JÚNIOR BATISTA
Eles têm 30 anos de carreira e são considerados a banda brasileira de maior tempo de estrada com os mesmos integrantes desde a formação. É natural que você pergunte: mas como eles conseguiram? “É sorte. Sorte de ter encontrado esses caras nessa vida”, responde Bi Ribeiro, baixista da Paralamas do Sucesso. O grupo vem à Baixada para show no Mendes Convention Center, em Santos, neste sábado.
O segredo para a união quase cármica de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone é a amizade forte. “É como um casamento (ter uma banda). Tem problemas internos, como dinheiro e ego, mas acho que o fato de todos gostarem de sair por aí fazendo música é o maior trunfo. É nossa chave”, explica o baixista.
Outro fator determinante foi ter apenas um empresário desde o começo. “É uma figura muito importante. O José Fortes é um amigo querido e confiamos demais nele. Muitas bandas não dão certo por terem um mau ou ficarem trocando de ‘gestor’”.
Com 12 álbuns de estúdio e dez DVDs lançados, o grupo carioca continua com o mesmo sonho do começo de carreira: tocar em mais lugares. “Sempre estamos pensando nisso. Temos vontade de tocar em todos as cidades. Eu tenho um desejo pessoal de tocar na África, já que eu curto muita coisa que vem de lá. E até para um crescimento como humano mesmo”.
O bom diálogo com a gravadora (Universal), a mesma desde o começo, também contribuiu para o sucesso.
Safra alternativa
Nos anos de 1980, várias bandas começaram a surgir de maneira alternativa pelo País, segundo o músico. No Rio de Janeiro, as bandas tinham um acesso fácil às emissoras. “Com o movimento no Circo Voador (espaço inaugurado em 1982 para artistas independentes fazerem shows na cidade e, assim, expandirem a sua música, e que existe até hoje) e da Rádio Fluminense (estação que divulgava e tocava as fitas das bandas locais e que existe até hoje, no estado), começou aquele movimento para levar a música para todo mundo”.
A cena gerada por esses artistas acabou eclodindo numa série de bandas, entre elas, o Paralamas. “Era bem difícil, mas isso acabou fazendo com o que essa safra de bandas de rock ganhasse notoriedade pelo País”.
Foi a mesma época que surgia, em Brasília, a Legião Urbana. O cantor Dado Villa-Lobos, que está em turnê com o Legião, é amigo dos meninos do Paralamas. “Falamos volta e meia. Fiquei superfeliz e acho superválido retomar a Legião. São músicos e músicas que merecem ser lembrados e tocadas sempre”.
O cantor ressalta, ainda, que essa geração de jovens roqueiros tinha mais espaço naquela época. “Todos os ritmos no Brasil são cíclicos. Até os anos 90 era o momento do rock, então acabamos ficando na massa. Depois isso mudou”.
Nova geração
A tal galera jovem do rock ainda está aí, na opinião de Bi Ribeiro. “Existe muita música de qualidade. É que o rock acabou voltando à marginalidade que ele tinha. Isso é natural, no Brasil há ciclos, como tem o sertanejo agora e teve com o funk. É normal, mas sempre vai ter alguém fazendo rock”.
No espírito da nova geração, os músicos escolheram a roqueira baiana Pitty para participar, em dezembro de 2010, do DVD Multishow Ao Vivo Brasil, no Espaço Tom Jobim, no Rio. A cantora interpretou com eles Tendo a Lua, de Hebert Vianna e Tetê Tillett.
“Foi ótimo (dividir com os palcos com ela). Já admirávamos a Pitty antes e pensamos em chamar alguém da ‘jovem guarda’ para tocar. Ensaiamos bastante juntos e ela arrasou”.
Na visão dele, há, sim, outros músicos de sucesso, como a banda NxZero, entre outros. “Música boa tem, é que não tá no mainstream, tocando em várias rádios e na mídia”.
Tempos modernos
A evolução trouxe a eles uma novidade até então desconhecida: a internet e tudo mais que veio com ela: redes sociais, stream de música, download etc. A mudança foi ainda mais forte da que enfrentaram quando o CD virou o novo LP. “Foi meio natural… Confesso que eu não sou muito de internet, mas o João (Barone) gosta e entende mais. Não tem como correr. Mas lidamos bem, nosso negócio é fazer música, não importa a plataforma”.
Mesmo lidando com pirataria online, o grupo aceitou bem as transformações, embora Bi revele que tem um gosto mais ‘refinado’ para música. “No stream, eu prefiro ouvir as músicas na versão original, não comprimida para MP3, por exemplo. É um jeito de ouvir o áudio mais original possível”.
Também não faltam discos de vinil na coleção do músico. São mais de 3 mil no seu acervo pessoal. “Tenho de diversos estilos, desde músicas africanas a reggae, rock, soul… Tem de tudo. Quando teve a mudança para o CD, eu fui guardando os meus e dos meus amigos que doavam”.
O que vem por aí
Os Paralamas já estão se preparando para lançar mais um álbum, claro, em 2016. “Estamos em processo de composição e escolha. Ainda não dá para adiantar muita coisa”.
O CD deve conter 10 faixas, já que mais do que isso, ‘cansa’ o ouvinte. “Hoje em dia, com a velocidade das coisas, não tem jeito. Não adianta fazer um álbum com 16 faixas que ninguém vai ouvir. É tudo muito rápido. É melhor escolhermos 10 que sejam as melhores que fizemos”.
Serviço: O show é a partir das 22 horas, no Mendes Convention Center, em Santos. Ingressos de R$ 70 a R$ 130. Av. Gen. Francisco Glicério, 206, Gonzaga. Informação: 4062-0027.