Crítica | Asterix & Obelix: O Reino do Meio
Engenharia do Cinema Sendo uma das mais divertidas e consagradas franquias literárias da França, “Asterix & Obelix” sempre fizeram sucesso não apenas por lá, como ao redor do globo. Nos cinemas, o feito se repetiu na maioria das produções, porém em 2017, o ator e cineasta Guillaume Canet alegou que estava trabalhando em um reboot cinematográfico da dupla, e faria um enredo inédito (sem ter sido inspirado em absolutamente nada, nem em um material base). O mesmo foi pausado por conta da pandemia e foi retomado em 2021, “Asterix & Obelix: O Reino do Meio” foi só lançado agora nos cinemas do país e pela Netflix em vários territórios (inclusive no Brasil). Após conseguir escapar de um cenário onde a China está totalmente sendo dominada por César (Vincent Cassel), uma Imperadora (Linh-Dan Pham) acaba indo parar na aldeia dos Gauleses Asterix (Canet) e Obelix (Gilles Lellouche). Por lá, a dupla promete que irá tentar ajudá-los a bater de frente com o regime tirânico do primeiro, que ainda enfrenta uma crise conjugal com Cleópatra (Marion Cotillard). Imagem: Netflix (Divulgação) Certamente muitas pessoas que não conhecem o estilo dos personagens, vão achar que o modo escrachado que Canet obtém em sua direção e roteiro (que foi escrito em conjunto com Julien Hervé e Philippe Mechelen) é amador e mal feito. Porém, é este mesmo estilo que os personagens criados por Albert Uderzo e René Goscinny, no final dos anos 50, cujo intuito também era retratar, de forma satírica, alguns dos principais contextos históricos. E aproveitando esta deixa, o longa faz questão de brincar com as constantes e forçadas “novas roupagens” que o cinema tem feito, ao mudar personagens conhecidos para agradar um público minúsculo. Um mero exemplo é um arco onde uma romana entra na sala de César, com o intuito de falar que ele deveria se adaptar aos “novos tempos” e dar vozes às mulheres. Em resposta, ela é surpreendida pelo alto deboche de todos (uma vez que no contexto deste cenário, não iria fazer o menor sentido). É neste escopo que a produção tira suas melhores piadas. Mas como nem tudo é as mil maravilhas, um dos grandes descuidos da produção é não ter explorado ainda mais o arco de Cleópatra com César, uma vez que a caracterização de Cassel e Cotillard (que também é esposa de Canet, fora das telas) casou perfeitamente nestes personagens. Queríamos ver mais deles, mas infelizmente, ficou para uma possível próxima oportunidade. Com relação ao restante do elenco, Guillaume Canet e Gilles Lellouche (que é a cara do intérprete anterior de Obelix, Gérard Depardieu) convencem como os protagonistas (e a atmosfera cartunesca sobre eles, os deixa ainda mais divertidos), e as chinesas Julie Chen e Linh-Dan Pham literalmente ainda conseguem roubar a cena em breves momentos (uma vez que elas nitidamente entraram na brincadeira). “Asterix & Obelix: O Reino do Meio” termina sendo um divertido reboot, que por mais inferior aos dois primeiros longas em live-action dos personagens, ainda entretém dentro de sua premissa.
