RICARDO AMARAL
Como todos domingos, eu e ela sentamos com uma taça de vinho e apenas nossa inspiração como limite, diante dos sons que adoramos. Mas esta semana de abril, Elton John volta às nossas vidas e, inevitavelmente, Goodbye Yellow Brick Road surge na tela…. e tudo me veio à mente, novamente.
Cada artista trata de dizer, não eu, que tem seu próprio Sgt. Peppers. Este é o de Elton e Bearnie. Goodbye Yellow Brick Road. O lendário LP duplo, sétimo álbum da icônica dupla, foi lançado em 1973. A sintonia entre os dois ía muito além da música e seu estilo de compor marcou uma época.
Bernie, um típico country sider de Lincolnshire, na Inglaterra, tinha suas poesias todas fincadas no way of life dele e de seu musicista. O curioso é a forma que encontraram para compor: Bernie enviava suas letras para Elton pelo correio e, a partir daí, Elton John as musicava.
Goodbye Yellow Brick Road é uma espécie de dossiê desta dupla identidade poética de Bernie Taupin, concentrando as letras entre imagens do menino saído do interior e o da cidade grande, por vezes massacrado pelo sucesso.
O disco abre com Funeral for a friend/Love lies bleeding, uma apoteose que demonstra a influência direta de Mozart em Elton John (que aliás de travestiu várias vezes do compositor clássico) terminando com um clássico de rock batido, típico do início dos setenta. Tudo era épico.
Na sequência Candle in the Wind, a bela canção cheia de lirismo narrando a trajetória de Marilyn Monroe e as asperezas do sucesso. Fechando o lado, um hino de rock em homenagem ao parceiro Bennie and the Jets! A canção título é, definitivamente, uma das mais belas obras de arte pop da históri.
A analogia com o caminho de Oz traz os dilemas da migração campesina dos jovens da época, envolvidos com a burguesia da nobreza, com as drogas e a vida fútil. O refrão que prega “Adeus estrada de tijolos amarelos, onde os cães da sociedade caçam” espelha o desejo de Bernie de trazer Elton John para perto dele, longe da cidade. Nunca mais Elton John conseguiria chegar àquele tom. Com uma voz de “castrato”, Elton John chega a tons altíssimos, com uma voz que parece mesmo infantil.
Destaques devem ser dados a Sweet Painted Lady, ode a uma prostituta de porto, por quem um marinheiro se apaixona e a Ballad of Danny Bailey (1904-1934). Esta música é tipicamente o estilo de Bernie Taupin. É uma biografia, como Candle in the Wind, só que trazendo a “história” de um dos capangas de Dellinger, famoso criminoso com tendências de Robin Hood, na América dos anos 1930.
Goodbye Yellow Brick Road é um clássico canção após canção. Em mais uma crônica pessoal, o letrista narra, com nostalgia, sua influência, a do cinema e dos westerns dos anos 1950, em Roy Rogers, na qual, detalhadamente, descreve seu ambiente doméstico de garoto.
Este disco é um clássico do rock e o penúltimo da dupla Bernie e Elton. Gravado em apenas uma semana no Château d’Hérouville, Hérouville, na França, em maio de 1973, é fonte, certamente, de grande parte do show de Elton John nesta semana em São Paulo.
6 Comments
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Sami Douek
4 de abril de 2017 at 11:35
Realmente muito boa matéria e segue uma linguagem elegante e que merece ser apreciada por muitos em busca da atual riqueza histórica da música pop quando emergente no reino unido e surpreendentemente atravessou fronteiras e além mar. Penso com meus botões se o amigo e autor deste espaço, não deveria editar este blog em língua inglesa! Congratulations is just the simplest expression for you my friend. ?
mauro
4 de abril de 2017 at 12:43
Excelente análise deste ícone pop/ rock e que a décadas nos presenteia com músicas maravilhosas. O album que viria a seguir” captain fantastic” é meu preferido, obra prima.
Ricardo Amaral
5 de abril de 2017 at 11:38
Oká Mauro! Obrigado pelas palavras! Capitain Fantastic é meu preferiro tb e Bitter Finger a masterpiece! E a capa mais linda da história do disco!
Samir Khoury
7 de abril de 2017 at 13:37
Certa feita afirmei que a leitura de textos esculpidos por Ricardo Amaral nos levam a surfar entre letras e palavras. Nessa atual postagem, a sintonia dos vídeos com a cronologia musical é tão envolvente que hipnotiza ouvidos aguçados, sobretudo do leitor fã de Bernie e Elton.
Aguardamos novas ondas nessa imaginária prancha de surf-rock.
Fabião Nunes
9 de abril de 2017 at 14:19
Ler RA sem conhecer sua voz, seu olhar e seu swing, parece surpreendente, mas para nós que estávamos na praia escutando Blues Farofa e aguardando o Festival de Música para ver sua performance. A música é tão importante em nossa “Vida Besta”, o tempero e o recheio da existência, tem o molho de Elton, a energia de AC/DC e a genialidade dos besouros de cabelo engtaçado, eles, nossos ícones são parceiros nessa grande viagem sem fim . . . me dá uma taça por favor!
Ricardo Amaral
11 de abril de 2017 at 10:01
Meu querido Fabião! Vc é minha inspiração em tanta coisa. Um exemplo para meus filhos, o que ainda mais me comove! Ebarrando no popular: Tamo junto!