ARTIGO | Como a Budang virou minha nova banda preferida

ARTIGO | Como a Budang virou minha nova banda preferida

Oi, meu nome é Willian Portugal. E para quem não me conhece, trabalhei quase oito anos no jornalismo musical independente no Music Wall e aqui mesmo no Blog N’ Roll.

A minha motivação para cair de cabeça nesse mundo foi ter a oportunidade de falar da maneira que quisesse, sobre as bandas que já gostava. Mas o que acabei dando conta, é que a parte mais legal era poder descobrir bandas que não tinha contato, com suas sonoridades únicas. E isso foi o meu grande combustível. Me sentia uma criança brincando de Hunter Thompson na frente do meu PC.

Mas, como nem tudo são flores, com a carga acumulada por trabalho, faculdade, relações e obrigações domésticas, perdi um pouco desse tesão. Bom, isso até dar de cara com a Budang. Isso aqui poderia ser uma resenha sobre o primeiro álbum da banda, mas teria tanta coisa para falar sobre o quarteto do HC da Magia, que acharia muito pouco falar apenas do lançamento.

A primeira vez que eu ouvi falar sobre essa mulecada (falo assim porque presumo que eles sejam bem mais novos do que eu) foi através dos stories no Instagram de Fábio Mozine, o patrono da Läjä Recörds e visconde da cidade de Vila Velha/ES. E logo de cara já me chamou a atenção, mesmo antes de ouvir o som. As artes psicodélicas de cores chapadas, muitas delas que me lembraram peças hinduístas ou xintoístas.

O próprio nome da banda é algo totalmente maluco e único, me lembrou bastante o cigarro indonésio Gudang Garam. Pesquisei algo relacionado a palavra Budang, e a única coisa que encontrei foi uma palavra em tagalog (um dos idiomas falados nas Filipinas) utilizada como superlativo de adjetivos (ex: “extremamente”, “muito”, etc). Porém, segundo o guitarrista Vinícius Lunardi e o baixista Pedro Sabino (mais conhecido como Pit) em participação no podcast Neo Rock Brasil, cada hora os integrantes inventam uma mentira diferente sobre essa origem, e de onde veio esse nome. E isso diz muito sobre a criatividade da banda.

Divulgação

Para quem ainda não conhece a Budang, fica o aviso. Tudo que eu já falei acima formam elementos únicos, mas que enquanto fazem contrapontos entre si, se complementam de maneira extremamente homogênea. Apesar da estética mencionada, ao ouvir seu som, não espere nada perto do gratiluzismo e esoterismo barato, pelo contrário (recomendo escutar “Gratiluz 171” do EP “Astrologia, Destino & Salmos“).

O som da Budang me lembrou uma mistura de muita coisa, e diversas vertentes do hardcore/punk. Umas paradas meio Suicidal Tendencies, Excel, mas com uma pitada de Circle Jerks, Black Flag e em alguns momentos, uns vocais totalmente Jello Biafra das idéias. Os próprios integrantes dizem que são influenciados pelas bandas da cena de Baltimore, principalmente pelos primeiros anos do Turnstile, mas como não conheço tanto, vou ser honesto e não vou usar essa carta no texto.

Outra coisa que me chamou a atenção foi a personalidade que a Budang tem nas suas letras. Aqui falo sem querer farpar ninguém. Acredito que tem espaço para todo mundo, e deve ter, mas nos últimos anos sinto que uma parte das bandas de punk/hardcore caíram uma paumolescência lírica que me incomoda. Às vezes, sinto que escuto músicas que saíram de algum perfil que compila frases do Leandro Karnal ou da Monja Cohen. E não falo “paumolescência” no sentido de virilidade masculina, longe disso. Quer dizer, vivemos em um mundo onde a escala 6×1 é realidade, direitos trabalhistas estão cada vez mais escassos, tudo absurdamente caro, o cristianismo pentecostal ditando nossas vidas, thetahealing, constelação familiar, ozônio no cu, caos, destruição, enfim. Mas como poucas bandas tocam nesses pontos com tudo isso acontecendo?

Os temas que a Budang aborda em suas músicas são 100% contemporâneos. E já aí falando do primeiro álbum da banda, Magia já começa com Mágica falando exatamente de chefe xarope folgado, rotina de trabalho cretina com gente te ligando no domingo para saber de projeto, condições de trabalho inacreditáveis baseada no “se vira”. E as críticas da banda seguem ao longo do play, passando pela apatia digital na qual pessoas se apegam à futilidade nas redes (Tempinho Bom), e as passadas de pano midiáticas para o manifestações golpistas (Bolsonanny). Tudo isso sem medo de utilizar de sarcasmo e sátira.

Mas o que me pegou de vez na Budang foi a dobradinha Magia/Budangól. Algumas pessoas que eu apresentei esses sons reagiram de maneira comum: “Nossa, não dá para entender nada — Não entendi nada do que eles estão falando — Que idioma é esse?”. E é justamente ISSO que me fez me apaixonar pela banda! Aqui, a Budang se afirma como um quarteto legitimamente da região que veio. As gírias, piadas internas, maneirismos e expressões gritam Florianópolis, porém sem soar chauvinista ou bairrista, pelo contrário. A Budang finca sua bandeira de resistência à tudo isso, mostrando a cultura marginal local, e que Santa Catarina tem muito sim a oferecer. Por conta da Budang, hoje sei o que é a bernúncia e o que é chataria.

E sobre os comentários de que “não dá para entender”, ao meu modo de ver, diz muito mais sobre como estamos acostumados a consumir arte. Naturalmente, achamos que “arte boa” é o que nos agrada, porém, particularmente e humildemente discordo disso. Fosse assim, não existiriam obras de suspense, terror. A arte é para nos desconfortar e confundir também. Ou como a própria Budang disse em um tweet recente: “Arte é para incomodar e fazer do teu jeito. Quer fórmula e regra, vai estudar física.”

Na semana que vem, a Budang virá ao estado de São Paulo para se apresentar na La Iglesia (SP) que já deu sold out, Piracaia no Sábado, e na minha querida Santo André, no 74 Club. Show que eu espero muito poder ver de perto, se ainda tiver ingresso na porta e o Carlinhos me deixar entrar. Ingressos é só clicar aqui.

Ouçam a Budang agora mesmo em todas as plataformas de streaming, os sigam nas redes sociais, comprem o seu merch e compareçam aos shows! Paz!