Crítica – Daisy Jones & The Six
Engenharia do Cinema Inspirado no sucedido livro de Taylor Jenkins Reid, a minissérie “Daisy Jones & The Six” realmente conseguiu transpor em seus 10 episódios aquela sensação nostálgica de como eram as bandas de rock’n roll nos anos 70, e como os bastidores eram conturbados para algumas delas. Sendo estrelada por Riley Keough (neta de Elvis Presley, na vida real) e Sam Claflin (“Como Eu Era Antes de Você”), mesmo não sendo inspirada em fatos reais, mas sim na história da banda inglesa Fleetwood Mac (que fez bastante sucesso no fim dos anos 60), a produção é mais um dos notórios casos onde uma qualidade final é tão grande, que nos faz buscar mais sobre a história de seu desenvolvimento. A história é contada na perspectiva de um documentário fictício, onde os integrantes da banda Daisy Jones & The Six comentam toda a trajetória da mesma e os fatores que levaram ao conflito fatídico acontecimento que resultou no encerramento da mesma. Sendo encabeçados pela própria Daisy Jones (Keough) e o vocalista Billy Dunne (Claflin), vemos o quão a relação entre ambos era mais complexa do que imaginávamos. Imagem: Prime Video (Divulgação) Não hesito em dizer que esta minissérie se sobressai não só por conta do carisma de todos os atores, mas também pelo quesito da trilha sonora ser um dos fatores que cativam o espectador desde seu princípio. Seja pela música cantada pela própria Daisy Jones & The Six, “Aurora” (que vem feito um breve sucesso) e a canção da abertura da atração “Dancing Barefoot”, de Patti Smith. Apesar desta ter sido lançada em 1979 (e a atração se passar alguns anos antes), muitas das outras músicas que compõem a trilha sonora tem este mesmo detalhe. Porém, não chega a ser um incômodo, uma vez que combinam com o estilo da narrativa. Sendo neta do Rei do Rock, a atriz Riley Keough realmente transparece os seus genes familiares ao interpretar uma cantora com tremenda naturalidade, em vários sentidos. Seja por intermédio de seus lados profissionais, amorosos e crises com drogas e afins. Tanto que não hesito que a mesma seja reconhecida em várias premiações como Emmy. O mesmo pode-se dizer de Sam Claflim, que tem dado azar de pegar poucos trabalhos que reconheçam seu talento como aqui. Como menções honrosas, digo que o enredo ainda consegue desenvolver com maestria algumas subtramas com os integrantes da banda Karen (Suki Waterhouse, que é cantora na vida real e aqui interpreta a tecladista), Graham (Will Harrison) e Eddie (Josh Whitehouse). Com relação aos coadjuvantes de fora da banda, a esposa de Billy, Camila (Camila Morrone, que é enteada de Al Pacino fora das telas) e o empresário da mesma, Teddy Price (Tom Wright, cuja sua presença em cena já será suficiente para alavancar a sua carreira, em vários sentidos). Porém, a atração continua com um erro que vem sendo constante em várias outras séries, que é pegar um episódio da temporada, com o intuito de focar exclusivamente em um coadjuvante. Aqui o foco é o casal Simone (Nabiyah Be) e Bernie (Ayesha Harris), pelo qual o foco narrativo nestas não acrescenta em absolutamente nada na narrativa. A sensação é que foi colocado este contexto, apenas com o intuito de cobrir uma “lacuna”. Em aspecto técnico, o mérito também é da equipe de diretores, pois eles conseguem saber exatamente o que deverá ser focado, seja na tonalidade dramática, na execução das canções e até mesmo quando deve ou não ser executada a trilha sonora de fundo (tópico que muitos cineastas não estão sabendo mais usar) e até mesmo. A única sensação que você tem, é no trabalho de figurino e cenário terem sido genéricos demais. Datada a temática, ambos deveriam ter sido melhor trabalhados. “Daisy Jones & The Six” termina sendo uma divertida série no universo musical, onde em seu término nos faz pedir mais um bis, de forma emocionante.
