LUPA CHARLEAUX

Não tem como negar que 1994 foi um ano de ouro para a música. Ele trouxe muitos discos que superaram o teste do tempo e são relevantes até hoje. Dentro do punk rock/punk pop, Dookie do Green Day, Smash do The Offspring e Stranger Than Fiction do Bad Religion, são os melhores exemplos.

Mas qual foi o caminho até esses lançamentos? Como as bandas lidaram com o sucesso? O que aconteceu depois desta fase? Todas essas respostas estão em Smash!: Green Day, The Offspring, Bad Religion, NOFX, and the ’90s Punk Explosion. Escrito pelo jornalista britânico Ian Winwood, o livro foi lançado em novembro de 2018 e apresenta os bastidores dessa importante era do punk rock!

Foto: Divulgação

News from the Front

Focado na história do punk rock e hardcore californiano a partir dos anos 80, Smash! apresenta a história de diversas bandas, como Social Distortion, Rancid, NOFX, Pansy Division e Pennywise. Além de dedicar lindos capítulos para a origem do clube 924 Gilman Street em 1986 e a “ascensão e queda” da lendária Operation Ivy.

Toda a narrativa da publicação é construída com base em depoimentos dos músicos e pessoas envolvidas com a cena californiana. No entanto, os protagonistas da história contada por Winwood são o Bad Religion, o The Offspring e o Green Day. Paralelamente, o leitor acompanha o crescimento da gravadora independente Epitaph Records.

O autor apresenta as três bandas e o selo independente como base para tudo o que aconteceu até a explosão do gênero em 1994 e sua importância para tudo que veio depois. Para isso, ele retorna aos anos 80 para contar as origens de cada um destes quatro elementos e capturar as suas influências e motivações.

Welcome to Paradise

Ao longo de Smash!, Winwood cria diversos paralelos entre os caminhos percorridos pelas bandas. Principalmente, o Green Day e o The Offspring ao narrar a história do sucesso dos dois grupos. Por exemplo, um teve o apoio de uma grande gravadora e o outro contou com todo o suporte da Epitaph Records. Entretanto, a popularidade fez com que ambos fossem “excluídos” da “comunidade punk” pelo simples fato deles se tornarem famosos (e ricos).

Porém, o autor dá oportunidade para os músicos contarem as decisões que tomaram naquele momento da carreira. Seja optar em escolher uma “major” que ajudasse na distribuição dos trabalhos, como o Green Day fez. Ou permanecer independente, pois a banda nem sempre foi a prioridade, como o The Offspring fez por um longo tempo.

O livro também foca nas histórias do que as bandas fizeram após o sucesso dos álbuns e como cada banda lidou isso. Com isso, surgem capítulos específicos abordando a nova vida dos músicos. Por exemplo, como Billie Joe Armstrong se sentia estranho por não fazer mais parte dos “freaks” do Gilman Street e a vontade de fazer um disco punk de verdade, no caso Insomniac (1995).

Do What You Want

Durante a leitura, Bad Religion é apresentado como uma banda pioneira ao impulsionar a cultura DIY nos anos 80 com a Epitaph Records. Por exemplo, eles eram referência para os grupos que vieram depois, como um parâmetro de vendas e popularidade para quem era independente. Bem como souberam a hora de se render para uma “major”.

Importante citar também que o escritor não ignora o fato do Social Distortion ser a primeira banda a assinar com uma grande gravadora, a Atlantic Records, em 1989. Mais uma vez ele faz uma comparação entre os grupos. Porém, desta vez sobre grau de sucesso de cada um dos artistas ao percorrerem o mesmo caminho e obterem resultados não tão diferentes.

Guitarrista do Bad Religion e dono da Epitaph Records, Brett Gurewitz é um personagem bem influente durante a narrativa de Smash!. Em alguns momentos por ser um excelente compositor; em outros por ser um excelente administrador ao saber lidar com o seu casting. Um exemplo disto é história de como ele fez o Rancid desistir de assinar com uma gravadora no último minuto.

Por outro lado, Winwood não esconde as brigas e as mágoas causadas por Mr. Brett. Suas atitudes são contestadas por outros artistas, como os próprios integrantes do The Offspring e Fat Mike do NOFX. Ou seja, o livro cria uma imagem de um visionário da cena punk rock californiana para o músico, ao mesmo tempo em que apresenta seus defeitos.

Last One To Die

Durante minha leitura de Smash!, vi certas semelhanças com outro livro importante sobre o punk rock: Mate-Me Por Favor: Uma história sem censura do punk (1996) de Legs McNeil e Gillian McCain. Por exemplo, os autores deixam para os “atores” contarem suas versões sobre a cena que estava sendo construída naquele período.

Pensando desta forma, ambos formam uma “série de livros” que definem o punk rock. O volume I seria Mate-Me Por Favor por retratar suas origens, o auge nos últimos anos da década de 70 na Inglaterra e sua queda nos anos 80. Smash! seria o volume II por contar como o gênero se reconstruiu durante os anos 80, retornou ao mainstream nos anos 90 e o que fez para se renovar e manter interessante até os anos 2000.

No entanto, Smash! acerta ao contar mais sobre as referências musicais que ajudaram a construir a cena punk rock californiana do que os “causos ilícitos”. Apesar de discordar de alguns pontos da narrativa e como algumas bandas foram retratadas na parte final, Ian Winwood apresenta um livro essencial para a biblioteca de quem ama o punk rock dos anos 90.

Infelizmente, ainda não temos uma versão nacional deste livro. Por exemplo, eu li a versão para Kindle disponível na Amazon. Mas fica a dica para as editoras brasileiras!