NUNO MINDELIS
Sonny Landreth não brinca em serviço, é veteraníssimo e um dos melhores slide guitar do planeta, ponto! O que se falar daqui para a frente, seja o que for, deve partir disso.
Nascido no Mississipi, é chamado de O Rei do Slydeco, trocadilho-aglutinação das palavras ‘Slide” e “Zydeco’, este último um gênero musical da Louisiana, que é a sua principal influência e que nasceu no início do século 20, nas vozes ‘creole” da época, sempre acompanhadas de acordeon.
Em alguns momentos o Zydeco guarda bastante semelhança com o forró, confira isso ouvindo Buckwheat Zydeco. Mas continuemos com Sonny, que já tocou e colaborou com gente como Clifton Chenier (o Rei do Zydeco, eu diria), Eric Clapton, Mark Knopler, Govt. Mule, John Mayall & The Bluesbreakers etc.
Neste disco duplo (dois CDs de oito faixas cada) ele faz uma versão da música Key To The Highway, de BB King (faixa 3 do CD 1) à sua maneira cajun, digamos, com uma performance slide como sempre irrepreensível. Muito bom! Emenda com Creole Angel, que induzirá o ouvinte a sacudir involuntariamente. A levada é desse tipo que arrebata e faz, no mínimo, bater o pé com força e no máximo sair pulando pelo recinto. A ‘conversinha” entre a guitarra slide e o acordeon é ingrediente óbvio mas interessante de acompanhar. Landreth não é cantor, como a maioria dos guitarristas virtuosos, mas os vocais macios e afinados são bem eficientes.
The High Slide (6 do CD 1) é uma levada instigante, folk-zydeco-soul, (ou coisa parecida) mais uma para chacoalhar um pouquinho, embalada por uma guitarra de altíssima categoria. The Milky Way Home (faixa 3 do CD2) é uma das minhas favoritas (junto com Key to The Highway e The One And Only Truth) e mostra bem a pegada deste grande guitarrista.
As três últimas músicas do show (Soul Salvation, Walkin Blues e The One and Only Truth) são mais intensas, com alguma concessão ao rock, pelo menos na ‘pimenta’ dos timbres. Os solos e comentários de guitarra, na última, merecem ser conferidos. Paulada. O primeiro solo lembra o inacreditável Danny Gatton. Parece que o autor guardou o melhor para o final.
O material é extenso, impossível não apontar uma certa monotonia, afinal tocar guitarra muito bem é uma coisa e compor e/ou criar uma grande obra é outra. Se necessário ouça com calma, aos poucos, como quem consulta um livro em dias diferentes. Dá para ter overdose de Sonny Landreth, mas do bem, sem riscos à saúde, pelo contrário.
Abração!