourhood, tinha tido muito sucesso e ficamos quase dois anos em turnê sem parar, dez meses por ano na estrada. Estávamos exaustos, mas mesmo assim começamos a escrever um novo álbum. Hoje vejo que talvez devêssemos ter esperado um pouco mais. Em Glue dá para sentir essa exaustão, a frustração e a tensão daquele momento. Isso deu autenticidade, mas não estávamos no melhor espaço mental para gravar. Você coloca muitas experiências pessoais nas letras? Henry Cox: Sim, bastante. Às vezes são experiências pessoais, outras vezes são observações sobre o mundo ao meu redor. Tento escrever de forma mais aberta, quase enigmática, para que cada um possa se identificar à sua maneira. Não gosto de deixar óbvio “essa música é sobre isso”, prefiro dar espaço para interpretação, mantendo um pouco de mistério. Sei que é cedo, mas há um novo álbum a caminho? Henry Cox: Sim, já começamos a compor e a fazer demos. Provavelmente entraremos em estúdio no ano que vem, mas sem pressa. Desde a pandemia lançamos dois discos e um EP, então foi bastante coisa. Agora me sinto pronto, criativo e com muito a dizer. Vivemos tempos malucos e sinto que há muito material para transformar em música. Quais artistas te influenciam nos dias de hoje? Henry Cox: No início eram bandas como Taking Back Sunday, som alternativo e mais eletrônico, além de Nine Inch Nails e, claro, Deftones, que sempre foram referência para mim, Mike e Dan. Hoje não escuto tanta música de guitarra quanto antes, o que é bom porque me influencia menos diretamente. Mas sinto vontade de fazer um álbum mais cru, agressivo, punk, e espero que as demos sigam esse caminho. Qual festival foi marcante na carreira? Henry Cox: O Download Festival, sem dúvida. Tocamos no palco principal no dia em que lançamos “Halo” e aquilo mudou nossa trajetória. Recentemente voltamos e tocamos para 80 mil pessoas, foi
Private Music, novo álbum do Deftones, soa como um convite à nostalgia

Chega ao mundo o aguardado décimo álbum do Deftones, Private Music. Foram longos cinco anos desde o último lançamento e, nesse meio tempo, a banda experimentou um crescimento inédito, impulsionado pelo TikTok, que apresentou seus clássicos a uma nova geração de adolescentes. Hoje, o grupo também é apontado como influência direta de nomes como Sleep Token e Bad Omens, considerados herdeiros do metal moderno. O Brasil teve a honra de sediar uma listening party na última quinta-feira (21) no The Cave, espaço da lendária Galeria do Rock, onde Private Music foi apresentado em primeira mão para fãs e foi muito bem recebido. O Blog N’ Roll foi representado pela Lya Hemmel que colheu as opiniões e expectativas dos presentes. Criar esse disco era um desafio enorme. Afinal, a banda precisava lidar com a pressão de seu inesperado auge, somado ao revival do Nu Metal e os fantasmas dos dois trabalhos anteriores: Gore foi incompreendido, enquanto Ohms soou como uma tentativa sufocada de agradar os fãs. Não à toa, em 2025 apenas uma música de cada álbum sobreviveu aos palcos: Prayers/Triangle e Genesis, deixando clara a urgência de uma resposta à altura neste décimo capítulo da carreira. Em Private Music, o Deftones não faz rodeios. A nostalgia aqui não é mero maneirismo ou bola de segurança, mas um portal direto ao passado da banda: a tensão entre a brutalidade das guitarras de Stephen Carpenter e a sensibilidade atmosférica de Chino Moreno continua sendo o coração criativo do grupo. O álbum abre com o single My Mind is Mountain e sua introdução thrash que lembra muito o Metallica. A canção já soma 16 milhões de plays no Spotify, é pesada, impactante e foi recebida com entusiasmo por fãs e crítica. O outro destaque, Milk of Madonna, disputa o topo da parada de Rock da Billboard, logo atrás de seus discípulos do Bad Omens. Entre as inéditas, Infinite Source traz o Deftones em essência: psicodelia, riffs monumentais, bateria grandiosa e os vocais de Chino, que abraçam ao mesmo tempo a calmaria e o caos. Já Cut Hands resgata com força as raízes do nu metal, soando como uma faixa perdida em algum disco dos anos 2000. Há espaço para experimentações, como na balada I Think About You All The Time, que poderia figurar facilmente no clássico Mellon Collie and The Infinite Sadness, do Smashing Pumpkins. O encerramento vem com a grandiosa Departing the Body, uma síntese de toda a trajetória da banda. O início grave, quase no estilo Roger Waters, explode em uma catarse que soa como um encontro entre Smashing Pumpkins, Pink Floyd e The Cure. A produção reflete com precisão o estágio atual do Deftones: monumental. Os riffs de Carpenter aparecem ainda mais robustos sem abrir mão da distorção, e o estúdio soube potencializar a força do grupo sem diluir sua essência. O retorno ao Brasil está previsto para 2026, com grandes chances do Deftones ser o nome principal do rock no Lollapalooza. Infelizmente, Stephen Carpenter não deve acompanhar a turnê, já que mantém restrições de viagem desde a pandemia. Nota: 4/5