Depois de um (talvez) longo inverno, a coluna Sport n’ Roll está de volta. E para não perdermos o pique, que nem veterano às 11 da manhã de domingo, retomaremos a série Brasileirão FM.
Para quem não se lembra, estamos passeando pelas arquibancadas das 20 equipes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro. Até agora, já viajamos por todo o Brasil, e nos surpreendemos que mesmo os times de estados que possuem ritmos característicos, a versatilidade e criatividade das torcidas têm rompido as barreiras regionais. Já tivemos marchinha de carnaval em Minas Gerais, axé no Paraná, funk em alagoas etc.
E seguimos, dessa vez centralizado (em todos os sentidos). Primeiramente, porque estaremos centralizados no estado de São Paulo, passando pelas arquibancadas do Morumbi, Vila Belmiro e Arena Palmeiras. Em segundo lugar, porque a rápida escala que faremos fora da terra da garoa, será justamente no Centro-Oeste, no goiano estádio do Serra Dourada.
Então, vamos que vamos para mais um Brasileirão FM. Perdeu as primeiras edições? Confira a primeira, segunda e terceira.
Goiás: Meu Erro – Paralamas do Sucesso
(Sugestão enviada pela torcedora Sara Silva através do Instagram)
Goiás é a terra do sertanejo, mas a torcida esmeraldina não quis nem saber disso. Nada de Chitãozinho & Xoróró, Leandro & Leonardo, Zezé di Camargo & Luciano, nem tampouco aqueles mais raiz, como Tião Carreiro, Matogrosso e Matias, Milionário e Zé Rico, enfim.
A música escolhida pelo Verdão Goiano foi da banda de pop-rock Paralamas do Sucesso. A banda é essencialmente carioca, embora o vocalista Herbert Viana seja paraibano de nascença e brasiliense de criação. Mesmo assim, a banda formou-se na Cidade Maravilhosa e não tem relação alguma com o cerrado brasileiro. Herbert e o baixista Bi Ribeiro são flamenguistas e o baterista João Barone torce para o Fluminense.
Um dos maiores sucessos da banda é a música Meu Erro, lançada em 1984 e que fez parte do álbum O Passo de Lui.
O motivo da canção, composta por Herbert, possui distintas versões, sendo ambas com princípio melancólico. Enquanto alguns dizem que a letra tinha a ver com a recente separação de Herbert com a vocalista do Kid Abelha, Paula Toller, outros atribuem a canção a uma crítica social pelas faltas de perspectivas do Brasil no processo de redemocratização pós-Ditadura Militar.
Entretanto, a torcida do Goiás retirou toda e qualquer melancolia e transformou a sua versão em uma declaração de amor.
A nação esmeraldina aproveitou a constante repetição de palavras como jamais e iguais e as substituiu com o nome do time, Goiás. Sendo assim, algumas trechos ficaram: “Não te abandono Goiás” , no lugar de “Não me abandone jamais” e “Não há nada de novo, ainda somos iguais” foi transformado pelos goianos em “Não há nada de novo, ainda somos Goiás”.
A adaptação do Goiás
“Você diz não saber o que houve de errado
E o seu erro foi ter, me desacreditado
Bastaria
Ai meu deus era tudo que eu queria
Eu dizia seu nome
Não te abandono jamais
Não te abandono goiás não
Te abandono..
Mesmo querendo não vão me segurar
Eu conheço seus passos eu vejo seus erros
Não a nada de novo ainda somos goiás
Então que se foda não olho pra trás”
Palmeiras: Madalena (Martinho da Vila)
Uma combinação clássica no futebol é a sua relação com o samba. E isso foi respeitado pela torcida do Palmeiras em sua adaptação do clássico Madalena às arquibancadas.
Natural de Duas Barras, interior do estado do Rio de Janeiro, Martinho é vascaíno de coração. E a irmandade entre os colonos portugueses do Rio e os italianos de São Paulo levou a popular música do sambista às arquibancadas alviverdes.
A torcida do Palmeiras já cantava a versão palestrina de Madalena desde o jardim suspenso do Parque Antárctica. E a música permaneceu viva quando o estádio foi reformado dando lugar a moderna Arena Palmeiras.
