Na saideira dos grandes shows internacionais de 2025, Limp Bizkit instala o caos no Allianz Parque

O último sábado (20) marcou um encontro geracional no Allianz Parque, em São Paulo. O Limp Bizkit, um dos maiores expoentes do nu metal, provou que sua relevância em 2025 vai muito além do saudosismo. O que se viu foi uma celebração explosiva de uma sonoridade que, embora frequentemente criticada no passado, hoje é abraçada com uma energia renovada por fãs de todas as idades. Fred Durst, ostentando seu visual de “vovô do rock” que se tornou sua marca registrada recentemente, comandou a massa com a precisão de um maestro. O show não foi apenas uma sucessão de músicas, mas um espetáculo de entretenimento. Durst sabe como manipular a dinâmica da plateia, alternando entre momentos de pura agressividade sonora e interações descontraídas, mantendo o público na palma da mão durante toda a apresentação. Enquanto Fred é a voz, Wes Borland continua sendo o motor criativo visual e sonoro da banda. Com seu figurino extravagante e riffs que definiram uma era, Borland entregou uma performance impecável, lembrando a todos por que é considerado um dos guitarristas mais inventivos do gênero. A química entre os membros originais remanescentes transpareceu em cada nota de clássicos como My Generation e Rollin’ (Air Raid Vehicle). Um dos pontos altos e mais sensíveis da noite foi a homenagem ao baixista Sam Rivers, falecido recentemente. O tributo, antes do início do show, trouxe uma camada de profundidade emocional para a apresentação, equilibrando o “caos controlado” característico da banda com um respeito genuíno ao legado de um de seus fundadores. Foi um momento de união entre banda e público, transformando o estádio em um ambiente de celebração e despedida. O Limp Bizkit em 2025 é uma banda que entende perfeitamente seu papel. Eles não tentam reinventar a roda, mas sim polir a energia bruta que os tornou gigantes. O Allianz Parque testemunhou rodas de pogo insanas durante Break Stuff, provando que a geração Z e os millennials compartilham o mesmo entusiasmo pela catarse sonora proporcionada pelo grupo. Foi, sem dúvida, um dos shows mais energéticos e memoráveis do ano em solo brasileiro, incluindo até lançamento de fogos de artifício do meio da plateia. Edit this setlist | More Limp Bizkit setlists

Bullet For My Valentine substitui Yungblud com show focado em “The Poison”

Substituir um headliner de última hora é uma tarefa ingrata, mas o Bullet For My Valentine provou ser a escolha definitiva para ocupar a lacuna deixada por Yungblud na etapa latino-americana da Loserville Tour. Convocados para suprir a ausência do músico britânico, que se retirou do lineup por questões de saúde, os galeses não apenas cumpriram a tabela: eles dominaram o palco do Allianz Parque com uma autoridade que só veteranos do metalcore possuem. A conexão com o público paulistano foi instantânea e avassaladora. Antes mesmo dos primeiros acordes ecoarem pelo estádio, a pista já fervilhava com mosh pits espontâneos, sinalizando que a audiência estava pronta para uma descarga de energia pesada. O respaldo dos fãs foi o combustível necessário para que o quarteto entregasse uma performance técnica e emocionalmente carregada. Estrategicamente, a banda optou por não montar um setlist genérico de festival. Em vez de uma coletânea de hits esparsos, eles mantiveram a espinha dorsal de sua turnê de 2025: a celebração monumental dos 20 anos de The Poison. O álbum, que definiu uma era para o metal moderno, foi o protagonista da noite, sendo executado quase na íntegra. Das 13 faixas originais, dez foram resgatadas, transportando o público diretamente para 2005 com hinos como Tears Don’t Fall e 4 Words (to Choke Upon). O show ainda guardou fôlego para pérolas essenciais da discografia, como Hand of Blood e o encerramento catártico com Waking the Demon. Embora o formato reduzido do set tenha deixado um gosto de “quero mais” nos presentes, a recepção calorosa e o apoio incondicional da plateia consolidaram a passagem do BFMV por São Paulo como um dos grandes momentos do evento. Eles entraram como substitutos, mas saíram como protagonistas. Setlist Her Voice Resides 4 Words (to Choke Upon) Tears Don’t Fall Suffocating Under Words of Sorrow (What Can I Do) Hit the Floor All These Things I Hate (Revolve Around Me) Hand of Blood Room 409 The Poison 10 Years Today Cries in Vain The End Waking the Demon

