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Retrovisor #04 – Jude estreia com um clássico e renova a cena psicodélica de Alagoas

Um terral multicolorido e com cheiro de uns 50 anos atrás injeta novos e bem-vindos ares à (quase) anestesiada cena (midiática) roqueira nacional. Lufadas com o sabor e as marcas do agreste psicodélico estão impressas no (já clássico) Ainda Que de Ouro e Metais, álbum de estreia dos alagoanos da Jude. Caldeirão de influências latente, que indica renovação (e porque não, resistência!) da rica safra de bandas daquele estado encravado entre as lagoas Manguaba e Mundaú.

O nome da banda deixa óbvia a referência e idolatria ao quarteto de Liverpool. Mas, o trio bebe também de mananciais distintos e abrangentes da nata da primeira dentição do BRock. São composições e distorções que você bem poderia encontrar nas faixas de Mutantes, Secos e Molhados, Som Nosso de Cada Dia, udigrudi recifense e nos acordes dissonantes dos associados do Clube da Esquina.

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Segundo single presta homenagem a Arnaldo Baptista

Som de alto nível para os saudosistas de plantão e também para a turma amplificada nas novas fornadas da psicodelia mundial. O discaço lançado pelo selo Crooked Tree Records abusa na qualidade nos arranjos, condensado num infinito sonoro a efervescência comum às melhores safras do gênero. Abordagem lisérgica a indicar que a mola ainda resiste aos rumos sonoros mais complexos do rock tupiniquim. Som anos-luz à frente do mainstream. E que reafirma a chama viva da mais abundante e criativa fase do psicodelismo sob os trópicos após sua primeira dentição.

Também reconduz Alagoas ao epicentro underground brasileiro, posto que só foi percebido no eixo Rio-São Paulo com o primeiro (e clássico) disco da Mopho, lançado no começo desse milênio pelo selo independente paulistano Baratos e Afins. Aliás, a banda responsável pelo resgate do som lisérgico nacional está presente na (sensacional) faixa Vá Ser Feliz Como o Arnaldo Baptista, que tem os vocais divididos com João Paulo (guitarra, violão e voz do grupo alagoano). Música que, como no trabalho inaugural de seus conterrâneos, também evidencia a paixão pelos Mutantes.

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Primeiro single do trio e que dá nome ao trabalho

Produzido pelos três integrantes da Jude – Reuel Albuquerque, Fernando Brasileiro e Alexander Campos – o disco trilha por uma sensacional sequência psicoativa, recheada de tons distorcidos, reverb alucinante, arranjos de cordas elaborados e docílimo vocal suave em contraste com o caleidoscópio sonoro. O resultado mantém o mesmo frescor dos dois singles do grupo (Ainda que de Ouro e Metais e Vá Ser Feliz Como o Arnaldo Baptista), lançados no primeiro semestre de 2016.

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E que se eleva na lindíssima balada-psicoativa Pássaro Negro – composição de altíssimo nível, que tranquilamente faria parte do repertório da Ave Sangria ou Flaviola e o Bando do Sol, duas faustosas bandas pernambucanas dos anos 70. Grupos, esses, essenciais para entender a (forte) cena psicodélica do Nordeste, que tem se renovado constantemente – basta ouvir os interessantes trabalhos da Necro (cujo Pedro Ivo também se faz presente no disco) e Mayash, para citar duas bandas de Alagoas.

O discaço na integra

A referência ao mutante obcecado por amplificadores valvulados retorna menos explícita na Não Me Desculpe, uma aversão coirmã da confessional balada Desculpe, presente no clássico Loky?. Sonzeira! E Jude bebeu da fonte primária, absorvendo os refrões memoráveis e potenciais hits, como nas faixas Barco Azul e Gigante de Aço.

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Embora com o DNA apontando para as décadas 60 e 70, o disco trilha por interessantes fusões contemporâneas. O que apresenta no homônimo disco canções diferentes a cada faixa.

A introdução da (belíssima) Menina das Sombras, por exemplo, evoca à Lambada Quente do fenômeno Figueroas, também de Alagoas. Guitarrada magnífica, numa clara simetria que o psicodelismo também pode ser popular. Um diamante bruto, cunhado sobre o prisma de listar entre os mais robustos trabalhos do ano. Ouça e se derreta!

 

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