Som na Vitrola #72 – Aposentadoria de nossos ídolos. E agora?

Som na Vitrola #72 – Aposentadoria de nossos ídolos. E agora?

Lembro de 2015/2016, quando a porta do meu Jardim do Éden do rock and roll foi aberta por Lemmy, levando logo em seguida David Bowie, Glenn Frey (Eagles), Maurice White (Earth Wind & Fire), Keith Emerson e Greg Lake (Emerson, Lake & Palmer) e tantos outros que fizeram parte da minha trilha sonora de vida.

Por pior que eu estivesse, lembrava que suas carreiras foram brilhantes, marcando não apenas minha vida, mas tantas outras. Estes ícones, sem saber, ajudaram pessoas em momentos tristes e também celebraram a vida nos maiores momentos de felicidade. Fizeram o seu papel e muito bem feito, diga-se de passagem, e terminaram deixando aquela saudade que nos faz ligar o som no máximo.

O ano de 2018 entrou e o rock tomou a atitude de não terminar do modo que estávamos acostumados, o que é verdade por incrível que pareça.

O início do “fim” foi feito pelo Rush, quando seu guitarrista Alex Lifeson avisou aos fãs da banda: “Praticamente acabamos. Depois de 41 anos, sentimos que era o bastante”.

O Slayer também resolveu levantar acampamento após 37 anos sensacionais de carreira. O terceiro susto foi o de Sir Elton John. Aos 70 anos de idade e desde 1969 subindo aos palcos com seu piano, resolveu nos entregar uma turnê de despedida, Farewell Yellow Brick Road, que durará três anos e logo em seguida, pendurará as chuteiras para cuidar dos filhos.

Enquanto alguns morreram cedo, como Jim Morrison, Janis Joplin e Amy Winehouse, outros se jogaram contra o tempo, como Chuck Berry, com seus 90 anos, e Fats Domino com 89 anos. Os Stones continuam pulando pelos palcos, porém temos Rita Lee que simplesmente parou, pois “encheu o saco”.

Estamos diante de uma situação nova, na qual não é a overdose ou alguma doença que breca as bandas, mas sim o cansaço. Todos tiveram uma volta ao topo, caso de Sinatra e Elvis, é claro, mas hoje são as causas naturais que estão colocando o ponto final nas carreiras.

Mas o caso da aposentadoria, podemos pensar nas vendagens dos álbuns, que com o advento da internet e da pirataria, deram uma caída, se compararmos aos tempos áureos do vinil ou à grana que entra com os shows, estes maiores do que os ganhos com direitos autorais. Ou, talvez, estejam pensando que estão velhos demais para o rock and roll, com o fim da ilusão da eterna juventude, trazida pela eternização de sua música. O contato com fãs; turnês sem fins; correrias para o estúdio; o corpo que não obedece mais a mente e tantos outros motivos podem ser aquele real motivo para tal atitude.

Bob Dylan, Leonard Cohen e Lou Reed amadureceram diante desta mudança, mas será que conseguiríamos imaginar um palco totalmente preto, com um Elton John em um piano simples, de calça jeans, camiseta preta e um óculos estilo professor de história de cursinho?

Mas para dar aquela pontada de esperança para nós, muitos já anunciaram a aposentadoria e voltaram atrás! Alguns foram jogadas de marketing, seguidas das famosas “Turnês de Arrependimento”. Quem me garante que Crocodile Rock, Tom Sawyer, Free Bird, Skyline Pigeon e Raining Blood não serão novamente tocadas ao vivo?