Crítica | Os Banshees de Inisherin

Engenharia do Cinema Mesmo tendo vencido o prêmio de Melhor Comédia no Globo de Ouro deste ano, Os Banshees de Inisherin é mais um caso de filme dramático forte, que vence esta categoria da premiação (quem não lembra quando Perdido em Marte, levou o mesmo e até Ridley Scott falou ao receber a estatueta que “meu filme não é uma comédia”). Conflitos a parte, estamos falando de mais um projeto inusitado e completamente maluco de Martin McDonagh (Três Anúncios Para Um Crime), que já ficou conhecido não só por sempre trabalhar com Colin Farrell (esta é a terceira parceria de ambos), como também apresentar esquetes e situação totalmente surreais em suas produções (e isso vai lhe render seu segundo Oscar, mas como roteiro original). A história se passa em 1923, em um pequeno vilarejo na Irlanda, em plena época da Guerra Civil (tanto que os cidadãos desta, viam a mesma acontecer à distância). Nela vive o pacato Pádraic Súilleabháin (Farrell), que após seu amigo de longa data Colm Doherty (Brendan Gleeson) não quer mais falar com ele, opta por soluções inusitadas para reconquistar o mesmo. Imagem: Searchlight Pictures (Divulgação) Não diria que este é um bromance (gênero conhecido por focar na amizade entre dois homens), e sim um forte drama sobre o comportamento humano. De forma bastante sutil, McDonagh está ciente das possibilidades que poderiam ser desenvolvidas com aquela região com seus protagonistas, tanto que conseguiu traçar um perfil ideal para grande maioria (não é à toa que Farrell, Gleason, Kerry Condon e Barry Keoghan foram indicados ao Oscar de atuação, e coincidentemente são Irlandeses), não fazendo nenhum personagem ser desperdiçado (inclusive os animais como o cão de Colm e o jumentinho de Pádraic). Mesmo se tratando de um quarteto bastante operante, o mérito em grande parte vai para Keoghan (que se não estivesse dividindo a categoria com Gleason, já teria levado este Oscar), que vive o adolescente autista Dominic Kearney. Encarregado de ser o responsável por grande parte das piadas de humor negro, o mesmo acaba roubando a cena, até em situações onde ele literalmente não estava sendo “convidado”. Enquanto isso, Farrell realmente tem um dos seus melhores personagens na carreira, pois ele transpõe todo medo, insegurança, insistência e chatice de Pádraic (lembrando brevemente até Jim Carrey em “O Pentelho”, mas em uma atuação melhorada). Outro grande destaque é a edição de Mikkel E.G. Nielsen (que foi indicado ao Oscar por este trabalho, inclusive), que soube realizar um trabalho impecável, onde nos momentos de impacto, conseguimos nos questionar os motivos e consequências, mas ainda sim, nos pegando se perguntando “qual será o desfecho disso tudo?”. Nascido para ganhar Oscars, Os Banshees de Inisherin é uma produção que consegue cativar por sua premissa simples, mas muito bem explorada.
