Em meio a explosão psicodélica capitaneada pelos Beatles, encontravam-se, sem grandes perspectivas, os membros do The Zombies. Após dois discos de recepção quase nula da mídia e do público, os ingleses andavam sem crédito na gravadora – que tinha a dura missão de gravar mais um disco por questões contratuais. A saída foi dar total liberdade criativa pra banda, que aproveitou a oportunidade pra abusar de todas as ferramentas que estavam a seu alcance.
O resultado foi um dos grandes petardos da era lisérgica sessentista: Odessey & Oracle. Lançado em 1968 como uma incógnita, o álbum não demorou pra conquistar a crítica especializada, e vem fisgando novos fãs até os dias de hoje. E isso tem seus motivos. Artisticamente falando, seu estilo particular de psicodelia foi um dos grandes diferenciais de época onde todas as bandas queriam ter seu próprio Sgt. Peppers.
Embora apresentem um viés acessível, as faixas seguem rumos imprevisíveis. Músicas como Care of Cell 44 e Changes, apesar de curtas, podem ser divididas em etapas individuais dentro de suas construções. Outras, como Maybe He’s Gone, apresentam um lado mais tradicional, ainda que denso. A psicodelia é bem conduzida dentro dos conceitos inaugurados pelo Pet Sounds, do Beach Boys, mas a história muda quando o assunto é a métrica – que é elaborada criativamente (e aparentemente) sem grandes pretensões comerciais. Artisticamente pretensioso, comercialmente, não.
Mas isso, por incrível que pareça, não torna de Odessey um disco difícil. Todas as canções são curtinhas e interessantes. Não é algo que se entende de primeira, mas também não vai levar mais do que duas audições para que você compreenda perfeitamente aquilo que está ouvindo. As mais acessíveis são mais adequadas para começar a experiência. This Will Be Our Year é a mais pop e romântica do álbum, e caso você não ligue pra ordem das coisas, começar por ela pode ser interessante.
Para quem gosta de Mutantes, o disco é um tiro certeiro. Muitas das faixas dos discos são influência óbvia para o grupo que revelou Rita Lee, sendo o vocalista Rod Argent um dos grandes espelhos de Arnaldo Baptista. É impossível ouvir Butcher’s Tale e não lembrar-se da atmosfera sombria para onde as melhores faixas de A Divina Comédia (ou Ando Meio Desligado) nos transportam; assim como é impossível ouvir Loki, de Baptista, e não associar a Friends Of Mine ou A Rose For Emily. As três obras, estranhamente, se complementam.
Fica a dica de álbum pro carnaval. Pretendo trazer mais coisas psicodélicas para a coluna futuramente, caso o assunto renda. Um excelente feriado a todos.