A alteração da torcida palmeirense é simples, mas o suficiente para manter-se no imaginário do torcedor. Apenas o refrão da música é pariodiado e:
“Madalena, Madalena
Você é meu bem querer
Eu vou falar pra todo mundo
Vou falar pra todo mundo
Que eu só quero é você”
tornou-se:
“Meu Palmeiras, meu Palmeiras
Você é meu bem querer.
Eu vou falar para todo o mundo,
Eu vou falar para todo o mundo,
Que eu só quero é você”.
Santos: Santos Futebol Clube (Charlie Brown Jr)
A relação música/torcida no Santos foi além dos gritos de arquibancada e virou single de um dos torcedores. Chorão (in memoriam), imortalizado como vocalista da banda Charlie Brown Júnior, era um dos torcedores símbolos do Peixe. Inclusive, no retorno do atacante Robinho à Vila Belmiro, em 2010, a banda realizou um show a pedido do atleta e com a presença do Rei Pelé.
Em 2011, ano que o Santos conquistou a seu terceiro título da Copa Libertadores da América, Chorão compôs uma música com o nome da sua equipe de coração.
Na canção são exaltados atletas que na época estavam no Peixe, como Elano e Neymar. Além deles, Pelé é citado em reverência, assim como a principal torcida uniformizada do clube, a Torcida Jovem.
Confira a letra integral da canção:
“Yeh aham
Litoral sorri
Cidade grita gol dá pra ouvir daqui
Essa é minha cidade
Esse é meu time do Santos
Alvinegro, alvinegro
Branco e preto, branco e preto
Essa é a cidade do glorioso Santos
Vinha pela rua
No meu passo sossegado
Quando alguém para do lado
Um belo carro importado
Parecia um rockstar
R ouvia um som bem alto
Maloqueiro quando tem estilo
Rouba cena de assalto então
Então desceram todos
Vieram me comprimentar
Me convidaram pro um jogão
Que lá na vila ia rolar
Eu fui com fé e fui na vaga
Skate, rock e futebol
Eu adoro uma mesa farta e várias garotas vão estar lá
Então hoje eu vou na Vila ver o Peixe jogar
O nosso craque Elano e grande craque Neymar
Em Santos todos sabem e os de fora também
Que o Santos na Vila não tem pra ninguém
A resposta é muito fácil todos sabem qual que é
Qual o time no Brasil que tem um Rei chamado Pelé
Seguindo em frente
Fazendo história
Dias de luta
Dias de Glória
Fazemos nosso jogo respeitando adversário
Mas chega devagar porque aqui não tem otário
Jogamos com firmeza contra grandes campeões
Mas nós temos a força de milhões de dragões
A Torcida Jovem vai tá lá e a Sangue Jovem também
Com a força da torcida o time joga muito bem
Risadas no caminho sem perder o estilo
Santos é eterno
Santos é de Pai pra Filho
Essa daqui é pra provar
Pros que não acreditaram
Que essa porra vale ouro
Que minha arte é o meu tesouro
Conquistei o meu espaço com a bolada que eu faço
Num mundo paralelo exorcizado no compasso
Quem curte skate, rock rua praia fuleragem
Santos mó loucura essa cidade é mó viagem
Risadas no caminho sem perder o estilo
Aqui viveu meu pai aqui também nasceu meu filho
Camisa 10 joga bola na forquilha
Pros mano de Santos eu dedico essa trilha
Camisa 11 pegou na bola é gol
Pra cidade de Santos eu dedico esse som
Essa é a cidade do glorioso Santos
(Alvinegro, alvinegro branco e preto, branco e preto)
Camisa 8 humildade total
Salve, salve Elano
Família Charlie Brown”
São Paulo: Explode Coração (Beth Carvalho)
Peguei um Ita do Norte foi o samba-enredo campeão do carnaval carioca em 1993 com a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro. Também conhecida como Explode Coração, o samba tem um dos refrões mais conhecidos da música brasileira.
E essa popularidade fez com que muitas torcidas brasileiras adaptassem a canção com as suas versões. E em uma demonstração do carnaval como festa popular, Explode Coração rompeu as barreiras Rio-São Paulo e migou para as arquibancadas do Morumbi.
Mais de 20 anos depois, os são paulinos seguem imortalizando a canção do carnavalesco Mário Borriello.
Com isso, “Explode coração na maior felicidade, é lindo o meu Salgueiro contagiando e sacudindo essa cidade” torna-se para os tricolores paulista “Explode coração na maior felicidade, é lindo o meu São Paulo contagiando e sacudindo essa cidade”.