R.E.M. e o monstro de 1994

R.E.M. e o monstro de 1994

A pressão das gravadoras por uma sequência de grandes sucessos se divide em momentos bons e ruins; ou, pra ser mais justo, bons e questionáveis. Monster (1994) é um disco questionável, e justamente por ser questionável se enquadra como um dos momentos chave da discografia do REM.

Após dois discos que estouraram de vendas e elevaram a banda a um patamar de gigantes do rock – Out Of Time e Automatic For The People – sondava-se o que o grupo se sustentaria desse status cool pra atingir novas sonoridades, dentro da liberdade artística que a banda sempre propôs a si mesmo. Como resposta aos dois anos de espera, o REM entregou um disco diferente – embora inovador seja um adjetivo discutível pra ocasião.

Longe da morbidez constante de Automatic e mais ainda da positividade opressora de Out Of Time, Monster chega com uma vibe quase que sexual – tangendo lembranças de um glam setentista, numa comparação que pode abranger tanto as raízes do T. Rex quanto o auge desenfreado do Bowie de Ziggy Stardust. A atmosfera desenvolvida pelo Peter Buck nas guitarras, no entanto, busca um certo peso a mais – uma sujeira a mais. Era o que o súbito movimento grunge indicava. Era, também, um pouco da essência de um grupo que absorveu os anos 1970 pra buscar seu som nas décadas subsequentes.

Michael Stipe, por outro lado, está mais solto do que nunca na carreira. Momentos de transcendência do disco envolvem falsetes antes inexplorados pelo cantor – caso de Tongue, single excelente, mas pouco lembrado dentro do enorme catálogo do grupo. Outro single, Strange Currencies dá pinta de primo de Everybody Hurts, mas foge pra um refrão sujo e pra cima. Apenas alguns dos momentos excepcionais proporciinados pelo disco.

O trabalho é mais lembrado por What’s The Frequency, Kennedy?, que é justamente a síntese rocker do disco e que, junto com a (quase) psicodélica Crush With Eyeliner, forma a dupla de canções mais glam dentro dos anos 1990. Arrisco dizer que se alguém ainda usa o nome guitarra elétrica pra se referir ao instrumento, é por causa dessas músicas e do efeito treme-treme do Peter Buck.

No mais, é um disco que se tornou menor pelo tamanho das expectativas. O que é questionável, no caso, é se o disco é… questionável. Tudo é! Mas vamos trabalhar com o que se diz a respeito do álbum. Digo isso porque não tenho dúvidas de que se fosse lançado em 1990 (antes de dois dos magnum opus da banda), ele seria visto da mesma forma que grande parte dos discos lançados pelo grupo nos anos 1980.

 

Aye aye captain. Bom final de semana a todos!