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Anti-Corpos começa nesta semana longa turnê pela América do Sul

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Quem é de Santos e acompanha a cena hardcore da região do começo dos anos 2000, certamente ouviu falar da Anti-Corpos. Definida como uma banda lésbica feminista, elas dividiram os palcos com diversas outras bandas com a mesma proposta aqui e em São Paulo, como a Dominatrix e Hats.

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Por conta do destino das integrantes, o grupo “mudou-se” para Berlim na Alemanha. Após uma pausa, elas retornaram as atividades com uma nova formação. Depois de um tempo sem sair em turnê pelo país, a banda inicia nesta semana um longo giro passando por diversas cidades do Brasil e uma parada na Argentina e Chile. Saiba mais no fim do post.

Conversei com Adriessa Souza, atual vocalista da Anti-Corpos, sobre a mudança de continente, a cena hardcore punk na Europa, o projeto Girl Rock Camp e a expectativa pela atual turnê. Então, vamos ao bate-papo!

Blog n’ Roll: Em 2006, conheci a Anti-Corpos por meio de uma amiga e achei incrível ter uma banda de hardcore feminista em Santos. Alguns anos depois me surpreendi quando soube que vocês mudaram para Alemanha. Como foi que isso aconteceu?

Adriessa: Foi tudo muito rápido e muito louco. Na verdade, não nos mudamos como uma banda. Cada uma das integrantes tinham um motivo. A Helena [Krausz, baterista] já havia morado em Berlim por quase um ano e durante esse período conheceu a Jenni, dona do selo Emancypunx (um dos mais importantes selos punk feminista), que topou lançar o EP 7” Contra-Ataque.

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Logo, veio a ideia maluca de fazer uma tour na Europa. Eu era bem cética e achava que seria a maior furada da minha vida. No fim, acabou que foi uma tour super bem sucedida; fizemos quase 25 shows em 7 países. Todas as apresentações esgotadas ou super cheias e a galera com uma recepção super massa.

Vendo como as coisas rolam por aqui foi só expandindo a minha ideia de vir para cá também. Aqui você consegue ter o seu trabalho, ter banda, fazer tour, fazer política e viver, sabe? Eu estava morando em São Paulo e a rotina era intensa demais. Aí quando surgiu a oportunidade e eu abracei.

Por fim, quando a Rebeca decidiu tentar estudar por aqui, resolvemos voltar a tocar e chamamos a nossa amiga Marina [Pandeló] para tocar baixo. Tipo, se alguém me contasse que isso ia rolar no meu futuro eu ia rir na cara dessa pessoa! É muito louco mas a minha guitarra guiou a minha vida, sem ter banda isso nunca teria acontecido!

BNR: Aproveitando o gancho, como foi continuar a banda em outro continente. Quais foram as mudanças de lá pra cá?

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Adriessa: Estruturalmente mudou tudo! Aqui você junta uma grana daqui e dalí e facilmente consegue comprar um backline legal. E como a Europa é pequena, rola ir de um país pro outro em algumas horas. Isso facilita para fazer turnê. Aqui, somos parte de um coletivo e temos uma sala de estúdio que é para mulheres, lésbicas, trans e queers o que nos dá liberdade de ensaiar por mais tempo. Só que nem sempre é tudo lindo, saca?

BNR: Apesar de estar na Alemanha, vi que a Anti-Corpos é bem ativa não apenas cena local. Vocês já fizeram grandes turnês e tocaram na Polônia, Inglaterra, França, Espanha e outros países. Como foi o processo de fazer parte de uma nova cena e quais são as diferenças com o Brasil?

Adriessa: A Anti-Corpos chegou chegando aqui (risos). É muito louco porque morando no Brasil, eu imaginava uma cena super forte de mulheres fazendo um som mais pesado e isso não foi o que encontramos aqui. Você tem algumas bandas tocando música mais pesada, porém ainda muito poucas. Acredito que isso nos ajudou a se destacar na cena européia.

