Crítica | Pânico VI

Engenharia do Cinema Depois do enorme sucesso que foi “Pânico 5“, era óbvio que a Paramount Pictures começaria a explorar sua nova mina de ouro, que foi adquirida junto ao lote da Miramax. Com a proposta nítida que seria algo “diferente” do que já estávamos acostumados a ver na franquia, os roteiristas James Vanderbilt e Guy Busick já partiram do contexto das várias possibilidades que poderiam ser exercida fora do cenário de Woodsboro (cidade onde se passam a maioria dos filmes desta). O resultado de “Pânico VI” não foi só um dos mais sucedidos e divertidos longas do selo, como também nos deixa empolgados em ver que mais possibilidades podem ser exercidas no sétimo (que já foi confirmado). A história leva os sobreviventes do arco anterior, Sam (Melissa Barrera), Tara (Jenna Ortega), Mindy (Jasmin Savoy Brown) e Chad (Mason Gooding) para Nova York, local onde os três primeiros estão fazendo suas universidades. Porém, os eventos continuam assombrando estes e a situação só piora quando o Ghostface retorna e começa a colocar mais vidas em perigo. Imagem: Paramount Pictures (Divulgação) Um grande mérito deste filme, é os próprios roteiristas terem pautado todas as situações possíveis que já foram mostradas nos antecessores, e procurar mostrar situações novas e válidas. Seja pela divertida sequência de abertura (que consegue ser melhor que a do quarto longa, em quesito de criatividade), ou pela questão de explorar todos os personagens de forma devida (embora alguns deles estejam ali apenas para serem “descartados”). Fora o fator “imprevisto” ainda ser aplicado de forma assídua na trama, e isso ser um dos pontos positivos (mas não vou adentrar, para não entregar spoilers). Porém, como estamos falando de um filme de “Pânico“, há alguns descuidos no roteiro (pelos quais acredito serem propositais) que arrancam risos do espectador mais atento aos detalhes. Inclusive, não posso deixar de citar, que a própria Paramount Pictures deve ter dado carta verde para os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (que já haviam dirigido o quinto longa) usarem e abusarem da violência (fator que deixa o longa com censura 18 anos em vários países, inclusive no Brasil). Isso faz com que muitas sequências de mortes fiquem divertidas (no aspecto cartunesco) e realmente sangrentas (dando até aflições, em algumas horas). Apesar de conseguir cada vez mais desenvolver seu quarteto protagonista (com destaque para Ortega, que havia aparecido pouco no antecessor), quem rouba a cena é Hayden Panettiere (que retorna como Kirby, uma das sobreviventes do quarto filme). A atriz não só está à vontade no papel, como também possui uma grande presença e nitidamente entrou de cabeça no universo do Ghostface (realmente dá vontade de ver mais da personagem). Mesmo possuindo a mesma fórmula, “Pânico VI” não só diverte e muito, como também ainda mostra que o Ghostface possui muito gás para retornar em futuros longas.

Crítica | Creed III

Engenharia do Cinema Depois do desligamento de Sylvester Stallone da franquia “Creed“, por conta de conflitos com o produtor Irwin Winkler (onde ele alega ter “estragado” o legado de Balboa, com ideias sem sentido), o protagonista dos dois primeiros, Michael B. Jordan acabou não só ficando nesta função, como agora foi colocado também como diretor de “Creed III“. Sendo sua estreia na direção, ele conseguiu facilmente estampar sua marca e criar vários malabarismos ótimos. Porém, ainda faltou aquela presença necessária do grande Rocky Balboa (que sequer é citado aqui).     Após ter se aposentado dos ringues, Adonis Creed (Jordan) agora é um respeitado empresário de novos talentos do boxe, enquanto sua esposa Bianca (Tessa Thompson) agora continua tendo uma carreira consolidada no universo da música. Mas a paz do casal é afetada quando Damian Anderson (Jonathan Majors), um antigo amigo do passado de Adonis, reaparece e coloca em risco sua carreira ao tentar se estabelecer como um boxeador de sucesso também. Imagem: MGM/Warner Bros (Divulgação) O roteiro estabelecido por Keenan Coogler e Zach Baylin tenta traçar a vida de Adonis exatamente como foi visto em no quarto e quinto filmes da franquia original de Rocky (com ele vivendo em uma mansão estampada com suas conquistas e ao mesmo tempo levando uma vida simples). Isso tinha tudo para desandar, porém o carisma e direção de Jordan consegue acrescentar ainda mais na narrativa. E digo isso em dois tópicos totalmente distintos. O primeiro são as cenas de luta (que inclusive foram inspiradas em animes como “DragonBall“), pelos quais ele sabe que não é necessário fazer a câmera tremer várias vezes e até mesmo tentar fazer um sensacionalismo com a própria. Ele opta por tentar tratar a situação com um aspecto cartunesco, e remete demais aquela sensação de realmente estarmos dentro do estádio vendo a própria (algo que realmente a franquia original, sabia fazer com êxito).     O segundo é no arco envolvendo a filha dos protagonistas, Amara Creed (Mila Davis-Kent) que é surda e muda. Quando a própria está em cena, o diálogo de todos à sua volta é falado totalmente em libras (algo raramente visto na indústria). Parece algo simples, mas o cuidado com Jordan neste arco, transpõe o carinho que Stallone tinha em algumas abordagens nos outros filmes.    Mesmo com o citado arrasando na frente e atrás das câmeras, foi uma escolha sábia ele ter colocado como seu antagonista o próprio Jonathan Mayors (que está lentamente ganhando destaque como o grande vilão do novo arco da Marvel). Com um olhar totalmente sádico e ao mesmo tempo amigável, à todo momento colocamos em cheque suas verdadeiras intenções (que costumam ser as piores, dentro do contexto).     “Creed III” consegue entreter e divertir por conta do excelente trabalho de Michael B. Jordan, porém, não consegue suprir a ausência de Sylvester Stallone.    

