*Muito antes de ser condenado à morte em 1794, o cientista francês Antoine Laurent de Lavoisier proferiu a celebre máxima: “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”
É claro, que como pai da química moderna, ele estava se referindo à sua atividade científica. Entretanto, guardadas as devidas diferenças, ela também se aplica em outras inúmeras situações, inclusive no universo musical.
Aqui vamos utilizá-la para abordar mais uma das tantas transformações ocorridas durante o logo percurso evolutivo do rock.
Do blues ao rock
Fazendo uma breve e simples analogia. Do blues nasce o rebelde e inconsequente rock’ n’ roll. Com canções que não passavam de três minutos, embalou os jovens nos anos 1950. Era o som de riffs e batidas simples e comunicativas.
Já com pelugem no rosto, o rock atravessou boa parte dos anos 1960 na busca da sua afirmação e valorização.
Com o advento do uso das drogas alucinógenas durante o apogeu da psicodelia, dos avanços tecnológicos nos sistemas de gravação, da utilização de novos instrumentos, e aliados ainda à enorme vontade de exceder as fronteiras do status quo existente, o rock desta vez com voz mais grossa, vive seu estágio mais maduro.
Bem, é com essa experiência adquirida que o rock nada cria, nada perde, mas se transforma de tal forma que dá origem a novas vertentes.
Uma dessas vertentes nasce na Inglaterra a partir de 1967, quando muitas bandas ligadas ao som psicodélico procuram trocar seus hits melódicos por obras mais ambiciosas, com a produção de composições sofisticadas influenciadas pela música clássica, erudita, pelo jazz e o folk tradicional.
Art rock
Foi nesse ambiente suntuoso que surge o requintado rock progressivo que muitos críticos chegam a elevar o rock ao patamar de arte (art rock).
Abusando dos teclados e dos sintetizadores Moog recém-lançados, os músicos ousavam na criação de longos e complexos arranjos. Começam a surgir no mercado discos temáticos e óperas-rock que dão origem aos chamados “álbuns conceituais”. Vinham com temas que abordavam desde a religião, a mitologia até a ficção científica com atmosferas espaciais e futuristas…
Como sempre, na vanguarda dos acontecimentos, em 1967, os Beatles lançam o disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, o mais importante da psicodelia britânica e que já introduzia elementos do futuro rock progressivo. Esse disco é apontado como o primeiro e mais emblemático álbum conceitual da história do rock.
Sim… a banda Yes, com características próprias e inconfundíveis é considerada pelos críticos e fãs, a mais representativa do rock progressivo. Por um certo tempo contou com o virtuosismo do famoso tecladista Rick Wakerman.
Do Pink Floyd aos Mutantes
Com o nome composto pelos nomes de dois bluseiros americanos Pink Anderson e Floyd Council, o Pink Floyd teve o grande mérito de incorporar num mesmo som sua alma psicodélica ao rock progressivo. Essa união a levou ser classificada como uma das maiores bandas de todos os tempos. Sua obra prima The Dark Side Of The Moon vendeu mais de 50 milhões de discos.
Fora da Inglaterra, algumas bandas merecem ser destacadas, é o caso da holandesa Focus, da alemã Triunvirat e Os Mutantes do Brasil. Nos Estados Unidos, Frank Zappa fez suas incursões no progressivo e que também foi acompanhada pelas bandas Kansas e Styx.
Considerando todo esse contexto e salientando que para muitos a guitarra estaria fadada ao anonimato das garagens, o rock progressivo não foi bem aceito entre os mais puristas. Contudo, ele surge como uma evolução natural e indispensável para que qualquer tipo de atividade artística transcenda seus próprios limites. Talvez esteja aí o espírito rebelde que o rock sempre carregou em todos os seus momentos.
Um rock abraço,
Aldo Fazioli
*Texto por Aldo Fazioli