Crítica | Batem À Porta

Engenharia do Cinema Dos últimos filmes do cineasta M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido), certamente este Batem à Porta é o que mais engana o público em relação a sua premissa. Aparentemente se tratando de um longa que relata apenas um cenário de horror, envolvendo um casal homossexual, a obra é muito mais além do que isso (inclusive, nos faz refletir sobre diversos assuntos, até mesmo bíblicos). Só que como nem tudo é às mil maravilhas (principalmente se tratando de um filme de ficção), o mesmo possui algumas ressalvas grotescas. Inspirado no livro de Paul Tremblay, a história mostra o casal Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge), que junto da filha Wen (Kristen Cui) estão passando um período em uma casa de campo isolada. Eles são surpreendidos pela presença do misterioso Leonard (Dave Bautista), que chega ao local com mais três outros estranhos, pedindo que o trio faça uma escolha que resultará no destino da humanidade. Imagem: Universal Pictures (Divulgação) O roteiro exercido pelo próprio Shyamalan com Steve Desmond e Michael Sherman, opta por dar ênfase ao cenário desenvolvido em sua premissa, deixando de lado qualquer aprofundamento dos personagens. A abordagem se dá apenas à proposta do longa. Embora o arco de Eric e Andrew seja bem rasteiro (só mostrando situações habituais de um casal homo-afetivo), existem algumas situações pelas quais o roteiro consegue trabalhar bem algumas justificativas exercidas pelo segundo (como a maneira que ele se porta em relação a assuntos delicados como agressões, preconceito e etc). Além de levantar vários cenários e discussões, que nos fazem refletir depois da saída da sessão (quem leu a Bíblia, ou conhece a mesma, conseguirá se aprofundar melhor nas referências). Com relação ao invasores, não hesito em dizer que realmente o ator Dave Bautista esbanjou um carisma tão grande em cena, que não conseguimos discernir se ele está agindo de boa ou má vontade (uma vez que ele procurou convencer com seu personagem, apenas pelo olhar diante da câmera). Acredito que seus próximos grandes papéis, virão por causa deste filme (e não por ter vivido Drax, nos filmes de Guardiões da Gálaxia). Agora se você vai ir apenas esperando ver algo relevante vindo de Rupert Grint (o eterno Rony Weasley, de Harry Potter, vivendo seu primeiro vilão nos cinemas), pode se chatear, embora ele esteja convincente. Como estamos falando de um filme de M. Night Shyamalan (que acaba cometendo gafes graves na maioria de suas produções), aqui ele peca apenas para os erros óbvios do gênero de suspense que são “machucados graves que não são sentidos”, “pessoas observando uma onda gigante vindo e ficam paradas olhando” e até mesmo “não agir fatalmente, na hora certa”. Embora muitos pensem se tratar de um suspense, Batem à Porta acaba sendo uma inesperada aula de filosofia, religião e fé. Uma boa surpresa, que poderá chatear aqueles que buscarem um filme de terror slasher.
Crítica | O Pior Vizinho do Mundo

Engenharia do Cinema Chega a ser irônico ver o veterano Tom Hanks, interpretando o protagonista de um filme chamado “O Pior Vizinho do Mundo” (uma vez que o próprio é conhecido por ser um dos astros mais simpáticos de Hollywood). Mas como estamos falando da profissão do mesmo, que é um ator, ele realmente mostra seu talento ao estrelar este remake do longa sueco Um Homem Chamado Ove (que foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro, em 2015), que é inspirado no sucedido livro de Fredrik Backman. Apesar de se tratar de uma produção que remete ao estilo dramático que é exibido em exaustão na “Sessão da Tarde”, certamente é uma obra que fará muitos de nós refletirmos. Hanks interpreta Otto, um senhor viúvo e ranzinza que sempre trata as pessoas ao seu redor com uma grande frieza e ofensas. Até que uma família nova se muda para frente de sua residência, o que acaba fazendo com que ele repense mais sobre suas atitudes e sua vida. Imagem: Sony Pictures (Divulgação) Desde seu prólogo somos colocados em diversas situações diárias, que apresentam o comportamento temperamental de Otto. Embora seja um recurso clichê (uma vez que a própria narrativa acabava jogando isso no decorrer da trama), acaba sendo interessante por conta do carisma de Hanks (a sequência inicial, envolvendo a discussão do pedaço de corda, é ótima), que curiosamente divide o papel do mesmo com seu próprio filho Truman Hanks (uma vez que a história vai e volta no passado). Embora estarmos falando de uma comédia dramática, o diretor Marc Forster (Guerra Mundial Z) opta por situações atreladas ao humor negro, para criarmos uma determinada afinidade com o enredo (que realmente funciona, e tira boas risadas). Agora, quando ele parte para o quesito dramático é impossível ficar sem se emocionar, pelo simples fato dele não ter apelado ao fator novelesco ou gritante do arco. Tudo mostrado era realmente plausível e verídico (inclusive, muitos podem se identificar com o contexto). O Pior Vizinho do Mundo consegue se tornar uma verdadeira obra reflexiva, onde em meio a tantos caos e confusões, não paramos para pensar na importância das pequenas coisas.
