ARVO: Diversidade, representatividade e muita música em Floripa

O número de festivais de música no Brasil vem crescendo, ano passado foram mais de 300 e esse ano deve seguir a mesma linha. Até o momento já são mais de 100 confirmados e um deles é o ARVO, que rolou no último fim de semana em Florianópolis. Música, arte, feirinha de variedades, muita gente de idades diversas, lookinhos mega produzidos e várias atividades rolando ao mesmo tempo. Tudo isso é comum em festivais, mas o ARVO tem uma proposta diferenciada. O festival nasceu com o intuito de questionar o consumo de arte, entretenimento e sustentabilidade no Sul do Brasil e, desde a primeira edição, em 2018, tem a proposta de reduzir os resíduos gerados e garantir a representatividade de gêneros, etnias, regionalidades, etc. Fechar a primeira noite com a apresentação de uma mulher preta e travesti é uma delas! Super aguardado no primeiro dia de festival, o show da Liniker foi impecável, superando até mesmo a apresentação da própria cantora na edição do ano passado. A sintonia entre todos os músicos no palco é contagiante e demonstra a maturidade artística da nossa vencedora do Grammy. O show faz parte da turnê do álbum Caju, lançado em agosto de 2024. Ainda no início da tarde de quinta-feira (1), o público se emocionou com a rainha do samba. Diva absoluta, Alcione marcou presença e mostrou porque é uma das maiores vozes da música brasileira. Em seguida, a galera mais indie curtiu a apresentação da Ana Frango Elétrico. Com seu estilo único, misturando pop, rock e eletrônico, encantou os fãs presentes. Além dos dois palcos principais, armados um ao lado do outro, facilitando a dinâmica das apresentações, o Festival também contou com duas tendas. Na de samba o som começava mais cedo, e na de música eletrônica, o rolê ia até mais tarde, pra quem curte estender a noite. Para as crianças, uma área kids prometia diversão com brinquedos e até uma mini Kombi estilo trenzinho circulava pelo local com os pequenos. Entre os pontos diferenciais do Fest, vale citar a praça de alimentação com 70% das opções vegetarianas, além de uma feirinha sustentável, com venda de cosméticos naturais, tecidos reciclados e até frutas orgânicas a preços acessíveis como opção. A água também foi distribuída gratuitamente, como nas edições anteriores. Diretamente de Pernambuco, a banda Os Garotin animou bastante o público, que cantou junto várias de suas músicas, que misturam forró, samba, pop, rock e outros ritmos nordestinos. Destaque também pra Fat Family, que trouxe nostalgia cantando Tim Maia, fazendo geral lembrar das dancinhas dos velhos tempos. Sem dúvida a diversidade é um dos pontos altos do Arvo. O festival reune diversos estilos e gêneros musicais, permitindo ao público se surpreender com novidades ao mesmo tempo em que desfruta daquilo que já gosta. Assim, BK fez um showzão pra uma platéia atenta! Um dos principais nomes do rap brasileiro atualmente, mandou nas letras afiadas e no visual pesadão! Depois, aquela reggaera clássica do Ponto de Equilíbrio também foi um dos momentos marcantes. Exaltando a erva santa e a mãe natureza, a banda contou com a participação da Nega no vocal, ao lado de Hélio Bentes, jogando a energia lá pra cima. Segundo dia do ARVO manteve pegada forte Já no sábado, antes do sol se pôr, um dos shows mais aguardados: o “maioral”, eterno rei do samba, Zeca Pagodinho revelou todo seu carisma, cantando, brincando, conversando bastante com o público, bebendo sua cervejinha de sempre e até umas tacinhas de vinho durante a apresentação. Falando em drinks, Sandra Sá entrou no palco com uma taça de champagne e apresentou vários clássicos de sua carreira, como Retratos e Canções e Bye Bye Tristeza. Entre os discursos que fez, lembrou sua luta antiracista e as vezes que foi criticada por exaltar a música negra: “MPB, Música PRETA Brasileira”, gritou. Reforçando a representatividade regional, Tião Carvalho, do Maranhão, foi uma linda surpresa para o público, trazendo um pouco da rica cultura musical do Nordeste para o palco. Uma apresentação potente, com destaque pra música Nós, uma de suas composições mais famosas, imortalizada na voz de Cássia Eller. Vale ressaltar que o evento leva o selo Woman Music Event, com 53% de artistas femininas nos palcos, além da representatividade LGBTQIAP+ e da postura contra o assédio, por meio de informes constantes nos palcos e de espaço de acolhimento disponível para quem sentisse algum desconforto ou situação desse tipo. #nãoénão Entre as cantoras, Joyce Alane, Iara Ferreira, Ju Linhares, Juliana D Passos e a maravilhosa Marina Sena, encantando a todos com sua voz doce e letras sinceras. Exclusive e os Cabides, Dazaranha, Yago Opropio, O Rosa e Mano Brown completam o line. Esse último, fechando a noite em grande estilo, mandando aquele papo reto que só ele pode sobre temas importantes da vida urbana. Mais uma vez, o ARVO foi uma experiência incrível, ainda mais com o sol que brilhou na Ilha da Magia durante todo o fim de semana. Uma verdadeira celebração da música brasileira!
Com muitas novidades no set, Mudhoney prioriza álbuns recentes no Cine Joia