Crítica | Querida Alice
Engenharia do Cinema Quando foi exibido no Festival de Toronto 2022, ficou nítido que o intuito de “Querida Alice” era mostrar o talento dramático de Anna Kendrick (que já foi indicada ao Oscar por “Amor Sem Escalas“, e assina a produção aqui). Por mais que se trate de um tema batido e mostrado exaustivamente em qualquer telenovela ou seriado, o marketing pelas redes foi centrado na atuação desta. Ao conferir o projeto, vemos que ele não apenas apresenta o tema de forma rasteira, como também não tem audácia de ser ácido como outros da mesma temática. A história gira em torno de Alice (Kendrick), que vive um relacionamento muito tóxico e abusivo com Simon (Charlie Carrick). Ciente disso, suas amigas lhe avisam para passar alguns dias em sua casa de campo e mentir para este sobre sua estadia. Imagem: Elevation Pictures (Divulgação) O roteiro assinado por Alanna Francis e Mark Van de Ven, se assemelha e muito a uma história contada por intermédio de uma conversa de Whatsapp, usando o chat GPT (que inclusive alguns roteiristas estão usando, para auxiliar em seus projetos), de tão raso e fraco que é retratado a temática do relacionamento tóxico. Nos dias atuais, é impossível você não conhecer pelo menos uma pessoa que tenha vivido este tipo de relação, com histórias mais difíceis e tensas do que relatada aqui. Tudo realmente soa tão banal e clichê, que a atuação de Kendrick se resume a fazer caretas, com cara de assustada e muitas vezes sem expressão. E o desinteresse do público acaba sendo uma grande consequência deste ponto (já que para este tipo de produção, deve-se 90% à retratação da protagonista para funcionar). “Querida Alice” é um filme que nasceu para preencher lacunas de plataformas de streaming, uma vez que não serve para refletir sobre seu foco, que são os relacionamentos tóxicos.
Crítica | Guardiões da Galáxia: Volume 3
Engenharia do Cinema O cineasta James Gunn cada vez mais tem se mostrado um dos grandes nomes do cinema, ainda mais se tratando de adaptações de HQs (seja da Marvel ou DC, onde recentemente assumiu a Presidência do setor cinematográfico com Peter Safran). Após ter sido vítima da cultura do cancelamento (que ocasionou em sua demissão da Marvel, e consequentemente, ida para DC, onde dirigiu “O Esquadrão Suicida”), o elenco de “Guardiões da Galáxia” e vários fãs do mesmo, fizeram uma campanha para o mesmo retornar e encerrar a saga destes. Felizmente ele não apenas voltou, como nos entregou a segunda melhor trilogia da Marvel (junto de “Capitão América”), transformando “Guardiões da Galáxia: Volume 3” em um encerramento e produção que os fãs do selo estavam carentes, desde “Vingadores Ultimato”. A história tem início logo após o “Especial de Natal” dos personagens, com Peter Quill (Chris Pratt) ainda sofrendo com a ausência de Gamora (Zoe Saldana) e os Guardiões tentando levar uma vida normal. Mas após a misteriosa aparição de Adam Warlock (Will Poulter) ocasionar uma série de novos problemas, inclusive para Rocket (voz de Bradley Cooper), eles terão de agir não apenas para salvar eles, como também várias espécies. Imagem: Marvel Studios (Divulgação) O roteiro de autoria do próprio Gunn procura estabelecer duas linhas temporais, pelas quais a primeira é centrada na jornada dos protagonistas, e a segunda no passado de Rocket. Este, inclusive, consegue ser a estrela da produção, e nisso conhecemos ainda mais do seu passado. E por intermédio de seu conhecimento em desenvolver histórias embasadas nas emoções conhecidas pelos estúdios da Disney, Gunn consegue criar um arco tão emocionante, belo e simples, que consegue emocionar até o espectador mais durão (sendo até melhor que toda a fase 4 da Marvel, seja nas séries e filmes). E não só por conta deste arco, como também a forma humana que ele retrata todos os personagens centrais. A todo momento eles transparecem sentimentos humanos, conflitos com várias questões pessoais e com os próximos. Um mero exemplo é o arco envolvendo Warlock (cuja interpretação de Poulter, está no timing certo), onde em uma cena ele age de forma violenta, mas posteriormente entendemos seu propósito de agir assim. Porém, outro destaque acaba sendo o vilão Alvo Evolucionário (que possui uma ótima