Crítica | Armageddon Time

Entre “Belfast” e “Os Fabelmans“, que narraram as trajetórias dos cineastas Kenneth Branagh e Steven Spielberg, respectivamente (embora os enredos usam pseudônimos, para retratar os mesmos e seus familiares), “Armageddon Time” tem como base a juventude do cineasta James Gray (“AD Astra” e “Os Donos da Noite”). Embora não seja tão conhecido pelo grande público como os citados, fica nítido que o cineasta resolveu abrir seu álbum de família para um público que não o conhece, mas tem a grande sensação de que já viu essas histórias outras vezes. A história é centrada no jovem Paul Graff (Banks Repeta) que vive uma rotina totalmente pacata com sua família, onde ele possui mais carinho e respeito pelo seu avô Aaron Rabinowitz (Anthony Hopkins). Ao mesmo tempo está tendo vários conflitos em sua escola, principalmente pela relação polêmica com o rebelde Johnny Davis (Jaylin Webb), que está o levando para o mal caminho. Imagem: Universal Pictures (Divulgação) O principal problema deste filme, é que Gray parece estar contando uma história apenas para pessoas do seu próprio convívio, ao invés do público em geral. Em momento algum conseguimos criar simpatia por Paul, muito menos por sua família (com exceção de Aaron, que possui uma excelente interpretação de Hopkins) e isso se torna prejudicial por estarmos falando de um filme que apresenta sua própria família ao mundo. Isso sem citar que há vários assuntos abordados de maneira totalmente rasa como a questão do racismo, preconceito com o judaísmo e até mesmo utilização de drogas (que poderia ter sido mostrado de maneira sensível e mais impactante, e é deixado de escanteio). Por mais que a história seja na perspectiva de Paul, faltou um aprofundamento pela parte de Gray (inclusive, a sensação que o filme deixa é de vácuo). Tudo soa muito previsível e uma verdeira reciclagem de clássicos da “Sessão da Tarde” dos anos 80/90, mas sem aquela magia que nos fazia se importar com os personagens. E chega a ser triste, vermos nomes como Anne Hathaway, Jeremy Strong e até mesmo Jessica Chastain (em uma breve ponta), sendo totalmente sub-aproveitados (já que exercem ótimas atuações, em uma trama pífia). “Armageddon Time” mostra mais um caso pessoal, onde o cineasta faz um filme focado apenas em si mesmo e esquece que ele será contemplado por um grande público. Engenharia do Cinema
Crítica | Alerta Máximo

Engenharia do Cinema Não é novidade que Gerard Butler está cada vez mais se destacando como astro dos filmes de ação, e conseguindo fazer um enorme sucesso com suas produções. Até mesmo em um cenário de lockdown, “Destruição Final” conseguiu se tornar um dos maiores sucessos cinematográficos de 2020 (com um público de 370 mil espectadores, e rendendo cerca de R$ 5,8 milhões, mesmo com as restrições impostas). Em Alerta Máximo, ele usa e abusa de seu rótulo brucutu e nos apresenta mais uma divertida produção descompromissada, que conseguirá entreter até quem não é fã do estilo. Aqui ele interpreta o piloto de aeronaves comerciais Brodie Torrance, que em mais um dia normal de trabalho, acaba sendo surpreendido por uma forte tempestade. A mesma acaba acarretando com que ele faça um pouso forçado em uma ilha, totalmente dominada por criminosos. E neste cenário caótico, ele terá de se juntar ao condenado Louis Gaspare (Mike Colter), pelo qual ele foi encarregado de transportar no seu avião, para tentar sair do local. Imagem: Paris Filmes (Divulgação) Realmente estamos falando de um filme que não busca aprofundar muito seus personagens, muito menos tirar alguma lição de moral. O foco está no roteiro da dupla Charles Cumming e J.P. Davis, que coloca o maior número de situações plausíveis, dentro de um cenário mostrado e que o diretor Jean-François Richet (“Inimigo Público Número 1”) faça a magia. Felizmente essa combinação acabou dando certo. Porém, ainda existem algumas ressalvas que poderiam ser evitadas, que vão de decisões estúpidas de alguns personagens, até situações que poderiam ser resolvidas sem “complicações narrativas”. Mas como estamos falando de um projeto que o intuito é entreter com cenas de ação, Richet dá conta do recado. Por mais que o arco da queda do avião seja bem filmado, o impacto da cena é reduzido pelo fator “previsível” (já que está na sinopse o que acontece). Agora, quando o enredo parte para as cenas de embate e suspense na ilha, o mesmo consegue fazer momentos impactantes, de tirar o fôlego. Tanto que Butler e Coulter (cujo personagem possui poucas linhas de diálogos), possuem uma enorme química em cena e combinam exatamente com este tipo de filme. Embora o próprio enredo não explore mais detalhadamente o perfil de ambos (uma vez que o foco se concentra nas horas que eles possuem, para saírem do local), muito menos a reação das famílias dos passageiros (já que fora da ilha, se resume a vermos escritório da agência aérea e a casa da filha de Brodie, onde ela sempre vê o mesmo noticiário). “Alerta Máximo” realmente mostra que o ano está começando bem para o cinema de ação, e depois de “Esquema de Risco“, é mais um acerto do gênero. Vida longa ao cinema brucutu.
