O Oscar costuma demorar muitos anos para reconhecer o talento de jovens artistas. Parece seguir o lema “o tempo traz legitimidade” em tudo. Com Scarlett Johansson não foi diferente. Nem mesmo suas atuações em Encontros e Desencontros (2003) e Moça com Brinco de Pérola (2003) renderam uma indicação sequer.
Todavia, Scarlett Johansson experimentou várias experiências incríveis, como trabalhar com Woody Allen e entrar no Universo Cinematográfico da Marvel. Em resumo, grandes produções.
Agora, no entanto, 17 anos após os primeiros grandes filmes, Scarlett Johansson recebeu duas indicações de uma vez: Atriz (História de Um Casamento) e Atriz Coadjuvante (Jojo Rabbit).
Em entrevista à nossa parceira de Los Angeles Paoula Abou-Jaoude, Scarlett Johansson comentou sobre os dois filmes. Ademais, falou sobre o fato de interpretar mães nos dois longas. Confira abaixo.
Por que ficou atraída pelo roteiro de Jojo Rabbit?
Quando estava filmando Vingadores: Guerra Infinita, o Chris Hemsworth, que acabara de filmar Thor: Ragnarok com o Taika Waititi, me falou sobre o roteiro. Alguns meses depois, foi a vez de meu agente mencionar o roteiro. E o acabei lendo. Obviamente já li roteiros suficientes em minha vida para poder apontar as pérolas, e esse era tão lindamente escrito. O roteiro era excêntrico e infantil, mas também comovente e devastador.
A força dos personagens estava na vulnerabilidade deles. É tão difícil ler um roteiro assim, e queria muito fazer parte do filme. Me apaixonei pela personagem da Rosie, senti muita empatia por ela. Quando encontrei-me com o Taika, não sabia se devia impressioná-lo para ele me escalar para o filme, ou se ele estava tentando me impressionar para aceitar a fazer parte do projeto.
E acabou sendo um encontro no qual a gente tomou um drinque, pois a gente já se conhecia um pouco, e acho que nem falamos sobre o projeto (risos). Foi uma situação de dizer: “me fale as datas que você precisa de mim”. E ele respondeu: ok! Foi isso (risos).
Teve alguma improvisação nas cenas mais cômicas?
Fizemos um monte de improvisação em alguns momentos cômicos. Taika ficava reescrevendo o roteiro constantemente e tendo ideias. Ele escuta a musicalidade dos diálogos e ele tem um timing bem particular para o ritmo. A cadência do diálogo é algo que ele lida com muita sensibilidade.
Ele estava sempre tentando fazer uma boa cena ficar ainda melhor, o que para mim era uma coisa diferente. Eu tinha acabado de rodar História de Um Casamento, com o Noah Baumbach, e, com o Noah, você não tira ou acrescenta nenhuma palavra no diálogo. Ele é rigoroso a respeito disso, e as palavras dele são as palavras que valem.
Então foi uma experiência mais chocante para mim, pois não estou muito acostumada com improvisação. Não é minha zona de conforto, então foi um desafio interessante, bastante divertido. E, naturalmente, se você tem um parceiro com quem faz isso, nada melhor do que com o Taika, pois ele está sempre pronto para tentar de tudo e ele não é precioso a respeito de nada.
Fale sobre sua paixão pela personagem Rose?
O relacionamento entre mãe e filho foi algo muito poderoso para mim. Eu me conectei fortemente com o fato desta mulher tentar manter seu lar funcionando normalmente, enquanto tudo ao redor deles deixa de fazer sentido e tudo começa a desmoronar ao redor dela. E a motivação primordial dela é a de proteger o filho custe o que custar. Para mim o filme era isso. Foi isso o que me tocou.
O fato dela tentar proteger a jovem Elsa e fazer de tudo o que estava a seu dispor para proteger o povo que ela amava, foi uma coisa corajosa e impactante. E uma mulher que estava no meio dessas pessoas, ser jogada num momento de tanto desespero, era ilustrativo o suficiente para mostras as atrocidades daquele tempo.
Taika escreveu o roteiro em 2011 e ele comentou que a ironia não estava perdida, mas de que se trata de uma triste ironia que a história que o filme conta parece hoje muito mais relevante do que dez anos atrás.
Você interpreta uma mãe protegendo o filho em ambos os filmes (JoJo Rabbit e História de Um Casamento). Você acha que o fato de ser mãe na vida real te deu um acesso diferente às emoções que utiliza como atriz?
Acho que, como atriz, você tem que ter o estofo necessário para ser levado aonde o personagem precisa ir. Você não precisa ter uma empatia extra por um personagem só porque experimenta as mesmas coisas que ele. Você também pode levar uma vida completamente diferente do personagem, e ter a mais completa simpatia por ele.
Como mãe, acho que meu coração expandiu infinitamente por conta da capacidade que tenho de amar minha criança. É a primeira vez que sinto que tenho que fazer de tudo por uma outra pessoa, de que tenho que fazer o sacrifício necessário pela felicidade dela.
Como atriz, foi bastante valioso poder interpretar uma mãe em dois filmes sem intervalos. Acho que a experiência de vida te propicia uma palheta de cores maior e isso é sempre útil, com certeza.