Dinosaur Jr mata a saudade dos fãs com show impecável em SP
Dinosaur Jr. certamente era a banda mais esperada da edição 2024 do Balaclava Fest, que rolou em São Paulo, no último domingo (10). As camisas da banda eram a vestimenta oficial no Tokio Marine Hall, usadas por fãs que esperavam, há anos, por uma nova oportunidade de ver o trio lendário do rock alternativo norte-americano. O Dinosaur Jr nunca esteve entre os mais famosos nomes do rock mainstream, mas o gênero sempre foi eficiente em tornar cult e sagrado vários nomes menos badalados. E é nesse grupo especial que se encontra a banda composta por J Mascis, Lou Barlow e Emmett Murph. Majoritariamente um público um pouco mais velho dominou a pista do Tokio Marine, após os mais jovens curtirem os sons indies e contemporâneos da tarde do festival. Após uma espera sem atrasos, os caras entraram no palco, em um momento meio anti climático: foram necessários alguns segundos para Mascis afinar a guitarra ao seu modo, antes de tocar a primeira nota da música de abertura, The Lung. Cercado por um paredão de amplificadores Marshall, Mascis, de poucas palavras, não economizou nos efeitos de pedais e distorções do seu instrumento. Para dar ainda mais peso, Barlow, selvagem em seu baixo e Murph, incansável na bateria, criaram uma verdadeira onda sonora, um pouco estourada pelo sistema de som do casa, que embolou o que era produzido pela banda no palco. Nada que tenha desanimado o público, que estava ali justamente pelo peso, a distorção e o virtuosismo dos dinossauros do rock alternativo. Seguiram-se In The Jar e Garden, tão celebradas quanto a abertura. Até a curiosa pausa e retomada em Out There — interrompida porque, segundo Lou, a banda estava sem dormir há dois dias — foi celebrada pelos fãs. Teve espaço até para o cover de Just Like Heaven, do The Cure, gravado pela banda no álbum You’re Living All Over Me, de 1987. E claro, as esperadas Feel the Pain e Gargoyle. Foram 18 músicas bem escolhidas, de uma extensa coleção de músicas. Aliás, alguns devem ter sentido falta de clássicos como Raisans. Mas com 40 anos de história, escolhas são inevitáveis — e a seleção final capturou bem a carreira da banda. A noite e o encerramento do Balaclava Fest proporcionaram uma verdadeira imersão no rock alternativo dos anos 1980. Riffs e solos de guitarra criativos, intensificados por efeitos como o Wah-Wah, acompanhavam a distorção visceral característica do gênero. A cozinha soava firme e despretensiosa, como se a banda ainda estivesse nos seus primeiros anos. Um público entregue, revivendo até o esquecido crowdsurfing. Alguns exageros, como o som alto e até mesmo um fã invadindo um palco. E claro, a alegria de todos os que se permitiram viver um show do Dinosaur Jr. Edit this setlist | More Dinosaur Jr. setlists
Water From Your Eyes traz novas nuances para o palco do Balaclava Fest
Water From Your Eyes, uma das atrações do Balaclava Fest 2024, lançou, em 2023, um dos discos mais celebrados pela crítica musical alternativa. O Everyone’s Crushed tem pouco mais de 30 minutos de duração, divididos em nove faixas de um indie pop com riffs de guitarras repetidos, que dão uma textura excêntrica ao som da dupla Nate Amos (guitarra e produção) e Rachel Brown (vocais). Em turnê, porém, eles contam ainda com o auxílio de Bailey Wollowitz na bateria e Al Nardo criando outra camada de guitarra. Justamente esse essa encorpada no som trouxe ainda mais ritmo e nuances para a apresentação em São Paulo. Destinado ao pequeno Palco Hall, atraindo um número modesto de público (que já partia para o palco principal, onde iria se apresentar o headliner Dinosaur Jr.), a banda criou um clima de boate indie moderna. Alguns dos presentes dançavam embalados pelos sons repetidos e marcados da guitarra de Amos. Outros, porém, pareciam mais hipnotizados pelo canto melancólico e pelas guitarras distorcidas de Nardo e Amos, que revezavam nos improvisos, enquanto o baterista Wollowitz marcava o tempo como um competente baterista de rock. A iluminação, com uma tendência ao vermelho, e o palco improvisado próximo ao público, ajudaram a tornar o ambiente propício para que músicas como Barley, criassem uma experiência envolvente. Qualquer grito ou reação do público era notado por Brown, que chegou a conversar com a plateia em vários momentos. Apesar de elogiada pela crítica especializada, a Water From Your Eyes ainda é conhecida por poucos no Brasil, mas fez uma importante carta de apresentação em um show onde o intimista e o enérgico se confundiram, mas sempre encontram ouvidos prontos para apreciar a arte ora rock, ora pop, da banda.