Crítica | Esquema de Risco: Operação Fortune

Engenharia do Cinema Previsto para ser lançado em 2022, “Esquema de Risco: Operação Fortune” ficou quase um ano na gaveta de vários distribuidores mundiais por conta do conflito entre Rússia e Ucrânia (uma vez que o arco envolvia antagonistas ucranianos, que estavam envolvidos no tráfico de armas). Sendo a quinta parceria entre Guy Ritchie e Jason Statham (que já trabalharam juntos em “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes“, “Snatch: Porcos e Diamantes“, “Revólver” e “Infiltrado“), e a terceira daquele com Hugh Grant (que nos últimos anos fizeram “O Agente da Uncle” e “Magnatas do Crime“), a sensação é que era uma reunião entre amigos, ou seja, poderia dar muito certo ou errado (uma vez que estamos falando de um ambiente de conforto). A história mostra o respeitado agente Orson Fortune (Statham), sendo recrutado pela CIA por intermédio de seu velho chefe Nathan Jasmine (Cary Elwes) para tentar rastrear uma perigosa transação de venda bélica, que será realizada pelo bilionário Greg Simmonds (Grant). Mas para chegar perto dele, Orson contará com a hacker Sarah (Aubrey Plaza), o atirador JJ (Bugzy Malone) e até mesmo a inusitada presença do astro de Hollywood Danny Francesco (Josh Harnett). Imagem: Diamond Films (Divulgação) Mesmo soando se tratar de ser um mais do mesmo, o cineasta Guy Ritchie consegue colocar sua cara nesta história ao retratar os personagens da trama de forma mais detalhada e sarcástica, mesmo sendo bastante breve. Embora ele coloque sátiras a personalidade dos próprios atores (o que fez nomes como Hugh Grant e Josh Harnett ficarem bem à vontade nos papéis, e renderem a melhor sequência do filme), a graça é ele ter tirado momentos interessantes e divertidos até mesmo com coadjuvantes do mesmo. Enquanto Sthatam vive mais uma vez o brucutu que se diverte diante das situações propostas pelo roteiro, Elwes e Plaza interpretam mais uma vez o “cara certinho” e a “menina maluca”. Em relação ao desenvolvimento do roteiro da trama (escrito por Ritchie e seus constantes parceiros Marn Davies e Ivan Atkinson), por se tratar de um filme de Richie com Statham de protagonista, qualquer situação proposta acaba sendo um álibi para cenas de luta e até mesmo ação (até mesmo uma cena de conversa aleatória, acaba se transformando em um cenário de pancadaria). Isso funciona, pois já estamos dentro da atmosfera da narrativa, que não se leva a sério desde sua abertura (onde o personagem de Eddie Marsan diz que está chamando Orson para a missão, simplesmente por ele ser o “f*dão e nada mais além”). “Esquema de Risco: Operação Fortune” acaba se tornando uma divertida produção que remete aos filmes brucutus dos anos 80/90, e que raramente são lançados nas telas do cinema.