Crítica | Entre Mulheres
Engenharia do Cinema Entre os vencedores do Oscar 2023, “Entre Mulheres” realmente consegue ser um dos piores longas metragens em vários sentidos. Apesar de ter conseguido conquistar o prêmio de Roteiro Adaptado, a produção escrita e dirigida por Sarah Polley (“Madrugada dos Mortos“) parece falar apenas para o público feminino e ativista, esquecendo de passar sua mensagem para o espectador como um todo. Baseado no livro de Miriam Toews, a história gira em torno de uma aldeia com seguidores da religião Menonita e vivem de forma isolada, em pleno ano de 2010. Cansadas dos abusos e agressões dos homens do local (que chegavam até mesmo a estuprar aquelas, e geravam seus filhos), elas resolvem se unir para discutir se devem enfrentá-los, ir embora ou ficar na mesma situação. Imagem: Universal Pictures (Divulgação) Para se conseguir ter uma intimidade e emoção em um filme dramático, é necessário fazer um parâmetro com o público, como todo. E não existe um arco convincente e que transpareça isso nesta obra. Em momento nenhum o espectador liga para a situação apresentada, muito menos para as personagens relatando situações degradantes que estavam passando. Isso só vai funcionar se você for um ativista ou já ter vivenciado situações similares. Ressalvo que o descuido é mais por parte da própria Polley, que realmente fez a obra pensando em exercer uma mensagem para aqueles que já lutam pela causa, ao invés de tentar vender a própria para aqueles que desconhecem algumas situações (por incrível que pareça). E é triste ver isso acontecer, pois o elenco conta com bons nomes como Rooney Mara, Claire Foy, Frances McDormand (estas duas últimas estão bastante apagadas), Jessie Buckley (que realmente está se prendendo em filmes desta temática) e Ben Whishaw (que está genérico demais). Eles conduzem bem as atuações, dentro das pequenas brechas. Mas não existe um destaque (quando neste tipo de história, deveria haver), muito menos uma personagem central (apesar da direção forçar demais a personagem de Mara, Ona) “Entre Mulheres” é um filme feito para ganhar o Oscar e realmente conseguiu cumprir seu papel. Mas facilmente será esquecido nos próximos meses.
Crítica | O Estrangulador de Boston
Engenharia do Cinema Temos em mãos outro caso de que a própria Disney não está sabendo trabalhar com seus principais lançamentos, onde os bons filmes acabam sendo direcionados diretamente para o streaming, ao invés de irem para os cinemas. “O Estrangulador de Boston” não chega a ser um título de Oscar (uma vez que possui uma temática e abordagem raramente explorada pelo mesmo), mas facilmente consegue captar a atenção do espectador por conta do seu enredo. Baseado em fatos reais, a história se passa nos anos 60, quando as jornalistas Loretta McLaughlin (Keira Knightley) e Jean Cole (Carrie Coon) se juntam para investigar uma misteriosa onda de assassinatos em Boston, pelas quais são vitimadas várias mulheres distintas. Em meio a um cenário onde nem a própria polícia sabia o que fazer, a dupla foi totalmente responsável por uma revolução no caso. Imagem: 20th Century Studios (Divulgação) Durante boa parte da exibição do longa de Matt Ruskin (que também cuida do roteiro), só me fizeram refletir como o jornalismo atual realmente não se aplica no mesmo padrão de qualidade de antigamente. Pode parecer clichê, mas o texto pontua a importância de Loretta e Jean sempre irem atrás das informações verdadeiras, para não passarem mentiras só para terem audiência. Mesmo com a sociedade tendo um total viés machista por conta delas cuidarem deste assunto (embora a forma como este assunto seja abordado, é totalmente banal e repleta de frases de efeito), e os políticos e outros veículos de comunicação da cidade terem politizado totalmente o caso, apenas por interesse próprio (uma vez que muitos sequer sabiam o que fazer, enquanto a dupla de jornalistas demonstravam mais maturidade). Porém, Ruskin não possui uma imagem própria, porque o tempo todo ele remete aos trabalhos de David Fincher em “Zodíaco” (fotografia escura demais, enquadramento nos atores em momentos tensos e a forma como ele apresenta as cenas envolvendo os crimes citados) e Tom McCarthy em “Spotlight“. Neste tipo de filme, uma imagem própria do diretor faz toda diferença (porque na hora de você refletir sobre determinada situação, o diferencial acaba pesando). Agora na retratação das personagens, apesar dele conseguir desenvolver muito bem Loretta (inclusive, Knightley está ótima no papel) e fazer o espectador criar uma empatia por ela, faltou o mesmo detalhe para Jean (uma vez que ambas possuem grande importância para o enredo, apesar de Coon combinar perfeitamente com a própria). “O Estrangulador de Boston” não é um suspense como aparenta ser, e sim uma ótima produção que nos faz refletir que um bom jornalismo consegue intervir em situações pelas quais muitos não encontram soluções viáveis.
