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Poesia e Rock - Vários

Poesia e Rock #69 – Só os loucos sabem e estão podendo…

FLÁVIO VIEGAS AMOREIRA

Manifesto dum xamã beat

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A Loucura, Lissa, filha de Nix, deusa primordial saída do Caos, Nix, a Noite de onde o delírio e o éter celestial se originam. Qual ato humano desde Prometeu não foi atribuído à Loucura? Sendo a razão uma âncora que nos ata em meio a um Oceano imaginoso? Onde um vale tão incerto quanto esses onde caminham os que dizem ser a Verdade?

A Arte então de Apolo irada lira, é a Loucura consentida desde que fugaz e distração provisória: então loucos façamos da Vida um experimento ensandecido de harmonia com a comédia ou drama, desde que criando na ilusão de permanência cotidiana, o desvelamento doido do encanto do infinito.

Desde babilônicos tempos a forma teima em domar os loucos rebentos: o Caos não findou ao sétimo Dia. O Caos é enorme ovo de galinha forjando novos céus em dias de ensandecida ventania. Só posso crer num Deus que dança, disse o mestre. Se matarmos Nietzsche em nós que Deus então estará entre nós criando? Posso crer em qualquer coisa, desde que seja absolutamente inverossímil!

um poeta que habite a realidade só pode ser um louco travestido com hábitos de bom moço civilizado. Toda arte pede uma vida instigante e experimentada: romper os fios de marionetes customizados, eis a missão de quem tem por obra num asteroide perpetuar-se.

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Como um bólido subvertendo a trajetória lunática de minha estrela, poeta, faço e desfaço o que por tudo-todo invento. Distinguimos melhor os objetos distantes que os próximos: a realidade anunciada pelo burguês careta é tão óbvia, que só posso mirar o impossível que carrego como cajado na ressuscitada vereda parida do casamento infame do sagrado e do profano.

Todo preconceito cesse, eu que teço os manuscritos dos sábios de Sodoma e de Urano: toda verdade jaz submersa dormindo sob o pesadelo da consciência habituada ao corriqueiro cotidiano. Quem ama deve um querer sem causa imediata ou pensado fruto. A loucura perpassa toda grande obra, gesto, expande-se no grito ou no silenciado olhar distanciado do mesquinho horizonte. Loucura visionária, loucura criativa, loucura desvairando além da palavra usual e do mais comum dos termos: o que não foi nem nunca estancará!

O voo de Niijinsky, a dor de Artaud pelo excesso de sentimento e duas cenas que marcaram minha loucura cristalizada em literatura: Norma Desmond encerrando Sunset Boulevard e Aschenbach sucumbindo loucamente à beleza em Morte em Veneza: Só os loucos sabem realmente amar…

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FLÁVIO VIEGAS AMOREIRA
Escritor, jornalista e crítico literário
flavioamoreira@uol.com.br

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