A casa estava programada para abrir às 20h, mas uma hora e meia antes a frente do Cine Joia, no bairro da Liberdade, em São Paulo, já estava lotada, com o público fazendo o esquenta nas redondezas. Velha guarda reunida, público 40+ em peso, várias figurinhas carimbadas da cena, até mesmo Evan Dando, vocalista do The Lemonheads, compareceu. E não é pra menos, pois mesmo já tendo vindo várias vezes para o Brasil, o Mudhoney sempre é uma atração imperdível. Abrindo a noite, o compositor Elder Effe veio do Pará com sua banda, apresentando um rock alternativo com letras em português, algo como um ‘pop sujo’, que se destaca principalmente por trazer a representatividade do Norte do país na cena do rock independente, inclusive mencionando a Amazônia várias vezes nas músicas e lembrando a importância de preservá-la. Elder definiu o som como “músicas de protesto”, com direito a discursos contra homofobia, xenofobia e outros preconceitos. Além de demonstrar a emoção de estar abrindo o show do Mudhoney, Elder fez questão de ressaltar a presença de sua baixista, Inesita, representando as mulheres musicistas do Pará. Em seguida, Apnea, direto da Baixada Santista, fez um show impecável para uma plateia atenta! Escolha muito acertada para a abertura, pois a banda mistura elementos dos anos 1990 e 1970, produzindo um stoner rock de muita personalidade, com pitadas de indie, heavy metal e muito grunge, tudo isso muito bem executado por músicos já veteranos do rolê, conhecidos por integrarem outras bandas queridas como Ratos de Porão, Garage Fuzz e Safari Hamburguers. Destaque para o DJ Damaso, também do Pará, que manteve a energia da pista animada nos intervalos das bandas, indo de Lemonheads a Ramones, passando por Dead Kennedys, L7 e, claro, The Stooges, que não poderia faltar. >> LEIA ENTREVISTA COM MARK ARM, VOCALISTA DO MUDHONEY Às 22h30 em ponto o Mudhoney entrou no palco e logo mostrou porque é uma banda que todo fã de rock quer assistir. A banda influenciou um movimento e continua na ativa, com a mesma energia de 35 anos atrás, fazendo o que sabem fazer, com muita sinceridade. No set list, mais de 20 músicas pontuando a trajetória da banda, com todas as clássicas que levaram geral a cantar junto, naquela energia linda já tradicional em seus shows. Se o desafio era cobrir três décadas de músicas em quase duas horas de show, podemos considerar dever cumprido, a julgar pelos sorrisos estampados no público durante a saída. E agora já temos foto do Mark Arm com sua guitarra original pra substituir na Wikipedia. O repertório priorizou bastante o conteúdo mais recente da banda. Essa é uma característica que Mark Arm mantém. Mesmo sabendo que boa parte do público espera por uma atenção maior pelos primeiros álbuns, ele sempre dá uma refrescada no set list. Foram 19 faixas diferentes na comparação com o último show em São Paulo, que havia rolado em 2014. Desse montante, dez dos dois álbuns mais recentes, Plastic Eternity (2023) e Digital Garbage (2018). Mark Arm, no entanto, não deixou seus maiores clássicos de fora. Touch Me I’m Sick e Suck You Dry são praticamente proibidas de sair do set. E melhor assim. Afinal, elas garantem momentos apoteóticos na relação entre banda e público. Cine Joia ficou pequeno nesses momentos. Edit this setlist | More Mudhoney setlists
Garage Fuzz estreia vocalista em show marcante em Santos; FOTOS

A expectativa pelo retorno do Garage Fuzz era muito grande. Após um longo período sem shows, em função da pandemia da covid-19, a banda voltou aos palcos de Santos, com uma apresentação marcante no Mr Dantas, no último domingo (12). Em resumo, o público estava curioso para ouvir as três canções do novo EP, Let the Chips Fall, além de acompanhar de perto o desempenho do novo vocalista, Victor Franciscon (ex-Bullet Bane). Na plateia, o público garantiu uma boa recepção. Victor sabe que pegou uma responsa gigante, mas não decepcionou. Por ter uma linha de vocal parecida com a do Farofa, a comparação é inevitável. Mas foram quase 30 anos com a voz do ex. No entanto, o público entendeu que essa era a única forma do grupo seguir em frente, sem interromper de vez as atividades. Em um dos momentos do show, Victor esqueceu o início da letra de uma das faixas. O público refrescou a memória e a sequência saiu direitinha. O show do Garage Fuzz rolou, os caras seguram bem a onda. Aliás, as músicas novas, alguns já conhecem. Mas elas não tiveram a mesma recepção do público em geral. Com muita dedicação no palco, Victor conquistou o público pela energia. E aproveitou para agradecer os demais integrantes, dizendo que ganhou “quatro professores”.