Crítica | Sangue e Ouro

Engenharia do Cinema Vendido como uma mistura de “Bastardos Inglórios” e “Nada de Novo no Front“, nitidamente a Netflix não precisava deste comentário, para promover “Sangue e Ouro“. Com toques de ação, humor negro e drama, esta produção alemã consegue entreter dentro do que é proposto pela plataforma. Mas já adianto de antemão, que se você busca algo nos moldes de Tarantino ou até mesmo Taika Waititi (que realizou o ótimo “Jojo Rabbit”), vai se chatear. A história gira em torno do soldado alemão Heinrich (Robert Maaser), que após desistir de exercer sua função militar, é deixado para morrer. Encontrado pela fazendeira Elsa (Marie Hacke), eles acabam descobrindo que os nazistas estão naquela região em busca de um ouro escondido por Judeus.     Imagem: Netflix (Divulgação) A direção de Peter Thorwarth (que também assinou o roteiro com Stefan Barth), parece ter medo de mostrar algumas atitudes surpreendentes e pesadas, realizadas pelos soldados nazistas em relação aos seus opositores. Não existe a dose de violência mostrada como nas produções citadas, os enquadramentos sempre tentam esconder algumas coisas perturbadoras (às vezes com o intuito de esconder um detalhe, para não ter trabalho mais árduo no CGI) e os diálogos não são chocantes como deveriam.    Embora há uma presença assustadora no General von Starnfeld (Alexander Scheer, em uma atuação nitidamente inspirada em Christoph Waltz, de “Bastardos Inglórios”), o enredo não consegue vender a motivação dos protagonistas vividos por Maaser e Hacke, para que nós espectadores, se preocupamos com eles. Mas, realmente não estamos falando de uma bomba, muito pelo contrário. A história consegue entreter como uma aventura simples, nada mais além disso (uma vez que também estamos falando de uma história que não é inspirada em fatos reais). “Sangue e Ouro” consegue entreter os fãs de produções sobre a Segunda Guerra, mesmo com diversos problemas técnicos.

Crítica | Magic Mike: A Última Dança

Engenharia do Cinema Sendo uma das franquias mais lucrativas do cinema, “Magic Mike” nasceu de uma ideia descompromissada entre Channing Tatum e Steven Soderbergh, com inspiração na vida do primeiro antes de ingressar no universo do cinema. Com produções tendo orçamento na cerca de US$ 7 milhões, a trilogia já rendeu cerca de US$ 346 milhões (apenas nos EUA). “Magic Mike: A Última Dança” foi concebido com o intuito de ir direto para a HBO Max, mas o CEO da Warner, David Zaslav viu que poderia ter uma boa passagem nas telonas primeiro. Com um resultado inferior aos dois primeiros, este terceiro foi um fracasso absoluto, pois rendeu US$ 57 milhões (tendo custado US$ 40 milhões). E o que seria um lançamento mundial nos cinemas, acabou sendo reduzido mais uma vez ao streaming do HBO Max (inclusive no Brasil). Realmente, a decisão foi sábia, uma vez que estamos falando do mais fraco exemplar da saga.     Trabalhando como barman em eventos da alta sociedade, Mike (Tatum) acaba esbarrando com a misteriosa bilionária Maxandra Mendoza (Salma Hayek). Após uma noitada, este oferece a ele a chance de lhe auxiliar em uma peça teatral inspirada em um show de stripers, concebidos pelo próprio. Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação) O roteiro de Reid Carolin (que cuidou do roteiro dos outro dois filmes) parece ter sido tirado de uma ideia forçada, de tão rasteira e cansativa (são quase duas horas de duração, sem necessidade) que se tornou essa trama. Não há uma explanação ou aproximação de nenhum dos personagens que são apresentados, e embora Hayek faça milagres (uma vez que sua atuação é realmente boa), fica nítido que o intuito deste filme foi apenas encher o catálogo do HBO Max. Com menos danças, sensualidade e até mesmo motivações plausíveis (como o primeiro havia mostrado), parece que resolveram produzir este filme por conta do sucesso entre o público feminino com as franquias “50 Tons de Cinza” e “365 Dias“. O pior é que o diretor Steven Soderbergh (que fechou com a HBO Max, para a produção de vários filmes), retornou para a franquia e nitidamente ele também estava no automático e desinteressado em fazer este projeto. “Magic Mike: A Última Dança” é um vergonhoso encerramento para a franquia, que possivelmente resultará no congelamento da mesma durante alguns anos.