Crítica | M3gan

Engenharia do Cinema Com um marketing começando de forma tímica ainda em meados de 2022, “M3gan” prometeu ser uma espécie de reboot de “Brinquedo Assassino“, uma vez que obviamente se tratava de uma homenagem ao clássico filme do boneco Chucky. Com produção dos novos “Pais do Horror”, James Wan (responsável por franquias como “Sobrenatural“, “Invocação do Mal” e “Jogos Mortais“) e de Jason Blum (que realiza filmes com baixo orçamento e resultam em bilheterias enormes, e aqui não é diferente, pois o filme já rendeu US$ 100 milhões mundialmente e foi orçado em apenas US$ 12 milhões), estamos falando de uma divertida produção que mescla horror e comédia, que conseguirá entreter qualquer um dos fãs de ambos os gêneros. Após perder seus pais em um acidente de carro, a jovem Cady (Violet McGraw) vai morar com sua Tia Gemma (Allison Williams), que é desenvolvedora de brinquedos para uma famosa empresa. Quando ela consegue desenvolver com sua equipe um protótipo de uma boneca chamada “M3gan“, que promete realizar várias atividades humanas e ter uma grande quantidade de interações, parece que ela é perfeita. Porém, aos poucos ela começa a mostrar uma personalidade totalmente maligna. Imagem: Universal Pictures (Divulgação) O roteiro de Akela Cooper (que foi realizado com base uma ideia do próprio James Wan), remete e muito aos filmes do próprio Chucky (inclusive o recente reboot), embora a violência seja bastante reduzida para ter uma censura plausível para a entrada de um público maior (dizem que será lançada uma versão mais pesada, nos próximos meses). Realmente isso só vai prejudicar, se você for ir assistir pensando em uma produção de horror impactante (na mesma pegada do recente “Terrifier 2“), uma vez que estamos falando de um longa relativamente leve (mas consegue ainda tirar bons sustos, até em cenas clichês). Mas diferente do recente “Órfã 2: A Origem” (que colocaram uma adulta, para ser representada como uma criança), fica quase impossível de se notar que uma menina realizou os movimentos da boneca em cena (tamanha a qualidade de atuação e mescla de CGI, nas horas certas). Só neste quesito, vemos o quão o diretor Gerard Johnstone estava focado nos pequenos detalhes que fariam a diferença no resultado final. “M3gan” consegue ser uma das primeiras e grandes produções divertidas deste ano, que deixa claro o fato de não ter precisado gastar milhões de dólares, para sair um filme divertido.
Crítica | Babilônia

Engenharia do Cinema Desde seu anúncio em meados de 2020, esperava-se que “Babilônia” fosse um novo “Era Uma Vez Em… Hollywood“, uma vez que ele mostraria a capital do cinema em sua formação, em meados de 1925. Com direção e roteiro de Damien Chazelle (“La, La, Land“), estamos falando de um projeto que realmente não pega na sua mão para explicar detalhes e bastidores, mas sim utiliza três histórias paralelas (onde alguns arcos funcionam como esquetes), para apresentar o quão foi complicada a transição do cinema mudo para o falado. A história de Babilônia mostra Nellie LaRoy (Margot Robbie) e Manuel Torres (Diego Calva), que após participarem de uma festa regada a drogas, sexo e outras coisas, em Hollywood, acabam sendo literalmente jogados dentro da indústria cinematográfica (a primeira como atriz e o segundo como produtor e executivo). Ao mesmo tempo, vemos o quão era complicado fazer cinema na visão do então respeitado ator Jack Conrad (Brad Pitt), que cada vez mais sofre com a transição para o o cinema falado. Imagem: Paramount Pictures (Divulgação) Já começo deixando claro que estamos falando de uma história totalmente inspirada nas produções exercidas pelo cinema em meados dos anos 30/40 (onde o romantismo dominava as telonas), e isso pode causar um tremendo desconforto naqueles que desconhecem como o mesmo era antigamente. Seja por intermédio também da trilha sonora regada a jazz e orquestras (cujo trabalho de Justin Hurwitz, provavelmente vai levar o Oscar), ou a fotografia amarelada e com aparência de ter sido rodada em uma câmera Panavision (que possivelmente vai dar para Linus Sandgren, uma indicação ao Oscar). Chazelle realmente conseguiu captar também como funcionavam os bastidores naquela época, por intermédio de diretores que eram verdadeiros malucos (vide o arco da gravação de uma cena de batalha, cujo diretor parecia um verdadeiro general, mesmo andando bastante desleixado), principalmente