E a galera curte demais as bandas do Brasil. Tanto que tem várias bandas brasileiras que se destacaram demais por aqui e na história do hardcore. Acho que com a Anti-Corpos, o pessoal sempre pirou demais com a energia e com os questionamentos levantados nos shows. Mesmo com o nosso inglês ruim, saca? (risos)

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Isso fez com que as pessoas olhassem para a banda de uma forma diferente. Com isso foram pintando convites para um festival grande na Finlândia, duas tours grandes, vários shows em vários lugares. E como eu disse, a Europa é pequena. Então, em uma hora de voo você vai de Berlim para Londres.

Agora, fazer um rolê no Brasil é sempre difícil por causa das distâncias e pelo quanto elas custam. Só que Brasil é Brasil. Não tem lugar melhor pra tocar. A galera rala pra organizar os shows e os festivais; e as pessoas têm uma energia ímpar nos shows. Fizemos vários shows massa por aqui, mas nada se compara com Brasil.

BNR: Em março, vocês vão fazer uma longa turnê pela América do Sul, incluindo até Argentina e Chile. Como surgiu essa ideia – ou convites – para fazer esse giro tão grande tocando praticamente 15 dias direto?

Adriessa: Isso. Serão 10 shows seguidos no Brasil e um em Buenos Aires e outro em Santiago. A ideia sempre existiu e foi sendo adiada por conta da mudança de país, trabalho, dinheiro, vida, correria com vistos e burocracias. (Risos).

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Mas desde que fizemos a primeira grande tour na Europa só foi crescendo a ideia de fazer uma gira na América do Sul. No começo do ano passado, a Helena ficou insistindo na ideia depois que participamos do Girls Rock Camp em Sorocaba e Curitiba. Várias pessoas ficavam comentando que queriam muito nos ver tocando por aqui e sempre recebemos muitos convites de shows e mensagens perguntando quando voltaríamos para o Brasil. Enfim, sentamos, organizamos, juntamos idéias e dinheiro daqui e dalí. E agora vai rolar!

BNR: A pergunta óbvia: qual é expectativa desta turnê?

Adriessa: Nossa, estamos absurdamente animadas! Nos últimos três anos, eu ficava só admirando de longe a cena que tem crescido pelo Brasil e sonhando em tocar com todas essas bandas lindas que nasceram com mulheres, queers e trans. Elas estão fazendo com que aquela chama volte a acender e o rolê tenha sentindo novamente.

Por anos o hardcore punk virou basicamente dança violenta e visual. O que vejo agora é uma nova cena falando, refletindo e fazendo, sabe? Infelizmente, o nosso tempo por aqui será curto e não vamos conseguir passar por vários estados e países da América do Sul. Mas espero que consigamos voltar em breve e fazer uma tour maior.

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BRN: Voltando a falar da vida no velho continente. Todos os trabalhos que vocês lançaram até o momento possuem letras em português. Nessa mudança de país, como é a reação do público ao ouvir as músicas? Ou foi preciso adaptar algumas coisas?

Adriessa: Nossos shows são bastante energéticos e sempre fazemos questão de falar sobre o que as músicas falam e sobre as coisas que estão rolando no Brasil e no mundo. O português cantado nunca foi uma barreira, mas é aquilo: ninguém canta junto.

Quando resolvemos continuar com a banda depois da saída da Rebeca, fizemos dois sons novos em inglês. Mas não necessariamente será a única língua de composição, mas depois de três anos e meio rolou uma vontade de arriscar.

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BNR: O último trabalho de vocês foi o EP Formas Práticas de Luta de 2015. Vocês têm planos de lançar novo material em breve?

Andriessa: Pois é, depois do último EP veio toda uma mudança de vida e novas bandas. Nunca deixamos de compor, mas nunca mais nos focamos em um álbum. Ano passado gravamos um som para o Tributo ao Bulimia que deve sair ainda este ano e mais duas músicas que nunca usamos para nada.