Crítica | Triângulo da Tristeza

Engenharia do Cinema Sempre ao ouvir o nome do cineasta Ruben Östlund, certamente os mais cinéfilos ficam atentos de imediato. O diretor sueco não só conseguiu ganhar duas vezes a Palma de Ouro em Cannes (com “The Square: A Arte da Discórdia” e este “Triângulo da Tristeza“), e o prêmio do Júri com “Força Maior“. Um feito totalmente difícil de se fazer, se tratando do Festival de Cannes. Pegando um pouco da essência do primeiro, ele aposta novamente em satirizar o quão ridículo se torna o ser humano, à medida que mais dinheiro e poder estão em suas mãos.     A história é centrada no casal de modelos Yaya (Charlbi Dean) e Carl (Harris Dickinson), que mesmo vivendo uma crise no relacionamento, resolvem se aventurar em um cruzeiro dado por um patrocinador da primeira. Porém, eles não imaginariam o quão louca seria essa experiência para ambos. Imagem: Diamond Films (Divulgação) Em seu primeiro capítulo, Östlund procura preparar o terreno não só para a mensagem que ele está disposto a exercer ao seu público, como também nos faz criar uma sutil (onde muitas situações são jogadas para refletirmos) proximidade com o casal protagonista (mostrando que por mais que eles sejam famosos e da classe alta, possuem problemas comuns de quaisquer pessoas). Quando o segundo ato entra em cena, o sueco faz uma grande homenagem ao clássico “Apertem os Cintos, Que O Piloto Sumiu!“, pois ele coloca os mais caricatos personagens em um cenário totalmente inusitado e sempre fazendo idealizar indiretamente que aquilo era uma merda (seja por intermédio de uma mosca sendo enfatizada em uma simples cena, o empresário Dimitry (vivido por Zlatko Buric) ser especialista em vender tal especiaria citada). Não hesito em dizer, que a presença do ator Woody Harrrelson funcione como um verdadeiro “sinal verde”, pois além dele estar ótimo no papel do Capitão da Embarcação, o timing cômico dele é brilhante (sendo responsável pelas melhores piadas do filme, principalmente a discussão sadia com Dimitry). “Triângulo da Tristeza” não só consegue resgatar o estilo da comédia pastelão, como também mostra que ainda é possível ainda realizar filmes deste gênero e nos fazer refletir no final de sua exibição.