Crítica | Shazam! Fúria dos Deuses
Engenharia do Cinema Depois de um ano bastante tenso para a Warner Bros Discovery, onde a gestão de David Zaslav escalou James Gunn e Peter Safran para comandarem a divisão da DC, como um todo, muitos filmes e séries chegaram a ser descartados e até mesmo os atores dispensados. “Shazam! Fúria dos Deuses” é o primeiro título a ser lançado após a dispensa de vários atores do selo, e o clima de incerteza está dominando ainda mais o próprio. E isso ficou transparecido neste projeto. O longa tem início após Billy Batson (Asher Angel) e seus irmãos (que agora também assumiram mantos de super-heróis) não conseguirem ser os heróis que gostariam de ser, e serem alvo de chacota de todos. Ao mesmo tempo eles terão de enfrentar as misteriosas deusas Hespera (Helen Mirren) e Kalypso (Lucy Liu), que surgem para tentar conquistar o poder de Shazam (Zachary Levi) e seus irmãos. Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação) Um dos principais problemas deste filme, é o roteiro de Henry Gayden (responsável pelo antecessor, de 2019) e Chris Morgan (que já assinou vários longas de “Velozes e Furiosos”), que apelam e muito para fórmulas que já deram certo em títulos da Marvel como “Doutor Estranho”, “Thor” e até mesmo “Vingadores Ultimato”. Mais uma vez fica nítido que a DC ainda bebe bastante da fonte citada. A sensação é que faltou uma imagem própria e que consiga fazer este título ser memorável, como um longa do gênero deve ser. Embora Levi esteja a vontade no papel e Angel apareça bem pouco também, temos uma Helen Mirren (que já declarou em entrevistas “não ter entendido a história deste filme”) e Lucy Liu (que está voltando as grandes produções, depois de quase 20 anos) totalmente forçadas e em péssimas atuações. Por mais que pareça ruim e mal feito, este filme ainda consegue se sobressair em diversos tópicos como nos efeitos visuais, que são muito bem executados com destaques para as cenas envolvendo a personagem de Ranchel Zegler, Anthea, fazendo “teletransporte”. Inclusive, ela ainda consegue ter uma ótima química com Jack Dylan Grazer (que interpreta Freddy, e tem mais destaque aqui), e o arco chega até a ser mais interessante do que o próprio Shazam. “Shazam! Fúria dos Deuses” não consegue ser superior ao seu antecessor, e facilmente conseguirá cair no esquecimento do espectador em poucos meses. Obs: o filme possui duas cenas pós-créditos, que podem indicar algum futuro para o personagem na DC.
