No final dos anos 1980 e início da década de 1990, a dupla britânica Erasure fez um sucesso estrondoso no mundo. O Brasil também sentiu os efeitos dos sintetizadores e da voz de Vince Clarke e Andy Bell, respectivamente. Oh L’Amour e A Little Respect chegaram a ocupar lugares de destaques nas paradas.
Depois de um relativo sucesso até meados dos anos 1990, o Erasure simplesmente foi sumindo aos poucos das rádios e programas de TV. Seus discos não venderam mais milhões, as turnês ficaram mais restritas à Europa e aos Estados Unidos. Mesmo assim, sem o apelo da década passada.
Mas para quem tem um olhar mais apurado e continua a acompanhar Vince Clarke e Andy Bell, sabe que a relevância foi mantida. A produção também. De 1986 para cá, foram 17 discos de estúdio. O maior intervalo entre um trabalho e outro foi de pouco mais de três anos, período que a dupla lançou Light at the End of the World (2007) e Tomorrow’s World (2011).
Nem mesmo o falecimento do manager e ex-marido de Andy Bell, Paul Hickey, em abril de 2012, impediu o ímpeto do músico. World be Gone, que será lançado em 19 de maio, é o terceiro álbum desde a perda do companheiro.
Love You To The Sky, o primeiro single do disco, mostra que o Erasure se mantém relevante, empolgante e sem soar datado. Por mais que as referências dos anos 1980 sigam fortes nas canções, a dupla ainda mostra muita sintonia.
O tecladinho de Love You To The Sky parece ter sido retirado de alguma faixa do início da carreira do Erasure. E isso não é uma crítica ou demérito.
Entrevista com Vince Clarke
Vince Clarke, responsável pela sonoridade, é um dos pioneiros na utilização de sintetizadores e admite sentir muita empolgação na hora de pensar faixas novas. “Sou realmente fascinado pela instrumen-tação eletrônica. Sou obcecado por ela”, comentou em entrevista exclusiva, via Skype, para Caíque Stiva.
Responsável pelo clássico Just Can’t Get Enough, do Depeche Mode, banda que integrou no início da carreira e gravou o primeiro disco na íntegra, Speak and Spell, Clarke falou sobre o processo de criação do novo álbum, a expectativa de voltar ao Brasil, relação com Andy Bell, com quem divide os méritos do Erasure desde o início, além do que achou do novo disco do Depeche Mode. Confira abaixo os assuntos comentados por Clarke.
Longevidade na carreira
É tudo questão de respeito. Eu respeito a competência musical dele (Andy Bell), e acho que funciona nos dois sentidos. Se eu chegar à mesa com uma ideia e ele realmente não gostar, ou vice-versa, nós temos a tendência de apenas descartá-la. E então nós apenas seguimos em frente. Esse é o segredo: seguir em frente.
Inspiração
Realmente não sei (como se inspirar para escrever músicas). É até um certo mistério para mim. Quando escrevemos músicas para um novo álbum, entramos em uma sala, e é praticamente uma página em branco. Nós ficamos sentados lá, tocando algumas cordas na guitarra ou tocando piano, e o Andy canta algo, e então, milagrosamente, uma hora ou duas horas mais tarde nós temos uma canção. É assim que sempre funcionou. É sempre muito surpreendente, e é o que mantém o processo muito fascinante para mim.
Público-alvo
Nós não sabemos (o público que pretendemos alcançar). Não temos ideia. Quero dizer, você sabe, nós realmente não escrevemos para ninguém especificamente, então, a variedade de nossa música é o que nos dá satisfação.
Processo
Costumamos obter o tipo de melodia e o arranjo de cordas em cerca de uma hora, suponho. Nós misturamos um monte de ideias diferentes, e então reunimos todas elas. Demora um pouco mais para que o Andy trabalhe as letras, e, obviamente, um pouco mais para trabalhar o arranjo musical no estúdio. Então, diria que estamos falando de dois ou três dias para terminar a música.
Novo álbum do Erasure
Eu e Andy nos reunimos três vezes. Uma vez na Flórida, uma em Nova Iorque e outra em Londres. E nós conversamos sobre algumas ideias. Nós contamos com muita sorte desta vez, porque nós tivemos um pouco mais de tempo.
Normalmente é muito mais corrido e há mais pressão para que a gente termine rapidamente. Mas desta vez tivemos tempo para realmente refletir, trabalhar nossas ideias, refletir sobre elas e melhorá-las. Gostei de fazer este disco muito mais do que os anteriores. World be Gone é a minha música favorita no álbum.
Vinda do Erasure ao Brasil
Com certeza (retornar ao País), a última vez que fomos ao Brasil foi há seis anos e nós tivemos uma passagem fantástica. Estamos em turnê pela Europa e Reino Unido este ano, e acho que em junho, estaremos indo para a América do Sul e, obviamente, para o Brasil.
Sintetizador
Tenho usado teclado e instrumentos eletrônicos desde 1980, e é o instrumento que escolhi. No passado foi certamente difícil porque o material era muito caro. Mas sou realmente fascinado pela instrumentação eletrônica. Sou obcecado.
Ao longo dos anos me tornei um tipo de mestre e tenho uma interessante coleção de instrumentos musicais eletrônicos. Estou agora olhando ao meu redor e há cerca de 70 ou 80 sintetizadores aqui.
Novas bandas
Um pouco. Estou meio interessado em música techno. É aí que as pessoas estão fazendo sons legais com vibrações interessantes. Quero dizer, não estou interessado no arranjo, mas estou certamente interessado em tentar encontrar sons que ninguém nunca ouviu antes. Com sintetizadores isso é realmente possível.
Depeche Mode
Mantenho contato com os rapazes. Fiz um disco techno com Martin Gore (tecladista e compositor) há alguns anos, o que foi bem legal. E quando eles vêm para a cidade (Nova Iorque), sempre consigo ingressos gratuitos. Realmente gostei do novo trabalho deles. Acho que é muito legal. E também o álbum anterior, achei fantástico. É a melhor coisa que eles fizeram desde Speak and Spell.
Futuro do Erasure
No momento, nós estamos apenas concentrados na preparação para a turnê, porque há muito trabalho a ser feito. Isso é o que estamos trabalhando no momento. Não consigo pensar mais do que duas semanas adiante.
Andy
Ele está ótimo. Ele vive em um lugar muito bom, está bem, saudável, e acho que ele está realmente gostando de fazer esse disco tanto quanto eu, porque neste disco há muito mais vocais. Decidimos que é assim que deveria ser, e acho que ele gostou. Acho que ele parece o maldito Freddie Mercury neste álbum.
Mensagem aos fãs do Erasure
Última vez que estivemos no Brasil, nós curtimos bastante. Nosso público foi fantástico. Vimos um monte de jovens na plateia e foi realmente muito bom. E estamos ansiosos para irmos ao Brasil novamente. Vai ser uma festa de verdade.