Pai da turma toda, 311 entrega show repleto de hits no Allianz Parque

A presença do 311 na Loserville Tour foi muito mais do que um simples show de abertura; foi um acerto de contas histórico com o público brasileiro. Sendo apenas a segunda visita da banda ao país, a primeira ocorreu há longos 14 anos, no festival SWU em 2011, a expectativa era palpável tanto para os fãs veteranos quanto para os admiradores do Limp Bizkit, que puderam testemunhar a fonte onde Fred Durst bebeu para moldar sua própria visão musical. Em um setlist conciso de 50 minutos, o quinteto não desperdiçou um segundo sequer. Abrindo com a dobradinha de peso Beautiful Disaster e Come Original, a banda reafirmou a força de seu repertório híbrido, que funde rock, reggae e hip-hop com uma fluidez invejável. A dinâmica vocal entre Nick Hexum e Doug “SA” Martinez continua sendo um dos grandes trunfos do grupo: a dupla esbanjou vigor físico e entrosamento, dominando o palco com uma energia que desmentia o hiato de décadas longe do Brasil. Para o público da pista, as comparações foram inevitáveis. A sonoridade solar do 311 ecoou referências que vão desde o Sublime até os brasileiros do Forfun (declaradamente influenciados pelos americanos). Um dos momentos de maior coro coletivo veio com a interpretação de Lovesong, clássico do The Cure que ganhou contornos icônicos na voz de Hexum pela trilha sonora do filme Como se Fosse a Primeira Vez. O ápice técnico da apresentação ficou por conta do baterista Chad Sexton. Seu solo vigoroso transformou-se em uma celebração coletiva no palco com a “invasão” dos integrantes do Slay Squad, que já haviam dado as caras no set da Ecca Vandal, reforçando o clima de camaradagem que permeia toda a turnê Loserville. O desfecho não poderia ser diferente: uma sequência de hinos como Amber e a explosiva Down, encerrando uma performance que provou que, mesmo após 30 anos de estrada, o 311 permanece relevante, técnico e absurdamente contagiante. Setlist   Beautiful Disaster Come Original Freak Out Lovesong (The Cure) Applied Science Drum Solo (Slay Squad (+ crew) on stage before full band drum act) Amber Creatures (for a While) Feels So Good Down

Ecca Vandal estreia no Brasil misturando The Distillers com hip hop, mas deixa a desejar

Embora muitos brasileiros tenham tido o primeiro contato com Ecca Vandal apenas no anúncio da Loserville Tour, a artista sul-africana radicada na Austrália carrega uma trajetória de uma década marcada por um ecletismo radical. Com apenas um álbum de estúdio lançado, o elogiado disco homônimo de 2017, e um longo período de hiato que interrompeu sua ascensão, sua vinda ao Brasil cercava-se de curiosidade sobre como seu “caos organizado”, que funde punk rock, hip hop e música eletrônica, se comportaria em um estádio. A proposta de Ecca é fascinante: em seus melhores momentos, sua agressividade vocal remete à crueza de Brody Dalle (The Distillers), mas envelopada em batidas eletrônicas e uma estética urbana moderna. No entanto, no palco do Allianz Parque, no último sábado (20), abrindo para o Limp Bizkit, a execução esbarrou em questões técnicas que comprometeram a experiência. A escolha por um formato reduzido de banda, focada essencialmente em bateria e baixo, com alternâncias pontuais para guitarras e sintetizadores, acabou soando esvaziada. O excessivo volume da bateria engoliu as camadas mais ricas do som, tirando o peso industrial e a profundidade que tornam seu trabalho de estúdio tão impactante. Apesar dos problemas de mixagem, a presença de palco de Ecca foi inegável. O ponto alto da apresentação foi o single Cruising to Self Soothe, lançado no início de 2025. A faixa injetou uma dose necessária de energia pesada no set, permitindo que a cantora explorasse seus vocais rasgados e demonstrasse a atitude visceral que a tornou uma queridinha da crítica internacional anos atrás. Econômica nas interações para otimizar os 40 minutos de palco, Ecca Vandal não deixou de prestar sua homenagem à cultura anfitriã. Em um gesto de reverência à música pesada brasileira, apresentou-se vestindo uma camiseta do Sepultura, reforçando sua conexão com as raízes do metal e do punk. Foi um show de contrastes: uma artista talentosa e visualmente impactante, mas que ainda parece buscar o equilíbrio ideal para transpor sua complexidade sonora para arenas de grande porte.