Crítica | Pornhub: Sexo Bilionário
Engenharia do Cinema Em um primeiro momento, ao se deparar com o título do documentário “Pornhub: Sexo Bilionário“, a primeira sensação é que estamos com um longa que mostrará não só a história do famoso site pornográfico, como também o lado negativo da mesma em vários quesitos. Porém, a diretora Suzanne Hillinger optou por deixar o mesmo dividido em duas camadas, que são as atrizes/modelos que trabalham nesta industria e os crimes que são cometidos por usuários neste site, por intermédio de vídeos com pedofilia, estupro e outras coisas. Por intermédio dos depoimentos de atrizes, modelos, ativistas e funcionários da Pornhub, são discutidos os tópicos citados, e como a plataforma tem sido afetada por vários problemas ocasionados por protestos de terceiros e que afetaram o mesmo até hoje. Imagem: Netflix (Divulgação) Realmente, Hillinger procura estabelecer o espectador primeiramente dentro do cenário das pessoas que trabalham no Pornhub e o quão o mesmo acaba sendo benéfico para elas, no sentido financeiro. Mas acaba faltando realmente o lado negativo deste universo, inclusive a presença de alguém da área psiquiátrica, para explicar os problemas deste setor e o quão as próprias pessoas que trabalham em vídeos deste porte, e até mesmo assistem, acabam sempre tendo problemas psicológicos (pelo menos, na maioria dos casos). Ao invés disso, ela optou por mostrar como foco a guerra da indústria pornográfica com os religiosos e conservadores, que nunca aceitaram este tipo de profissão. Porém, fica um tanto que vazio este debate, pois ele se resume apenas as polêmicas envolvendo vídeos de pedofilia e estupro, que são postados por usuários anônimos e demoram para serem deletados do Pornhub. Não posso deixar de lado, que ela realmente acertou em mostrar (apesar de ser um arco bastante breve), o quão está difícil de lidar e trabalhar com redes sociais ultimamente (por conta de bloqueios de contas, palavras que não podem ser usadas, entre outras coisas). “Pornhub: Sexo Bilionário” poderia ser um ótimo documentário sobre o famoso site pornográfico, porém acaba sendo um breve apanhando sobre a história do mesmo.
Primeiras impressões – Daisy Jones & The Six
Engenharia do Cinema Sendo uma das séries mais aguardadas neste ano, “Daisy Jones & The Six” é a adaptação de um livro escrito por Taylor Jenkins Reid, cujos direitos foram adquiridos pela atriz Reese Witherspoon e a Amazon Studios. Sendo estrelada por Riley Keough (neta de Elvis Presley) e Sam Claflin (“Como Eu Era Antes de Você”), a atração resgata o estilo do Rock’n Roll que fez bastante sucesso nos anos 60 (que mesclava com o Country) e nestes três primeiros episódios, não só conseguem prender a atenção do espectador, como também fazem jus a premissa da atração. Neste início da série, ela é dividida em dois arcos distintos, onde no primeiro vemos a tímida compositora Daisy Jones (Keough), que tenta entrar no mercado da música em meio a um cenário que não lhe favorece como gostaria. Ao mesmo tempo, somos apresentados aos integrantes da banda The Six, que são liderados por Billy Dunne (Clafin) e vem passando por uma enorme crise, justamente quando a mesma começa a obter um grande sucesso. Imagem: Amazon Studios (Divulgação) Regada a uma trilha sonora bem leve e gostosinha (inclusive a abertura contendo a música “Dancing Barefoot” de Patti Smith, é um dos destaques), é questão de minutos para conseguirmos nos entreter com essa história, que já adianto, não é um romance, e sim sobre uma banda que “aparentemente” se desfez (já que a atração é contada como se fosse um documentário, com os membros da citada, contando a história que estamos acompanhando). Embora o próprio enredo seja bastante clichê (inclusive, remete e muito aos clássicos “Nasce Uma Estrela” e “Johnny e June”), o que se sobressai é o carisma dos atores, tanto que Keough (cujos olhares são realmente dignos de uma Presley) e Clafin. O clima hippie da atração também decaiu como uma luva, pois a dupla já possui estes traços em suas próprias personalidades. O elenco de apoio também é um outro acerto, especialmente vindo de nomes como Tom Wright (que vive o empresário Teddy Price), Suki Waterhouse (a cantora Karen Sirko) e Camila Morrone (Camilla, a namorada de Billy). Mesmo se tratando de três episódios, cada um deles consegue ter uma breve importância para este inicio. Neste início de “Daisy Jones & The Six” facilmente conseguimos comprar a premissa da atração, e despertar ainda mais interesse pelo que está por vir nesta produção, que promete ser uma das mais sucedidas da Amazon.
