Ao aliar hits com renegadas, Teenage Fanclub entretém em show empolgante no Cine Joia

Muitas bandas que fizeram sucesso no passado e desenvolveram um nicho de fãs fieis, devotos à identidade estabelecida e ao som tradicional dos primeiros álbuns, sustentam o resto da carreira, depois de lançarem as consagradas obras-primas, com uma postura conservadora. Optam por não lançar nada de muito revolucionário, mas marcam shows e gravações de álbuns com frequência. No caso do Teenage Fanclub, banda escocesa que se apresentou na última quinta-feira (4), no Cine Joia, em São Paulo, o lema adotado do fim da década de 90 em diante sempre foi o de achar um pico de estabilidade e se acomodar em melodias cada vez mais cantaroláveis, em uma toada acústica, com menos guitarras e mais efeitos de vozes, uso de teclados e sintetizadores expressos em canções melancólicas, agridoces e muito sinceras.  Fundado em 1989 por Norman Blake (vocal e guitarra) Raymond McGinley (vocal e guitarra solo) e Gerard Love, os Fannies, como são popularmente conhecidos, passaram por alterações no lineup, especialmente em um passado recente. Em 2018, Love, que atuava como compositor, vocalista e baixista em doses imensuráveis, deixou a banda por não suportar mais a escala de viagens e acumular divergências com os outros integrantes. Como resultado dessa dissolução, os membros restantes, entre eles o baterista Francis McDonald, que os acompanha desde o princípio, tomaram a decisão de não tocarem mais nenhuma música composta por Love, mas é difícil fazer uma plateia inteira ignorar tantas faixas icônicas que faziam parte do repertório do ex-baixista. Certamente, o público que encheu a casa de shows ontem queria mais é que canções como Sparky’s Dream, do clássico álbum Grand Prix, de 1995, ou Star Sign, do ainda mais icônico Bandwagonesque (o que eles já venderam de camiseta com a estampa da capa não está escrito), de 1991, mas não é assim que funciona. Felizmente, Norman Blake é um líder extremamente carismático, ainda que tímido nas palavras de agradecimento, e sabe como satisfazer o público. Mais do que entregar o que as pessoas querem, ele ouve cada pedido, cada chamado, desde que consiga correspondê-los, claro. No show do dia anterior, no Circo Voador, alguém pediu por duas vezes para a banda tocar Baby Lee, canção fofíssima, acústica, baladinha para esquentar o coração com acolhimento e ternura, do álbum Shadows, de 2010, e o frontman não pensou duas vezes e recrutou seus colegas para alterarem o setlist e, de última hora, proporcionarem essa quebra de expectativa muito bem-vinda para quem não aguenta mais a mesmice de um show para outro. As surpresas não pararam por aí, felizmente. Verisimilitude, grande clássico do Grand Prix, composta e cantada por Raymond, deu às caras ainda no início, bem antes da metade da duração, para o delírio de adultos que já foram jovens como os responsáveis pela atração, e também declararam versos sarcásticos de rebeldia como uma suposta prova de amadurecimento, típica de quem não sabe nada ainda, mas já quer tentar se virar pelo mundo. Também rechearam a seleção faixas ansiadas por todos e presentes em todos os shows, de qualquer turnê, como as contagiantes What You Do to Me e About You, com seus refrões que incendeiam fãs até mesmo à distância. O repertório foi muito variado, dentro das possibilidades de faixas a serem tocadas e, para variar, encerraram a apresentação com Everything Flows, o primeiro single, pulsando uma energia cheia de distorção e sentimento nos instrumentos.  Foi uma noite bonita, de distribuição de sorrisos, um apego ao saudosismo da disposição e da esperança ingênua que tomava conta do corpo lá atrás, e que agora sorri à adolescência, mas amplia a perspectiva para as necessidades da vida adulta, e a principal delas, para o Teenage Fanclub, é manter a constância. Setlist do Teenage Fanclub Home About You Endless Arcade Alcoholiday I Don’t Want Control of You Everything is Falling Apart 120 Mins Verisimilitude Baby Lee It’s a Bad World Middle of my Mind What You Do To Me See the Light Neil Jung My Uptight Life The Concept God Knows It’s True Falling into the Sun Mellow Doubt Everything Flows

