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Disorder - Caio Felipe

Entrevista | David Lovering (Pixies) – “Bowie era muito generoso, um ser humano amável”

Pixies está de volta! No próximo dia 30, eles lançam seu sexto disco de estúdio – Head Carrier (sétimo levando em consideração o mini-lp Come On Pilgrim de 1987), e ele soa como…Pixies (felizmente).

A microfonia inicial, as guitarras de Joey Santiago e o refrão arrastado da faixa que abre e batiza o disco, Head Carrier, mostra um pouco do quem vem pela frente. Mas dizemos que começa tímido. Já em Classic Masher temos o refrão com vocal dividido entre Charles e Paz. Ficar comparando Paz com Kim seria muito injusto, ela fez um ótimo trabalho nesse disco novo, tanto nos vocais quanto nas quatro cordas.

Baal’s Back junto com Um Chagga Lagga são as mais sujas e talvez punks do disco, urgente e com vocal berrado o tempo todo. Lembra a sujeira que eles faziam tipo em The Sad Punk, do Trompe le Monde. Might As Well Be Gone é o bom e velho Pixies pop, assim como Oona.

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Talent está também nas que eles já soltaram, então você ouviu e tem uma opinião sobre. Gosto do refrão bubblegum. Tenement Song, também já divulgada, saiu com um vídeo bem legal, feito em animação com várias referências feito pelo The Krank! Collective.

Bel Esprit traz Charles e Paz, dessa vez dividindo os versos e juntos no refrão, e dá a deixa para talvez a faixa mais interessante do disco, All I Think About Now.

All I think About Now é a favorita aqui e o David também fala um pouco sobre ela no papo abaixo. Ela abre com uma frase à la Surfer Rosa e possui uma letra direta de Charles. Todos sabem que ele e Kim Deal tiveram um relacionamento conturbado na banda, que ajudou a dar fim à ela, em 1993.

Eu amo os trabalhos da Kim e adoraria que ela estivesse junto com eles, mas tenho que admitir que a saída dela, em 2013, foi boa para ambos os lados. O Pixies ficou mais à vontade para trabalhar em material novo, e a Kim está fazendo um disco novo do Breeders.

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Sabemos que passada a empolgação dos primeiros anos da reunião, Kim já não se sentia à vontade ali e as velhas tensões voltaram, tendo ela uma noite pago um jantar com a banda, lá em 2013, enquanto estavam trabalhando em novas músicas em Londres, mas comunicando sua saída no dia seguinte.

Aqui, a pedido de Paz, Charles escreveu uma letra sobre o que pensa sobre Kim hoje e o resultado é interessante – “I remember we were happy. That’s all I think about now. If you have any doubt, I wanna thank you anyhow”.

A animada e leve Plaster of Paris e a meio dramática All The Saints fecham o disco. Agora chega de adjetivos para tentar resumir músicas. Todo mundo vai ouvir e achar o que quiser quando sair: stop talk about music, let’s celebrate that shit.

Bati um papo com o David Lovering e você confere a entrevista abaixo:

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Vamos falar do disco novo, Head Carrier. Quando escutei o disco, ontem à noite, tive a impressão que vocês estavam mais à vontade nesse disco do que em Indie Cindy (2013). Como rolou o trabalho no estúdio? Foi como nos velhos tempos?

Sim, eu acho que o que tentamos foi meio reviver algo dos velhos tempos. E foi a primeira vez que tivemos o luxo de ter tido sete semanas de pré-produção antes de entrar em estúdio.

Quanto tempo vocês ficaram gravando o disco realmente? O Charles comentou que esse disco tem uma vibe meio Doolittle. É isso que as pessoas podem esperar do novo disco? É como o velho Pixies?

Foram três semanas gravando e, de certa forma, sim (sobre a comparação com Doolittle). Nós não temos uma fórmula e não temos um plano do que fazemos. Eu acho que esse disco soa como soa porque nós sabíamos as músicas muito bem e quando entramos em estúdio foi muito fácil de gravar. Eu sabia exatamente o que tocar e também para mim, eu consegui tocar rápido, pesado como em canções punks, diferente do Indie Cindy. Estou muito contente com o resultado.

É o primeiro disco com a Paz (Paz Lenchantin que tocava no A Perfect Circle, Zwan, Entrance) no baixo. Ela veio de bandas diferentes, com influências distintas. Como está sendo tocar e trabalhar com ela?

Ela é uma pessoa muito agradável de estar por perto, uma pessoa maravilhosa. Todos nós nos demos muito bem. Vou te dizer: o Pixies está melhor do que nunca por causa da Paz. 

O motivo que digo isso é porque mesmo sabendo que ela está conosco há três anos, ela continua sendo a “nova mulher” na banda. Todos os caras parecem que estão se comportando por ela ser a nova garota na banda e, por causa disso, a banda toda está se dando bem.