Crítica | A Pequena Sereia

Engenharia do Cinema Desde que foi anunciado no final de 2019, o live-action de “A Pequena Sereia” foi envolto de várias polêmicas pela escolha da então desconhecida Halle Bailey para interpretar Ariel (devido ao fato de sua etnia ser diferente para a personagem, em relação a animação). Depois de quase quatro anos (uma vez que o mesmo teve suas gravações paradas em meio ao lockdown, de 2020), finalmente a Disney lançou o projeto nos cinemas.    Confesso, que Bailey consegue ser uma das poucas coisas boas na obra, uma vez que seu principal problema caí em cima do aspecto técnico, devido ao fato da direção ser assinada por Rob Marshall (que fez vários filmes para a Disney, como “O Retorno de Mary Poppins” e “Caminhos da Floresta“), pelo qual já deixou claro que não serve para conduzir tomadas de ação.  A história é a mesma da animação de 89 (que ajudou a salvar a Disney de uma então enorme crise de falência, similar a qual a própria está entrando novamente), onde a jovem sereia Ariel acaba se apaixonando pelo misterioso humano, Principe Eric (Jonah Hauer-King). Ciente da situação, a maléfica Ursula (Melissa McCarthy) lhe impõe trocar a chance de viver fora do mar, em troca de sua voz. Imagem: Walt Disney Pictures (Divulgação) Em seus primeiros minutos, somos surpreendidos pelo clássico problema do “Vale da Estranheza“, uma vez que apesar do design de produção e cenário remeterem a realidade (devido a enorme qualidade neste quesito do CGI), a caracterização dos seres marítimos estão não apenas estranhas, como assustadoras. Isso acaba chamando bastante a emoção de personagens como Linguado (dublado por Jacob Tremblay, e está bastante apagado aqui), Sebastião (cuja dublagem de Daveed Diggs, é uma das melhores coisas) e Sabidão (cuja dublagem de Awkwafina, está totalmente descasada com o próprio em vários sentidos). E chega a ser engraçado que nos números musicais, apenas o segundo consegue mandar bem na execução, já que o primeiro e terceiro estão perdidos e não casam em absolutamente nada.    Porém, devo dizer que o trabalho de Bailey como atriz consegue ser bom, dentro da proposta (uma vez que este tipo de papel não exige uma grande carga dramática). Ela consegue cantar bem e encantar o espectador com aquela sensibilidade e agrado de uma “Princesa da Disney” (algo que havia sumido das produções do estúdio). E isso acaba sendo prejudicado, ao tentarem colocar Hauer-King como seu par amoroso, uma vez que este não é só péssimo ator (até um peixe em uma vitrine de peixaria, tem mais emoção), como também não possuí química alguma com aquela. Diferente de Javier Bardem, que casa perfeitamente como o Rei Tritão (seja na maquiagem ou no porte). Só, que o próprio nitidamente foi prejudicado pelo trabalho do roteiro de David Magee (que já foi indicado ao Oscar pelo roteiro de filmes como “As Aventuras de Pi” e “Em Busca da Terra do Nunca“), que não explora o próprio e aprofunda de uma maneira, que nos faz se aproximar de suas teorias e pensamentos. O mesmo pode-se dizer da Úrsula de Melissa Mccarthy, que foi totalmente prejudicada por causa do roteiro, direção e edição. A sequência onde ela negocia com Ariel por sua voz e a batalha final (que parece ter sido tirada da franquia “God of War“), chegam a ser vergonhosas e confusas (tudo parece ser jogado e não há emoção). Nestas horas vemos o quão o diretor Rob Marshall é limitado, pois enquanto em uma sequência musical ele sabe conduzir perfeitamente, quando parte para a ação (vide a cena de um navio pegando fogo em plena tempestade, pela qual chega a ser hilária) ele opta por tomadas escuras, cortes abruptos e não mostra nada direito (o que acaba sendo um recurso para economizar detalhes na pós-produção, ao invés de transpor algum tipo de emoção). “A Pequena Sereia” não chega a ser uma bomba como muitos pensam, e sim um live-action que precisava ter sido melhor conduzido no aspecto técnico e com um diretor melhor.