atuação de Chukwudi Iwuji), que consegue (como poucos vilões da Marvel, nos cinemas) quebrar alguns paradigmas para se justificar em seu rótulo (embora suas motivações, sejam um tanto que genéricas). Mas isso consegue ser suficiente para o público criar uma antipatia enorme por ele. Inclusive, a produção possui várias participações especiais de nomes como Sylvester Stallone, Jennifer Holland, Daniela Melchior, Maria Bakalova, Nathan Fillion, Elizabeth Debicki e Linda Cardellini, que funcionam como chaves para o andamento da história. Poderiam ser feitos por outros atores? Sim! Mas se tratando de James Gunn, ele realmente possui moral para colocar nomes como do primeiro, em papéis breves. Mas como estamos falando de um grande Blockbuster da Marvel Studios, muitas outras questões neste projeto caem na contramão do que estamos vendo nas recentes produções do selo. Além de optarem por alguns efeitos práticos, com uma maquiagem, design de produção e figurino que não necessitavam de um CGI excessivo (inclusive, aqui não há este problema, pois o mesmo está bem executado) para completa-los, há uma nítida vontade de James Gunn em homenagear suas origens (já que seus primeiros filmes foram para o cinema trash). Sim, realmente em seu desfecho a sensação é de término na história dos personagens. Porém, datado o andamento das produções da Marvel (e até mesmo Disney), não duvide se aparecer um quarto longa nos próximos longas (“Toy Story” era para se encerrar no terceiro, e já está indo para o quinto, por exemplo). “Guardiões da Galáxia: Volume 3” não só se encerra sendo um filme emocionante, engraçado e marcante, como um merecido encerramento para uma das melhores trilogias da Marvel. Obs: o filme possui duas cenas pós-créditos.
Crítica | Império do Sol
Engenharia do Cinema Após ter se destacado pelo comando de “007 – Skyfall“, “007 – Contra Spectre” e “1917“, o cineasta Sam Mendes resolveu voltar a sua zona de conforto (que são os dramas e romances) com “Império do Sol“. Nitidamente sendo projetado como um “filme feito para ganhar Oscars”, o tiro acabou saindo pela culatra, uma vez que ele tenta explorar quatro tópicos profundos, de uma forma bastante rasteira. O fracasso foi tão grande (tendo uma bilheteria mundial de US$ 10 milhões, com US$ 1,1 milhões só nos EUA, para um orçamento que sequer foi divulgado), que no Brasil teve sua estreia nos cinemas cancelada e colocada direto no streaming do Star+. A história se passa no início dos anos 80 e é focado na rotina de Hilary (Olivia Colman) uma pacata funcionária de um cinema de rua, que se apaixona pelo novo funcionário do local Stephen (Micheal Ward). Enquanto eles vivenciam esta situação, somos apresentados a época dos grandes lançamentos do cinema daquela época (vide “Carruagens de Fogo“), um cenário totalmente racista dos EUA e segredos perturbadores da primeira. Imagem: 20th Century Studios (Divulgação) Era nítido que Mendes tentou em um primeiro momento exercer o quão o cinema era visto como um espetáculo por muitos, e como uma pequenas cidades são totalmente modificadas para receberem eventos gigantes do próprio (vide o arco englobando a Premiere de “Carruagens de Fogo“). Mostrando homeopaticamente como uma sala de projeção funcionava, como as películas eram preparadas para a exibição (e a complexidade que era exigida). Os mais cinéfilos realmente se prendem nesta história, por conta deste fator (que funciona perfeitamente). Porém, quando ele resolve colocar o romance da dupla citada como foco total do enredo, e entrelaça ao cenário racista da época, a produção começa a perder seu ritmo e, literalmente, troca aquela trama que estava interessante, por uma mera novela mexicana (que já estamos acostumados de ver em quaisquer produções). Mesmo com uma ótima atuação de Colman (que mais uma vez interpreta uma mulher em desconstrução) e de outros nomes como Colin Firth (que aparece pouco, mas transparece bem seus sentimentos em relação a Hillary), Ward realmente não convence com a primeira e não possui uma química interessante com ela (parece estar com a mente em outro projeto). “Império da Luz” consegue jogar uma possível bela homenagem aos exibidores cinematográficos no lixo, ao substituir a trama por um enredo clichê e banal.
