Garage Sounds #09 – Blackjaw, um presentão para os fãs de hardcore

Não é fácil para uma banda chegar ao aniversário de uma década. Poucas casas de shows disponíveis, público cada vez menor e problemas pessoais entre os integrantes podem ser alguns motivos. Porém, há bandas que conseguem e, com orgulho, se manter em atividade. Esse é o caso da Blackjaw, que abre a programação do Palco B do Garage Sounds, sábado (10), na Arena Club, em Santos.

A banda, que é uma das mais celebradas da região, ficou em 26º lugar nas 100 maiores da história da Baixada Santista. E não foi por acaso. Formado em 2009, o Blackjaw demorou apenas um ano para mostrar ao que veio.

A trajetória

Seu primeiro trabalho, Dancers Get All The Girls, trouxe cinco grandes músicas, dentre elas Sell Your Body. O videoclipe, todo gravado dentro de um ônibus intermunicipal, rendeu mais de 43 mil visualizações no canal “BlankTV”.

Já com seu nome cada vez mais reconhecido, o grupo participou do EP This Is Santos, Not S.P. Lançado de forma independente pelo Caustic Records, o disco é uma compilação inspirada em This is Boston, Not L.A, álbum que registrava a cena hardcore da cidade norte americana de Boston.

Seu nome, inspirado em uma música da banda The Freeze, não é uma crítica a Los Angeles, mas um estímulo para o pessoal de Boston encontrar uma identidade e fazer sons próprios.

Além da Blackjaw, o trabalho conta com Glorious Bonds, Larusso, Like a Texas Murder, Iron and Gold e Anti-Corpos. Todas entregando três faixas cada.

The Anchor Sleeps, lançado em 2013, foi o terceiro trabalho e trouxe uma banda mais amadurecida. Produzido por Fabricio Luiz de Souza, do Garage Fuzz, o disco trouxe faixas como New Priorities, música que rendeu um videoclipe no portal Hardcore Worldwide.

Hiato

Além dela, Lying in Cozy Graves, lançada em 2015, com um videoclipe roteirizado e gravado por Kennedy Lui (Zebra Zebra), um dia após o grupo anunciar a paralisação de suas atividades.

O hiato, que durou apenas um ano, trouxe uma banda com mais vontade de fazer um bom som. Já em uma nova fase, a Blackjaw lançou o split Watershed, com a banda joseense CHCL.

O disco, com duas faixas de cada grupo, trouxe Dazzled e Where The Heart Moves. As duas músicas foram lançadas em um único videoclipe bem humorado, onde o vocalista, Ravi Fernandes, se vestiu de macaco e dançou em pleno verão de Santos. Coragem!

“Foi muito engraçado porque o clipe foi gravado em pleno verão santista, em uma temperatura escaldante. Eu estava dentro de uma fantasia de macaco, usando um moletom por cima dela. A sensação era de estar cozinhando, sem exagero. A cena acabou atraindo a atenção das pessoas que passavam pelo Gonzaga. Tirei mil fotos com crianças, adultos. Ainda arrisquei meus melhores passos de dança”, relata Ravi.

A parceria com a banda de São José dos Campos foi tão bem entrosada que ambos entraram em uma turnê de comemoração do split, na qual passaram por 19 cidades de três estados diferentes.

“Eu tenho a sensação e convicção de que a gente fez nosso melhor trabalho”. Assim Ravi explica a criação de Antíclimax, o último trabalho do Blackjaw, lançado exclusivamente no Blog n’ Roll, em 2017.

Primeiro álbum cheio

O primeiro full da banda veio com 11 faixas, tendo participação de Karen Dió (Violet Soda) em Reverie.

Dos 26 minutos do álbum, vieram algumas canções que tornaram o disco um dos grandes lançamentos de 2017. Time to Unlearn, lançada em videoclipe com imagens da última apresentação do grupo no Hangar 110.

Além de Find a Name That Perfectly Fits, música que rendeu um belíssimo videoclipe com mais de 30 mil visualizações no Facebook, sendo 12 mil visualizações em menos de um dia, são algumas delas.

Abordando temas como medos, angústias, perdas, renascimento, homofobia, aborto, manipulação psicológica e sexismo, Antíclimax rendeu até um mini-documentário gravado e editado pela Gravata Florida Filmes, empresa de Kennedy Lui (Zebra Zebra). Para assistir o doc, basta clicar aqui.

Mudanças na formação da Blackjaw

No ano passado, a banda teve algumas mudanças em sua formação. Atualmente é integrado por Ravi Fernandes, Juliano Amaral (Old Rust), Thiago Nascimento (Ex-Fuerza), Daniela Gumiero (Ex-Analisando Sara e The Last Memory) e Aritai Machado (Soul Mate).

Na ocasião, saíram Dido e Silas, atuais Superbrava. Também fizeram parte da banda Guz Oliveira e Fábio Carcavalli, fundadores da Mistanásia.

Com essas formações, Blackjaw já se apresentou com grandes bandas internacionais como Gorilla Biscuits, Agent Orange, Lagwagon, Voodoo Glow Skulls e Mute.

“Em 2018, nós tivemos alterações na formação e pegamos muita estrada pelo Brasil. Tocamos muito! Isso foi importantíssimo para que a gente estreitasse os laços com os novos membros e criássemos uma relação de afeto e sintonia. A receita deu muito certo e isso está refletindo nas novas composições”, explica Ravi.

Participação no Garage Sounds

Por essas e outras que a Blackjaw é uma das atrações do Garage Sounds 2019. Mas não só os fãs que sentem prazer em ver a banda tocar. Ravi Fernandes é um dos admiradores do evento a longa data.

“É um festival importante, com muitas bandas interessantes e numa casa muito bem estruturada da cidade. Eu, particularmente, sou um entusiasta de shows com diversidade de estilos pela possibilidade dos artistas mostrarem o seu trabalho a um público diferente do que estão habituados. Tem tudo pra ser um grande evento, estamos felizes em participar.”

No evento, o grupo pretende passear por toda a carreira em seu repertório. Porém, Fernandes explica que terá uma novidade.

“Vai ser bem diversificado e a cerejinha do bolo são as músicas inéditas que estarão no set”

Ravi Fernandes, vocalista da Blackjaw

Blackjaw e a cena santista

A Blackjaw tem integrantes de Santos, São Vicente e Guarujá. Isso faz o grupo conhecer ainda mais a cena da Baixada Santista. Sabendo das dificuldades do crescimento de uma cena distante do que já foi, o vocalista explica que a culpa não é somente do público, mas das bandas também. 

“Eu vejo Santos com o potencial extraordinário. Temos artistas maravilhosos aqui e temos um público apaixonado por música. Penso que tivemos momentos onde houve mais proximidade entre as bandas do que agora e mais pessoas pensando e agindo coletivamente. Eu enxergo uma necessidade das bandas se reinventarem em vários aspectos”.

Após o Garage Sounds, podemos esperar uma banda mais focada em novos trabalhos, dando atenção nas composições.

“A gente tem se apaixonado pelas coisas que estamos produzindo então teremos todos o cuidado para que a possamos transmitir através da música o ótimo momento que vivemos”, explica Fernandes.