Crítica | Meu Pai é um Perigo

Engenharia do Cinema Já não é novidade que o veterano Robert De Niro tem mirado em projetos diversificados em sua carreira, onde alguns deles o próprio acabou aceitando por causa do cachê (e até mesmo por diversão, como o próprio já alegou). “Meu Pai é Um Perigo” se encaixa perfeitamente neste exemplo, uma vez que estamos falando de uma comédia pastelão, onde nitidamente o mesmo não aceitaria fazer há 30 anos. Inspirado na vida do próprio comediante Sebastian Maniscalco (que interpreta a si mesmo, e escreveu o roteiro com Austen Earl), ele conta a trajetória de sua vida quando se viu forçado a levar seu Pai, Salvo (De Niro) a passar o feriado de 04 de julho com a família de sua futura noiva, Ellie (Leslie Bibb). Só que devido a estes serem de uma classe totalmente superior a do primeiro, vários conflitos se instalam no lugar. Imagem: Paris Filmes (Divulgação) O longa se abre com uma extensa narração em off do próprio Sebastian, contando toda a história de origem da sua família, seus costumes e como ele cresceu de forma simples com seu Pai (que é proprietário de um salão de beleza). Neste prólogo é perceptível que este é um projeto de amor e muito pessoal do próprio (que nitidamente se tornou viável por conta de seu crescimento na carreira), ao mostrar o carinho que ele tem com os envolvidos nesta história.    Mesmo com um roteiro com várias piadas no estilo pastelão (onde algumas funcionam, já outras são nitidamente cópias de outros filmes, tendo a mesma história), o principal problema se dá na direção e edição do longa. Seja pelos cortes abruptos em algumas cenas (principalmente nos arcos que intercalam a decisão da viagem/saída do avião), e a diretora Laura Terruso não saber conduzir uma atmosfera dramática, no meio de vários arcos pastelões (uma vez que o roteiro joga isso, mas o filme não transmite). E isso acaba ficando para escanteio, mais pela boa vontade de De Niro (que nitidamente estava se divertindo) e Brett Dier (que vive o irmão hippie de Ellie, Doug, e rouba a cena em boa parte do longa, do que de algumas atrizes como Leslie Bibb e Kim Cantrall (pelas quais estavam ali forçadas e desinteressadas).  “Meu Pai é Um Perigo” termina sendo mais uma produção descartável de Robert De Niro, que mesmo com seus descuidos, consegue ser válida para passar o tempo.    

Crítica | Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

Engenharia do Cinema “Homem-Aranha no Aranhaverso” conseguiu ser uma das melhores animações dos últimos anos, e trouxe o primeiro Oscar de longa animado para a Sony Pictures/Marvel, em 2019. Muito se aguardou da continuação, rotulada como “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” (inclusive este é o primeiro de uma produção dividida em duas partes, pela qual a próxima rotulada de “Spider-Man: Beyond the Spider-Verse“, chegará em 28 de março de 2024) e até algumas semanas o estúdio não estava tendo um marketing plausível para o lançamento (como foi com o antecessor). Felizmente, estamos falando de mais uma divertida produção do selo, que não apenas cumpre o que promete, como também serve para homenagear ainda mais todo o legado do personagem, de diversas maneiras. Após os eventos mostrados no primeiro filme, Miles Morales tenta conciliar sua vida de adolescente com a de ser um Homem-Aranha. Porém, tudo decaí por terra quando o vilão Jonathan Ohnn surge e abre barreiras entre vários multiversos, fazendo o primeiro se unir mais uma vez a Gwen Stacy e outras versões de Homens-Aranhas, para combaterem o mesmo. Imagem: Sony Pictures (Divulgação) Nos primeiros minutos de projeção, há uma ótima sequência detalhando ainda mais a história de Gwen Stacy e como ela se tornou a Mulher-Aranha, em seu universo. Só que a estética usada é totalmente diferente do que já estava sendo visto, ou seja, cada protagonista tem um traço diferente na animação. E não hesito em dizer que mesmo sendo breve, o arco consegue ser melhor que todos os últimos live-actions da Sony Pictures/Marvel, nos últimos anos. Porém, nitidamente o roteiro de Phil Lord, Christopher Miller e Dave Callaham se inspirou fortemente no que foi visto em “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” (uma vez que o projeto tinha um roteiro raso, mas uma ótima execução). Sim, a produção consegue se sobrepor por conta da caracterização de personagens (apesar que alguns acabam sendo colocados em escanteio, em relação ao antecessor, uma vez que o foco agora se concentra totalmente em Miles e Gwen) e um enredo onde os fatos fazem sentido e casam (e não são meramente jogados, para depois serem explorados). A parte engraçada da animação, é que a direção de Joaquim Dos Santos, Kemp Powers e Justin K. Thompson brinca com os fãs, e coloca várias referências a todo momento (nos fazendo brincar de encontrar as próprias, e não vou adentrar como elas estão, por conta de spoilers). Consequentemente, os espectadores se verão na obrigação de ver e rever ao próprio (com o intuito de achar mais daquelas, durante a exibição). “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” consegue divertir facilmente os fãs do personagens, e aqueles que estavam carentes de uma boa leva de ótimas animações.

