Em julho de 1985, o Queen levou aproximadamente 82 mil pessoas a cantarem em uníssono suas canções, no que é considerado até hoje como o melhor show ao vivo da história, em Wembley, Londres.
Mais de 30 anos depois, em São Paulo, uma orquestra versificou suas melodias para uma plateia inicialmente tímida no Allianz Parque, em São Paulo. Mesmo passado tanto tempo, entre pessoas que nasceram quando Freddie Mercury já havia deixado este mundo, sua voz segue forte.
Mais um grupo de pessoas que canta de olhos fechados, com as mãos no coração, as canções que não só marcaram época, mas que marcaram vidas. É disso que o Queen se abastece até hoje, com o legado que Mercury deixou. Em qualquer lugar e sob qualquer forma, suas músicas continuam levando as pessoas a cantarem juntas.
Foi o que aconteceu na apresentação da Orquestra Petrobras Sinfônica – Bohemian Rhapsody, no sábado (29). A experiência levou o público de todas as idades às máximas emoções. Com roupagem clássica, o concerto reuniu conjunto de 31 músicos ao palco do Allianz Parque Hall para uma homenagem cativante.
Seleção musical
A trilha do longa-metragem de 2018 foi adaptada para o setlist do concerto. A produção trouxe a voz de Freddie à vida entre suaves harmonias, apoiada em escolhas instrumentais diferenciadas.
O espetáculo abriu com Another One Bites the Dust, seguida de Now I’m here e Don’t Stop Me Now. As releituras investiram no contraste, fazendo interpretações únicas de cada música.
Com Radio Ga Ga, as palmas sincronizadas ecoavam por todo o estádio. Para entoar as duas vozes marcantes de Under Pressure, a orquestra brincou com elementos de sopro e cordas, criando um dos momentos mais divertidos da noite. No embalo, Keep Yourself Alive, igualmente agitada.
Com um palco cintilando em tons de azul, Who Wants to Live Forever toma enormes proporções musicais. É possível ouvir os versos cantados em cada nota, em uma experiência próxima ao épico das sinfonias clássicas. Para encerrar o primeiro bloco, tocam Crazy Little Thing Called Love, que alivia os ânimos e retoma a atmosfera mais alegre.
A faixa-título da apresentação acende o segundo bloco, junto aos celulares da plateia. Embalam I Want To Break Free e Love Of My Life, todas cantadas em uníssono. The Show Must Go On é um dos momentos mais emocionantes, seguida pela tríade Somebody to Love, We Will Rock You e We Are The Champions.
Com as arquibancadas aplaudindo de pé, o público pede bis. O maestro pergunta se então se importariam em ouvir algumas repetidas, já que só haviam preparado a trilha do filme.
Na sequência, retomam com Bohemian Rhapsody, Crazy Little Thing Called Love, I Want To Break Free e Radio Ga Ga, a última, votada pelo público. Nesse momento, todos abandonaram suas cadeiras e entraram na atmosfera do show, dançando, cantando e batendo palmas com ainda mais força.
Destaque aos sopros
Para os solos, a OPES investiu nos instrumentos de sopro. A alternativa serviu perfeitamente para alcançar as notas mais altas cantadas por Freddie Mercury, assim como os solos mais agudos e ousados de Brian May.
Em I Want To Break Free, a escolha foi uma trompa. Já para Somebody to Love, flautas e clarinetes trouxeram vitalidade. Outro solo de destaque, desta vez no violino, foi de Bohemian Rhapsody. Unidas, as cordas incorporaram os detalhes mais sutis de cada arranjo das canções.
O mestre de cerimônias
Cada vez mais atenta às tendências, a OPES tem feito história pela sua variedade musical. Além do trabalho com Bohemian Rhapsody, vários projetos especiais também combinaram rock e música clássica. Entre eles, os concertos Ventura Sinfônico – Los Hermanos e Thriller Sinfônico – Michael Jackson.
O que todos têm em comum? A regência de Felipe Prazeres, spalla da Orquestra Petrobras Sinfônica desde 2001. O papel do spalla na orquestra é a liderança da primeira seção de violinos e de instrumentos. Chamado mestre de cerimônias, ele é o segundo líder mais importante de orquestras ou conjuntos musicais.
Prazeres assumiu a liderança como maestro para conduzir seu conjunto nesta viagem intensa pela discografia do Queen. Também regeu os dois outros projetos citados, tornando-se um músico a citar quando falamos em concertos modernos.
Com enorme desenvoltura e carisma, o maestro contribuiu fortemente com a experiência. Convidava o público a cantar, brincava entre caras e bocas e deixava-se sentir a música sempre que possível. Com sua camisa do Queen, abriu a apresentação agradecendo à banda pelo incrível legado musical.
Um show de emoções
Faz-se necessária uma nota sobre o significado de imortalidade. Em uma apresentação sem vozes vindas da banda, tornou-se possível, entre o embalo das canções, ouvir a voz do frontman mais querido do rock. Músicas que marcaram, a discografia do Queen, ao som da OPES, oferece força e substância ao já encorpado repertório da banda.
Não é possível saber se queria viver para sempre, mas quando Freddie Mercury nos pergunta “quem ousa amar para sempre” em Who Wants To Live Forever, não sabia da ironia que estava propondo.
Seus fãs, e os fãs que ainda estão por vir, ousarão amá-lo para sempre. E assim, a música do Queen continuará perpetuando gerações, entre os mais variados formatos, viva e pulsante.