Palpites finais sobre os ganhadores do Oscar 2023
Engenharia do Cinema Na noite de hoje, 12 de março, às 22 horas, acontecerá a cerimônia do Oscar 2023, com transmissões pela TNT e HBO Max. Um fato é que “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” será um dos grandes vencedores (inclusive ele está no rótulo de “ame ou odeie”) e provavelmente levará para casa os prêmios de filme, direção (Daniel Kwan e Daniel Scheinert), ator coadjuvante (Ke Huy Quan) e edição. Isso sem citar algumas surpresas que podem fazer o mesmo levar nas categorias de atriz (Michelle Yeoh), atriz coadjuvante (Jamie Lee Curtis) e até mesmo roteiro original. Outros provavelmente fatores que iremos presenciar nesta cerimônia serão as vitórias de Brendan Fraser por “A Baleia” (que será um dos momentos mais emocionantes da noite), a terceira vitória de Cate Blachett por “Tár” (que lhe fará entrar para o hall limitado de atrizes que mais ganharam o prêmio) e o terceiro Oscar de Guilhermo del Toro pela sua ótima animação “Pinóquio“. O cinema estrangeiro também terá seu espaço com a vitória de “Nada de Novo no Front” nas categorias de filme estrangeiro e fotografia. Podendo levar também na categoria de som (uma vez que ele está no mesmo patamar de “Top Gun Maverick”). Não favoritos na categoria principal, os blockbusters “Avatar: O Caminho da Água” acabará levando como efeitos visuais (uma vez que James Cameron conseguiu inovar totalmente neste quesito, mais uma vez), enquanto “Elvis” ficará com Design de Produção e “Top Gun: Maverick” em Som (como citado anteriormente). Confira a relação com os palpites dos possíveis vencedores, com exceção das categorias de documentário e curta-metragem (pelos quais não vou opinar, por não ter visto aos mesmos). Para ler as análises dos longas, só clicar sobre os respectivos títulos. Filme: “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo“Direção: Daniel Kwan e Daniel Scheinert – “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo“Ator: Brendan Fraser por “A Baleia“Atriz: Cate Blanchett por “Tár”Ator Coadjuvante: Ke Huy Quan por “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo“Atriz Coadjuvante: Angela Bassett por “Pantera Negra Wakanda Para Sempre“Filme Estrangeiro: “Nada de Novo no Front“Animação: “Pinóquio de Guilhermo Del Toro“Roteiro Original: “Os Banshees de Inisherin“Roteiro Adaptado: “Entre Mulheres”Efeitos Visuais: “Avatar: O Caminho da Água“Som: “Top Gun Maverick“Fotografia: “Nada de Novo no Front“Design de Produção: “Elvis“Figurino: “Babilônia“Canção Original: “Naatu Naatu” de “RRR”Trilha Sonora: “Babilônia“Edição: “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo“Maquiagem e Cabelo: “A Baleia”
Crítica | Luther: O Cair da Noite
Engenharia do Cinema Responsável por alavancar a carreira de Idris Elba, a série “Luther” foi um dos maiores sucessos da BBC entre 2010 e 2019. Sendo um dos destaques da Netflix (uma vez que a mesma esteve na plataforma, em vários países, inclusive no Brasil), a mesma adquiriu os direitos do próprio para poder realizar este longa metragem que é descrito como uma espécie de “encerramento oficial”. Porém, já adianto que ao conferir “Luther: O Cair da Noite“, ficou claro que não era necessário conhecer a atração citada, ou seja, a diversão funciona de forma totalmente independente. A história se passa logo após os eventos da última temporada, com o agente John Luther (Elba) sendo levado para a prisão após ser condenado por vários crimes, em meio a suas investigações. Porém, o inescrupuloso serial killer David Robey (Andy Serkis) aproveita da situação para realizar vários de seus crimes. Imagem: Netflix (Divulgação) Escrito pelo próprio criador e showrunner da atração original, Neil Cross tinha consciência de que por se tratar de um lançamento direto para a Netflix, muitas pessoas iam se deparar com o título sem saber que era inspirado em uma série. Então, ele concebeu uma história com uma pegada antológica, embora brevemente ele tenha executado algumas referências na atração citada. Porém, é nítido que Elba sempre teve um carinho pelo personagem e sua presença em cena é contingente com este tipo de narrativa (um detetive que transpõe respeito). Mesmo sendo uma mistura de Sherlock Holmes e Jason Bourne (uma vez que ele é hábil nas lutas e investigações), o roteiro parece ter bebido e muito dos clássicos “O Fugitivo” (com Harrison Ford) com “15 Minutos” (com Robert De Niro), uma vez que ele não tenta elaborar muito sacrifício para o espectador pensar e prever o que realmente vai acontecer. Ainda sim, há algumas menções honrosas na produção, como o vilão vivido por Andy Serkis realmente ter uma presença de igual para igual com Elba, e ainda transpor medo quando se deve ter. Embora o roteiro não tenha ajudado muito o mesmo (assim como nenhum dos outros personagens), e tenha deixado para escanteio grandes nomes como de Cynthia Erivo (que vive a superiora de Luther, a agente Odette Raine). Isso quando não há situações bizarras e totalmente estranhas (como quando determinado personagem toma uma facada em uma cena, e na outra sai andando e fazendo mil e uma coisas), que acabam tirando um pouco do foco realista do filme (que por incrível que pareça, ainda há). “Luther: O Cair da Noite” não chega a fazer jus ao legado da série, mas acaba terminando como um bom entretenimento pipoca para se ver na Netflix.