Crítica | Peter & Wendy
Engenharia do Cinema Em meio a várias catastróficas adaptações cinematográficas dos famosos contos de fadas da Disney, “Peter Pan & Wendy” não foge desta onda de bombas do estúdio. Tentando tirar o projeto do papel desde 2016, o cineasta David Lowery (do aclamado “A Lenda do Cavaleiro Verde“) sempre dizia que este era o “conto que marcou sua infância” e que “sonhava em dirigir a adaptação em live-action”. Sendo responsável pela direção e roteiro (junto de Toby Halbrooks), fica perceptível que em momento algum ele realmente gostava do conto, de tamanho descuidado que ele teve em seu trabalho (em vários aspectos). Imagem: Walt Disney Pictures (Divulgação) Inspirado no conto original de J.M. Barrie (que possui o mesmo título deste filme) e na própria animação da Disney, de 1953, a história é exatamente a mesma que todos nós já conhecemos, com Wendy (Ever Anderson) e seus irmãos que são levados por Peter Pan (Alexander Molony) para a Terra do Nunca. Ao chegarem ao local, eles reparam que nada é o que parece, ao terem de enfrentar o temido Capitão Gancho (Jude Law) e sua trupe de Piratas. Confesso que nos minutos iniciais, realmente o projeto se mostra como convincente em vários sentidos, ao mostrar exatamente situações que se assemelham ao desenho de 53. Porém, quando Peter e Sininho (Yara Shahidi) entram em cena, tudo começa a decair. Seja por conta das atuações péssimas da dupla (que se resumem a lerem falas, apenas), da direção que não apenas vilaniza a imagem do primeiro (por meio de enquadramentos que lhe colocam como uma persona vilanesca), como também o próprio roteiro ainda coloca um plot pobre da relação entre ele e o Capitão Gancho (que acaba sendo mais uma bandidolatria, ao tentar ainda mais defender o vilão e nos afastar ainda mais de Peter). Inclusive, fica vergonhoso ver Law aceitando este tipo de papel recentemente (uma vez que ele está cada vez mais perto de ser indicado a um Oscar, novamente), tanto que sua caracterização parece mais com o Pedro De Lara, do que uma presença amedrontadora que o próprio vilão sempre passou em todas as adaptações do conto. Isso porque não entrei no mérito do design de produção, que é tão insosso e preguiçoso (com direito a CGI feito em programas de teste), fazendo a Terra do Nunca parecer uma prisão de Nutella, pois ela só se resume a morros verdes e um castelo abandonado (que pode ser visto em qualquer filme de guerra). Em contraponto, isso prejudica a imagem do próprio Peter, que lhe faz se assemelhar mais ainda como um “sequestrador”, ao invés de um amigo das crianças perdidas e de Wendy com seus irmãos. E chega a ser bizarro sentir que em momento algum, a mensagem original do conto que é “seja para sempre uma criança, mas com responsabilidades”, sequer é apresentada ou executada neste projeto. A única mensagem que este filme mostra é “a Wendy é uma heroína da Marvel” (vide o penúltimo arco) e o “Peter Pan é pior que o Thanos”. Por essas razões, a versão de 2003 ainda continuará sendo a melhor adaptação cinematográfica do personagem (mesmo tendo sido um fracasso de bilheteria e público, na época). “Peter Pan & Wendy” continua mostrando que a Disney ainda está totalmente perdida em suas adaptações, e novamente o estúdio nos entrega uma produção sem vida, cansativa e vergonhosa.