Entrevista | Firefriend – “As bandas brasileiras não ficam devendo nada para as de fora”

A Firefriend, banda paulistana que há mais de duas décadas carrega a tocha do rock psicodélico underground, acaba de expandir sua discografia com dois novos álbuns: o explosivo Fuzz e o hipnótico Blue Radiation. Os trabalhos chegam em um momento simbólico, pouco antes de a banda embarcar em mais uma turnê pelo Reino Unido, país que tradicionalmente respira a psicodelia e tem recebido o grupo com entusiasmo crescente. Gravado em apenas quatro dias de dezembro de 2024, em São Paulo, Fuzz ganhou corpo definitivo após meses de pós-produção e contou com colaborações de músicos da cena paulistana. O disco mantém a estética que consolidou a identidade do Firefriend: baixos pulsantes, guitarras saturadas de fuzz e os vocais sussurrados de Julia Grassetti e Yury Hermuche, que criam atmosferas densas e imersivas. Entre os destaques estão “Spearhead” e “Hologram”, faixa que condensa em cinco minutos e meio o caos criativo da banda, atravessando camadas de sintetizadores, incursões de free jazz e guitarras barulhentas, com participações de Cuca Ferreira (sax) e Daniel Verano (trompete). Já Blue Radiation mostra outra faceta do grupo. Gravado durante a pandemia, em uma São Paulo silenciosa e suspensa pelo isolamento, o álbum aposta na força das atmosferas instrumentais. São dez faixas, nove delas totalmente instrumentais, que funcionam como paisagens sonoras etéreas, espectrais e distorcidas. Ao lado de Grassetti, Hermuche, Ricardo Cifas (bateria) e Pinhead (synths e teclados), o Firefriend reafirma sua posição como um dos nomes mais consistentes do underground global, evocando influências que vão de Velvet Underground e Spacemen 3 a Sonic Youth e The Brian Jonestown Massacre. Em bate papo com o Blog N’Roll, Julia Grassetti e Yury Hermuche contam sobre a expectativa para a turnê na Inglaterra e os dois álbuns lançados simultaneamente. Vocês estão indo para Londres, que é a cidade onde mais ouvem Firefriend, e o Reino Unido sempre teve uma cena psicodélica muito forte. Sentem que o público de lá entende mais a proposta da banda do que no Brasil? Firefriend: Com certeza. Na Inglaterra existe uma tradição que atravessa gerações. Eles fazem isso há 50, 60 anos. O rock psicodélico nunca parou de acontecer. No Brasil, sentimos que existem gaps geracionais, e a cena precisa ser sempre reinventada para levantar festivais e casas. Isso é uma dificuldade para toda banda underground daqui. Já na Europa e nos Estados Unidos, por conta da tradição, existe público constante e espaços para circular. Por outro lado, eles acham muito interessante ver uma banda brasileira usando elementos do rock inglês e americano, mas com outros temperos. O som de vocês mistura influências diversas, de Joy Division, post punk a experimentações instrumentais. Qual é a diferença para vocês entre músicas com vocal e faixas instrumentais? Firefriend: A maior parte dos nossos discos é feita de canções compostas e produzidas ao longo de um ou dois anos. Mas muita coisa vem das jams que gravamos em ensaios, no nosso antigo