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Em segundo, nós tivemos muita sorte que o publico amou Paz. Você consegue ver quando ela toca o quanto o público gosta dela. Ela toca tão bem que me fez tocar melhor, porque eu não quero ficar por baixo (risos).

Tem uma música no disco novo chamada All I Think About Now. Eu sei que Charles fez a letra sobre Kim Deal. Depois de ouvi-la, fiquei surpreso porque eu não esperava as coisas que o Charles disse na música, é tão simples, como uma carta. Qual é o seu sentimento sobre essa música e da pessoa que a inspirou?

É engraçado, quando estávamos gravando esse disco, nós sabíamos bem as músicas, porque havíamos trabalhado bem nelas. Ai nós havíamos gravado todas as músicas que tínhamos feito e nos últimos três dias de estúdio, Paz disse ‘Eu tenho uma ideia para uma música’. Ela nos mostrou, nós a aprendemos e ensaiamos naquela noite e Charles disse ‘você canta e eu escrevo a letra’. 

Ficou nisso de um propor algo para o outro, ele gosta disso. E, no final, ficou uma letra meio carta muito legal que ele escreveu. Nós gravamos ela no dia seguinte. O engraçado é que essa era a música que nós menos conhecíamos e, pra mim, é minha música favorita do disco. Ela soa muito bem, sabe? Soa como o bom e velho clássico Pixies. O interessante é que a Paz é a novo membro da banda! (risos)

Sim, soa tão natural com ela, a forma como ela canta, é minha favorita também.

Sim, eu concordo contigo.

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Quando o Pixies acabou, você acreditava que vocês nunca mais iriam se reunir novamente. E aqui estamos, falando sobre um disco novo do Pixies depois de todos esses anos. Depois que vocês voltaram, quando vocês pensaram em compor novo material ao invés de ficar apenas tocando as coisas antigas?

Bem, isso foi algo que aconteceu. Veja, em 2004, nós voltamos, e começamos a fazer muitos shows. Depois fizemos os shows tocando o Doolittle, fizemos todo tipo de tour que poderíamos fazer. Em 2011, completou sete anos que estávamos fazendo tours por ai, como uma reunião da banda tocando todo material antigo.

Foi nesse momento que pensamos “espere um pouco, nós somos uma banda de rock e podemos continuar sendo uma boa banda de rock, por que não voltar mesmo? Em 2011, foi o momento de discutir isso.

Sim, à época vocês lançaram uma série de três EP’s, que depois tornaram-se o disco Indie Cindy. Por que nessa época lançaram esses EP’s ao invés de um disco cheio mesmo? Foi por causa da forma como o mercado funciona hoje, foi pelo processo de separação da Kim na banda ou vocês estavam relutantes mesmo em lançar material novo?

Hum..não. Eu acho que nossa cabeça na época era diferente. Quando lançamos o primeiro EP, não contamos à ninguém que haveria um EP2 e EP3, assim… chamamos de EP1, mas a ideia toda era ser uma surpresa de cada vez. Essa foi a ideia, não foi por uma questão de mercado, pensamos em fazer um álbum depois de lançar os três EP’s. Mas agora, com Head Carrier, já partimos com a ideia de fazer um disco cheio mesmo.

Posso dizer que fazer o Head Carrier foi mais tranquilo em todo processo. De entrar em estúdio, gravar. Com Indie Cindy, estávamos assustados porque era o álbum que não sabíamos bem o que fazer (Joey comentou numa outra entrevista à época de Indie Cindy, ele não estava soando como ele mesmo), nós não havíamos feito nada por 12 anos, então estávamos um pouco assustados quando fizemos Indie Cindy.

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Sim, havia uma pressão…

Exatamente, mas ter feito isso fez Head Carrier ser bem mais fácil porque nós não tínhamos mais essa pressão em cima da gente.

Há pouco tempo, nós perdemos o David Bowie. Todo mundo sabe que ele era um grande fã do Pixies. Você tem alguma história, algo sobre ele para compartilhar?

Oh..poxa… Sabe, David Bowie foi fantástico conosco, nós tocamos alguns shows em que ele foi. Ele era muito generoso, um ser humano amável e incrível. Lembro de ter conhecido ele na Inglaterra, sabe.. depois de um tempo, ele não era mais o David Bowie. Era apenas David Jones, sabe? Um tipico cara normal, é difícil falar algo diferente do que já falaram, ele era realmente fantástico.

Imagino, pra mim é ainda triste e estranho pensar que vivemos num mundo sem Bowie… é esquisito.

Sim…

Falando de Bowie, influências, em qual momento dos anos 1990 você percebeu o quanto o Pixies influenciou toda uma geração do rock alternativo da época? Bandas como Nirvana, Radiohead, Placebo, todas elas se dizem influenciadas pelo Pixies. Você acha que eles sacaram, entenderam o Pixies?