Crítica | Till Em Busca de Justiça

Engenharia do Cinema Quando foram anunciados os indicados ao Oscar 2023, muitos se questionaram sobre a ausência de “Till Em Busca de Justiça“, em várias categorias (inclusive para Danielle Deadwyler, em melhor atriz). Em meio a um cenário bastante delicado que o racismo vem enfrentando nos EUA (que já foi bastante superado, em relação ao que era antes), não hesito em dizer para fazer estes tipos de longa você tem de ter um exímio cuidado, uma vez que você está vendendo um assunto delicado ao grande público.    Após Emmet Till (Jalyn Hall) ser assassinado brutalmente em 1955, no Mississipi, sua mãe Mammie (Deadwyler) começa uma incansável busca por justiça para prender os culpados e divulgar ao mundo o nível fatídico que racismo que estava obtendo nos EUA. Imagem: Universal Pictures (Divulgação) Estamos falando de uma das histórias mais polêmicas e perturbadoras, se tratando do tópico de como o racismo era tão abrupto. Porém, a diretora Chinonye Chukwu (que também cuida do roteiro com Michael Reilly e Keith Beauchamp) parece ser totalmente amadora ao tentar transformar o arco de Mammie, em uma verdadeira novela, regada a músicas cafonas e frases de efeito totalmente clichês.     Vamos pegar como exemplo o arco quando aquela pessoa vai olhar o corpo do filho no necrotério (que está totalmente desfigurado), que por si só já é uma cena pesada e triste. Não havia necessidade de colocar alguns diálogos quando ela recebe próprio na estação, muito menos a trilha sonora horrível de Abel Korzeniowski (que parece ter se inspirado nos famosos tecladinhos de churrascaria e orquestras de eventos da alta sociedade). Este erro acaba sendo gravíssimo, pois acaba cessando demais aquela emoção que a própria cena deveria transpor.     Quanto a atuação de Deadwyler, realmente ela entrou de cabeça no papel e seu olhar já consegue vender quaisquer um de seus sentimentos (inclusive o destaque vai para a cena do depoimento no tribunal, que é a melhor do longa). Seguindo por participações breves, mas ótimas de Whoopi Goldberg (que também é uma das produtoras do filme, e interpreta a mãe de Mammie), Haley Bennett (Carolyn Bryant) e John Douglas Thompson (Moses Wright). “Till Em Busca de Justiça” termina sendo um filme que poderia ser melhor executado, para transpor um tema bastante delicado. Mas que possivelmente irá cair no esquecimento nos próximos anos.

Crítica | Destemida

Engenharia do Cinema Este é um notório caso que se a Netflix tivesse concebido “Destemida” como um documentário, ao invés de forma dramatúrgica, teria feito um sucesso maior. Sim, estamos falando de uma grande história que poderia ter sido apresentada sem o acréscimo novelesco, que as vezes beira a ficção (de forma grotesca), dando menos foco ao que realismo. A história se passa em 2010, quando a adolescente australiana Jessica Watson (Teagan Croft) começa a realizar seu sonho que é dar a volta ao mundo, em um barco a vela e sem paradas. Sendo a primeira a fazer o feito, ela mantinha a comunicação apenas com seu treinador Ben (Cliff Curtis) e seus familiares, além de registrar seu percurso através de uma série de vídeos.    Imagem: Netflix (Divulgação) Realmente o feito foi totalmente impactante, visto por ela ter estudado por anos como fazer a viagem e a maneira que seria executada. Ficando até mesmo dias à deriva no mar (uma vez que existe uma parte do oceano que não há ventos e algo que incentive o andamento de um barco), tinham diversos fatores para a diretora Sarah Spillane (que também assina o roteiro com Rebecca Banner e Cathy Randall, com base no livro da própria Jessica Watson) poderia ter explorado a questão dramatúrgica melhor. Porém, ela opta pelo pior caminho e resume a criar situações surreais, que envolvem “milagres”, várias frases de efeitos (onde dentro do contexto se transformam em total forçação de barra) e trata o jornalista como o verdadeiro vilão de forma totalmente amadora. Seja pela atuação canastrona de atores como Todd Lasance (que interpreta um dos principais jornalistas que dormem na porta da casa de Jessica), e o roteiro resume as falas deles em banalidades.     O que realmente chega a ser uma pena de acontecer, pois Croft realmente é uma boa atriz (sendo um dos principais destaques da série “Titãs”, onde ela interpreta Ravena) e convence a todo momento como Jessica. Enquanto Curtis possui uma química gigante como seu instrutor e braço direito, à todo momento (e chega a ser assustador o quão ele transparece de preocupação com ela, durante boa metragem). “Destemida” é um filme que só consegue ser salvo por conta da atuação de seus protagonistas, uma vez que a diretora com os roteiristas, só pioram o que poderia ser uma ótima história de vida.