BadBadNotGood explora influência brasileira em show memorável
Os canadenses do BadBadNotGood devem se sentir bem confortáveis em terras brasileiras. O prolífico grupo foi uma das atrações do Balaclava Fest, no último domingo (10), em São Paulo, e coleciona referências e parcerias com o Brasil. A banda, que já tinha se apresentado por aqui em outras ocasiões, tem no histórico parcerias com o lendário maestro, compositor e arranjador Arthur Verocai e, mais recentemente, com o cantor Tim Bernardes. Em seu som, nunca escondeu a admiração pela riqueza dos ritmos brasileiros e recentemente vem incorporando-os mais ainda em suas composições. O “BadBad”, como muitos chamavam a banda no Balaclava Fest, trouxe ao público faixas de seu mais recente álbum, Mid Spiral, lançado neste ano. Disco esse, que é tão inspirado por essas experiências brasileiras que possui até mesmo algumas faixas com títulos em português. O som da banda é tão plural que talvez faça da banda o melhor representante do espírito do lineup do Balaclava Fest: diversidade sonora. Apesar da diferença de estilos, que vão do rock mais pesado do Dinosaur Jr. até os toques sintéticos de Nabihah Iqbal, existe uma harmonia na escalação de atrações, que uniu artistas contemporâneos, em alta no mundo do música, e aclamados veteranos. No BadBadNotGood, essa diversidade sonora está na mistura de gêneros que a banda traz através do jazz. Seja nos shows, seja nos seus álbuns, é sempre uma surpresa ouvir a banda, pois a mesma é inquieta e vive explorando novas possibilidades. O hip hop, o indie rock, o psicodelismo, o fusion… tudo entra no pacote. Conduzidos pelo baterista Alexander Sowinski, que conversou bastante com o público durante a apresentação, a banda conseguiu fazer o público pular, bater palmas e dançar com jazz. Ao mistura-lo com ritmos latinos ou com jams barulhentas, o som do BadBad cativou mesmo aqueles que não são assíduos ouvintes do gênero associado a nomes como Miles Davis e Charlie Parker. Mesmo em momentos mais minimalistas, como quando o saxofone melancólico de Leland Whitty soou sozinho, Sowinski conseguiu envolver o público, pedindo a todos que levantassem as mãos e acompanhassem o movimento das águas, simbolicamente representado pelo som do instrumento. Em um palco propositalmente escuro, com um sexteto de instrumentistas sem vocalista, o BadBadNotGood fez a pura mágica da música acontecer. Pelo intenso coro de vozes e aplausos ao final da apresentação, pedindo um bis, ficou claro que agradaram bastante.
Ana Frango Elétrico entrega show seguro e gostoso no Balaclava Fest
Uma das atrações nacionais do Balaclava Fest, festival que aconteceu no Tokio Marine Hall, em São Paulo, no último domingo (10), Ana Frango Elétrico (nome artístico de Ana Faria Fainguelernt) vem cada vez mais chamando a atenção na cena nacional. Seu último disco, Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, figurou em listas de melhores discos lançados em 2023, no território nacional. Ao vivo, Ana confirma o talento que percebemos em suas gravações. Acompanhada de uma competente banda, que consegue dar a base necessária para a miscelânea de gêneros do som da cantora, é possível encontrar familiaridades na forma dela cantar; mas seria impreciso nomear suas influências. Isso porque Ana também imprime uma estética moderna, que talvez a gabarite para categorizar seu som dentro da pós-MPB, como prefere chamar seu estilo sonoro. Tocando no finalzinho da tarde do Balaclava Fest, já vendo a casa de espetáculos Tokio Marine Hall encher, Ana entrou e saiu segura do palco. Seja quando explorou o indie-pop de canções como Coisa Maluca, seja quando remeteu mais à MPB clássica, como fez em Camelo Azul, ou mesmo quando a banda que a acompanhava trouxe percussão e samples que deixavam seu som mais lisérgico. O público presente intercalou entre danças, aplausos e coros, mostrando que Ana já está construindo uma base de fãs que reconhece seu talento. Ana Frango Elétrico, além de performar uma gostosa apresentação, aquecendo o público que ainda chegava ao festival, fez jus aos elogios que recebe no presente e deixou a sensação de que o futuro é ainda mais promissor: seja por saber conversar com o contemporâneo, em suas letras e na sonoridade de suas músicas, atraindo os jovens ouvintes à música nacional, seja por respeitar e aproveitar o passado, usando-o como combustível para o novo.