Crítica | Still: Ainda Sou Michael J. Fox

Engenharia do Cinema Quem cresceu nos anos 80 e 90, sabe o quão famoso era o ator Michael J. Fox (para geração atual, é semelhante ao que estamos vendo com nomes como Tom Holland). Protagonista da trilogia “De Volta Para o Futuro“, o próprio também estrelou diversas outras produções que fizeram bastante sucesso nas várias reprises televisivas. Porém, o que marcou demais foi o próprio ter sido diagnosticado com Mal de Parkinson, quando estava na faixa dos 30 anos e desde então vem tratando da doença.     Baseado no livro de autoria do próprio Michael J. Fox, “Still: Ainda Sou Michael J. Fox” trata-se não apenas deste fato na vida do próprio, como também de toda sua carreira, desde sua infância simples e como ele reagia em torno de sempre ser o “baixinho” na escola, família e trabalhos, como se tornou um dos principais nomes de Hollywood. E neste contexto, entra o fato de como o diagnóstico de Parkinson, afetou sua trajetória pessoal e profissional. Imagem: Apple Originals (Divulgação) Idealizado pelo próprio Fox e com direção de Davis Guggenheim (que já havia comandado documentários sobre nomes como Malala, Barack Obama e Joe Biden), temos uma verdadeira aula de como se conceber um documentário que mescla imagens de arquivo, relatos e produções dramatúrgicas. E tudo isso é repassado de uma forma que não cansa o espectador, principalmente por não haver arcos desnecessários (resultando em uma produção com cerca de 90 minutos, que é uma metragem válida neste contexto).    Um claro exemplo, é quando determinadas situações são mencionadas nos relatos, acabamos presenciando cenas dos filmes do próprio Michael (como “O Segredo do Meu Sucesso” e “O Garoto do Futuro“), intercalado por cenas com atores (com o intuito de embasar uma divertida nostalgia, com fatos) e isso acaba funcionando. Sem citar que o recurso também é plausível por se tratar de uma história que a maioria do público alvo (cinéfilos que cresceram e vivenciaram na época do auge de Fox, assim como fãs do trabalho do próprio e seus filmes) já conhecia. “Still: Ainda Sou Michael J. Fox” consegue ser uma verdadeira carta de amor ao legado do eterno adolescente dos cinemas, e resgata a nostalgia de seus antigos filmes.

Crítica | A Última Coisa Que Ele Me Falou

Engenharia do Cinema Em um primeiro momento, a minissérie “A Última Coisa Que Ele Me Falou” se assemelha demais com as produções da HBO (onde temos uma situação X, e o mistério do paradeiro do personagem Y). Porém, essa atração da Apple TV+, estrelada e produzida por Jennifer Garner consegue captar a atenção do espectador por conta do envolvimento de sua protagonista com a sua enteada (vivida por Angourie Rice).     Baseado no livro de Laura Dave (que também assina o roteiro aqui), após um empreendimento dar errado, Owen (Nikolaj Coster-Waldau) acaba desaparecendo da noite para o dia, deixando sozinhas sua filha Bailey (Rice) e a atual esposa Hannah (Garner). Mesmo deixando indiretamente algumas pistas sobre seu paradeiro e regalias financeiras para ambas, elas começam uma investigação para tentar entender o que realmente aconteceu e levou a viverem neste cenário caótico.   Imagem: Apple Originals (Divulgação) Dividida em sete episódios, com cerca de 45 episódios cada, foi sábia a decisão de não esticar muito os tópicos dos mesmos, com o intuito de ter assunto para até mesmo uma possível segunda temporada. Em cada episódio, somos apresentados a uma pista e/ou contexto e eles são bem trabalhados a ponto de tentarmos raciocinar com Hannah e Bailey, sobre tudo que está rolando.     E isso também funciona por mérito da química positiva entre Garner e Rice (que cada vez mais está evoluindo na atuação, em projetos interessantes, mesmo quase sempre sendo a filha dos protagonistas), pois é natural a relação entre madrasta e enteada. Agora, o desenvolvimento da dupla não é inovador e se assemelha em quaisquer produções dramáticas nesta pegada. “A Última Coisa Que Ele Me Falou” consegue ser uma interessante minissérie de suspense, cujo significado vai muito além do explanado em sua premissa.