Crítica | O Consultor (1ª Temporada)

Engenharia do Cinema Ao ver o veterano Christoph Waltz (“Bastardos Inglórios“) estampado como protagonista de uma série da Amazon Prime Video, realmente desperta a atenção do espectador que já conhece o trabalho do mesmo (afinal, ele conseguiu ganhar dois Oscars de atuação em menos de três anos). Mas esse não é o único mérito de “O Consultor“, uma vez que ela tem como showrunner o nome de Matt Shakman (que também cuidou da minissérie “WandaVision” e está realizando o aguardado filme do “Quarteto Fantastico“). Realmente foi uma produção que chegou “repentinamente” e entregou mais do que aparentava.     Baseado no livro de Bentley Little, a história tem início quando o CEO de um importante selo de games para celulares é assassinado brutalmente. Algumas horas depois, o misterioso Regus Patoff (Waltz) chega ao local apenas comentando que está ali para tratar dos assuntos daquele, como ele gostaria. Com um comportamento inusitado e suspeito, isso acaba chamando a atenção de Craig (Nat Wolff) e Elaine (Brittany O’Grady), que passam a investigar a vida do próprio.    Imagem: MGM/Amazon Studios (Divulgação) Dividida em oito episódios, com cerca de 30 minutos cada (pelos quais não são sentidos), estamos falando de uma produção que realmente mexe com o nosso psicológico desde a primeira aparição de Regus. Com uma persona amigável, em poucos minutos ele consegue entrar na cabeça do espectador e convence, de forma normal, que ele está sendo correto em suas atitudes (mesmo com nós estando cientes do mistério da sua própria presença). E isso é totalmente mérito de Waltz, que está assustador em sua atuação (e este papel lhe caiu como uma luva). Embora a trama principal ainda seja a investigação de Craig e Elaine (pelos quais nitidamente representam quaisquer pessoas que trabalham com chefes abusivos), o veterano nitidamente consegue roubar a cena da dupla (e não hesito em dizer que por conta dele, teremos mais duas temporadas da atração). Cada um dos episódios são centrados exclusivamente em um tipo de investigação da dupla, ou seja, há uma preocupação em dosar o suspense e não plantar muitas perguntas (inclusive algumas ainda serão respondidas nas próximas temporadas). A primeira temporada de “O Consultor” nitidamente deixa claro para o que a mesma veio, e em tempos de internet e crises em vários setores, é uma boa pedida para refletirmos até onde nossa insanidade pode ir nestas situações.

Crítica | Até os Ossos

Engenharia do Cinema Depois do sucesso de “Me Chame Pelo Seu Nome“, era inevitável que o diretor Luca Guadagnino e o ator Timothée Chalamet iriam repetir a parceria em um futuro próximo. Sendo lançado no Brasil timidamente, na semana da CCXP, e ficado apenas uma semana em cartaz na maioria dos cinemas (uma vez que o circuito foi dominado por “Avatar 2“, logo em seguida), “Até os Ossos” chegou agora nos serviços on-demand e provavelmente vai começar a ser notado pelo grande público. Baseado no livro de Camille DeAngelis, a história é centrada em Marren (Taylor Russell) que vive como nômade com seu Pai (André Holland), pelo fato dela esconder seus desejos canibais. Porém, após um descuido da mesma, este acaba lhe deixando sozinha e ela começa a viver totalmente sozinha. É quando ela conhece Lee (Chalamet), por quem ela se apaixona e possui os mesmos hábitos canibais.     Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação) É um fato que Guadagnino sabe como criar uma atmosfera desconfortável em seus filmes, quando a premissa tem este tópico como foco (vide o remake de “Suspíria”, feito pelo próprio em 2018). Aqui ele não hesita em mostrar cenas de canibalismo explícito (que chegam a beirar o perturbador), e situações que acabam transpondo o quão isso é algo totalmente desconfortante (vide uma cena onde ele intercala uma senhora sendo devorada, com suas fotos em família).    E para auxiliar nisso, o design de produção, figurino e até mesmo a fotografia de Arseni Khachaturan sempre transparecem uma tonalidade acinzentada, com aspecto sujo e nojento em quaisquer cenários por onde os personagens passam (com o intuito de representar o quão eles vivem em uma sujeira total). Embora Russell e Chalamet estejam ótimos em cena, embora o segundo mais uma vez esteja preso na persona de adolescente rebelde, quem rouba o protagonismos destes é o veterano Mark Rylance (que interpreta o misterioso Sully). Mesmo aparecendo relativamente pouco, sua característica é uma verdadeira mescla dos citados, mas ainda sim transparece uma incerteza de suas verdadeiras intenções.  “Até os Ossos” pode facilmente conquistar os fãs de filmes trash de horror, mas causará um desconforto enorme nos que esperam encontrar um romance clichê e gostosinho de se ver.

