O jazz, como matriz de muitos gêneros musicais, tem sua linguagem própria. É ritmo, arranjo, abordagem, estilo. Como muitos dos músicos clássicos referenciaram, ele tem vida própria.
Por isso, para encontrar uma fórmula que fizesse jus ao swing jazz original, a Fizz Jazz estudou o gênero a fundo. Conversamos com o Beto Grangeia, contrabaixista, que nos explicou um pouquinho sobre a imersão do grupo no estilo da New Orleans do início do século 20.
“Precisamos saber o que tocavam e, principalmente, como tocavam. Sempre comparamos a linguagem musical com a verbal: pode-se aprender um idioma em uma escola, mas o sotaque é muito difícil. Da mesma forma, é possível aprender toda a teoria musical, mas isso não é suficiente para tocar swing jazz da maneira apropriada” Beto Grangeia, contrabaixista do Fizz Jazz
O trabalho de pesquisa navega entre os anos 1950 e 1960, relacionando músicos do jazz tradicional. “Podemos destacar nomes como André Busic e Tito Martino, por exemplo, que continuam ativos até hoje”, destaca Beto.
Beto conta que a banda se atém às influências dos EUA, mesmo com diversas influências pessoais da música brasileira.
“Acho que considerando as diversas influências dos membros da banda, podemos destacar o rock, o chorinho e a cumbia. Cada integrante acaba dando seu toque pessoal”.Beto Grangeia
Formada por piano, contrabaixo, banjo, guitarra, trompete, bateria, washboard, sax e clarinete, a Fizz Jazz traz o instrumental completo. O detalhismo é sempre essencial.
“Procuramos controlar outras influências e deixar o som o mais próximo ao que se fazia há 100 anos”, mesmo sabendo que há seus desafios.
Começando pelos passinhos
A Fizz Jazz surge na cena do swing jazz paulista aliada ao Jazz na Rua, que estava em sua primeira edição. “Éramos alguns hoppers (dançarinos de Lindy Hop) que resolveram se juntar para tocar para as pessoas dançarem”.
O Lindy Hop, dança típica da época que configura como identidade da banda, foi a porta de entrada para a música.
“Desde o começo a Fizz Jazz teve a preocupação com os hoppers, o que nos levou a ter uma grande parceria com a organização do Jazz na Rua”.
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O Jazz na Rua é um evento organizado por um coletivo responsável pela difusão da cultura Lindy Hop na região paulista. O principal objetivo é garantir que a população experimente, dos pés aos ouvidos, a cultura do jazz.
“A energia do show quando há grande presença de hoppers é muito grande. E felizmente tem sido sempre assim. Quem vai a uma casa de show ou um clube de jazz assistir a uma banda acaba assistindo a dois espetáculos: um de música e um de dança. E o Lindy Hop é uma dança alegre, todos dançam sorrindo. Isso acaba contagiando quem foi só pela banda”.
Fizz Jazz e a cena nacional
Claro que a Fizz Jazz não é a primeira (nem última) banda a trabalhar com o swing jazz. Porém, Beto afirma que o gênero vive atualmente seu melhor momento em décadas.
“O público está crescendo, e há cada vez mais espaço nas casas de shows”, afirma. Mesmo compreendendo a distância do jazz para os gêneros musicais no mainstream nacional, a banda entende seu nicho e investe no seu crescimento.
“É nossa responsabilidade mostrar que jazz pode ser uma música popular e divertida”, completa o músico.
A participação em grandes festivais ajuda nessa divulgação. É válida tanto para reconhecimento dentro do nicho como para divulgação.
“É uma oportunidade para nos fortalecer como artistas de jazz, ganharmos respeito e visibilidade. Mas mais do que isso, é uma oportunidade para mostrarmos nossa música para pessoas que nem sabem o que é jazz”. Beto Grangeia
Para a apresentação no Santos Jazz Festival, a banda promete trazer um set animado. “Tocaremos as músicas que mais animam os hoppers em nossos shows. É um repertório que aborda um período considerável da história do jazz, dos primeiros anos do século 20 ao início do rock ‘n’ roll”.
Caldonia, música apresentada no vídeo acima, data de 1945, sendo a primeira música a ser definida como rock ‘n’ roll. É uma das canções que podemos esperar para o show.
Para os fãs de cultura pop, a Fizz Jazz também traz algumas trilhas de sucesso dos cinemas. “Temos uma versão de Cantina Band, de Star Wars episódio IV, e também temas autorais”.
Serviço
A Fizz Jazz se apresenta em dois horários, no domingo (28), durante o Santos Jazz Festival. Às 13h, traz uma aula aberta de Lindy Hop com o Jazz na Rua. Às 15h30, retorna para o repertório musical.
Ambas as apresentações acontecem nos Arcos do Valongo (R. Comendador Neto, 3). As atividades são gratuitas.