ALDO FAZIOLI
Certas transações são bem conhecidas. Um país exporta sua matéria prima e depois compra os produtos fabricados com ela. Guardadas das diferentes situações, essa troca também ocorreu na música, mas sem prejuízo das partes. Desde o nascimento do rock n’ roll nos Estados Unidos, lá nos idos dos anos 1950, a música americana foi a “matéria prima” de exportação para a Grã Bretanha.
Foi nesse contexto que os jovens britânicos em meio às dificuldades e carências no período pós guerra começaram a curtir a música dos famosos bluesmen e roqueiros americanos. Nas paradas, nos bares e clubs, e nas vitrolas só se ouvia o som vindo do outro lado do Atlântico. Lá estavam Chuck Berry, Elvis Presley, Buddy Holly, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Bill Halley e Gene Vicent (Be Bop A Lula).
Esse movimento durou alguns anos e foi de tal relevância que mesmo sem ter recebido qualquer menção especial, muitos afirmam que foi aí que o correu a primeira invasão musical.
Inspirados por seus ídolos, os garotos de várias cidades se aventuraram a pegar nos instrumentos e a formarem suas próprias bandas. Ali estava brotando a primeira geração de grandes roqueiros britânicos.
A cidade mais famosa e emblemática que desenvolveu esse espírito foi Liverpool, portuária e terra natal dos Beatles. Foi lá que surgiu o Merseybeat, o mais importante movimento musical e até cultural do Reino Unido.Com um som original e batida distinta, as músicas se destacaram da cena musical dominante e se espalhou por toda Grã Bretanha através de mais de trezentas bandas. Muitas delas conhecidas até hoje.
Os Beatles foram os protagonistas desse movimento e suas canções dominavam todas as paradas. Nascia aí a “Beatlemania”. Com sua ambição aguçada, o empresário dos Beatles, Brian Epsten, queria mais, queria atravessar o Atlântico e conquistar a América.
Num lance de sorte e muita astúcia, conseguiu marcar três apresentações no programa de TV de maior audiência das noites de domingo – era o tradicional Ed Sullivan Show.
Só com a divulgação desses eventos, com os adesivos e gritos dizendo “os Beatles estão chegando”, eles alcançaram o topo das paradas. Todo mundo saiu cantando I Want to Hold Your Hand, por sinal, bem apropriado para o momento.
Na primeira apresentação, em 9 de fevereiro de 1964, o programa foi transmitido ao vivo para todo o país, o sucesso foi tão grande que a audiência passou de 70 milhões de telespectadores. Um recorde!
Em abril, o “top five” das paradas tinha só músicas dos Beatles. Depois de toda essa repercussão, com o histerismo das plateias e as engraçadas e descontraídas entrevistas, os Beatles conquistaram a América e abriram as portas para muitas outras bandas britânicas. Yeah! Yeah! Yeah!
Esse acontecimento que superou o sucesso da música praiana da costa oeste durou entre 1964 e 1966 e foi chamado pela mídia americana de British Invasion (Invasão Britânica). Foi a primeira British Invasion, depois vieram outras. Entre as principais bandas dessa primeira invasão britânica estavam Rolling Stones, Dave Clark Five, The Animals, The Zombies, Gary and The Pacemakers, The Kinks e Herman Hermits.
Citações:
“Nós riamos dos espectadores, de nós mesmos e de todos. Não levamos nada a sério além do dinheiro”
John Lennon
“Um jornalista americano perguntou com uma dose de cinismo: ‘O que acham de Beethoven?’ ‘Adoramos, sobretudo seus poemas’, respondeu Ringo
“Vocês são feios, tocam mal, as músicas são fracas e o grupo com toda certeza não vai durar”
New York Times
Um rock abraço,
Aldo Fazioli