Crítica | Duro de Atuar

Engenharia do Cinema Concebido originalmente como uma série da plataforma Qibi (cujo intuito era lançar séries de capítulos com menos de 10 minutos), que após seu fechamento repassou seu conteúdo para outras plataformas que optaram por transformar em breves longas metragens. Fazendo parte destas “Duro de Atuar” (cuja continuação já recebeu sinal verde) bebe bastante do estilo de satirizar “o quão Hollywood às vezes é ridícula”, e irá divertir aqueles que sentiam falta de um humor mais pastelão. A história mostra uma versão satírica do próprio Kevin Hart (interpretada por ele mesmo), onde ele já se cansou de ser apenas o “parceiro bobão” de grandes astros como Dwayne Johnson. Após assumir isso durante um programa matinal, ele chama atenção do aclamado cineasta de filmes de ação Claude Van De Velde (Jean Reno), que não só lhe oferece o papel de protagonista em seu próximo longa do gênero, como coloca uma condição: que ele precisará fazer um treinamento pesado em uma “Escola Para Astros de Ação”, comandada por Ron Wilcox (John Travolta). Imagem: Amazon Studios (Divulgação) Já deixo avisado de antemão, que estamos falando de uma produção que em momento algum se leva a sério, ou até mesmo procura tirar alguma mensagem profunda sobre o assunto citado. O intuito é apenas realizar brincadeiras com astros como o próprio Hart, Josh Harnett (que possui uma breve participação, mas se diverte demais), Travolta (cuja tonalidade está no modo canastrão supremo, e isso é proposital) e Nathalie Emmanuel (cuja personagem está ali para ser “uma grande atriz de ação”, sendo que na vida real a própria é uma das protagonistas do selo “Velozes e Furiosos“). Como estamos falando de uma junção de um conteúdo que era de uma “minissérie”, o trabalho para transformar a obra em filme é perceptível na questão do roteiro. As piadas e situações funcionam apenas se pensadas como conteúdos de esquetes, ao invés de um longa como um todo. Um exemplo claro, são os desafios de Ron propostos para Hart. Sempre há uma metragem em torno de quatro minutos, e o mesmo vale para as outras situações mostradas.    “Duro de Atuar” consegue ser um breve e divertido conjunto de esquetes, pelos quais irão divertir quem está esperando algo breve e nada mais além.

Crítica – Re/Member

Engenharia do Cinema Não é de hoje que o cinema oriental tem ganhado um enorme destaque, e que este tipo de conteúdo está se transformando no carro chefe da própria Netflix. Lançado nos cinemas japoneses em outubro de 2022, e adquirido por esta para distribuição mundial em sua plataforma, o longa de horror trash “Re/Member” nada mais é que uma história que mescla os sucedidos “Feitiço do Tempo“, “A Morte Te Dá Parabéns” e até mesmo o nacional “Exterminadores do Além” (que fez bastante sucesso por lá). A história mostra um grupo de estudantes que misteriosamente ficam vivendo o mesmo dia em sua escola. Então eles descobrem que para conseguirem sair deste looping infinito, terão de encontrar as partes do corpo de uma menina que foi assassinada há anos, e deixar estas juntas em seu caixão. Ao mesmo tempo que terão de fugir de uma versão demoníaca e psicopata desta.     Imagem: Warner Bros Pictures/Netflix (Divulgação) O roteiro da dupla Katsutoshi Murase e Welzard (que são responsáveis pelo Mangá que inspirou o longa) tenta conduzir a história como se fosse uma espécie de Dorama (nome dado as telenovelas/seriados orientais), em sua plenitude (por conta de suas tonalidades mais claras na fotografia, e com arcos que inclusive remetem uma novela). Quando a trama parte para o espectro de horror, é nítido que os produtores tiraram uma parte da brutalidade (que é o carro chefe do gênero, em produções japonesas) em algumas mortes, mesmo com algumas delas o diretor Eiichirô Hasumi tenha conseguido mostrar. Embora o quebra-cabeça pelas partes da menina, consiga prender a atenção e interesse do espectador, os próprios personagens sequer são convincentes a ponto de torcermos por eles. Inclusive, o ato final chega a ser o cúmulo da burrice em vários aspectos (tanto que acabamos torcer para que todos morram, de tamanhos descuidos que o roteiro coloca os próprios). Isso acaba pesando um pouco no resultado final, que consequentemente se torna previsível.     “Re/Member” termina sendo mais uma adição japonesa no catálogo da Netflix, que fará um sucesso plausível nesta sua época de lançamento e depois cairá no esquecimento rapidamente.