Crítica | A Baleia
Engenharia do Cinema Não é novidade que o cineasta Darren Aronofsky sempre pega um assunto, e o aborda da maneira mais psicológica o possível. Seja com o universo das drogas (“Requiém Para um Sonho“), bíblico (“Mãe“) e até mesmo Workholic (“Cisne Negro“). Em “A Baleia“, ele pula para o universo da obesidade (que vem sendo uma das principais causas de morte no mundo, nos últimos tempos). Sim, e provavelmente renderá o Oscar de atuação para Brendan Fraser (pelo qual será um dos momentos mais marcantes do Oscar 2023). Baseado na peça teatral de Samuel D. Hunter (que também cuidou do roteiro desta adaptação cinematográfica), a história é centrada no professor universitário Charlie (Fraser), que após o falecimento de seu namorado, passa a sofrer de obesidade mórbida e não deseja tratamento algum, já que ele está ciente do fato de estar prestes a falecer. Morando sozinho em um apartamento decadente e recebendo visitas constantes de sua enfermeira Liz (Hong Chau), ele tenta uma reaproximação de sua filha distante Ellie (Sadie Sink). Imagem: Califórnia Filmes (Divulgação) Realmente, esta é uma obra bastante difícil de ser ingerida, pois desde o primeiro arco Aronofsky já transpõe o quanto é complicado para um obeso ter prazeres simples. Com uma tela em aspecto de 1.33:1, o intuito do próprio é mostrar sutilmente o quão “gigante” é a presença de Charlie, em várias situações. Seja pelo fato dele sempre se comparar com a baleia Moby Dick (que deu origem ao título do filme) e sempre procurar ser bondoso com todos ao seu redor (como ele resolver alimentar um pássaro, mesmo tendo várias dificuldades de locomoção, ele se esforça para alegrar este). E as referências ao citado, não param por aí. Seja por intermédio da trilha sonora de Rob Simonsen (que usa notas com sintonia de passos de um gigante), o fato de sempre estar chovendo na maioria das cenas (uma vez que os protagonistas da obra citada, enfrentarem o mesmo diante de uma tempestade) e até mesmo um poema recitado pelo próprio que engloba aquele. Além do lado poético e literário na obra, Aronofsky deixa explicita de forma nua e crua como Charlie usava a comida como uma verdadeira fuga para seus problemas (uma vez que ele sempre come descontroladamente, apenas para saciar o vazio de seu ex-companheiro e sua própria filha). E isso é transposto perfeitamente por Fraser, que não transmite uma enorme sensação claustrofóbica, uma vez que não conseguimos sentir a liberdade daquele cenário mostrado. Realmente ele merece o Oscar, assim como o trabalho da equipe de maquiagem e penteado (que deformaram totalmente o mesmo). Mas não é apenas Fraser que dá um show de interpretação, uma vez que o roteiro cria oportunidades para todos os personagens presentes como as próprias Chau, Sink, Ty Simpkins (que interpreta o crente Thomas, e possui um arco ótimo sobre a relação da Bíblia com o quadro de Charlie) e Samantha Morton (a ex-esposa de Charlie, Mary). “A Baleia” realmente é um filme para poucos, mas que nos faz refletir sobre as pequenas coisas da vida e o quão devemos nos cuidar, mesmo por quem nos mais ama.