porão-estúdio. Para o público pode parecer diferente, mas para nós é parte do mesmo processo. O álbum The Creation Facts, por exemplo, trouxe faixas diretamente dessas jams. Apesar de lançarmos mais músicas com vocais, os instrumentais são parte essencial. O Blue Radiation veio justamente para mostrar esse outro lado. Qual foi a maior surpresa que vocês já tiveram em turnês fora do Brasil? Firefriend: A recepção do público. Chegar em Londres e ter gente levando capa de disco e camiseta para autografar foi inesperado. Alguns fãs viajaram para assistir a vários shows seguidos. Também já tocamos às três da manhã em festival grande com a casa lotada. Outra surpresa foi perceber que as bandas brasileiras não ficam devendo nada para as de fora e, ao mesmo tempo, ver de perto uma cena estável em contraste com o Brasil. Vocês planejam registrar essa nova turnê em áudio ou vídeo? Firefriend: Sim. Vamos gravar o áudio e estamos vendo como viabilizar o vídeo. Na última turnê lançamos o Live in London, um show bem registrado, e queremos repetir essa experiência. O vinil voltou com força e vocês já têm 12 LPs lançados. Como tem sido essa experiência? Firefriend: Fantástica. Ouvir um vinil é um ritual. Quem compra, ouve com atenção e se conecta mais profundamente com a música. Desde que nossos discos começaram a sair nos Estados Unidos e na Inglaterra, vimos como os amantes do formato físico criam uma relação especial com a banda. Hoje temos 12 LPs lançados desde 2017, e muitos fãs acompanham cada lançamento. É um sonho realizado. Falando do álbum Fuzz, como foi o processo de gravação? Firefriend: Passamos dois anos compondo, testando em shows e turnês. Decidimos gravar ao vivo, os três juntos no estúdio, o que trouxe mais calor e energia. Depois fizemos alguns overdubs, mas a base é toda ao vivo. Apesar de a gravação ter levado cerca de uma semana, o processo de criação foi longo e detalhado. A faixa “Hologram” chama atenção por misturar jazz, rock distorcido e caos organizado. Como chegaram a esse resultado? Firefriend: Cada integrante traz um conjunto de referências, e ao arranjar a música colocamos essas perspectivas em choque. O resultado pode soar caótico, mas faz sentido dentro da soma de influências. Um ouvinte chegou a dizer que esse aspecto caótico é uma tradução perfeita do mundo atual, e achamos uma leitura muito interessante. Vocês já comentaram que a turbulência política influencia o som da banda. Como isso acontece? Firefriend: Totalmente. Vivemos um momento violento, perigoso e surreal. Isso se reflete na música. Alguns artistas tentam escapar da realidade, mas para nós é importante tocá-la de frente. A música ajuda a sobreviver a esse caos e conecta pessoas que buscam a mesma energia. O rock hoje não é só rebeldia juvenil, mas resistência em qualquer idade. O Blue Radiation foi criado durante a pandemia. Como foi esse processo? Firefriend: Gravamos centenas de horas de jams e selecionamos trechos que achamos interessantes para compor o disco. Paralelamente produzimos o Fuzz, e o selo inglês decidiu lançar os dois juntos. As faixas do Blue Radiation são