quando começaram a gravar as primeiras cenas faladas (pelas quais não haviam dublagem na pós-produção ainda, e precisava ter um silencio absoluto no set), condições totalmente precárias nos sets (uma vez que eles eram filmados em desertos, e as vezes resultaram em óbitos) e os conflitos de vários atores devido seus comportamentos antiéticos e tiques vocais (que eram inaceitáveis, uma vez que muitos espectadores não aceitavam ouvir as vozes dos atores). E no quesito de atuações em Babilônia, Robbie realmente se encaixou perfeitamente nesse papel, embora ela esteja mais uma vez presa ao rótulo de Arlequina, ou seja, outra mulher maluquinha (e infelizmente a própria indústria está deixando ela presa nesta zona de conforto). Enquanto Pitt parece estar totalmente em um papel pensado para ele (que lhe renderá mais uma indicação ao Oscar), e se encaixou perfeitamente uma vez que ele possui um perfil de astro daquela época também. O mesmo pode ser dito do mexicano Calva, que realmente convenceu em sua estreia em Hollywood (e realmente possui a postura de um “faz tudo”, da industria). Vale enfatizar algumas menções honrosas para nomes como Tobey Maguire (James McKay), Eric Roberts (Robert Roy), Samara Weaving (Constance Moore), que aparecem relativamente pouco, mas conseguem ter momentos divertidos e que roubam a cena. Só que infelizmente ele falha ao tentar retratar o trabalho do músico negro Sidney Palmer (Jovan Adepo), cuja pauta racial e suas várias dificuldades na indústria são praticamente deixadas totalmente de lado, em sua maioria (e acabou se resumindo apenas em uma cena totalmente banal, dentro do contexto do filme). E não foi só neste tópico que o roteiro acabou pecando ao tentar colocar questões atuais (até mesmo linguajar), em um cenário onde isso realmente não estava acontecendo. Não havia discussões sobre “toxicidade masculina” e principalmente “abusos sexuais” (uma vez que as festas de Hollywood eram regadas a todo tipo de coisas, com atos vulgares sendo cometidos por homens e mulheres). E isso acaba empacando ainda mais para a metragem chegar em 190 minutos (quando poderiam facilmente ter reduzido para 150). “Babilônia” termina sendo um interessante recorte de como o cinema passou por vários problemas em seu início, e como era possível Hollywood passar de lugar dos sonhos, para um grande pesadelo.
Crítica | Casamento Armado

Engenharia do Cinema Originalmente previsto para ser lançado nos cinemas, a comédia “Casamento Armado” foi adquirida pela Amazon e será lançada pelo Prime Video, no mundo todo neste início de ano. Estrelada por Jennifer Lopez, Josh Duhamel, Jennifer Coolidge e a brasileira Sonia Braga (que mais uma vez vive a mãe da primeira, no cinema), estamos falando de um projeto que tinha tudo para dar certo. Mas digamos que o avião só começa a decolar, quando já estamos na metade da narrativa, ou seja, muitas oportunidades são jogadas no lixo. Durante o casamento de Darcy (Lopez) e Tom (Duhamel), um grupo de piratas acaba invadindo o local e fazendo todos os convidados de reféns. Só que como os mesmos estavam “longe” do espaço onde estavam os mesmos, resta a eles terem de salvar suas famílias e ainda conseguirem se casar. Imagem: Lionsgate (Divulgação) Em muitos momentos, a indústria usa e abusa de rótulos de atores e atrizes para conceber seus personagens em suas tramas e aqui o roteirista Mark Hammer, estava ciente dos nomes que teria em mãos, e em durante a primeira metade do filme ele apela para vários clichês e forçação de barra. Temos aqui um Duhamel bobão, uma Lopez que só grita e faz escândalos, uma Colidge que mistura uma “Tia das Namoradinhas e do Zap” e uma Braga que só fala frases aleatórias em português. Conhecendo o talento deste quarteto, sabemos que realmente eles devem ter recebido um ótimo cachê para viverem estes papéis. Mas quando o próprio chega em sua metade, tudo isso parece ter sido esquecido e a trama começa a andar e muito, com direito a piadas realmente engraçadas (que não poupam usar humor negro, de forma cartunesca). O carisma dos citados começa a ser executado positivamente, do dia para a noite (inclusive, a sensação é que realmente algo deve ter acontecido nos bastidores) e a tortura se transforma em divertimento. “Casamento Armado” termina sendo um filme que poderia ter explorado melhor seu potencial durante boa parte de sua projeção, ao invés de apenas uma pequena parcela dele.