NUNO MINDELIS
Já falei antes, nesta coluna, de Rich Robinson. Na época comentei o seu álbum Flux, que achei bem legal! Pois vamos falar desta vez da outra metade do Black Crowes, o seu irmãozinho Chris & banda Brotherhood e o álbum novinho em folha, lançado na última sexta feira, Barefoot in The Head.
A Brotherhood foi criada quando os Crowes deram uma pausa, mas Rich parece ter gostado da ideia e já lançou, em seis anos, uma caterva de álbuns e EPs com esse time. Parece ter adotado esse projeto e esquecido dela. Azar do Black Crowes. Ou não.
As influências de soul, dos hippies, do Grateful Dead, do country, do flower power, de Dylan, de southern rock e… de Black Crowes, estão todas nesse trabalho. Se você gosta dessa praia, ponha para tocar alto no carro, no trânsito ou quando for para a estrada (melhor ainda). Em casa, sentado confortavelmente, tomando a sua bebida preferida e com volume decente em speakers idem, também vale a pena.
É quase impossível não gostar desse bolo musical todo, executado por músicos de quilate e com a voz diferenciada de Chris. E esse é sem dúvida um ponto, a voz peculiar de Chris Robinson. Vocais são os instrumentos mais importantes numa banda e, quando originais, movem montanhas.
Behold the Seer, faixa inaugural, inicia com uma bateria solitária, captação e timbre daqueles secos e deliciosos. Que concede ao hip hop? Ou a James Brown? Tanto faz, ele inventou os dois. E teima em aparecer de novo sozinha, no mesmo formato sequinho tipo 70s, nos quatro primeiros compassos de Hark, The Herald Hermit Speaks, tema que escancara, sem resquício nenhum de dúvida, a influência do bardo Bob Dylan. Em She Shares My Blanket há um country quase psicodélico.
High is Not the Top é country, ou será bluegrass? Ou os dois? Seja lá o que for, mesmo não sendo a minha praia favorita, é competente paca.
If You Had a Heart to Break começa muito bem, com uma sequência de acordes de violão country (que lembra o começo de Tenderness, do Steppenwolf) e um piano lindo. Só fiquei triste com o refrão, quase piegas. Esperava outra solução. Às vezes acontecem essas coisas.
Blue Star Woman é levada tradicional com toques de psicodelia e experimentação, sem bateria, só percussão. Até metade, a música é tradicional e lá pelo meio surgem umas sonoridades diferentes (legais!) Depois, mais na frente, aos 3m47s, aparecem outras brincadeiras e, acredite, me lembraram de Genesis. (Especificamente de sonoridades do Selling England By The Pound, creio). Gostei!
E por aí vai, sem riscos! Nem mais surpresas. Chris não quer revolucionar nem de longe. Tanto faz. Porque este disco é para ser ouvido sem esforços ou maiores análises. Como Black Crowes. Mas jamais como música de fundo, com conversas ou atividades simultâneas, como é praxe no século 21.
Confiram e me contem!
Abraço, pessoas antenadas de todos os tempos!