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Arkie do BRock #21 – Conrad, o Harrison dos S&M

A dissolução dos Secos & Molhados gerou um frenesi entre as gravadoras que controlavam o mercado fonográfico brasileiro. Numa espécie de corrida (maluca) ao espaço, garantiram aportes significativos a fim de contar com qualquer um do trio em seu catálogo. Afinal, tratava-se de diamante bruto com exigência mínima nas lapidações, já que o grupo realizou a mais meteórica e avassaladora história de sucesso do rock brazuca.

O assédio das majores acelerou uma vaidosa competição para se verificar qual dos três se firmaria em carreia solo. No ano seguinte à brutal ruptura da banda, os músicos da formação original apresentaram suas novas cartadas musicais. Os projetos-solos resumiram uma espécie de quem é quem na recém-extinta banda, comum à disputa surda e voluntária após o fim dos Beatles.

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Ney Matogrosso permaneceu na Continental, selo que lançou os dois trabalhos iniciais do S&M, e se aventurou numa odisseia experimental sinfônica. O clássico Água do Céu – Pássaro é digno de ser incluso nas melhores listas do psicodelismo setentista.

Gerson Conrad e Zezé Motta –  1974

João Ricardo, quem exigiu para si o controle e o nome do grupo, rumou para a gigante Philips. E tentou, sem êxito, emplacar nas paradas de sucesso com um disco até hoje incompreendido. Talvez o menos conhecido da formação inicial, Gérson Conrad lapidou uma obra-prima do rock brasileiro dos anos 1970. Os dois, no entanto, sentiram o duro golpe de não carregar a grife S&M.

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Tão subestimado quanto George Harrison, Conrad só conseguiu dar maior vazão às composições que havia acumulado após sair do grupo e assinar contrato com a Som Livre – como o beatle fez com o All Things Must Pass, considerado o melhor álbum de um ex-integrante do quarteto de Liverpool.

A comparação com o guitarrista inglês não é à toa. Como Lennon assim o fez, João Ricardo também chegaria a declarar publicamente que o autor da melodia sobre o poema Rosa de Hiroshima (Vinícius de Moraes) era compositor de único sucesso. E que Conrad seria uma pessoa “totalmente desimportante” para o grupo. Apontamentos que explicam a tão pouca participação no processo criativo do S&M – são duas faixas: a já citada acima, presente no álbum de estreia, e Delírio, a penúltima do lado B do segundo trabalho da trupe.

Gerson Conrad & Zezé Motta – Trem Noturno

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Após a debandada e o traumático fim do grupo, Conrad preferiu manter-se menos exposto aos holofotes e não correr risco sozinho. Convocou a atriz e cantora Zezé Motta, que fazia enorme sucesso com a versão tupiniquim do musical Godspell (de Stephen Schwartz e John-Michael Tebelak) e carregava na bagagem passagens nas peças musicadas Roda-Viva (Chico Buarque) e Arena canta Zumbi (Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal e Edu Lobo).

Zezé Motta chegaria ao estrelato nacionalmente no ano seguinte após gravar o disco, ao protagonizar o longa Xica da Silva (Carlos Diegues, baseado no livro de João Felício dos Santos). E seguiria dividida entre a música (com mais de 10 álbuns gravados) e a dramaturgia.

De forma parecida que Ney acendeu o debate sobre a sexualidade, Gerson captou a onda da música negra que começava a se formar nas periferias dos grandes centros urbanos. E antecipou a onda black-soul que chegaria ao ápice de popularidade radiofônica no final daquela década. O disco que leva o nome da dupla faz uma interessante fusão de MPB mais suingada e rock.

Gerson Conrad & Zezé Motta – A dança dos besouros

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O músico recrutou ainda o letrista Paulinho Mendonça (autor de Sangue Latino, com João Ricardo), com quem assinou todas as canções do álbum. Assim, apostou numa fórmula parecida, porém menos experimental, que fez de sua antiga banda fenômeno de massa. Mas a vendagem do disco ficou aquém da sombra que ainda permanecia imaculada sobre os Secos e Molhados.

A baixa repercussão não condiz com os (belos) arranjos e perfeita harmonia entre as duas vozes suaves. E o repertório diversificado flerta com algumas fórmulas já experimentadas pelo rock e devaneios sonoros que remetem a música celta. Tudo isso temperado com frases e riffs mais corriqueiros a soul music, com guitarras precisas e pianos alucinantes.

Gerson Conrad & Zezé Motta – Bons Tempos

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O disco abre com um petardo A Dança do Besouro, que bem poderia ser incluída nos dois trabalhos que Conrad escreveu ao lado de Ney e João Ricardo. E composições como Trem Noturno, Pop Star (com um belo solo de guitarra), Um resto de sol, Estranho Sorriso e 1974 comprovam que o guitarrista foi subutilizado no S&M. Em 2006, o disco teve reedição na série Som Livre Masters 2, cuja produção fico a cargo do ex-baterista do Titãs, Charles Gavin – quem resgatou os dois primeiros discos dos Secos.

Ele só voltaria ao mercado fonográfico em 1981, com o disco solo Rosto Marcado. O trabalho encartado pela Continental é o seu último lançamento. Mas o álbum passou despercebido da crítica e público. E levou o músico a se dedicar à Arquitetura. Na virada do atual século, novas fornadas de fãs redescobriram o rock setentista brazuca, e praticamente exigiram o seu retorno aos palcos. Atualmente, ele lidera a banda Gerson Conrad & Trupi, cujo repertório é composto por algumas canções dos S&M e de seus dois discos solos.

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