Crítica | A Diplomata (1ª Temporada)
Engenharia do Cinema Séries de política costumam ser chatas e complicadas de se compreender (caso você não esteja habituado ao assunto). Após o sucesso de “House of Cards” (que terminou de uma forma grotesca, por conta da demissão de Kevin Spacey), a Netflix ficou órfã de produções da temática e agora realizou esta “A Diplomata” para preencher esta lacuna. Ciente da complexidade que aquela havia em sua trama, sempre agregada a situações que remetiam uma realidade (totalmente mais leve do que vemos no Brasil), a showrunner e criadora da atração Debora Cahn (“Homeland”) procura desenvolver uma trama mais simples e que conquista o público alvo facilmente. A história é centrada na embaixadora dos EUA no Reino Unido, Kate Wyler (Keri Russell), que acabou sendo jogada no cargo de forma totalmente aleatória nesta função (uma vez que estava acostumada a fazer negociações comerciais no Afeganistão). Em um cenário totalmente delicado entre estes países e o próprio Oriente Médio, ela não terá de tentar amenizar os conflitos entre todos (que cada vez mais só pioram), como também a enorme crise política que o primeiro enfrenta por debaixo dos panos. Além de tentar reaver seu casamento com Hal (Rufus Sewell), que também trabalha no governo com ela. Imagem: Netflix (Divulgação) Em um primeiro momento, várias coisas são jogadas no colo do espectador, com o intuito de nos sentirmos na pele da própria Wyler. E isso nitidamente funciona, pois além de Russell está ótima no papel (tanto que em sua expressão fica nítido o quão ela está casada e preocupada, ao mesmo tempo), a trama chega a fazer um completo sentido dentro do cenário político atual (embora não chegue a jogar indiretas em algumas situações atuais, já que a produção foi gravada em 2021). Mas outro tópico certeiro, é não apelar demais para termos técnicos, para relatarem algumas situações que poderiam ser complicadas, apenas com o intuito de deixar tudo mais “luxuoso” dentro do cenário mostrado (um erro que inclusive, tem ocorrido em outras produções da temática e que não possuem o teor desta). Como por exemplo, uma situação que envolve a morte de uma “pessoa importante” (não vou entrar em mérito de spoilers) e os desdobramentos que isso acaba tendo, não são complicados de se entender e a produção acaba também explicando ao público, algumas atitudes e contextos (uma vez que a própria Kate, também é leiga). Dividido em oito episódios, com cerca de 45 minutos cada (inclusive o segundo ano já foi confirmado), pode-se dizer que a relação entre a protagonista e os outros coadjuvantes funciona nos episódios também, pois os mesmos também possuem subtramas muito bem cuidadas, como o ministro de Relações Exteriores, Austin Dennison (David Gyasi), Ali Ahn (Ali Ahn) e o próprio Hal (que com a ótima atuação de Sewell, à todo momento não fica certo de qual lado ele está). “A Diplomata” termina sendo uma interessante produção política da Netflix, que literalmente foi realizada com o intuito de agradar os que já conhecem e não sabem sobre o assunto com mais ênfase.
Crítica | Renfield – Dando Sangue Pelo Chefe
Engenharia do Cinema Há alguns anos a Universal Pictures tentava realizar este longa, de diversas maneiras (inclusive dentro do próprio Dark Universe, que foi por água abaixo depois do fracasso de “A Múmia“). Após terem resolvido escalar Nicolas Cage para viver ninguém menos que o próprio Conde Drácula (personagem que o próprio almejava viver, ainda mais por ser fã de Béla Lugosi, intérprete original daquele), que inclusive, já havia se tornado meme na internet por conta de se assemelhar com a figura do próprio, o resultado não poderia ter sido outro. Mesmo não sendo o protagonista, “Renfield – Dando Sangue Pelo Chefe” marcou como o grande retorno de Cage para Hollywood. Porém, ainda há algumas ressalvas. Após anos servindo o Conde Drácula, seu fiel ajudante e servo Renfield (Nicholas Hoult) está cansado da função e da companhia tóxica do mesmo. Depois de um acidente ocasionar uma enorme fraqueza no primeiro, eles se mudam para Nova Orleans com o intuito do segundo procurar vítimas para estabelecê-lo. Só que ele percebe que pode ir contra as vontades do seu chefe, começado a viver sua própria vida. Imagem: Universal Pictures (Divulgação) Com roteiro escrito por Ryan Ridley e Robert Kirkman (criador da franquia “The Walking Dead”), fica nítido que a dupla tinha como propósito homenagear o legado de