Zakk Wylde reúne time de peso para homenagear o Black Sabbath em SP
Joe Bonamassa comprova veracidade do “come to Brazil” no Ibirapuera
Eric Gales transmite sentimentos com a guitarra no Best Blues and Rock
Pavement faz possível despedida dos palcos com show histórico
Precisamos falar sobre o Pavement. A apresentação que rolou no último fim de semana, dentro do C6 Fest, foi mais do que um show qualquer; foi também uma celebração ao legado da banda e do rock alternativo dos anos 1990. Enquanto, no mundo do rock mainstream, grupos como Nirvana e Pearl Jam dominavam as rádios populares com seu grunge e gravavam hits que são lembrados até os dias de hoje, havia uma série de bandas correndo em uma cena alternativa, formando uma geração de fiéis seguidores que não puderam desfrutar dos benefícios que o sucesso no mainstream oferece. Além da banda liderada por Stephen Malkmus, seria correto citar Dinosaur Jr. e Built To Spill como membros dessa cena que não possuíam a mesma fartura de holofotes, produtos oficiais e canções tocadas em rádios populares. Mas essa mesma escassez criou uma aura de preciosidade que só deu mais força a essa sociedade do rock alternativo. E foram os membros dessa sociedade que predominaram na plateia do C6 Fest. A maior parte, já com mais de 35 anos, estava ali para, além do show, celebrar esse legado. E o Pavement sempre foi um ótimo representante de tudo o que essa cena representa. O grupo se destacou com suas letras inteligentes, pelas guitarras shoegaze e pelo lo-fi de seu som, gravando cinco discos em 35 anos. Parece pouco para tanta história, mas é uma evidência da intensidade que a música da banda causa. Depois de 15 anos da última apresentação no Brasil, a expectativa era grande e foi atendida com um show completo, passando por todas as fases da banda. Hits como Harness Your Hopes e Cut Your Hair (dedicada aos atingidos pela tragédia ambiental em Porto Alegre) foram entoados como hinos, com um público vibrante que cantarolava até os riffs memoráveis de guitarra. As mini jams que a banda proporciona em algumas canções abrem espaço para o talento de Malkmus em seu instrumento e Steve West na bateria, que parecia exausto ao final das 20 músicas executadas pela trupe. Um personagem importante de toda essa experiência que é um show do Pavement fica por conta do carismático Bob Nastanovich, que, quando não estava cantando e tocando sua percussão, estava dançando e interagindo com o público. Era mesmo uma festa, celebrando a música do Pavement e os fãs do rock alternativo dos anos 1990. Alguns desconfiam que esse pode ter sido não somente o último show em terras brasileiras, mas também o último show da história do Pavement. E se for assim, esse terá sido um fim digno e que representou bem todo o legado dessa geração de bandas.
Paris Texas, Noah Cyrus e Daniel Caesar empolgam no C6 Fest
O C6 Fest acertou em cheio nas escolhas. Mesmo que não fosse possível acompanhar todos os shows na íntegra, ainda dava para conferir um pouco de outras atrações. Paris Texas, Noah Cyrus e Daniel Caesar foram alguns que me chamaram a atenção no segundo dia. Paris Texas Paris Texas entrou ainda cedo no palco Heineken, para uma plateia ainda pequena. Mas se dedicaram muito, conversavam (em inglês) com o público, enfatizando como gostam do país. Acompanhados apenas de um DJ, sem banda, os dois nomes do Paris Texas, Louie Pastel e Felix, cantam um hip hop agressivo, por vezes com a intensidade de músicas de punk, mas que em momento algum soam diferente do hip hop. A pequena plateia comprou a apresentação e se divertiu, dançando e respondendo as interações que o grupo fazia. Talvez em um horário mais tarde ou um palco menor trouxessem ainda mais força pro show deles. Noah Cyrus Extremamente emocionada e grata pela recepção dos brasileiros, Noah Cyrus se dedicou muito em entregar um show a altura do carinho que recebeu. “Vocês foram gentis comigo desde o momento em que pisei fora do avião”, disse ela segurando a emoção. Apesar de tocar antes da Cat Power, seu show estava mais vazio, o que levanta a questão do público-alvo que o festival precisa investir. Vivendo sob a sombra da irmã famosa, com seu estilo mais pop rock, a música de Noah vai mais para o lado do pop country de seu pai, Billy Ray Cyrus. As músicas são radiofônicas e prontas para virarem hits. Difícil dizer se o sucesso da irmã da Noah ajuda ou atrapalha sua carreira. Será que sem propaganda gratuita que tem em seu nome sua música chegaria ao Brasil e além? O que pode fazer pra ter seu brilho próprio, Noah faz. Cantou, explorou todo palco, interagiu com os fãs e com sua banda e tentou deixar seu marca, ao menos para os que já acompanham seu trabalho. Daniel Caesar Um show de neo soul muito bem executado. Acompanhado de uma banda eficiente com baterista, guitarrista e baixista (que também tocou teclado), mas com vários momentos solo (voz e violão), Daniel Caesar entregou um soul por vezes suave, romântico, e que em outros momentos soou dançante. Canta com uma voz leve, sem muito enfeite, como um clássico cantor de soul. Lembra mais o estilo de seu contemporâneo Leon Brigdes. O público conhecia muitas de suas músicas e se emocionou com a carga sentimental que a música dele provoca. Chegou a fazer um cover solo de Sparks, do Coldplay, e mostrou que se não se render ao pop comum, pode se firmar mesmo como um grande nome do neo soul. Depois de se despedir da plateia no palco, os telões mostraram para o público Daniel se dirigindo ao camarim, ao vivo, e encontrando um casal com um bebê. Conversaram um pouco e ele cantou mais uma música ao violão, para agora, sim, se despedir de verdade dos brasileiros.