Crítica | A Mãe

Engenharia do Cinema Não é novidade que a popstar Jennifer Lopez tem acertado na maioria das escolhas dos projetos cinematográficos, pelos quais ela vem se envolvendo. Mesmo com alguns deslizes (vide o recente “Casamento Armado”), ela sabe quais produções realmente irão entreter o público como é o caso deste “A Mãe”. Sendo gravemente afetado pela pandemia (uma vez que a produção e gravações foram adiadas inúmeras vezes), finalmente o mesmo foi disponibilizado pela Netflix em sua plataforma, entregando totalmente o que queríamos: um filme de ação descompromissado, com uma boa protagonista casca-grossa.  Após sofrer um atentado em uma última missão, seguido de um fracasso iminente, uma agente (Lopez) tem de se abster da guarda de sua filha recém nascida, com o intuito dela não ser vítima ou sofrer algum perigo, por conta de sua profissão. Acompanhando de forma distante a rotina desta durante os anos, ela descobre que a mesma está correndo grave perigo por intermédio da mesma quadrilha que lhe atacou quando esta, nasceu. Então ela resolve, por conta própria, proteger a sua filha Zoe (Lucy Paez) que desconhece sua existência. Imagem: Netflix (Divulgação) Nós percebemos que a diretora Niki Caro (do live-action de “Mulan”) é totalmente limitada neste tipo de projeto, quando em meio à um arco dramático ela sabe perfeitamente como deve ser executado (com total enfase nos atores, com zero trilha sonora ao fundo), mas erra quando se trata nas cenas de ação (que são os verdadeiros focos aqui). Nitidamente os vários cortes abruptos são idealizados com o intuito de “esconder” o uso constante de dublês e CGI, em alguns momentos (como na cena onde Paez sobre na garupa da moto de Lopez).  Mas como estamos falando de um filme de ação que não se leva a sério, estes descuidos não acabam prejudicando a experiência do espectador (ao contrário de outros longas do mesmo estilo, lançados pela própria Netflix). Outro fator positivo é o roteiro de Misha Green, Andrea Berloff e Peter Craig conceber a personagem de Lopez como uma verdadeira loba solitária, cujas habilidades militares são gigantes e não hesita em ensinar a sua prole como manejar uma arma, a importância da caça e como sobreviver em situações de risco (inclusive, este arco é uma das melhores coisas da produção). Mas vale ressaltar que o roteiro também não é muito exigente, e não busca realizar algo dramático ou fugir dos padrões deste tipo de enredo. Um mero exemplo é os vilões vividos por Gael García Bernal e Joseph Fiennes, que são genéricos e só conseguem ser impactantes por conta do texto ter colocado os mesmos, sob situações tensas. “A Mãe” termina sendo mais um filme de ação que consegue entreter aos fãs do gênero, abrindo o leque para uma nova possível franquia da Netflix.