Béla Lugosi (tanto que a sequência de abertura, é uma notória homenagem ao longa de 1931). E mesmo sendo coadjuvante no longa, Cage conseguiu exercer uma interpretação tão natural e divertida, que ele literalmente faz um verdadeiro show quando aparece. Sua química com Hoult também é tão impactante (lembrando que eles já viveram Pai e filho em “O Sol de Cada Manhã“), que a atuação deste fica melhor em todos os sentidos. Seu desespero, medo, tristeza e ansiedade ficam cada vez mais explícitos quando está em cena com Cage. Só que ele peca demais ao desenvolver subtramas envolvendo a policial Rebecca (Awkwafina) e o desastrado traficante Tedward Lobo (Ben Schwartz) que gerencia uma rede de crimes com sua mãe (Shohreh Aghdashloo). Facilmente estes dois arcos poderiam ser desligados (uma vez que não temos interesse algo por eles também), se resumindo à relação de Drácula e Renfield durante os anos, intercalando com as sessões de terapia grupal deste (que é um dos arcos centrais do próprio). Apesar deste tópico, o diretor Chris McKay (“Batman Lego”) optou sabiamente por realizar efeitos práticos, colocando muita maquiagem, pouco CGI (que são executados nas horas certas) e muito sangue e uma certa violência cartunesca (que você dá risada, de tão bizarra). Mas nada disto justifica a censura branda de 18 anos que recebeu no Brasil. “Renfield – Dando Sangue Pelo Chefe” mostra que mesmo com algumas ressalvas, consegue entreter por conta do ótimo talento de Nicolas Cage, em mais um papel que se casa com o seu perfil.
Crítica | Ghosted: Sem Resposta
Engenharia do Cinema Sendo vendido como um dos principais carros chefes da Apple TV+, a comédia romântica de ação “Ghosted: Sem Resposta” aposta no talento e engajamento que os nomes de Ana de Armas (nova musa do cinema de ação) e Chris Evans podem trazer. Mesmo sendo realmente similar ao longa “Encontro Explosivo” (estrelado por Tom Cruise e Cameron Diaz), temos mais uma produção que consegue entreter dentro de sua premissa, sem exigir muito do seu espectador. A história mostra o tímido floricultor Cole (Evans) que um dia acaba tendo seu caminho cruzado com a misteriosa Sadie (Armas), por quem se apaixona. Após descobrir que esta fez uma inesperada viagem para Londres, ele resolve ir de surpresa ao local e acaba descobrindo que ela é uma super agente secreta. Consequentemente, ele acaba se envolvendo também em sua missão secreta, onde ela deverá negociar com um perigoso terrorista (Adrien Brody). Imagem: Apple TV+ (Divulgação) Chega a ser engraçado que Armas já trabalhou mais de uma vez com Evans (nos sucedidos “Entre Facas e Segredos” e “O Agente Oculto“), e esta é a primeira vez que eles estão vivendo como um casal nas telas (inclusive eles esbanjam uma grande química e sintonia em cena, em vários sentidos). E isso fica tão bem executado, que em momento algum o enredo procura em rotular Cole sempre como inferior a Sadie, e sim um homem que aos poucos se mostra tão maduro e habilidoso como esta, na maioria das situações mostradas (algo que o cinema ultimamente não tem feito). Porém o roteiro de Rhett Reese, Paul Wernick (os dois primeiros são responsáveis pelos dois “Deadpool“, inclusive), Chris McKenna e Erik Sommers (já estes últimos escreveram toda a trilogia recente de “Homem-Aranha“, para a Marvel) não é dos mais criativos, ao usufruir de cenários já conhecidos neste tipo de filme (com cenas de ação similares ao longa de Cruise, só trocando o sexo dos personagens). Mesmo estando em uma atmosfera total da Marvel (não só por conta dos roteiristas citados), os fãs das primeiras fases do estúdio ficarão totalmente felizes em ver algumas divertidas participações especiais de alguns nomes (pelos quais não entrarei em mérito de spoilers, mas digo que alguns irão arrancar vários risos). Mas acaba sendo triste vermos nomes como o de Adrien Brody (que nos últimos anos vem virando em mais vilões) dando vida a um personagem bastante genérico. Só que como estamos falando de um filme com pitadas de ação, é nítido que o cineasta Dexter Fletcher (que vem de filmes como “Rocketman” e da minissérie “The Offer“) sabe conduzir cenas de ação de forma simples e não apela para recursos mais complexos (como outros nomes que fazem essa transição e acabam falhando, em tópicos óbvios). “Ghosted: Sem Resposta” é mais um entretenimento pipoca, onde mesmo sendo bastante clichê, ainda diverte e entretém por conta da presença de Ana de Armas e Chris Evans.
