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Entrevista | Sugar Kane – “Somos contra os líderes dessas igrejas”

Em 2014, o Sugar Kane decidiu arriscar fugir do Hardcore Melódico e investir em outras influências e assim lançaram o álbum Ignorância Pluralística. Com letras mais sérias abordando temas sobre política, a sociedade e religião, a banda criou um trabalho muito ligado ao Punk Rock e Hardcore: Crú e Direto.

Conversamos com o vocalista do Sugar Kane, Alexandre Capilé, que contou sobre o desenvolvimento do álbum, as letras e as influências que ajudaram a construir o trabalho.

Ele também relembrou do show do Sugar Kane realizado em Santos em 2007 após a banda passar por um hiato e comentou sobre a evolução da cena underground.

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Como foi o processo de composição de Ignorância Pluralística?

Alexandre Capilé: Foi um processo feito com muita calma e foco. Entre o disco anterior de 2009 (A Maquina Que Sonha Colorido) e o Ignorância Pluralística gravamos dois EPs (Digital Native, 2010; Fuck The Emo Kids, 2012) , um DVD (15 Anos – Ao Vivo em Fortaleza, 2012) e fizemos uma tour pela Europa.

Aprendemos muito durante todo esse processo, assumimos mais as influências que sempre tivemos além do Punk Rock e Hardcore, mas também buscamos deixar o disco sem frescura, super cru, pesado e direto.

Nas letras buscamos abordar temas atuais e filosofias sempre presentes na história da banda. Na peneira final, misturamos tudo isso já sabendo a sonoridade que buscávamos chegar, e ficamos muito satisfeitos com o resultado final.

Vocês acham que os fãs receberam bem o trabalho? Atendeu a expectativa de vocês?

Capilé: Receberam super bem, muito mais do que nossas melhores expectativas podiam imaginar. Por não ser um disco 100% de Hardcore Melódico já tinha grandes chances de não ser aceito tão bem.

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Nas outras vezes que ousamos mais, o publico não engoliu tão bem nossas mudanças. Mas já nesse disco nem parece que ele é diferente, o público gostou muito. Várias pessoas chegam pra gente e dizem que esse é nosso melhor disco, que evoluímos muito com esse trabalho e que a banda ganhou sangue novo, melhor impossível.

Algumas letras, como por exemplo Paciência pra Burrice e Classe Média, são analises do Brasil atual. Em um ano de eleição, você acha que o trabalho pode contribuir para uma conscientização?

Capilé: Eu espero que sim, quando escrevi essas letras era um desabafo pessoal. Mas acredito que ele não exista só para mim. As pessoas se identificam com isso, por estar num país quase sem escolhas e viver um momento de revolta e revolução.

Ao mesmo tempo tenta ser ridicularizado e esquecido pelas grandes mídias, que são totalmente manipuladas e como sempre buscam enfraquecer a voz do povo. No disco nós demos nosso recado, espero que com ele as pessoas possam se questionar e mandar o delas, principalmente nas urnas. Pois precisamos mudar os líderes atuais e essa corja de ladrões que comanda nosso país.

Ainda falando das letras, Pastor Felício faz críticas bem diretas as igrejas evangélicas e ao próprio Pastor e Deputado Marco Feliciano. Vocês já tiveram algum problema com isso?

Capilé: Não tivemos problemas, até por que é uma história fictícia baseada em fatos reais (risos).

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Não somos contra a fé das pessoas e nem contra os evangélicos, mesmo eu não concordando em nada com a religião deles. Somos contra os líderes dessas igrejas, que só pensam em manipular e roubar seus fiéis. E o pior, ditando absurdos irracionais como verdades absolutas.

O Sugar Kane tenta sempre trazer em seu discurso um grito pela liberdade e igualdade. Quem for contra isso somos contra.

Em Ignorância Pluralística ficou claro que a banda está muito mais próximo do Hardcore “crú e direto”, diferente dos trabalhos anteriores. Como surgiu essa mudança? Alguma banda teve uma forte influência?

Capilé: Para gente o resultado final foi uma surpresa, principalmente como as pessoas o classificaram. Pois, nesse disco buscamos apenas ser bem crus e diretos, acreditávamos estar caminhando longe do Hardcore e estar mais perto do Punk. Mas não nos limitamos ao Punk Rock na hora de criar, tivemos muita influência de bandas como Pearl Jam, Nirvana, Queens Of The Stone Age, OFF!, Foo Fighters, AC/DC…

Acho que no final esse mistura mostrou mais o nosso lado Rock Clássico com pitadas da nossa personalidade Hardcore/Punk. Mas desta vez, sem frescura, tudo simples e direto. Eu considero esse o disco que melhor mostrou nossa personalidade.

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Recentemente, vocês fizeram alguns shows tocando covers de Foo Fighters e Nirvana. Pode-se dizer que o Sugar Kane ainda tem um pouco da influência “suja” do Grunge?

Capilé: Muita influência, eu sou dos anos 90, tinha 13/14 anos quando o Grunge explodiu, a influência das bandas dessa época sempre estiveram presente em mim, e a banda toda na verdade sempre ouviu muito.

Acho que nesse disco conseguimos deixar mais visíveis essas influências no nosso som, mas sem perder nossa personalidade. Para gente existe apenas rock bom e rock ruim. Gostamos do bom (risos).

Em 2007, o primeiro show após o hiato da banda foi em festival em Santos com a Fresno e o Garage Fuzz. Vocês lembram desse show? E que outras lembranças vocês têm da cidade?

Capilé: Sim, lembro bem, a casa tava lotadaça. E para gente foi super importante esse show em Santos, cidade onde sempre passamos em todas tours. E sempre, desde a primeira vez que tocamos em 2001 com a banda Altered Mind e até hoje, somos super bem recebidos. Esse show marcou nossa volta depois do hiato, foi histórico.

Desde 1997 acompanhando de perto a cena underground, quais foram as mudanças que mais impressionaram vocês? Para o bem e para o mal.

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Capilé: Hoje tá tudo mais estruturado, existe um circuito, pra divulgar a banda é mais fácil, existem ferramentas pra isso. Em 1997 tínhamos uma internet rústica, quase nenhum lugar pra tocar e pensar em fazer uma tour essa utopia… Num quadro geral melhorou muito.

Mas ao mesmo tempo perdemos o romantismo original dessa cena, que era constituída por bandas que representavam suas cidades, que faziam intercâmbios pra poder tocar, que tornavam todos envolvidos em amigos, hoje o lance é mais comercial, mas é natural, tem que saber lidar isso e tocar a bola pra frente.

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