Codeine envolve público de São Paulo entre a calmaria e a explosão

Matheus Degásperi Ojea Quem só escutasse o som do show dos nova iorquinos do Codeine no último sábado (11) no City Lights Hall, em São Paulo, poderia chutar que tinha mais do que três pessoas no palco. O cultuado trio nova iorquino fez a sua estreia no Brasil com alguns anos de atraso, mas fez valer a espera de muita gente que talvez nem acreditasse que um dia a banda viria, com um show bonito e ensurdecedor Daquelas bandas ao mesmo tempo influentes e desconhecidas do público em geral, o Codeine é um expoente do slowcore, gênero de ‘rock triste’ que aposta no andamento mais lento para construir as suas paisagens sonoras sempre com altas doses de distorções. Tecnicamente, a banda durou de 1989 até 1994, tendo se reunido uma vez em 2012 e uma segunda em 2023, retorno que dura até hoje. Durante este ano, eles só tocaram ao vivo três vezes, incluindo o show de São Paulo. Pelo histórico, fica fácil de entender porque a frase que mais se repetia entre os presentes que encheram a casa de shows era algo do tipo ‘não acredito que esses caras estão aqui’, sentimento ecoado inclusive pelo vocalista Stephen Immerwahr no palco e em conversas com quem o abordava após o show. Imersão Foi nesse clima de deslumbramento que o público recebeu a porrada sonora que a banda deu por pouco mais de uma hora. Alternando momentos de calmaria e intensidade, o som do Codeine se traduziu muito bem ao vivo e deixou claro o ponto forte tanto do grupo como do estilo que eles ajudaram a criar: o de gerar atmosferas imersivas capazes de transportar a audiência e envolver o ambiente em que eles tocam. A qualidade impecável do som durante a noite também foi essencial para que tudo funcionasse da maneira certa. Além de Immerwahr, que também é baixista, o trio é formado por John Engle na guitarra e pelo baterista Chris Brokaw, que toca baixo em músicas que não contam com percussão, como Pea, Summer Dresses e Broken-Hearted Wine. A banda tocou colocando pressão no som aparentemente sem fazer muito esforço, com a tranquilidade de quem sabe o que está fazendo mesmo com os intervalos na carreira e os shows mais escassos. A apresentação começou logo com uma das favoritas dos fãs, a música D, que também abre o clássico Frigid Stars LP, disco que emprestou 6 das 16 músicas do setlist. A plateia acompanhou tudo quase como se estivesse prestando reverência ao grupo. Não houveram grandes coros ou danças na pista, que, com exceção de algumas pessoas berrando nomes de música entre uma canção e outra, acompanhou tudo com atenção, na mesma sintonia da viagem que a banda propunha no palco. Guandu Vale mencionar que a produção do show foi do selo independente Balaclava Records, que vem trazendo alguns nomes destes que pareciam meio impossíveis de vir tocar aqui, como foi o Karate no ano passado, banda com um histórico semelhante com o do Codeine. Para a abertura do show de sábado, as redes sociais do selo publicaram pedidos de indicação de artistas e os escolhidos foram os paulistanos do Guandu. O show do trio formado por Caique Lima, Cleozinhu e João Corte foi uma grata surpresa para mim, que não conhecia a banda antes. Claramente influenciado pelo pessoal do Codeine, que viu o show da pista, o grupo apostou em um repertório com várias músicas ainda não lançadas, além de um cover de Morrer, do Ratos de Porão, em versão slowcore, surpreendentemente bom. Para algumas músicas, o show teve participação da cantora Marina Mole, que casou muito bem com o som e parecia fazer parte da banda. No geral, foi uma escolha certeira para começar os trabalhos da noite. SETLIST – CODEINE D Cigarette Machine Barely Real Loss Leader Median Washed Up Tom Jr Sea Pickup Song Atmosphere (cover do Joy Division) Pea BIS: Cave-In Promise of Love (cover do MX-80 Sound) Summer Dresses Broken-Hearted Wine
Entrevista | Street Bulldogs – “Eu que acredito que essa volta vai mexer com o Léo”

Após mais de uma década longe dos palcos, o Street Bulldogs volta à ativa para uma série especial de quatro shows em março de 2026. O retorno de uma das bandas mais influentes do punk/hardcore nacional passará por três capitais brasileiras: Curitiba (13/03, Stage Garden), São Paulo (14/03, Carioca Club e 19/03, Hangar 110) e Belo Horizonte (15/03, Galpão 54). As apresentações serão pontuais e marcam o reencontro do grupo com uma base de fãs que se manteve fiel mesmo após o fim das atividades em 2010. Formado em Pindamonhangaba (SP), em 1994, o Street Bulldogs construiu uma trajetória sólida na cena independente, com discos que se tornaram referência do gênero, como Street Bulldogs (1998), Question Your Truth (2001), Unlucky Days (2003) e Tornado Reaction (2004). A sonoridade crua e direta, marcada por letras que equilibravam