Sabe, é engraçado. Eu não penso sobre isso, não pensava sobre na época e não penso agora. Digo, é legal ser conhecido, mas tento não prestar muito atenção nisso. Não é algo que dou muita importância, mas é legal ter seu trabalho conhecido.

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O engraçado é que, em 2004, quando fizemos nosso primeiro show depois de nos reunirmos, eu ouvi que o Nirvana gostava de nós, ouvi o mesmo sobre Radiohead. Ouvi todas essas coisas, mas não foi até nós tocarmos no Coachella, que é um grande festival, e havia uma garotada que não era nem nascida quando começamos, mas eles cantavam juntos TODAS as músicas do Pixies. Isso foi muito legal e foi a primeira vez que me toquei. Wow!

Aqueles comentários do Nirvana e Radiohead sobre nós fizeram com que essa garotada fosse atrás de quem era o Pixies, investigasse. Dai entendi o que uma influência pode fazer. E pra completar, em 2009, nós tocamos no Coachella novamente e, de novo, havia um monte de garotos e garotas da mesma idade que vi na primeira vez.

Novamente, uma nova geração de novos fãs do Pixies…

Sim, uma nova geração e eles estavam cantando todas as músicas! E acho que somos muito sortudos de ter essa renovação de idade das pessoas que gostam do Pixies. É meio maluco.

Como você vê essa nova geração? Vejo várias bandas mais preocupadas com imagem, Facebook, mídias sociais  do que com a música. Você presta atenção em bandas novas?

Ah.. o que ouço mais são as bandas que tocam no radio do carro. E, às vezes, é engraçado, porque algumas soam como a mesma música que o Pixies fazia no começo. Ainda existe um senso de música alternativa, indie rolando. Não sei te dizer o nome das bandas, mas ainda existem várias bandas legais, sabe? O rock ainda continua por ai.

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Costumo dizer que em 1988 enquanto o Guns N’ Roses estava dominando as paradas, do outro lado, particularmente em Boston, o Pixies estava acontecendo. Como vocês viam as coisas naquele tempo? Qual era a ideia e as dificuldades de tocar algo que, não necessariamente, falava com o rock mainstream da época?

Bem, de novo, o que acredito que o Pixies fazia era.. Sabe, Charles escrevia boas músicas e isso era o suficiente. Todas nossas músicas são diferentes, todos nossos álbuns são diferentes. E claro que tivemos momentos ruins, o Bowie já teve momentos ruins. Acho que as músicas ainda estão por ai, nós ainda tocamos elas e acho que as pessoas pegaram elas. Conforme o tempo foi passando, o que penso dessa época, para nós, é que foi um bom tempo com boas músicas. Essa é a melhor coisa que posso dizer sobre essa época. Nós queríamos ser bons e acreditávamos que as pessoas poderiam entender. Acho que é o que eu pensava na época.

Não consigo imaginar o som do Pixies sem a sua bateria. Quando vi os shows de reunião, senti que você estava voltando a fazer algo que ama (depois que o Pixies acabou David trabalhou com várias coisas, inclusive como mágico, pratica que ele manteve). Eu sei que você gosta do Devo e bastante do Rush. E, você é uma influencia para novos bateristas, como vê isso?

Não sei, para mim, não acho que eu seja um ótimo baterista. Assim, eu toco no Pixies, sou muito feliz com o que faço ali, mas existem vários outros bateristas que são fantásticos, como das bandas que você comentou. Pra mim nunca foi uma questão só de técnica. Espero que quem goste do meu som, jeito, que tente se aprofundar e tocar melhor do que eu (risos).

Pra finalizar, as três vezes que vocês vieram para cá foram em festivais. Há planos para o Brasil na turnê?

Sim, eu espero que sim. Eu vi América do Sul nos planos da tour para 2017. Não tenho uma data para te dizer, mas sei que para divulgar Head Carrier, nós vamos tocar em muitos lugares por ai a partir de novembro e no próximo ano.

Legal, estou empolgado para ver vocês tocando material novo por aqui. Muito obrigado pelo seu tempo e espero vê-los em breve…

Obrigado pelas palavras, foi um prazer, valeu cara, bye bye!

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NOTA DA REDAÇÃO: Um pouco depois da entrevista, o Pixies anunciou que o guitarrista Joey Santiago ficaria em um centro de reabilitação durante 30 dias para tratar problemas com álcool e drogas. Alguns compromissos de divulgação do álbum foram cancelados, mas a turnê europeia está mantida até o momento.

“Esta é a melhor coisa que Joey poderia ter feito. Estamos muito orgulhosos que ele tomou esta atitude”, disse David em um comunicado. “Pedimos a todos os nossos fãs que apoiem Joey enquanto ele está nesta estrada para a recuperação”, completou.

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