Uma das principais atrações do Balaclava Fest, o Water from Your Eyes, do Brooklyn, Nova York, promete encantar o público brasileiro com o seu estilo único, que mistura elementos de pop, rock, eletrônica e música experimental.

A dupla, formada por Rachel Brown e Nate Amos, traz na bagagem o elogiado álbum Crushed By Everyone, lançado em 2023. Mas certamente não deixará de fora canções de outros discos, como os hypados Structure (2021) e Somebody Else’s Song (2019). 

Além de fechar o palco Hall do Balaclava Fest no domingo (10), às 20h50, no Tokio Marine Hall, o duo também se apresenta no Side Show do festival, que acontece neste sábado (9), na Casa Rockambole, também em São Paulo. Ainda há ingressos para os shows.

Em entrevista ao Blog n’ Roll, via Zoom, Rachel e Nate comentaram o processo criativo, suas influências, e a expectativa de tocar em São Paulo, onde serão recebidos por um público entusiasmado para vivenciar o som envolvente e provocativo do Water From Your Eyes.

Como vocês encontram o equilíbrio entre influências distintas, como pop experimental, rock e eletrônica? 

Nate – Acho que é aí que está toda a diversão. Quantos ângulos diferentes você pode levar em consideração enquanto tem algo que ainda funciona como uma música pop? Porque é mais fácil fazer todas essas coisas diferentes do que ser apenas algo que ninguém pode ouvir. Mas é mais difícil torná-lo agradável ou algo assim. Não sei. É como música de quebra-cabeça. 

Stereolab e Sonic Youth são referências que vêm à mente quando falamos sobre Water From Your Eyes. Quão importantes são esses nomes para você?

Nate – Sonic Youth é uma dessas bandas arquetípicas que foi definida pela experimentação e parece priorizar encontrar sua própria voz, o que acho que quando os descobri quando adolescente, foi inspirador porque foi a primeira música que ouvi e pensei, que porra é essa? Você consegue fazer música assim? Então eles são cruciais para mim, não sei o quanto eles acabaram sendo uma influência musical direta, mas seu espírito criativo foi definitivamente uma coisa formativa para mim.

O álbum Structure ganhou muita atenção da imprensa, mas foi com Everyone’s Crushed que vocês ganharam reconhecimento mundial. Como esse álbum marcou uma nova fase na sua carreira? 

Rachel – Acho que foi engraçado porque começamos a fazer turnê em 2022 e depois nunca mais paramos. Então continuamos assim, antes do álbum ser lançado, estávamos em turnê. E também enquanto ele estava sendo lançado, ainda estávamos em turnê.

Não pareceu tão diferente na época. Acho que ainda parece diferente de certa forma se eu entro na internet ou acho que se formos aos nossos shows, parece diferente. Mas quando estou sentada, parece que nada aconteceu.

Você acha que essa diferença está principalmente a reação das pessoas na plateia? 

Rachel – Sinto que sim, vou notar quando as pessoas estiverem cantando junto em Barley. As pessoas definitivamente nunca estavam cantando junto antes. Apenas na maneira como as pessoas falam sobre nós ou a maneira como somos percebidos parece diferente de outras pessoas. 

Mas não, sinto menos, como se fosse menos como uma percepção de mim mesma e mais como se eu pudesse dizer quando alguém está tipo, “ah sim, vocês lançaram aquele álbum e a Pitchfork adorou”. E eu estou: “ah ok, isso foi legal”.

Como é o desafio de continuar trazendo algo novo e provocativo para a música em cada novo projeto? 

Nate – Acho que apenas abraçando qualquer que seja o sentimento naquele momento. Quer dizer, esse é o tipo de coisa sobre isso. Este projeto tende a mudar cada álbum porque parte do processo não é realmente tentar fazer nada intencional. Acho que seria um desafio muito maior para nós dar continuidade a um álbum com um álbum semelhante do que fazer algo totalmente diferente. Porque você nunca sabe no que algo vai se transformar.

Quer dizer, pelo menos com essa banda, os últimos álbuns começaram todos com um objetivo específico em mente. E então você tem que meio que contar com o fracasso dessa missão para que outra coisa possa sair. Todo o tipo de ideia é tentar fazer algo específico, bagunçar tudo, depois reinterpretar o que quer que você tenha feito acidentalmente.

E isso sempre acaba sendo mais interessante porque você está trabalhando com uma ideia que realmente não tinha conscientemente. Você está mexendo com algum acidente que aconteceu e está inspirando toda essa outra coisa.

O que o público pode esperar de vocês em São Paulo? 

Nate – Provavelmente algo um pouco mais caótico do que eles podem imaginar apenas ouvindo o álbum. O show ao vivo é uma interpretação muito diferente do material de estúdio. 

Rachel – Sinto que vamos nos divertir muito. Então, provavelmente uma versão excepcionalmente feliz de nós. Estou tão animada. 

Vocês vão dividir a noite com artistas de estilos diferentes, como Terraplana e o projeto experimental GAL GO. Como você vê essa diversidade de som no mesmo evento? 

Rachel – Eu amo quando o show é variado. Acho engraçado ir a um show onde as pessoas soam iguais porque só tenho ouvido bandas que meio que estão tentando fazer a mesma coisa. Eu prefiro quando as pessoas têm seu próprio som.

É muito mais emocionante porque você pode ficar: “oh, isso foi realmente incrível e legal, inspirador dessa forma”.

Assim como quando estou ouvindo música, gosto de me surpreender com a próxima coisa que surge.

Em relação aos artistas brasileiros, você já ouviu algum? O que você sabe sobre música brasileira? 

Nate – Aquele álbum do Lô Borges e Milton Nascimento é algo que escuto regularmente há quase 15 anos. Acho que por alguma razão, ele realmente circulou muito nos Estados Unidos. Lembro-me de perceber de repente quando tinha 20 e poucos anos que conhecia um monte de gente que gostava dele.

E também tem um outro disco que não consigo lembrar como se chama, mas é o primeiro dos Mutantes. Incrível!

Rachel – Eu amo a Gal Costa, ela é incrível.

Vocês vão ter algum tempo livre em São Paulo? O que pretendem fazer?

Rachel – Acho que temos um dia. Uma das minhas melhores amigas é de São Paulo, então ia perguntar a ela o que deveríamos fazer. 

Nate – Um dos meus primos se mudou para São Paulo e não o vejo há dez anos. Espero vê-lo.

Você tem alguma imagem que vem à sua mente sobre São Paulo? 

Rachel – Ouvi dizer que é o lugar mais incrível de todos, que é super lindo, todo mundo é tão amigável. A comida é boa, super animado. Mal posso esperar.

Quais são os próximos passos para Water From Your Eyes? O que podemos esperar ver nos próximos meses? 

Rachel – Nada. Risos.

Nate – Esses shows, os dois em São Paulo e um na Cidade do México, são realmente nossos shows finais em 2024. E então faremos uma pequena pausa, mas voltaremos com outras notícias o quanto antes.

Quais os três álbuns que mais influenciaram vocês na carreira? Por que?

Nate – Californication, do Red Hot Chili Peppers, é definitivamente um grande álbum. Climate of Hunter, de Scott Walker, é um que sempre menciono. Estudar esse álbum me inspira estruturalmente, foi um grande ponto de virada para o Water From Your Eyes. Estamos esquecendo de alguma coisa, Rachel? Tem outro grande álbum?

Rachel – New Order também.
Nate – Vamos de Technique, do New Order.