Quando a Anti-Corpos deu uma pausa e teve a saída da Rebeca, eu mesma acabei dando mais atenção para a minha outra banda, o Eat My Fear, e gravamos dois EPs. Enfim, temos duas músicas novas, porém sem nada em vista. Quem sabe depois dessa tour damos um gás em um disco novo.

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BNR: Atualmente, o Brasil tem um governo que seu líder sempre teve opiniões contrárias em relação ao público LGBTQ e um posicionamento extremamente machista – e até misógino. Por outro lado, a Anti-Corpos sempre teve uma postura que vai contra essas ideias reacionárias. Como vocês enxergam essas questões e como isso deve impactar o próximos trabalhos de vocês?

Adriessa: Cara, é bizarro e assustador. O Brasil sempre foi super violento contra minorias e é muito intenso ver como a galera acabou “saindo do armário” e mostrando todo o ódio e intolerância através de mídias sociais. Infelizmente atacando e assassinando diversas pessoas em nome desse monstro que é o atual presidente.

Em outra via, nos dá muita esperança ver como as pessoas estão de diversas formas se conectando, agindo e tentando impedir várias ações desse governo BIZARRO! Temos visto o crescimento de alguns grupos agindo ativamente inclusive em Berlim para dar apoio para a comunidade negra e LGBTQ. Acho que um dos grandes motivos de retornar com a Anti-Corpos nessa nova formação é porque tem muito o que ser dito. Mas acredito que o maior impacto é fora da banda, onde tentamos ajudar a nossa comunidade com os acessos que temos, dentro e fora dela.

BNR: Indo para um assunto mais leve agora. Tanto no Brasil quanto na Alemanha, vocês participaram de diversas edições do Girls Rock Camp. O que significa esse projeto para a banda? Vocês conseguem traduzir como é importante ensinar o rock para as meninas?

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Adriessa: Cara, o GRC é um dos projetos mais incríveis que existe! É muito foda ver como seis dias transformam essas garotas e nós instrutoras também! O GRC vai além do ensinar rock (que muitas das meninas nem gostam) ou aprender um instrumento, é um projeto que tem como objetivo mostrar que você pode fazer o que quiser e ser o que quiser e ser uma garota não te faz menos capaz.

Nós da Anti-Corpos, além de participar de vários Girls Rock Camp, sempre estamos envolvidas com atividades de empoderamento para mulheres, queers e trans, crianças ou adultos, porque sabemos que música é uma ferramenta muito importante e que muda vidas!

BNR: Muito obrigado pela entrevista e pela atenção. Deixe um recado para o pessoal!

Adriessa: Meu, obrigada pela entrevista e gostaria de agradecer a todos pelo carinho que estamos recebendo! Está sendo lindo demais todo o retorno que essa tour vem trazendo e ela nem começou! Nos vemos em breve!

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DATAS DA TURNÊ E CARTAZ:

14.03 São Paulo: https://www.facebook.com/events/2035377673428273/
15.03 Rio de Janeiro: https://www.facebook.com/events/277116726543686/
16.03 Belo Horizonte: https://www.facebook.com/events/312017799666727/
17.03 Brasília: https://www.facebook.com/events/362550434339326/
18.03 Goiânia: https://www.facebook.com/events/370989503681526/
19.03 Uberlândia
20.03 Bauru: https://www.facebook.com/events/2299698406912419/
21.03 Sorocaba: https://www.facebook.com/events/686449401776710/
22.03 Santos: https://www.facebook.com/events/389546298500350/
23.03 São Paulo: https://www.facebook.com/events/767127333661481/
24.03 Curitiba: https://www.facebook.com/events/1281348125338757/
29.03 Buenos Aires: https://www.facebook.com/events/556516698195548/
31.03 Santiago: https://www.facebook.com/events/1266001880242019/

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