Crítica | Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan
Engenharia do Cinema Não existe uma outra obra que foi adaptada inúmeras vezes pro cinema, como “Os Três Mosqueteiros“. Inspirado no famoso livro escrito pelo francês Alexandre Dumas, o enredo foi readaptado de diversas maneiras e serviu de referência em diversos outros livros e histórias (principalmente a vilã Milady, que representa a famosa “femme fatale”). Tendo em vista a nova onda de adaptações literárias de várias histórias famosas (principalmente do selo da Disney), os franceses não só resolveram fazer a sua versão, como também chamaram toda a elite dramatúrgica do país, com nomes como Vincent Cassel, Eva Green, François Civil, Louis Garrel, Vicky Krieps e muitos outros. Sendo o primeiro título de uma duologia (cujo segundo, “Os Três Mosqueteiros: Milady“, será lançado em dezembro deste ano), “Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan” se passa em 1627 e gira em torno do próprio D’Artagnan (Civil), quando ele é deixado para morrer, após tentar salvar uma jovem de um roubo. Ao ir atrás dos seus agressores, ele vai até Paris e faz uma inusitada aliança com os Mosqueteiros Athos (Cassel), Porthos (Pio Marmaï) e Aramis (Romain Duris), que começam a lhe ensinar como se tornar um. Porém, eles não imaginavam que estariam envolvidos em um esquema que envolve a Igreja e a Realeza Francesa, que pode colocar em risco não só eles, como toda a nação. Imagem: Paris Filmes (Divulgação) Desde seu princípio, é notado o extremo cuidado que o diretor Martin Bourboulon teve em relação ao cenário e ambiente que se passaria à história. Desde o figurino dos personagens (com destaques para as vestimentas de Eva Green, intérprete de Milady e que necessitava deste recurso para incrementar ainda mais sua presença), até a composição dos castelos e vilarejos pelos quais o longa se passava. Realmente a sensação é que somos transportados para a França de 1627, em uma época onde até mesmo vestimentas dos atores são feitas em CGI (algo que a Disney se acomodou a fazer ultimamente). Fica nítido que todos os envolvidos estavam cientes do potencial projeto que estavam em suas mãos, uma vez que o próprio roteiro procura em estabelecer um desenvolvimento não apenas do quarteto protagonista, como também do cenário político daquela época (pelos qual a própria Igreja Católica estava se envolvendo em vários conflitos, diante das Monarquias Europeias, em prol dos seus interesses pessoais). Em relação às atuações, os destaques ficam por conta de François Civil, Lyna Khoudri (que interpreta Constance Bonacieux, interesse amoroso de D’Artagnan e confidente da Rainha Anne) e Romain Duris (que possui boas tiradas como Aramis). Porém, quem realmente rouba a cena é Eva Green (intérprete de Milady, e que será a antagonista do próximo filme), onde mesmo aparecendo pouco e nas horas certas, possui uma presença Como estamos falando de uma obra literária com quase 800 páginas, pelo qual possui um leque gigante de personagens, realmente o mais justo era dividir este arco em dois filmes (apesar de alguns detalhes do próprio estarem fora deste, ainda podem aparecer no próximo longa). Um mérito do roteiro da dupla Matthieu Delaporte e Alexandre de Lá Patellière é não realizarem mudanças drásticas na obra, para se encaixar com o contexto e cenário mundial atual (uma vez que estamos falando de uma produção que se passava em pleno século 16). “Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan” consegue fazer não apenas jus a obra clássica de Dumas, mas também se torna uma verdadeira aula de como exercer uma adaptação literária de forma justa e sem modificações desnecessárias.