Crítica | Velozes e Furiosos 10

Engenharia do Cinema Após quase 20 anos, e chegando em seu décimo capítulo (sem contar com o divertido spin-off “Hobbs e Shaw”), a franquia “Velozes e Furiosos” parece ter ouvido as críticas negativas em torno de seu nono episódio (que foi um dos piores e mais relaxados da mesma). Com o intuito de ser o primeiro de um desfecho que terá mais dois filmes (com estreias possivelmente para 2025, no máximo), a ideia é conceber um encerramento para a mesma como foi visto em “Vingadores“. Porém, diferente do universo da Marvel é notório que ainda há um planejamento alterado constantemente pela própria Universal e Vin Diesel (que detém os direitos da marca), uma vez que mais situações e personagens são apresentados à cada episódio (o que acaba elevando ainda mais o orçamento), abrindo mais portas e oportunidades para outros spin-offs. A história começa algum tempo depois do encerramento do último episódio, onde o psicótico Dante (Jason Momoa) aparece com o intuito de vingar da morte de seu Pai, Hernan Reyes (Joaquim de Almeida), que vitimizado pela gangue de Dominic Toretto (Diesel) no desfecho do quinto filme da franquia. Imagem: Universal Pictures (Divulgação) Começo reiterando que você deverá deixar todo seu raciocínio lógico na bilheteria e, substituir por um balde de pipoca. Sim, estamos falando de mais um capítulo da franquia que não procura ter muita lógica ou sentido em vários argumentos, situações e leis da física. Sempre bebendo e muito de flashbacks do quinto filme (cujo intuito também é inserir uma homenagem ao finado Paul Walker, indiretamente), chega a ser estranho no aspecto técnico algumas inserções que são colocadas por intermédio de um forte e péssimo CGI (que realmente nunca foi o carro forte da cinessérie). Porém, isso não chega a ser incômodo, uma vez que o carisma dos atores em cena e o próprio roteiro (assinado por Dan Mazeau e Justin Lin, que se absteve da direção por divergências criativas), conseguem desenvolver um enredo que capta a atenção do espectador facilmente. Mas ainda deixo claro que é necessário ver os outros filmes, para conseguir trabalhar melhor esta emoção, uma vez que a produção desenvolve personagens que ainda não foram apresentados. Saliento que este filme deixa várias pontas abertas para o 11ª longa, e muitas sementes são plantadas, ao invés de colhidas, nesta primeira etapa.    E isso acaba sendo vanglorioso para a abertura de rostos como Brie Larson (Tess ou Srta. Ninguém, filha do personagem de Kurt Russell), Alan Ritchson (o Jack Reacher da Amazon, onde inclusive há uma breve e divertida referência a este), Daniela Melchior (que interpreta a brasileira Isabel, e não consegue esconder seu sotaque português) e a veterana Rita Moreno (que interpreta a avó dos Torettos). Agora o verdadeiro show consegue ser de Jason Momoa (conhecido por ser o Aquaman da DC), em um dos melhores papéis de sua carreira (não estou brincando). Transpondo à todo momento uma feição psicopata e maluca, temos o maior vilão da franquia, cuja presença em cena sempre resulta em algum tipo de caos. Semelhante ao Coringa de Heath Ledger, em “Cavaleiro das Trevas” (com destaque para uma cena onde ele possui uma “conversa mórbida”), fica difícil adivinhar suas atitudes, uma vez que ele só quer ver o circo pegando fogo por diversão.    Datado os nomes que já assumiram a função em outras produções como Dwayne Johnson, Jason Statham e Charlize Theron (que até então era a maior vilã), temos o grau de insanidade de Momoa colocado já a prova, em sua primeira grande cena a última (remetendo inclusive a briga entre Thanos e Hulk, na abertura de “Guerra Infinita“). Realmente, sua concepção é uma aula de como vilões devem ser feitos nos filmes de ação (uma vez, que os próprios estão cada vez mais fracos e clichês). Mas desvirtuando deste ponto positivo, o diretor Louis Leterrier (substituto de Lin, que já tinha comandado a maioria das produções da franquia) não consegue conceber perfeitamente algumas cenas de ação como deveriam ser feitas. Com cortes bruscos e câmeras constantemente focando no rosto dos atores, ao invés de abrir para a cena como um todo (vide a divertida cena de “Rocket League”, em Roma). O que resultando na própria deixando o espectador mais cansado, do que contente, com o resultado. Vindo de filmes de ação como “Carga Explosiva“, uma das marcas registradas do próprio são as lutas corporais, ao invés de sequências regadas em CGI, e isso fica explícito ao ele entregar isso em boa parte da produção. Uma vez que estavam ausentes no nono episódio e até mesmo no oitavo, agora há várias destas com grande parte do elenco. Não, mais uma vez o destaque não são as corridas (mesmo se tratando de uma franquia que nasceu sendo sobre rachas).    Se passando em boa parte no Brasil, fica a ser estranho e engraçado que mais uma vez a retratação do nosso país chega a ser engraçada, pois além de não ter cenas gravadas aqui (até para as cenas nas favelas, era nítido que o local foi concebido por meio de CGI), novamente víamos atores que não eram brasileiros e sim mexicanos, porto-riquenhos e até mesmo portugueses (detalhe que pode ser reparado apenas se você conferir na versão legendada). “Velozes e Furiosos 10” termina corrigindo os erros do capítulo antecessor, deixando o espectador mais ansioso para o aguardado “possível” desfecho da saga.