Riviera abre álbum duplo com EP Passado/Presente

Riviera, projeto do músico Vinícius Coimbra, apresenta o EP Passado/Presente, primeira parte do álbum duplo Com o Passar dos Anos. O trabalho é dividido em dois capítulos: Passado/Presente e Presente/Futuro. A ideia é que sejam os dois lados de um mesmo disco. Neste primeiro momento, o artista revisita memórias e afetos que atravessam o tempo, indo do encontro e da entrega até a perda, o luto e a aceitação. O EP traz cinco faixas e será disponibilizado neste sábado (6): Laços, Futuro, A Dor e a Cura, Molduras e Pra Você. As composições nasceram entre 2019 e 2021, em meio a um período de separação, recuperação de saúde e isolamento na pandemia. Pra Você foi a primeira a surgir, logo após o fim do relacionamento, e acabou abrindo caminho para o conceito do disco. As demais vieram em sequência, como capítulos de uma narrativa pessoal que amadureceu até ganhar forma definitiva no estúdio. A sonoridade aposta em camadas etéreas, nas quais o silêncio tem tanto peso quanto as notas. As referências vão de RY X e Jeff Buckley a Death Cab for Cutie e Seafret, passando por ecos de indie rock, emo e MPB. Pianos espaçados, guitarras atmosféricas e vocais vulneráveis definem a atmosfera. “Não queria um som que gritasse, como nos discos anteriores. Queria que dissesse muito no silêncio também”, afirma Vinícius. O título Com o Passar dos Anos resume a proposta: conviver com as lembranças sem perder o presente de vista. A capa, criada por Brunna Frade, funciona como a abertura de um livro. Cada single ganhou uma ilustração própria, todas ligadas por um fio vermelho que simboliza o tempo e o amor. Produzido em parceria com Breno Machado e Cris Simões (Skank, Jota Quest, Paula Fernandes), o EP conta ainda com o trompete de Marco Lima (James Boogaloo) em Pra Você. Uma escolha estética marca o registro: a ausência de bateria na maior parte das faixas, reforçando o caráter contemplativo do trabalho. O projeto também se estende ao audiovisual. Cada faixa recebeu um videoclipe e, juntos, formam o curta Molduras, dirigido por Vinícius em parceria com a fotógrafa Bruna Lacerda. O filme amplia a mesma atmosfera das músicas, explorando gestos, pausas e a delicadeza do cotidiano como extensão da narrativa sonora. Mais do que um conceito, o EP nasce de uma necessidade pessoal. “Tudo que está nas letras aconteceu, foi sentido, foi real. Não tem personagem aqui. Esse disco não foi feito pra provar nada, mas porque eu precisava escrever. Ele não traz respostas, mas talvez ajude a fazer as perguntas certas”, conclui o artista.

Caike Souza lança álbum com causos de amor

Caike Souza está lançando o álbum autoral Entre Flores e Dores. Natural de Arcoverde (PE) é considerado um dos principais nomes representantes da nova geração na música. Propondo uma sonoridade leve e simples, já atinge + de 50 milhões de visualizações nas redes sociais com seus vídeos e versões intimistas. O álbum tem dez músicas e conta com as participações de Solange Almeida na música Sem Pisar no Chão, Saulo Fernandes em Balançar Com Você e Martins na canção Há de Ser Pra Sempre. Sobre o lançamento Caike comenta:  “um álbum autoral é uma virada de chave na vida do artista, uma virada conceitual. Eu gosto de escrever coisas atípicas”. O disco foi gravado em São Paulo, em maio, com produção de Jeff Pina. É um álbum muito rico, com músicas pra tudo que é gosto. “Um disco dá carta branca para você brincar mais, está muito diverso”, conta o artista. A canção com Saulo Fernandes é bem dançante, lembrando um pouco a MPB de Marina Lima e Rita Lee, com guitarras. Já a participação de Solange Almeida, uma gigante do forró, em Sem Pisar no Chão, começou com o feat de Caike no DVD de Dorgival Dantas, do qual ambos participaram. “Eu escrevi essa música pensando na Solange, a música ficou a cara dela, me apeguei ao forró”, diz Caike. A música com Martins é mais singela, uma história de amor. Martins é um dos novos nomes da cena de Pernambuco. “Um amigo do peito que a vida me deu”, comenta Souza. Já Nas coisas tão mais lindas é a música xodó de Caike, com um toque de piano com cordas, refletindo o fascínio que Caike tem em escrever canções tristes. O nome do álbum Entre Flores e Dores partiu da diversidade das canções, do sentimento que permeia o astral de cada música, entre os causos de lidar com um assunto tão delicado como o amor. Esse álbum é a consagração de um trabalho que representa muito pra Caike. Como artista, ele está realizado. “Espero que Entre flores e dores me traga muitos frutos bons, quero que muita gente ouça, que eu saia em turnê, o que já está nos planos”. O show de lançamento de Entre flores e dores está marcado para o dia 11 de outubro no Teatro Luís Mendonça, em Recife.