crítica e autenticidade, consolidou o grupo entre os principais nomes do hardcore brasileiro no final dos anos 1990 e início dos 2000. Agora, com o vocalista original Leo vindo da Irlanda especialmente para a ocasião, o Street Bulldogs promete celebrar sua história em quatro noites intensas. A formação que retorna é a mesma que gravou o DVD no Hangar 110, em 2010: Fabio Sonrisal e Rodrigo Koala nas guitarras, Sanmy Saraiva no baixo, Guilherme Camargo na bateria e Leo Bulldog nos vocais. Em entrevista ao Blog N’ Roll, Koala fala sobre o retorno aos palcos, as memórias da banda e o impacto duradouro do Street Bulldogs. O que motivou a volta do Street Bulldogs aos palcos depois de tanto tempo? Fui pego de surpresa, pra ser sincero. Acho que o Guilherme, nosso baterista, e o Léo estavam conversando e eu nem sabia. Fui saber quando já estava decidido. Fiquei muito feliz, porque eu sempre quis voltar, mas o Léo era o cara que dizia que não queria mais. A gente até teve proposta no ano passado, mas ele não topou. Quando ele avisou que viria pro Brasil e que queria tocar, foi um choque bom. Acho que foi quando a gente parou de pedir que ele resolveu fazer. Foi tranquilo reunir todo mundo e definir a formação? Sim. A gente tem um grupo no celular e se fala direto, o que facilita muito. O que mora mais longe é o Sonrisal, em Pindamonhangaba, e o Léo, que vem da Irlanda. Então vamos deixar a banda redonda antes dele chegar. Quando ele estiver aqui, faz uns ensaios com voz e pronto. Eu e o Sonrisal estamos tocando direto, então estamos com ritmo. O Guilherme, que é batera, talvez sinta mais, ele está ativo com outros projetos, porém são músicas mais lentas. Já dá pra adiantar algo sobre o setlist? Ainda estamos escolhendo. Tem gente dando ideia de tocar músicas que nunca fizemos ao vivo ou que ficaram muito tempo fora. Vai ter surpresa, com certeza. E também deve ter participações. O plano é fazer algo inesquecível, principalmente no Hangar. Com dois soldouts rápido em São Paulo, existe chance de novas reuniões ou até músicas inéditas? Tudo pode acontecer. Hoje o Léo é muito resistente à ideia de voltar pra valer ou gravar algo novo. Fazer um show já é quase um milagre. Mas a música tem esse poder, né? Às vezes o cara pisa no palco e muda tudo. Se ele se animar, vou ser o primeiro a apoiar. Com a tecnologia, dá pra gravar à distância tranquilamente. Eu acredito que essa volta vai mexer com ele. O punk brasileiro começou em português, com Cólera, Inocentes, Invasores de Cérebro… Mas o hardcore dos anos 90 foi majoritariamente em inglês com o Garage Fuzz, Hateen, Rivets e até mesmo Dead Fish chegou a cantar em inglês. Por quê? A gente não tinha muita referência de como fazer hardcore em português. Parecia que o idioma não encaixava. A influência vinha toda de fora, e cantar em inglês era natural no underground. Bandas como o Sepultura também mostraram que dava pra ser brasileiro e cantar em inglês, e isso inspirou muita gente. A virada pro português veio mais pro final dos anos 90, e o CPM 22 foi essencial pra provar que dava pra soar bem cantando em português. O Street também tem também algumas músicas em português… Sim. Tem Padrão, Tarde Demais, Adolf… e talvez mais alguma. A gente deve tocar algumas delas nessa volta. Qual show marcou mais, tanto positivamente quanto negativamente, na sua carreira? Teve um com o Pulley no Volkana em São Bernardo que foi meio chato por causa do produtor. A banda era legal, mas o cara era mala. A banda era muito legal, os caras super gente fina, mas o produtor tinha um dentinho, a gente aprendeu ele de Tooth. Já experiências ruins com bandas, quase nenhuma. A gente sempre se surpreendeu positivamente. O hardcore tem isso, as pessoas costumam ser acessíveis e gente boa. O que mais dava problema eram contratantes tentando dar calote. A gente tinha fama de bravo, mas era só cara de pedreiro mesmo, nunca batemos em ninguém. Eu sei histórias, por exemplo, eu não estava na banda, mas quando o Agnostic Front veio para o Brasil, eles fizeram uma turnê com o Street, eu não estava no Street ainda. Eles foram fazer a Argentina junto. E o baterista do Street na época era o Gordinho, lá de Pinda. E o Gordinho dormiu no carro. Aí ele deitou a cabeça no ombro do vocalista. Bem do Miret, do Roger Miret. Deitou a cabeça no ombro do Miret, né, cara? E o Léo dirigindo falou que olhou assim, cara, falou, puta, fodeu, né, meu? Cara gigante, boladaço. Esse gordo filha da puta deitou a cabeça no ombro do cara, que ela vai matar a nós. Aí falou o cara, pôs a sua mão nele assim, ele é um bom garoto, deixa ele dormir aqui e tal. Então acho que essas coisas, tipo… Ele me conta isso com muito carinho, assim, né? Você tem falado sobre sua rotina mais saudável. Como enxerga esse novo rock mais “careta”? Pra mim